DO EDITOR
1. Durante a semana, entidades ligadas
ao livro e leitores como o blog Letras in.verso e re.verso fizeram eco a uma
campanha contra a taxação de livros que quer ser imposta pelo governo brasileiro.
Um país feito de desigualdades cada vez mais acentuadas, onde o livro é de raro
acesso dada todos imperativos que dificultam seu acesso, onde os índices de
leitura são sempre reprováveis, transformar o livro em artigo de luxo é uma
afronta diante da qual não podemos nos isentar, nem calar.
Leia mais sobre a participação do blog no movimento #DefendaOLivro.
2. Abaixo registra-se as notícias
que passaram, ou não, pelo mural de nossa página no Facebook. Além delas, as
demais seções com novos conteúdos, sempre com o interesse de enriquecer e
ampliar sua experiência cultural e literária. Fique bem. Boas leituras!
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Elizabeth Bishop. Um novo livro e a decisão da FLIP de mais homenagear a poeta em 2020. |
LANÇAMENTOS
Um retorno ao Portugal profundo.
Neste romance de João Torcato
Justa, um narrador testemunha a história da sua ancestralidade através do
protagonista, tio materno e melhor amigo, recriando uma linha de tempo mágica
que cruza a fronteira do Alto Alentejo e chega à planície da vizinha Estremadura,
em terras de Espanha. António, conhecido na pequena vila alentejana por Lobo, é
um jovem aventureiro, boêmio, destemido e mulherengo. O dia em que o seu
coração é arrebatado pela beleza inequívoca da espanhola Soledad, esposa de um
dos homens mais poderosos de Espanha, marca o começo de uma jornada definida
pelo Destino, pelas Estrelas e pela coragem de homens e mulheres que fazem
milagres. Como pano de fundo, um Alentejo rural marcado pelos costumes de um
Portugal salazarista e a vizinha província espanhola da Estremadura, num
terrível processo de cura das feridas da Guerra Civil. João, narrador
participante, convida-nos a mergulhar nas memórias familiares que transformaram
a sua família e região, revelando a surpreendente densidade dramática de seus
personagens e um enredo não convencional de ligações afetivas e contato
metafísico com a realidade. Homens que falam com estrelas é o novo
título da série Lusofonia da editora Jaguatirica.
Uma viagem literária, rumo às
origens de um gênero destinado a longa carreira — o romance.
Um rapaz se deixa encantar por uma
moça, a mais bela de Siracusa; seu amor é correspondido, e tudo parece mais que
promissor, com o beneplácito de Afrodite; mas os azares do mundo, sob a batuta
errática da Fortuna, parecem soprar em outra direção, e logo sobrevêm
complicações e quiproquós, raptos e guerras, persas e piratas, peripécias e
reviravoltas... A trama irresistível de Quéreas e Calírroe —
concebida no século I d.C. por um autor grego de quem se sabe pouquíssima coisa
— convida seus leitores a uma verdadeira viagem. Em primeiro lugar, a um périplo
literal e rico em incidentes, no rastro de personagens que perambulam sem
descanso pelo Mediterrâneo e pela Ásia Menor. Mas igualmente a uma viagem
literária, rumo às origens de um gênero destinado a longa carreira — o romance,
prefigurado aqui em sua gama ampla, das fronteiras do mito heroico ao
território do folhetim sentimental. Pois que ninguém se engane com a data
remota e os nomes antigos: Quéreas e Calírroe destila novidade por
todos os poros. Aí está a prosa, que toma o lugar do verso épico; aí estão o
amor e a paixão, que vão roubando a cena à guerra; e eis aqui a bela Calírroe,
tão astuciosa quanto Odisseu, inaugurando a vasta galeria de heroínas que,
desde então, vêm marcando o romance. A tradução é de Adriane da Silva Duarte e
o livro é publicado pela Editora 34.
Homem invisível é um clássico
da literatura afro-estadunidense ganha edição ampliada.
Este é um dos romances seminais do
cânone afro-estadunidense. Livro que resume a experiência de ser negro nos Estados
Unidos, Homem invisível narra a história de um jovem negro que sai do
sul racista dos Estados Unidos e vai para o Harlem, em Nova York, nos primeiros
anos do século XX. Com o passar do tempo, entre experiências frequentemente
contraditórias, o protagonista conhece um mundo muito diferente daquele que
idealizara. Invisível para brancos racistas e também para negros, ele deseja
apenas ser como é. Segundo o jornal The New York Times, “O primeiro
romance apaixonado de Ralph Ellison, de um homem negro rebelde no mundo moderno
[...] apresenta uma consciência literária madura [...]: escapa das convenções
do realismo [...] para uma afirmação universal da condição do homem em nossos
dias.” Para o crítico Harold Bloom, “Mais de um terço de século após sua
publicação original (1952), Homem invisível, de Ralph Ellison, está
completamente confirmado como um clássico estadunidense.” Essa edição ampliada
tem texto de orelha assinado por Luiz Mauricio Azevedo e prefácio de Gabriel
Trigueiro, especialistas na obra de Ellison. “Homem invisível é um
romance de formação rico em alegorias, parábolas e simbolismo. Não à toa, já
foi chamado de ‘o Moby Dick da crise racial norte-americana’”, observa Gabriel
Trigueiro. A tradução é de Mauro Gama. E o livro sai pela José Olympio.
Livro de Elizabeth Bishop
publicado em 1965 ganha edição na coleção Poesia de bolso, da Companhia das
Letras.
“Teria sido melhor ficar em casa,/
onde quer que isso seja?”, pergunta Elizabeth Bishop no poema que dá título ao
livro. Publicado em 1965, o volume Questões de viagem é dividido em duas
partes: “Brasil”, que inclui onze poemas, e “Outros lugares”, com um conto e
cinco poemas. Estão aqui os célebres “Chegada em Santos”, “Manuelzinho” e “O
ladrão da Babilônia”, que revelam o olhar inquieto, arguto e mordaz da
escritora que em 1951 desembarcou no porto de Santos para passar duas semanas
no país, mas acabou ficando por quase vinte anos. Considerada uma das poetas
mais notáveis do século XX, Bishop é autora de uma obra monumental e, ao mesmo
tempo, concisa: em vida, publicou apenas 101 poemas. Ao observar o mundo com
genuína curiosidade, sua poesia examina a própria natureza humana, caótica e
ambígua, e demonstra o desejo de pertencer a algum lugar. A edição bilíngue tem
tradução e notas de Paulo Henriques Britto.
Importante ensaio sobre um dos
pensadores portugueses mais atentos à obra de Fernando Pessoa.
Fernando Pessoa, ou a
metafísica das sensações é publicado pela N-1 Edições com prefácio de José
Miguel Wisnik; neste texto, sublinha o brasileiro, “José Gil toma como
matricial de todo esse processo, um alguém atenta para as mínimas sensações
intersticiais que lhe sobrevêm, sensações estas tomadas como ondas
transportadoras de outras sensações que se lhes associam, sensações transformadas
em arte, que são também sensações de um outro, múltiplo gerador de outros. ‘Escrever
poemas’, diz José Gil, ‘é escrever segundo a lógica da heteronímia, é iniciar
um processo de devir-outro que deverá necessariamente levar à produção poética
dos heterônimos’. Sentir-se outro, ser outro desde o primeiro ato poético da
sensação, implica fazer-se (poeticamente) outros. E só existirão os
heterônimos, esses outros, porque cada um deles já é outro para si mesmo, e
participando todos de um vertiginoso jogo caleidoscópico.”
O primeiro e aclamado romance
da escritora chilena María José Ferrada chega aos leitores brasileiros.
Unidos por um catálogo de produtos
de serralheria da marca Kramp e viagens num Renault velho por estradas,
povoados e cidades, uma filha cresce ao lado de seu pai, caixeiro-viajante, a
aprender ensinamentos sobre o mundo e vida. Da infância à adolescência, M narra
seus aprendizados e o correr dos anos, até o evento que marca uma ruptura na
família, acionando o dispositivo dos sintomas parentais e outras rupturas
e mais questionamentos sobre o universo e as peças que não se encaixam, as
dores desparafusadas que se acumulam, e o revelar das engrenagens discretas do
afeto rangendo no crescer da sua maturidade. María José Ferrada tem diversos
livros ilustrados traduzidos para diversas línguas. Kramp, seu primeiro
romance adulto, foi o primeiro trabalho a receber os três prestigiados prêmios
literários chilenos: o Prêmio de Melhor Romance do Círculo de Críticos de Arte,
o Prêmio de Melhores Obras do Ministério da Cultura (categoria romance) e o
Prêmio Municipal de Literatura em Santiago.
O livro que agora se publica pela
Editora Moinhos recebeu a tradução de Silvia Massimini Félix. A voz da arrogância.
Tradutora de textos jornalísticos,
Bérengère Viennot seviu confrontada por um desafio inédito com a eleição de
Donald Trump. O presidente norte-americano manda às favas os códigos do
discurso político. Sua língua é vulgar e confusa, recheada de erros de sintaxe
e de frases sem pé nem cabeça, de sarcasmo e de invectivas – sinais de um
descolamento da realidade e da cultura. Com uma escrita tão hilária quanto
incisiva, a autora relata seu desafio como tradutora e se questiona: como
passamos da violência das palavras para a violência política? A que ponto esse
é um sintoma do estado da democracia? Por que isso afeta todos nós? "A
língua de Trump" é um espelho impecável do próprio presidente, dos Estados
Unidos e de nossa época. A tradução é de Ana Martini e é publicada pela editora
Âyinè.
Livro da escritora chilena Alia
Trabucco Zerán, finalista do Man Booker Prizer 2019 ganha edição no Brasil.
Felipe e Iquela são dois jovens
amigos que residem em Santiago e vivem o legado da ditadura do Chile. Felipe
anda pelas ruas contando corpos reais e imaginários, aspirando a um número
perfeito que possa oferecer algum “encerramento” para si. Em paralela a essa
amizade, temos a de Iquela e Paloma, que são velhas conhecidas da infância, e
que buscam uma maneira de conciliar suas vidas frágeis com o violento passado
militante de seus pais. A trama gira em torno do corpo da mãe de Paloma, que
acaba por se perder na viagem que faz da Europa para o Chile. O corpo acaba
indo parar na Argentina. Os três, então, seguem numa roadtrip movida a
pisco pela cordilheira, enquanto enfrentam a dor que se estende por gerações. A
subtração, de Alia Trabucco Zerán, foi um dos finalistas do Man Booker
International Prize em 2019. O livro publicado pela Editora Moinhos recebeu a
tradução de Silvia Massimini Félix.
Os discursos inéditos de Erico
Verissimo disponíveis online e gratuitamente.
Segundo o jornal
Correio do Povo material é resultado de uma
extensa pesquisa nos Estados Unidos realizada por Ana Maria da Glória Bordini e
Ana Letícia Fauri e agora publicado pelas Edições Makunaima.
Erico Verissimo
na União Pan-Americana – Discursos 1953-1956 traz os textos do escritor
gaúcho no período em que trabalhou como diretor do Departamento de Assuntos
Culturais da Organização dos Estados Americanos, em Washington. O trabalho
começou com uma pesquisa na Universidade de Michigan e na Universidade de
Colúmbia, em Nova York, incluindo outras instituições universitárias e devido
ao escasso material disponível nos Estados Unidos, a maior parte da
correspondência foi localizada no Acervo Literário Erico Verissimo. Os textos
revelam um escritor dando conta dos efeitos díspares, tanto internos quanto
externos, das relações de poder na época, configurando um panorama peculiar, de
um escritor leigo em diplomacia e política externa. O livro está disponível
aqui.
Viagem ao redor do meu quarto,
de Xavier de Maistre é o novo título da Coleção Fábula, da Editora 34.
Confinado em seu quarto após se
envolver num imbróglio pré-carnavalesco (devidamente seguido de duelo), um
oficial de família nobre vinga-se do aperto castrense e do despeito amoroso
escrevendo um pequeno prodígio de leveza verbal e garantindo seu posto —
singular, vale dizer — nas letras francesas. Parece bem contado demais para ser
verdade, mas assim nasceu esta Viagem ao redor do meu quarto. Redigido
na fortaleza de Turim e publicado pela primeira vez em 1795, o livrinho do
tenente (e conde) Xavier de Maistre (1763-1852) é um exercício de risonha
subversão de hierarquias, sejam elas militares, metafísicas ou literárias.
Zombando das circunstâncias, o autor transforma os quarenta e dois dias de
castigo em ponto de partida para uma paródia dos relatos de viagem, das
dissertações eruditas e dos tratados de filosofia, confrontados aqui ao
zigue-zague dos caprichos, ao curso errático dos pensamentos ou ainda às
inclinações incontornáveis do corpo. Aos poucos, o sentimento e a fantasia vão
tomando conta do cenário com uma irreverência que, sendo graciosa como só o
século XVIII sabia ser, mostrou-se cheia de sugestões sediciosas para as
gerações seguintes: Nietzsche foi leitor da Viagem, e Machado de Assis havia de
saber o que estava fazendo quando inscreveu suas Memórias póstumas de Brás
Cubas na linhagem da “forma livre de um Sterne ou de um Xavier de Maistre”.
A tradução é de Veresa Moraes; o livro traz posfácio de Enrique Vila-Matas.
Leituras sobre a obra de Lúcio
Cardoso.
Em setembro de 2018 aconteceu na
Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais, por intermédio do
seu Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários e do Acervo dos Escritores
Mineiros o colóquio “Lúcio Cardoso – 50 anos depois”. Os textos de Leandro
Garcia Rodrigues, Rafael Cardoso, Ésio Macedo Ribeiro, Gustavo Silveira Ribeiro,
Denilson Lopes, Walmir Ayala, Marília Rothier Cardoso, Elizabeth Cardoso,
Fernando Monteiro de Barros, Ruth Silviano Brandão, Beatriz Damasceno, Rodrigo
Coppe Caldeira, Valéria Lamego, Luiz Carlos Lacerda e Andrea de Paula Xavier
Vilela fazem parte deste livro agora publicado pela Relicário Edições. Mineiro
de Curvelo, Lúcio Cardoso estreou em 1934 com o romance Maleita, escrito
na adolescência, evoluindo até a sua obra-prima – Crônica da casa assassinada
– publicada em 1959. De uma obra múltipla, marcada pelo distanciamento dos
temas sociais de linhagem marxista de denúncias sociais, tão ao gosto da época,
Lúcio enveredou pela investigação intimista da condição humana, pela análise
das vicissitudes existenciais de ordem ontológica, comportamental e religiosa.
Dessa forma, alinhou-se às propostas literárias de Octávio de Faria, Cornélio
Penna, Augusto Frederico Schmidt, Clarice Lispector e a alguns aspectos de
Guimarães Rosa, entre outros. Tudo isso confere à obra de Lúcio Cardoso um
lugar ímpar na literatura brasileira, com uma qualidade inquestionável e que
ainda precisa ser descoberta e sentida pelas novas gerações.
Uma antologia entre o fato e o
fake.
Num momento em que a verdade nos
foi tomada de assalto, juntamos um time de ficcionistas para roubá-la de volta.
Os contos reunidos tratam do Brasil recente e de possíveis futuros, de absurdos
reais e imaginados. Infelizmente, são tempos em que tudo é possível. O livro é
organizado por Julia Dantas e Rodrigo Rosp e publicado pela Dublinense Editora.
EVENTO
Elizabeth Bishop não é mais a
autora homenageada da Festa Literária Internacional de Paraty 2020.
Há uma crise instaurada na base de
organização da Flip 2020 que só agora, com o avanço da pandemia do Coronavírus,
se tornou evidente. Primeiro, veio as modificações do formato do evento a fim
de preservar o distanciamento social; agora, a saída da curadora Fernanda
Diamant. E foi este segundo episódio o que desencadeou a decisão agora tornada
publicada. As homenagens ficarão restritas ao Ciclo da Autora Homenageada, uma
espécie de pré-aquecimento para o evento maior, desenvolvido em parceria com o
SESC. O evento seria de 29 de julho e 2 de agosto; depois foi adiado para
novembro, à revelia de Fernanda Diamant. A escolha da poeta estadunidense para
homenagem causou controvérsia aquando do anúncio. A organização chegou a
simular um passo atrás com a ideia, mas decidiu levar adiante, o que só
acentuou os ânimos já acirrados. Até agora não sabe ao certo quais os rumos do
evento que segue sem curadoria, sem prazos e sem um roteiro público de
programação.
DICAS DE LEITURA
Nesta o blog publicou uma leitura sobre
O trigo e o joio, de Fernando Namora. Na ocasião, em que se publica no
Brasil Dona Bárbara, de Rómulo Gallegos e Senhores do orvalho, de
Jacques Roumain ― já falamos sobre essas duas publicações noutros boletins ― chega
uma pergunta: passaremos por uma ressurreição do romance de temática social? A
expectativa fica numa palavra: tomara. Há muito romance bom desta safra
que precisa ganhar outra geração de leitores. Os três títulos citados
anteriormente devem compor sua lista de leituras. E abaixo, na mesma linha, outros
três livros com narrativas do tipo há muito esquecidos e que merecem sua
atenção. Estão esgotados nas livrarias, mas uma visita ao sebo pode render esse
encontro.
1.
Aldeia nova, de Manuel
da Fonseca. Outros livros do escritor português circularam no Brasil de Jorge
Amado
―
sim, curiosamente, foi a época quando mais circulou por aqui obras literárias vindas
de Portugal
―,
mas este é por muitos considerada sua
Magnum opus. É um livro de contos
publicado originalmente em 1942. São doze textos no total que reanimam
situações, acontecimentos e traços culturais dos mais diversos daquela região
que ficou imortalizada na prosa neorrealista portuguesa, o Alentejo. Com bem
escreveu Pedro Belo Clara sobre este livro, num texto publicado
aqui no
Letras,
“Ler Manuel da Fonseca é regressar a um tempo já ido [...]. Nalguns casos,
conhecê-lo através do
mergulho num universo de charnecas e searas
paradas, de planícies de melancolia sem fim, de casas de branco caiadas, de largos
onde o povoado se reúne ao final do dia (o tão bem descrito ‘centro do mundo’)
e de personagens de nomes tão castiços quanto os de Zé Carlo, Estróina ou Maria
Campaniça o são. De um modo bem peculiar, aqui residirá talvez a maior beleza
da literatura produzida por Fonseca, seja ela poética ou prosaica
―
beleza essa que o seu marcado realismo soube aprimorar. Esse estilo de produção,
aliás, torna vívida a experiência literária, quase palpável aos olhos do leitor
que nela se perder.”
2. A menina morta, de Cornélio
Pena. Este é o último dos quatro romances do escritor brasileiro. A crítica
sempre o leu como um dos melhores de sua época, uma vez que é uma narrativa que
sintetiza a temática regionalista da nossa literatura de 1930 com a investigação
psicológica, um exercício que ficou reparado por Pedro Fernandes na leitura de O
trigo e o joio, do português Fernando Namora. O livro de Cornélio Pena está,
assim, a meio caminho dos chamados romance histórico e do romance psicológico. A
narrativa situa-se no Vale do Paraíba, em Grotão, fazenda dedicada ao cultivo
do café; seu ponto de partida é a morte da filha mais nova dos senhores da
fazenda, episódio que instaura um vazio e “traz à consciência das personagens a
violência das relações interpessoais e a desagregação da ordem doméstica
produtiva” (via Enciclopédia Itaú Cultural).
3. Os ratos, de Dyonélio
Machado. O livro publicado em 1935 e escrito pelo incentivo de Erico Verissimo,
acompanha o dia na vida de um funcionário público que tem diante de si um
dilema: saldar a dívida de 53 mil réis ao leiteiro que agora o ameaça de cortar
o fornecimento de leite caso ele não pague o devido. O que prepondera, assim, é
uma virulenta crítica à submissão do homem ao capital, o embrutecimento das relações
humanas, i.e., a massificação do homem e sua objetificação. Trata-se de um drama
psicológico dos mais singulares na literatura brasileira.
VÍDEOS, VERSOS E OUTRAS PROSAS
1. Em 2020, celebramos o
centenário do poeta João Cabral de Melo Neto. Na semana que passou, a revista
7faces divulgou os detalhes sobre sua nova edição, a de número 21, a ser
publicada até o final de setembro. O material trará doze ensaios, poemas de
vinte poetas, entre outras novidades que estão a altura do homenageado. Você
pode saber mais sobre
─
e aproveitar para conhecer este trabalho
aqui.
BAÚ DE LETRAS
1. Além do texto de Pedro Belo
Clara sobre
A aldeia, de Manuel da Fonseca, ele escreveu sobre outro
livro deste mesmo escritor, o romance
Seara do vento, e sobre o livro de
poesia
Rosa dos ventos. O primeiro texto pode ser lido a partir
daqui; o
segundo foi dividido em duas partes
─
aqui, a primeira; e
aqui, a segunda.
.........................
* Todas as informações sobre lançamentos de livros aqui divulgadas são as oferecidas pelas editoras na abertura das pré-vendas e o conteúdo, portanto, de responsabilidades das referidas casas.
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