Boletim Letras 360º #390
DO EDITOR
1. Muita gente nova chegou às
redes sociais do blog Letras in.verso e re.verso por esses dias. Continuo,
desde 2007, a agradecer a atenção de todos. Sintam-se bem e em casa, unidos em
torno do propósito principal: o amor à arte e ao literário.
2. Aproveito a ocasião para convidar aos novos amigos a acompanhar o trabalho
do blog nas várias frentes com a presença nas reações, nos comentários e na
partilha do nosso conteúdo. Tudo aqui é feito livremente e gratuitamente por
gente atenta e amante do que faz. Então, tudo isso que peço é uma maneira de
incentivá-la.
3. Este boletim é publicado a cada
sábado desde há 390 semanas. Desde 2012, a página do blog no Facebook passou a
veicular informações variadas em torno do nosso universo de interesse e, muitos
meses depois, a baixa visibilidade de conteúdo pela segmentação nesta rede social
levou a gente a criar um espaço aqui capaz de oportunizar um (re) encontro com
o material divulgado.
4. Agradecemos a companhia do fiel
leitor e deixamos o pedido de trazer para nós seus mais achegados que admiram
os livros e a literatura. Fique bem. Boas leituras!
Yukio Mishima. Foto: Joji Saito. |
LANÇAMENTOS
Obra atemporal e que oferece um
vívido retrato da sociedade americana nos anos 1920 ganha segunda tradução no
Brasil.
Irene Redfield e Clare Kendry têm
algo em comum: ambas são mulheres negras de pele clara que podem se passar por
brancas. Essa, porém, é a única similaridade entre elas. Após perderem contato
durante a adolescência, as duas se reencontram por acaso em uma cafeteria de um
hotel em Chicago. Um encontro que muda para sempre a dinâmica entre as duas
mulheres, suas famílias e suas comunidades. Irene parece ter tudo que poderia
desejar. Casada com Brian, um médico proeminente, eles são donos de uma confortável
casa no Harlem, onde criam seus dois filhos. O trabalho de organizar bailes de
caridade em que celebra toda a riqueza da cultura afro-americana dá a Irene um
propósito e um senso de responsabilidade. Sua única preocupação é o desejo
insistente do marido em se mudar para o Brasil, um país onde, segundo ele, não
há racismo. Clare Kendry, por outro lado, vive no limite. Após perder o pai aos
14 anos, saiu da vizinhança negra em que vivia para ir morar com as tias e
começou a se passar por branca, mantendo sua verdadeira ancestralidade
miscigenada em segredo para todos, principalmente para o homem racista com quem
se casou. No entanto, após o reencontro e à medida que começa a se envolver
cada vez mais na vida de Irene, Clare vê a energia da comunidade que abandonou,
e sua vontade ardente de retornar a ela ameaça a farsa cuidadosa que é sua
vida. Identidade oferece um vívido retrato da sociedade americana nos
anos 1920 e discute não apenas a questão de raça, mas também de classe e
gênero. Através de uma brilhante narrativa e de personagens complexos, Nella
Larsen prova que ser leal às próprias origens não é apenas um ato de orgulho,
mas também de coragem. Esta tradução é de Rogerio Galindo, conta com posfácio
de Rayne Leão e é publicada pela
HarperCollins Brasil. O mesmo livro sai também pela Imã Editorial, cf.
noticiamos na edição anterior deste Boletim, com tradução de Julio Silveira;
nesta, o título é Passando-se.
Livro reúne quatro títulos do
poeta Guilherme Gontijo Flores.
Todos os nomes que talvez
tivéssemos é uma tetralogia formada dos livros Brasa enganosa
(2013), Tróiades — remix para o próximo milênio (2014/2015), L’azur
Blasé, ou ensaio de fracasso sobre o humor (2016) e Naharia (2017).
Trata-se de um multifacetado poema de fôlego, fora da curva, feito de quatro
tempos, cada um funcionando como um livro de poemas dentro do livro maior; é
uma obra construída ao longo de uma década e que mistura diversas
linguagens e vozes, experimentos e subgêneros literários, num movimento
construído a partir da teoria dos quatro elementos, quatro humores, quatro
estações e quatro fases da vida. O resultado é um caleidoscópio de formas, tons
e estilos, um estilhaço programado numa descontinuidade subjetiva, como a vida.
O livro é publicado pela editora Kotter.
Uma defesa apaixonada à imagem.
Em agosto de 1944, membros do
Sonderkommando de Auschwitz-Birkenau, auxiliados pela Resistência polonesa,
conseguiram fotografar de forma clandestina parte do processo de gaseamento a
que eram submetidos os judeus, operação de extermínio que levou à morte milhões
de pessoas. Trazidas à luz numa grande exposição sobre a memória dos campos em
2001, essas quatro imagens tornaram-se o centro de uma acirrada polêmica que
opôs, de um lado, aqueles que eram radicalmente contra qualquer tipo de
representação do Holocausto e, de outro, os que defendiam a importância vital
de todo registro, entre eles, o autor deste livro. Em Imagens apesar de tudo,
Georges Didi-Huberman faz uma defesa lúcida e apaixonada da imagem como forma
de resistência, quando se furta à ordem dominante e, longe de se assumir como
imagem absoluta, capaz de dizer toda a verdade, se apresenta fulgurante e
lacunar, abrindo brechas em meio à obscuridade e ao horror. Dialogando com
Benjamin, Bataille, Godard e outros, este livro ilumina um nó de questões
fundamentais que envolvem a noção de testemunho, o uso dos arquivos, o estatuto
do documento visual, a montagem, os múltiplos regimes da imagem e da palavra, e
conecta de modo exemplar a ética, a estética e a política. A tradução é de
Vanessa Brito e João Pedro Cachopo é publicada pela Editora 34.
Os textos de quando Walter
Benjamin viveu na França.
Diário parisiense e outros
escritos reúne quinze textos de Walter Benjamin de 1926 a 1936, enquanto
viveu na França ― dentre eles seu próprio diário escrito entre 1929 e 1930, que
dá nome ao livro, é e inédito em português. A seleta de textos remete também ao
trânsito entre Alemanha e França percorrido por Benjamin, em vários sentidos:
literário-crítico, filosófico, artístico, político e biográfico. Nesse
trânsito, procuramos pelo “lugar” de Benjamin, como um crítico literário
exemplar, judeu-alemão e refugiado político, inserido no debate literário
francês no período entre-guerras. O volume também apresenta as suas análises
dos que considerava principais nomes da literatura francesa: Gide, Valéry e
Proust. O caráter legítimo ou autêntico de Benjamin como crítico literário,
pouco ou nada ortodoxo, tornava os escritores não apenas o objeto de sua
crítica literária, mas co-autores de um sentido de crítica inusitado. Textos
como “Cartas parisienses” também são claros exemplos do lugar político e social
que assumia, quando exigia-se dos intelectuais um posicionamento em face do
tempo em que viviam. Walter Benjamin (1892-1940), judeu alemão, foi ensaísta,
crítico literário, tradutor, filósofo, sociólogo e tradutor (de Baudelaire,
Proust e Balzac, entre outros). Estudou filosofia num ambiente dominado pelo
neokantismo, em Berlim, Freiburg, Munique e Berna, onde defendeu tese de
doutorado sobre os primeiros românticos alemães. Durante o seu exílio em Paris,
nos anos trinta, foi ligado ao Instituto de Pesquisa Social, embrião da chamada
Escola de Frankfurt. Entre seus interlocutores e amigos, encontram-se
personalidades marcantes do século XX como Theodor W. Adorno, Hannah Arendt,
Bertolt Brecht e Gershon Scholem.
A Editora Moinhos anuncia a
publicação de mais dois volumes da Coleção Artaud.
1. Para acabar com o juízo de
Deus é composto pelos textos: “Fragmentos de um diário do inferno”, “As
novas revelações do ser”, “À margem das novas revelações do ser” e “Para acabar
com o juízo de Deus”. De acordo com a pesquisadora Marcia Schuback esses textos
“expõem o duro aprendizado da identificação com a carne cruel e bruta do ‘estar
sendo’. São textos que representam três décadas da vida de Artaud, décadas que
são cadências e ritmos e não uma mera sucessão na cronologia da vida e do
tempo.”
2. Correspondência com Jacques
Rivière, como nos conta o pesquisador Edgard de Assis Carvalho, traz as
trocas de cartas entre Artaud e Rivière, que “começa em primeiro de maio de
1923 e termina em oito de junho de 1924, distribuída em três plots
intercambiáveis. Mais assertivo e questionador, composto de três cartas, o
primeiro abrange os meses de maio e junho; o segundo, também com três cartas,
datadas de 1924, pode ser considerado uma ontologia da criação e inclui o
lancinante poema ‘Grito’; finalmente, o terceiro, com cinco cartas, abrange os
meses de maio e junho de 1924 e espelha dilemas, sofrimentos, ambivalências,
aspirações e resiliências da alma humana.” Os dois livros têm tradução de
Olivier Dravet Xavier.
REEDIÇÕES
A Companhia das Letras reedita
parte da obra de Yukio Mishima sob seu catálogo; primeiro em formato digital. São
títulos que há muito se encontrava fora de circulação.
1. Confissões de uma máscara.
Autobiográfico, o romance conta a história de um adolescente que, no Japão
da Segunda Guerra, descobre a própria homossexualidade. Por detrás da máscara
com que encobre sua natureza, porém, ele sabe que não corresponde aos padrões
convencionais e que terá de enfrentar conflitos e preconceitos. Koo-chan vive
um momento de conflito interior no Japão do entre-guerras. No começo da
adolescência, tem fantasias que combinam impulso sexual e violência
sado-masoquista, desejo e morbidez. O rapaz chega a imaginar um “teatro da
morte”, em que jovens lutadores se enfrentariam como gladiadores,
exclusivamente para êxtase do próprio Koo-chan. À medida que avança na
adolescência ― e a Segunda Guerra Mundial se desenrola ―,
o rapaz tenta se interessar por mulheres, entre as quais Omi e Sonoko. Por
detrás da máscara de “normalidade”, porém, ele sabe que sua orientação sexual
não corresponde aos padrões convencionais. O protagonista empreende, aos
poucos, uma viagem interior de descoberta e construção da própria identidade. Publicado
em 1949, este é um dos livros mais importantes de Mishima. A tradução é de
Jaqueline Nabeta.
2. Cores proibidas. Depois
de três casamentos fracassados, a paixão que move Shunsuke é sua profunda
misoginia. Seu único prazer é contemplar o sofrimento das mulheres. Quando
encontra Yuchi, um jovem homossexual de beleza rara, Shunsuke vê no rapaz o
instrumento para sua vingança contra as mulheres, o meio perfeito para lhes causar
infinito sofrimento. A narrativa compõe uma trama de alto teor erótico sobre a
repressão do desejo e a proximidade entre pulsão sexual e dissolução de velhas
convicções morais na sociedade devastada do Japão pós-Segunda Guerra. No
romance, Shunsuke é um velho escritor que, depois de três casamentos
fracassados e uma existência dedicada aos exercícios espirituais, encontra na
homossexualidade uma nova aspiração existencial. Shunsuke conhece Yuichi, um
jovem de beleza frágil e estonteante que se torna seu amante e uma espécie de
fantoche para seus planos de vingança contra as mulheres. O enredo encadeia
revelação atrás de revelação, provocando no leitor um misto de curiosidade e
atordoamento, já que os personagens assumem atitudes contraditórias e
comportamentos escorregadios. Entre os primeiros livros de Yukio Mishima, Cores
proibidas foi publicado pela primeira vez em 1953. A tradução
brasileira é de Jefferson José Teixeira.
3. Mar inquieto. O jovem
pescador Shinji conhece Hatsue, uma mergulhadora de beleza inquietante, na orla
da praia de Utajima, onde mora com a mãe e o irmão. Hatsue é filha de Terukishi
Miyata, um dos homens mais ricos da pequena vila pesqueira japonesa. Shinji e
Hatsue se apaixonam e frustram a vontade do pai da garota de vê-la casada com
Yasuo, pretendente a quem ela fora prometida. Tem início uma história de amor
proibida, de desenlace imprevisível. Mar inquieto acompanha as venturas
e desventuras do jovem casal, que logo faz pensar em Romeu e Julieta. No embate
com os obstáculos que colocam em perigo seu amor, Shinji e Hatsue assumem
feições exemplares, que os transportam do mundo do romance para o universo da
fábula. Publicado em 1954, este foi o livro que confirmou a reputação de grande
narrador que Yukio Mishima conquistara com seus primeiros livros. Em contraste
com as obras complexas e polêmicas que, poucos anos antes, haviam proporcionado
um sucesso clamoroso ao autor ― como Confissões de uma máscara
e Cores proibidas ―, este romance breve impressiona pela singeleza de seu tom
e pela discrição de um estilo cristalino. O livro ganhou adaptações para o
cinema, a primeira delas realizada pelo diretor Senkichi Taniguchi no mesmo ano
de lançamento do livro. A tradução é de Leiko Gotoda.
4. O pavilhão dourado. Narrado
de forma densa e original, o romance mostra que a beleza absoluta pode ser tão
opressiva e enlouquecedora quanto qualquer imperfeição. Durante a Segunda
Guerra, em Quioto, um jovem assistente de sacerdote frequenta o templo do
Pavilhão Dourado, ambiente antes cultuado por seu pai como o lugar mais belo do
mundo. Ali, Mizoguchi, adolescente inseguro, introspectivo, que sofre de
gagueira e é incapaz de estabelecer verdadeiras amizades, encontra refúgio para
suas aflições. Quando conhece Kashiwagi, deficiente físico muito mais
experiente no mundo e no sexo, Mizoguchi desperta para o que chama de mal absoluto.
O conhecimento do mal, associado à ideia de perfeita beleza, princípio básico
do Pavilhão Dourado, faz com que o jovem alimente sonhos de destruição e
autodestruição, estranhas conjecturas sexuais e reflexões sobre o significado
dos valores universais, numa tortura mental que revela que o mal e a beleza não
estão tão distantes quanto parecem. A tradução é de Shintaro Hayashi.
Nova edição de um clássico da
literatura mexicana.
O realismo fantástico como hoje se
conhece não teria existido sem este livro. Desta fonte beberam o colombiano
Gabriel García Márquez e o peruano Mari Vargas Llosa. A partir da combinação de
dois elementos essenciais ao sucesso da literatura latino-americana ― o
realismo fantástico e o regionalismo ―, Rulfo se destaca pela sua habilidade
em contar uma história reunindo relatos e lembranças. De enredo conciso e
preciso, o único romance de Juan Rulfo trata da promessa feita por Juan
Preciado à mãe moribunda. O rapaz sai em busca do pai, Pedro Páramo, um
lendário assassino. No caminho, encontra impressionantes personagens repletos
de memórias, que lhe falam da crueldade implacável de seu pai. Em sua estrutura
não há linha temporal exata, tampouco um narrador fixo. Juan Rulfo nos leva a
mergulhar e a nos dissolver no turbilhão dos sentimentos de todo um povoado, em
torno desse grande homem. Alegoricamente, o romance é o Méximo ferido, que
grita suas chagas e suas revoluções, por meio de uma aldeia seca, onde apenas
os mortos sobrevivem para narrar os horrores de sua história e política. Pedro
Páramo é basicamente sobre a presença da morte em meio à vida. Um livro, de
poética simples e concisa, curto e inesquecível. A tradução de Eric Nepomuceno
ganha reedição pela José Olympio.
Nova edição de No fim dá
certo ―
título tão expressivo quanto otimista ―, e que registra alguns
preciosos achados, vistos com lupa por este autor tão sensível do cotidiano.
Com humor característico, Fernando
Sabino relaciona “Na lista das pequenas coisas que o desagradam a cada passo”:
os compromissos marcados com mais de 24 horas de antecedência; responder
cartas; compras a prestação; tirar gelo de formas da geladeira; qualquer
espécie de farda ou uniforme; poltronas sem braços; bichos que voam, exceto
passarinhos; cortar unha, especialmente do pé; luz fluorescente; poema lido
pelo autor; banho frio; talher de peixe; filme dublado; despedida em aeroporto;
e, curiosamente, escrever. Por outro lado, o autor também enumera algumas
pequenas coisas que aprecia: dia de chuva sem precisar sair de casa; o momento
em que o avião toca no solo e vira automóvel; a parte do meio da torrada
Petrópolis partida em três; pagar a última prestação; descobrir que ainda é
cedo, dar tempo de tomar mais um; já ter lido Guerra e paz, Odisseia
e Dom Quixote; passarinho solto; andar pela casa sem testemunhas,
falando sozinho ou completamente nu; sair sem se despedir; e, naturalmente,
fazer listas de pequenas coisas que o agradam. Ainda, sugestões para trocas de títulos
de livros famosos de amigos escritores, brincadeiras com pérolas da tradução
literária, os princípios do que chama “Lei Anti-Murphy” ― é destas e outras descobertas
que No fim dá certo é composto. A nova edição é publicada pela editora
Record.
PRÊMIO LITERÁRIO
Saiu a lista com os 54 autores
semifinalistas do Prêmio Oceanos de Literatura, que distingue anualmente as
melhores obras publicadas em língua portuguesa. Entre os nomeados, o poeta
Tiago D. Oliveira, colunista do Letras in.verso e re.verso.
O anúncio decorreu numa sessão
virtual – por causa da pandemia de Covid-19 toda a edição do galardão neste ano
será digital – e contou com a participação de Selma Caetano, na coordenação do
Oceanos, e dos curadores Isabel Lucas (Portugal), Adelaide Monteiro (Cabo
Verde) e Manuel da Costa Pinto (Brasil). Nesta edição, entre 1.872 obras
concorrentes, foram selecionados 22 romances, 22 livros de poesia, cinco livros
de contos e cinco de crônicas, num total de 54 obras de três continentes,
publicadas por 34 editoras. Entre os 37 autores brasileiros semifinalistas,
encontram-se (na prosa) títulos como: Essa gente, de Chico Buarque; Pontos
de Fuga, de Milton Hatoum, Marrom e Amarelo, de Paulo Scott; A
morte e o meteoro, de Joca Reiners Terron; A ocupação, de Julián
Fuks; Baal, de Betty Milan e Carta à rainha louca, de Maria
Valéria Rezende. Na poesia, foram selecionados, entre outros: As solas dos
pés de meu avô, de Tiago D. Oliveira, colunista do blog Letras in.verso
e re.verso; Cerração, de Alexei Bueno; Deriva, de Adriana
Lisboa; Rosa que está, de Luci Collin; e Retratos com erro, de
Eucanaã Ferraz. Entre novembro e o início de dezembro, sai o resultado com os
três vencedores. A lista completa pode ser acessada a partir daqui.
Uma jovem escritora da Holanda
ganha com o seu primeiro romance o International Booker Prize de 2020.
Marieke Lucas Rijneveld nasceu em
1991 em Nieuwendijk. Seu romance The Discomfort of Evening, publicado
por uma editora independente é o vencedor Booker Prize '20. O evento transmito
online foi adiado desde maio por causa da pandemia da Covid-19. A principal
preocupação do grupo que formou o júri ― o escritor e crítico literário Ted
Hodgkinson, a diretora da Villa Gillet e editora Lucie Campos, a Jennifer
Croft, o jornalista e escritor Jeet Thayil e a autora Valeria Luiselli ―
foi procurar um livro que fosse “intemporal”, salientou a administradora
Fiammetta Rocco. Para trás ficaram as obras de uma variedade de autores que
incluía nomes do Irã a Argentina, da Alemanha ao Japão. O prêmio é atribuído
anualmente a um livro traduzido para o inglês e publicado no Reino Unido ou
Irlanda. Foi criado para incentivar a publicação e leitura de ficção
internacional de qualidade e promover o trabalho de tradução. No ano passado, a
ganhadora foi Jokha Alharti, pelo romance Damas da lua, publicado este
ano no Brasil pela Editora Moinhos. Alharti foi a primeira escritora de Omã e
de língua árabe a vencer o galardão; foi a primeira a ser traduzida para
inglês.
Lídia Jorge recebe o grande prêmio
da FIL de Guadalajara
Em 2018, Portugal foi o país
convidado na maior feira da América Latina, ocasião quando distinguiu e
celebrou a obra do maior escritor na literatura portuguesa, António Lobo
Antunes. Agora, dois anos depois, o Prêmio de Literatura em Línguas Românicas
vai para as mãos de uma escritora também entre as mais importantes no seu país.
Lídia Jorge estreou na literatura em 1898 com publicação do romance O dia
dos prodígios; desde então tem composto uma obra multifacetada, cobrindo
outras formas da prosa, como o conto, o ensaio e a crônica, e a poesia. O autor
brasileiro mais recente a receber grande prêmio da FIL de Guadalajara foi
Nélida Piñon, em 1995.
DICAS DE LEITURA
Acabamos de ler a notícia sobre a
premiação oferecida à Lídia Jorge. Esta escritora portuguesa, ainda que não
tenha circulação simultânea entre o seu país de origem e o Brasil, é sempre fácil
de encontrá-la entre seus livros mais célebres dos até agora publicados. Aproveitamos
este momento singular para registrar nestas dicas, três obras, entre as
editadas por aqui, capazes de colocar o leitor em sintonia com a riqueza
criativa de sua autora.
1. A costa dos murmúrios.
Este é, possivelmente um dos mais conhecidos romances de Lídia Jorge. Com uma
narrativa singular estrutural e formalmente, a autora põe em revista três
tempos da história portuguesa: do período da ocupação colonial, do desfazimento
do regime sanguinário de Salazar e do tempo corrente, feito de relembranças das
marcas indeléveis do tempo e dos tímidos avanços sociais. Com este romance, a
escritora estabelece alguns dos temas marcantes na sua ficção: a condição feminina
numa sociedade feita de toda sorte de machismos; a desconstrução da história
dos vencedores, feita sempre da mentira e do silenciamento dos vencidos; e o
valor do imaginário no estabelecimento do lugar de enfrentamento e
questionamento do instituído. Tudo isso pela ruptura da consciência de uma
personagem feminina que se situa entre o lugar de testemunha do horror e seduzida
pelo fogo das ideologias e depois de compreensão sobre seu lugar e o papel do
seu país na fabulação de realidade cruel demais mesmo olhada a tanta distância.
2. O vento assobiando nas gruas.
Com este romance, a escritora retorna ao vilarejo fictício de Valmares para
outra vez tocar em temas que são caros ao seu trabalho como ficcionista: os
pares em confronto amor e ódio, este último sempre designado pelo signo da
violência, maleita que assola sorrateira ou explicitamente as relações de variada
ordem. Mas, se há um dor que atravessa ponta a ponta a narrativa, há um sopro de
viva esperança por alguma transformação e modificação das coisas, ainda que tudo
seja apenas a substituição de uma paisagem por outra. Como no romance indicado
acima, se interceptam duas linhas temporais, cada uma com universos distintos:
um contemporâneo assinalado pela modificação acelerada como se é comum de tempos
de capitalismo selvagem; e um tempo passado, que revisita os de quando
portugueses e africanos fizeram caminho de retorno ou de salvação para Portugal. Amor, violência, história, segredos
―
quatro termos que sintetizam um pouco do que o leitor encontra neste romance. Este
e o primeiro livro foram publicados no Brasil pela Editora Record.
3. Antologia de contos. E,
para que o leitor saiba sobre outras faces criativas de Lídia Jorge, fica a
recomendação do que até agora, em 2020, é o seu único livro de contos publicado
por aqui. Os textos dessa antologia preparada pela editora LeYa foram selecionados
pela Professora Marlise Vaz Bridi e formam uma amostra bastante singular do
trabalho literário da escritora portuguesa nesta forma literária como os contos
“O belo adormecido” e Praça de Londres” colhidos de Marido e outros contos.
Repetindo o que se designa na sinopse de apresentação desta antologia: “Os
contos de Lídia Jorge se destacam pelos motivos aparentemente simples, ao mesmo
tempo em que demonstram a qualidade da construção das narrativas por meio da
precisão da linguagem, da escolha do ponto de vista que amplifica ambiguidades
e sugestões, pelo fino desenho das personagens e dos ambientes e, sobretudo,
pela articulação entre a subjetividade do mundo ficcional com a objetivação do
mundo real.”
VÍDEOS, VERSOS E OUTRAS PROSAS
1. No dia 24 de agosto de 1944,
nasceu Paulo Leminski. Sublinhamos a data do seu aniversário com uma boa
recordação. Em 2013, ano de publicação pela Companhia das Letras da
poesia completa do poeta, a página do Letras no Facebook realizou uma
série de atividades; dentre elas, várias promoções que sortearem exemplares do
livro, um sarau virtual e a catalogação de vários poemas de Leminski reunidos
neste álbum.
2. A edição n.19 da revista 7faces,
dedicada à obra do escritor português Jorge de Sena, publicou alguns poemas
inéditos no Brasil de Lídia Jorge. Para lê-los, basta acessar aqui. Todas as
publicações desta revista de poesia são disponíveis gratuitas e online.
BAÚ DE LETRAS
1. A lista de aniversariantes da
semana inclui ainda o nome de Jorge Luis Borges. O escritor argentino nasceu no
mesmo dia de Paulo Leminski, mas em 1899. No blog, há várias publicações em
torno da sua figura e obra. Recordamos o mais recente: uma excelente leitura de
Guilherme Mazzafera sobre Esse ofício do verso, sublinhando a recente
reedição entre nós deste livro de ensaios do criador do Aleph.
2. No blog, encontrará disponível dois
textos sobre dois romances de Lídia Jorge: a) este, sobre o primeiro livro
recomendado na seção “Dicas de leitura”, A costa dos murmúrios; e b)
este outro, sobre outro de seus livros sempre colocado em alta pelos especialistas
na sua obra, Combateremos a sombra.
3. Pedro Fernandes comentou sobre
o livro do nosso colunista Tiago D. Oliveira, agora semifinalista do Prêmio Oceanos
’20 ―
As solas dos pés de meu avô. Para ler o texto, basta visitar aqui. O material
é completado pela leitura de alguns poemas deste livro do poeta.
.........................
* Todas as informações sobre lançamentos de livros aqui divulgadas são as oferecidas pelas editoras na abertura das pré-vendas e o conteúdo, portanto, de responsabilidades das referidas casas.
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