Boletim Letras 360º #392
DO EDITOR
1. Caros leitores, aqui está para leitura e partilha com os amigos uma nova edição do Boletim Letras 360º.
As novidades da semana e as celebrações pelo 90º aniversário do poeta Ferreira
Gullar integram este número.
2. Em nome do Letras, agradeço
sempre a companhia do fiel leitor e deixo o pedido de trazer aqui os seus mais
achegados que admiram os livros e a literatura. Fique bem. Boas leituras!
LANÇAMENTOS
Dois livros inéditos ampliam a
obra de Ruth Guimarães; são duas coletâneas de contos resultadas do longo convívio etnográfico com o interior do Brasil.
1. Contos índios. Todas as
histórias deste livro foram extraídas apenas de registros orais. São, portanto,
inéditas do amplo trabalho de Ruth. Os contos resultaram de pesquisa de campo,
no Médio Vale do Paraíba do Sul, estado de São Paulo, tendo como centro e pião
a cidade de Cachoeira Paulista. E, dali, feitas coletas nas cidades vizinhas
também, e no litoral. É, claro, vieram também de informantes de outros estados,
com predominância de mineiros, donos de parte do Vale. A autora aproveitou cada
reconto quando lhe foram apresentadas duas ou mais variantes, pois isso
confirmava a sua aceitação, verdade e importância. Logo, tratou de escolher a
variante mais elaborada, e com mais pormenores. Nada foi acrescentado, nada foi
tirado, dos motivos básicos, da sequência, da filosofia. O que era moralizante
continuou moralizante; todas as histórias permaneceram completamente isso mesmo
que está aí. O que chega em suas mãos é um registro único, escrito por Ruth,
que esteve cuidadosamente guardado por anos com seus filhos e que agora é
oferecido à apreciação de todos.
2. Contos negros. Em muitos lugares brasileiros,
ainda persiste o costume de contar histórias... Em geral, em torno de uma
fogueira. É só ficar de mão no queixo, sentado em cima das toras, escutando. O
círculo das caras atentas arde ao calor das chamas. Todos se voltam para o
narrador, num tropismo original. Não é que o tempo esteja sobrando, não é isso.
Em verdade, não existe mais o tempo. Acabou-se o seu império sobre os homens.
Não se cuida nem da hora, nem do correr dos instantes. O tempo é o fluir da
história. Tempo e espaço se contam na vida dos príncipes e das princesas e do
seu povo encantado. Assim, a história vem lenta. Assim, vem comprida. Com
repetidos pormenores, cumulativa, misteriosa e sutil, dentro do sutil da noite
misteriosa. Transportamo-nos para um outro mundo habitado por duendes e
fantasmas, por espíritos bons, pelos bichos que falam. Coisa linda de se ouvir
e de se viver. A empatia é tanta, que estamos tão do lado de lá, quanto Alice
no País dos Espelhos. Dá pena haver crianças que nunca ouviram casos narrados
assim. Os dois livros são publicados pela Faro Editorial.
Uma abordagem literária e crítica
de textos normalmente reconhecidos apenas pelo viés religioso.
Esta nova tradução dos Evangelhos procura trazer ao frescor de um português literário
contemporâneo a “surpresa e o encantamento” da leitura do original grego, como
diz o próprio tradutor em sua apresentação. Algo obliterados por dois mil anos
de uso como Escritura Sagrada dos cristãos, os quatro textos “conturbados,
perigosos, áridos e difíceis” aparecem aqui no vigor de suas diferentes
estratégias literárias. Textos que fundaram, no seio da cultura clássica do
Mediterrâneo conturbadamente habitado por gregos, romanos, judeus, um gênero
que só eles mesmos ocupam e fundaram o cristianismo e o Ocidente. Sem as
divisões em capítulos e versículos, mais de mil anos posteriores aos textos, as
versões de Mateus, Marcos, Lucas e João podem ser lidas como aquilo que foram
escritas para ser: uma narrativa contínua da vida e dos ditos de Jesus de
Nazaré. A proposta de uma tradução dos Evangelhos com esmero
literário em edição bilíngue é uma iniciativa da Ateliê Editorial e da Editora
Mnema. A amplitude da introdução, a profundidade das notas e comentários buscam
esclarecer as escolhas da tradução, que nunca serão definitivas e infalíveis,
e, por isso mesmo, sempre justificam uma nova edição dos Evangelhos em
português. A tradução é de Marcelo Musa Cavallari e integra a Coleção Clássicos
Comentados.
Livro reúne contos do escritor
argentino Roque Larraquy.
As duas narrativas reunidas em
Comemadre, estão separadas por quase cem anos e unidas por algo
muito inquietante. De um lado, um grupo de médicos, em um sanatório, inicia
certo experimento que parte da ideia de que o ser humano consegue falar em até
9 segundos depois de ter a cabeça decepada. De outro, um artista contemporâneo
que trabalha com membros amputados de seres humanos, incluindo os seus. Como
essas histórias se relacionam? Bem, a narração de Roque Larraquy mostra como o
monstruoso, com certa pitada de humor, pode estar vivíssimo em nosso cotidiano.
Com tradução de Sérgio Karam, o livro é publicado pela Editora
Moinhos.
Nova edição de Passeios na
ilha, coletânea de crônicas de Carlos Drummond de Andrade publicadas aos
domingos no suplemento literário do Correio da Manhã.
Lançado em 1952, Passeios na
ilha é o segundo livro em prosa de Carlos Drummond de Andrade. Nesta
reunião de colunas escritas para o jornal, o poeta se dedica aos seus
contemporâneos ― Manuel Bandeira, João Alphonsus de Guimaraens e Henriqueta
Lisboa, entre outros ― em ensaios sobre cultura e vida literária. No texto que
inaugura o volume, “Divagações sobre as ilhas”, Drummond faz uma ode ao que
seria a distância ideal entre a ilha e o continente, “não muito longe do
litoral, que o litoral faz falta; nem tão perto, também, que de lá possa eu
aspirar a fumaça e a graxa do porto”. A passagem sintetiza os dilemas de um
cronista que, por um lado, busca refúgio do mundo conturbado e, por outro, está
atento a tudo aquilo que o cerca, num brilhante e obstinado exercício de
reflexão. A edição da Companhia
das Letras traz posfácio de Sérgio Alcides; a mais recente havia sido
publicada pela extinta Cosac Naify.
Nova edição da primeira reunião de
artigos, crônicas, ensaios, notas e reflexões de Carlos Drummond de Andrade.
“É um texto de prosa, assinado por
quem preferiu quase sempre exprimir-se em poesia”, explica Carlos Drummond de
Andrade na apresentação ao seu primeiro livro em prosa, publicado em 1944. Confissões de Minas, que perfazem um arco de onze anos, reflete com
linguagem despretensiosa e elegante uma época em verdadeira ebulição. Seja para
refletir sobre política ― a ascensão de Hitler, a eclosão da Segunda Guerra, a
escalada do fascismo, a batalha de Stalingrado ―, seja para descrever a cena
literária das primeiras décadas do século XX, Drummond se revela um excepcional
prosador, sempre atento às marcas do seu tempo. A última edição deste livro
havia sido publicada pela extinta Cosac Naify; a da Companhia
das Letras tem posfácio de Milton Ohata.
Um romance surpreendentemente
atual e engenhoso sobre identidade, raça e sexualidade, vencedor do Man Booker
Prize em 2019.
Garota, mulher, outras é um verdadeiro marco da ficção britânica. O romance de Bernardine Evaristo causou furor quando
publicado: venceu o Man Booker Prize em 2019, foi aclamado por nomes como
Barack Obama, Roxane Gay, Ali Smith e Tom Stoppard e incluído nas listas de
melhores livros do ano por veículos como The Guardian, Time, The Washington Post e The New Yorker.
A forma, por si só, não é nada convencional: trata-se de um gênero
híbrido, composto de versos livres e sem pontos finais. O resultado é uma
dicção singular e envolvente, que prende o leitor da primeira à última página.
O pano de fundo dessas histórias é uma Londres dividida e hostil, logo após a
votação do Brexit: um lugar onde as pessoas lutam para sobreviver, muitas vezes
sem esperança, sem que as suas necessidades sejam atendidas e sem que sejam
ouvidas. Nesse ambiente opressor, as vozes de Garota, mulher,
outras formam um coro e levantam reflexões poderosas sobre o machismo, o
racismo e a estrutura da sociedade. A tradução é de Camila Holdefer e é
publicada pela Companhia
das Letras.
O romance de estreia de Juan
Francisco Moretti, escritor argentino inédito no Brasil, está no catálogo da
Ponto Edita.
O texto ágil e forte de
Desvio pode ser lido como o pesadelo de um jovem de classe média
dos anos 2000 às voltas com a degradação do amor, da memória e das grandes
paixões. Apegado ao Twitter, ao Facebook, ao Google, ao GPS e ao smartphone, o
narrador (que poderia muito bem ser um personagem de Beckett ou de J. D.
Salinger navegando pelo século 21) é obrigado a lidar com formas inesperadas de
violência depois de ver sua tartaruga de estimação atacada por um gato. Misto
da agressividade desaforada de Chuck Palahniuk (Clube da luta) com
a ironia cáustica de Bret Easton Ellis (Psicopata americano), Desvio surge como um remix de humor e drama que flerta com a
nostalgia dos anos 90 para contar a epopeia mais trivial de uma geração em uma
Buenos Aires que às vezes lembra uma versão industrializada, superpopulosa e
gentrificada da cruel São Geraldo de Clarice Lispector (A cidade
sitiada). É, acima de tudo, um romance de aventuras próprio de nossos
tempos. A narrativa potente de Moretti explora os limites entre realidade e
delírio e convoca o ritmo da oralidade para mostrar, com um lirismo brutal, que
o papel da literatura e da arte nem sempre é o de confortar — traço comum na
literatura visceral que vem sendo produzida pela nova geração de escritores
latino-americanos. Dando continuidade à proposta da Ponto Edita de promover um
diálogo entre a literatura e outras artes a partir de projetos gráficos
específicos que exploram a relação entre imagem, formato e concepção
poética/narrativa, o livro traz uma intervenção artística original do cantor e
compositor Thiago Pethit e um texto inédito do músico e ex-VJ da MTV Brasil
Luiz Thunderbird, além de mais de 40 imagens criadas por Pedro Monfort a partir
da manipulação e ressignificação de fotografias originais de Buenos Aires. A
tradução é de Thaís Soranzo e a edição traz também um posfácio inédito do
autor. A tipografia faz uma homenagem à filosofia do mercado editorial
independente argentino. A escolha do tipo mono para os títulos e para a
numeração das páginas, aliada ao uso pontual de marcas gráficas como underline,
barra e chevron, remete aos primeiros anos da popularização da internet dial-up
e faz referência à relação do personagem com a passagem do tempo. Lançado com quatro
capas diferentes, o projeto gráfico original da Ponto Edita tem encadernação em
capa dura com papéis especiais e impressão em serigrafia.
A obra-prima de não ficção de um
dos escritores mais brilhantes do século XX sobre raça e identidade.
Na nota introdutória de Notas de um filho nativo,
James Baldwin, aos 31 anos, se dá conta do momento mais importante de sua
formação, quando se viu obrigado a perceber que a linha do seu passado não
levava à Europa, e sim à África. Foi então que ele se deparou com uma revelação
chocante: Shakespeare, Bach e Rembrandt não eram criações “realmente
minhas, não abrigavam minha história; seria inútil procurar nelas algum reflexo
de mim. Eu era um intruso; aquele legado não era meu”. Publicada originalmente em 1955, esta reunião de ensaios escritos entre as
décadas de 1940 e 1950 é a primeira obra de não ficção do autor de O
quarto de Giovanni. O que mais impressiona nesses testemunhos — narrados com
inteligência, sensibilidade e estilo extraordinário — é sua atualidade. Ao usar
como matéria-prima sua própria experiência para refletir sobre o que representa
ser um escritor negro e homossexual nos Estados Unidos, seu país de origem, e
em Paris, cidade onde viveu por muitos anos, Baldwin oferece um poderoso e
urgente depoimento sobre direitos civis. O volume inclui o prefácio à edição de 1984, assinado por Edward P. Jones,
posfácios de Teju Cole e Paulo Roberto Pires e um alentado “Sobre o
autor”, por Marcio Macedo. A tradução é de Paulo Henriques Britto e o livro integra o novo projeto editorial da Companhia das Letras para a publicação da obra de James Baldwin no Brasil.
O novo romance de Mario Vargas
Llosa, Tempos ásperos, uma história das conspirações internacionais
durante os anos mais críticos da Guerra Fria.
Neste romance surpreendente, o
prêmio Nobel Mario Vargas Llosa mescla realidade e ficção para narrar fatos
marcantes da vida política e social da América Central durante os anos mais
agudos da Guerra Fria. Ecoando um de seus romances mais importantes, A festa do
Bode, Vargas Llosa volta à luta entre progressistas, subversivos e ditadores,
desta vez na Guatemala dos anos 1950, para narrar os conflitos e a propagação
de mentiras que acabaram por arruinar um país e atrasar o progresso de toda uma
região. Ele não só entremeia as ações políticas de personagens históricos,
montando um panorama preciso do momento, como também vai a fundo em suas vidas,
ambições e medos para compor um relato que atinge todos os planos possíveis:
dos grandes atos que mudaram o destino de nações às mais delicadas paixões
humanas. Traduzido por Ari Roitman e Paulina Wacht, o livro é publicado pela
Alfaguara Brasil.
Único texto autobiográfico deixado
por Patrícia Galvão ganha edição.
Escrito em 1940, após uma das 23
vezes que Pagu sai da prisão, Autobiografia precoce fala sobre a
militância política, os filhos, os relacionamentos e várias outras camadas da
vida de uma das mulheres mais emblemáticas do Brasil. O texto mostra Pagu sem
subterfúgios, de forma sincera e corajosa. Do lado pessoal, ela relata sua
iniciação sexual precoce e o conturbado casamento com Oswald de Andrade; da
vida pública, ela conta sobre a militância no Partido Comunista e o
desencanto com o regime soviético. Patrícia Galvão quase sempre foi vista pela
lente masculina: seja por seus relacionamentos ou por como sua arte se
comparava à de homens da época. Em Autobiografia precoce, não
existem intermediários: temos acesso a uma Pagu que escreve sobre si. Um livro
essencial para se compreender uma das personagens mais intrigantes da história
brasileira. O livro é publicado pela Companhia
das Letras.
Uma edição de alto luxo para
marcar o aniversário de 90 anos do poeta Ferreira Gullar
As muitas maneiras de dizer eu
te amo é um livro feito artesanalmente com desenhos de Ferreira Gullar e
texto de Cláudia Ahimsa. No longo convívio amoroso, o primeiro presente de
Cláudia para o poeta foi um caderno em papel Canson para desenho. Tempos depois,
o poeta compôs um conjunto de desenhos com o título e dedicatória que dá título
ao projeto editorial que agora se publica. O caderno foi fac-similado e
impresso em Fine Art no mesmo papel original e vem acompanhado de texto em
prosa da poeta, curadora e crítica de arte numa edição especial com encadernação
japonesa. Produzida em Lisboa pelas edições Urucum.
Contundente retrato do Brasil
durante a pandemia de gripe espanhola, A bailarina da morte investiga a doença mortal que há um século assombrou a humanidade e revela
trágicas semelhanças com a Covid-19.
No início do século XX, uma doença
chegou ao Brasil a bordo de navios vindos da Europa. A gripe espanhola, como
ficou conhecida a explosão pandêmica de uma mutação particularmente letal do
vírus H1N1, matou dezenas de milhares de pessoas no país e cerca de 50 milhões
no mundo inteiro. Altamente contagiosa, a moléstia atingiu todas as
regiões brasileiras. A “influenza hespanhola” paralisou a economia e desnudou a
precariedade dos serviços de saúde. Disputas políticas e atitudes negacionistas
de médicos e governantes potencializaram o massacre, que vitimou sobretudo os
pobres. Iludida por estatísticas maquiadas e falsas curas milagrosas, a
população ficou à mercê do vírus até o súbito declínio da epidemia, no começo
de 1919. A partir de um vasto acervo de fontes e imagens da época, Lilia Moritz
Schwarcz e Heloisa Murgel Starling recriam o cotidiano da vida e da morte
durante o reinado de terror da “gripe bailarina”, uma das maiores
pandemias da história. O livro é publicado pela Companhia
das Letras.
REEDIÇÕES
Nova edição de Ponto
cardeal, de Léonor de Récondo.
Dentro de seu carro, num
estacionamento, Mathilda retira com cuidado a maquiagem do rosto, o vestido
apertado, o sapato de salto altíssimo. Veste um abrigo de ginástica e então já
não é Mathilda, mas Laurent, marido de Solange e pai de dois filhos. Quando
percebe que incorporar uma persona feminina uma vez por semana já não é mais o
suficiente, decide completar a transição. E abrir o jogo para a esposa e os
filhos é só o começo dessa busca por sua verdade interior. O livro é publicado
pela Dublinense editora.
OUTRAS NOVIDADES
Quarenta mil livros da biblioteca
de Alberto Manguel vão para Portugal. O escritor vai dirigir um novo centro de
estudos da história da leitura em Lisboa.
Livros sobre livros é a grande
especialidade da escrita de Alberto Manguel. Agora o escritor e bibliófilo de
origem argentina e nacionalidade canadense instala 40 mil dos seus livros no
palacete dos Marqueses de Pombal, junto ao Museu Nacional de Arte Antiga que
darão forma a um novo Centro de Estudos da História da Leitura. Além de
Manguel, outros autores estão na base projeto, como Salman Rushdie, Margaret
Atwood e Chico Buarque. O espaço atenderá pesquisadores especialistas, mas se
tornará também uma biblioteca de acesso livre ao público geral.
DICAS DE LEITURA
No último dia 10 de setembro passou-se
os 90 anos do poeta Ferreira Gullar. A acompanhar as incursões pelas redes
sociais, sua obra encontra-se em plena forma. Autor de uma poesia singular, a
obra do poeta nascido em São Luís do Maranhão alcança outras manifestações além
da poesia; Gullar também escreveu prosa ― ensaios, contos, crônicas, memórias
(e ainda por se publicar, diários) ― e dramaturgia. Exímio criador, fez
vasta experimentação pelas artes plásticas. Recomendamos a seguir alguns
títulos para que o leitor interessado encontre uma panorâmica sobre a literatura
do poeta.
1. Dentro da noite veloz.
Este livro revela uma faceta nem sempre colocada em destaque na obra poética de
Ferreira Gullar, a da obra voltada para as questões mais imediatas na complexa
ordem social. Como assinala parte de sua crítica, conhecemos aqui o poeta
engajado. É neste livro, escrito no calor da hora de um país profundamente
marcado pela falta de expectativas, pela expropriação e exploração em nome dos
ideais cavalares das denominadas gentes de bem, que encontramos poemas como
“Não há vagas” e “Homem comum”. O livro já foi reeditado pelo novo projeto de
apresentação da poesia completa de Gullar pela Companhia das Letras; nesta
edição, o leitor encontrará um prefácio assinado pelo poeta Armando Freitas
Filho.
2. Poema sujo. Este é o
livro que deu reconhecimento a Ferreira Gullar e por isso é o seu trabalho
sempre lembrado; foi publicado um ano depois de Dentro da noite veloz ―
em 1976. E concebido nos dois anos anteriores, também no mesmo período difícil
na vida do poeta. Por causa da ditadura militar, que a muitos perseguia,
prendia e matava, Gullar estava exilado na Argentina. Os primeiros versos da
longa composição vieram a público na clandestinidade, pela leitura gravada em fitas
cassetes. Publicado no Brasil, sem a presença do autor, este livro veio, como
ele próprio recorda, como um testemunho final, antes que fosse calado para
sempre. O livro também se encontra reeditado pela Companhia das Letras.
3. A alquimia na quitanda.
Este livro reúne uma boa parte dos textos publicados por Ferreira Gullar no
jornal Folha de São Paulo e são uma porta de entrada para uma vistoria
sobre o pensamento e a maneira como o poeta compreendia o mundo; estão aqui
passagens importantes sobre sua relação com o fazer poético e com a arte no
geral. Pela lente do cronista passa ainda uma variedade de rememorações, como a
infância em São Luís, a descoberta da poesia, sua relação com o movimento
neoconcretista, leituras de sua própria obra, a vivência no período de exílio e
a convivência com figuras como Clarice Lispector, Lygia Clark, Hélio Oiticica,
entre outros. O livro foi publicado pela editora Três Letras.
4. Sobre arte, sobre poesia
(uma luz do chão). Com este livro o leitor tem uma pequena e significativa
mostra do Ferreira Gullar ensaísta. Os ensaios reunidos aqui tratam sobre o
enuncia o título da obra: a poesia e a arte no geral. Assim, o que é uma
maneira de se aproximar sobre estes dois temas é também uma maneira de saber
melhor sobre as próprias concepções do poeta que resultaram no seu trabalho criativo.
Desde há muito é um título disponível apenas nos sebos. Foi publicado em 2006
pela José Olympio no âmbito da simpática coleção Sabor Literário.
VÍDEOS, VERSOS E OUTRAS PROSAS
1. Na edição 391 do Boletim Letras
360º falamos sobre a publicação do livro Rosa & Rónai. O universo de
Guimarães Rosa por Paulo Rónai, seu maior decifrador. O livro organizado
por Ana Cecilia Impellizieri Martins e Zsuzsanna Spiry é publicado pela editora
Bazar do Tempo. Por esses dias, a casa editorial revelou através de sua
newsletter uma carta inédita do autor de Grande sertão: veredas escrita
para Paulo Rónai em 1967 respondendo algumas questões do amigo sobre o livro Campo
geral. A carta foi disponibilizada online aqui.
2. Sabe-se que o universo criativo
de Ferreira Gullar também foi povoado pelo interesse na colagem; com esse
trabalho criou e ilustrou alguns dos seus trabalhos. Os desastres da guerra
é um título inédito que se publica em 2021 pela Bazar do Tempo. Conta a editora
na referida newsletter que o poeta deixou a obra pronta. Neste endereço é
possível consultar alguns desses trabalhos.
3. Ainda sobre o poeta Ferreira
Gullar, vale a pena ver este raro vídeo que acompanha uma breve conversa entre
o poeta Vinicius de Moraes, figura importante na publicação de O poema sujo.
O registro é justamente do ano de 1976 pelas lentes de Susana Moraes para o
filme Vinicius de Moraes, um rapaz de família.
BAÚ DE LETRAS
1. Através deste fio organizado para o nosso Twitter o leitor acessa algumas das principais publicações do Letras
sobre Ferreira Gullar e sua obra: há textos com comentários do poeta sobre
algumas de suas criações, como a participação no movimento neoconcreto e a
composição de O poema sujo; notas biográficas e alguns poemas seus.
2. Ontem, 11 de setembro,
passou-se mais um ano sobre a queda das Torres Gêmeas nos Estados Unidos,
episódio que impactou várias frentes dos rumos da história. Também a literatura
foi impactada pelo acontecimento. Recordamos esta lista de quando o fato alcançava
a primeira década com sete romances que estão marcados por esse episódio da
história recente.
* Todas as informações sobre lançamentos de livros aqui divulgadas são as oferecidas pelas editoras na abertura das pré-vendas e o conteúdo, portanto, de responsabilidades das referidas casas.
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