Boletim Letras 360º #385



DO EDITOR

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Clarice Lispector. Dois novos livros ganham reedição no projeto para o centenário da escritora.

 
LANÇAMENTOS

A alegria de enxergar novos mundo através dos olhos dos outros.

C.S. Lewis, grande escritor de ficção e livros teológicos, como As crônicas de Nárnia, a Trilogia Cósmica e Cartas de um diabo a seu aprendiz, continua envolvendo os leitores graças não apenas às suas ideias intelectuais, mas também por ser um amante incorrigível de livros e um leitor ávido. Essas características fizeram com que conseguisse produzir suas maravilhosas obras criativas por meio de reflexões profundas sobre a literatura que impactou sua vida. Em Como cultivar uma vida de leitura ― coletânea encantadora que reúne escritos do abrangente acervo literário de Lewis ― o respeitado professor e autor Best-seller reflete sobre o poder, a importância e a alegria de uma vida dedicada aos livros. Esta coleção revela o que o próprio Lewis tanto amava na leitura e o que significa aprender por meio da literatura. O livro é uma verdadeira lente para entendermos os pensamentos de um dos maiores intelectuais de nosso tempo. A tradução de Elissamai Bauleo é publicada pela Thomas Nelson Brasil.

Um clássico da obra de Stuart Turton, As sete mortes de Evelyn Hardcastle.

Dia após dia, um homem acorda em meio aos preparativos de uma festa em honra a Evelyn Hardcastle na Mansão Blackheath. Dia após dia, em um corpo distinto. Cada hospedeiro é uma nova chance de descobrir o culpado pela morte da estrela da festa, que se desvela durante o luxuoso baile de máscaras. Além da confusão da viagem do tempo, os segredos transbordam, e nenhum movimento é simples, pois as regras do jogo não estão claras – e reviravoltas acontecem a todo momento. A tradução de Hilton Lima é publicada pela editora Dublinense.

Nova tradução de Rei Lear, de William Shakespeare.

Misto único de conflito familiar e crise política, de amor e ódio entre pais e filhos, Rei Lear evoca o niilismo da modernidade ao mesmo tempo em que opera a história do século XVI e das primeiras décadas do século XVII. Muitas vezes considerado o ápice da produção dramática de Shakespeare, Rei Lear começa quando um rei idoso, em busca de um sucessor, acaba por escolher duas filhas indignas de sua confiança, em vez daquela que o ama. Por conta desse erro, ele se vê despojado de seu poder, condenado a uma vida miserável de horror e insanidade. Nenhuma peça de Shakespeare foi tão longe na junção de traços grotescos, fantásticos e violentos, nos contrastes do humano, em cenas absurdas e impactantes repletas de ardis improváveis que envolvem a mente do leitor numa névoa que se mostra cada vez mais uma poderosa criação narrativa. O elo de Rei Lear com a contemporaneidade fica evidente seja no caráter niilista ou nas insinuações pré-psicanalíticas da obra. Situada em um universo impiedoso, a tragédia sombria e brutal de Shakespeare é uma obra-prima imponente e fundamental, uma poesia feroz e de amplo escopo imaginativo. A tradução de Lawrence Flores Pereira é publicada pela Penguin / Companhia das Letras.

Novo livro do poeta Ricardo Domeneck.

O morse desse corpo se vale da palavra, do som e do ritmo para transmitir um S.O.S. poético para o mundo. Com seu apuro estético, seus bichos exóticos, suas imagens sofisticadas e seus jogos de linguagem trazendo à tona novos e inesperados sentidos, Ricardo Domeneck reafirma neste novo livro uma das vozes mais originais – e essenciais – da poesia brasileira contemporânea. A edição é da 7Letras.

À cata de Fernando Pessoa.

O anjo (ou criatura superior a maniqueísmos), narrador de Procurando Fernando Pessoa, de José Alfredo Santos Abrão, persegue o poeta português que é perseguido pelo mago hedonista Aleister Crowley. Crowley, que foi considerado pela imprensa britânica como “o homem mais ímpio do mundo”, por sua defesa herética da liberdade individual e espiritual numa Inglaterra anglicana, extremamente conservadora, cunhou a célebre frase cantada por Raul Seixas: “Faze o que tu queres, há de ser tudo da Lei”. É nessa condição de ocultista libertário que Crowley, na novela que o leitor tem em mãos, vai a Lisboa ao encontro de Fernando Pessoa – como de fato o foi, em 1930, movido por uma carta que o poeta lhe enviou, corrigindo dados astrológicos do grande mago. O encontro, narrado com um misto de pudor e encantamento pelo anjo amoroso criado por José Alfredo (identificável em certa medida com o próprio autor), é explosivo: Crowley, entre partidas de xadrez com o ainda obscuro gênio poético, propõe a Pessoa um jogo mais perigoso. Quer dar um xeque-mate no verdadeiro rei dos homens tolos, a realidade. Em resumo, propõe ao bardo (aos bardos, porque Pessoa, como sabemos, é a difração de um homem na humanidade) que seja cúmplice de seu suicídio. O detalhe é que o suicídio será ficção, como sói acontecer no mundo manhosamente transversal dos magos e poetas. A proposta inclui um pedido: Pessoa escreverá uma novela policial sobre o falso suicídio, a qual, sendo Crowley um homem famoso, tornar-se-á um best-seller e os deixará ricos. Irrefletidamente, levado pela coceira na mão e pelo arrogante entusiasmo do mago, o poeta concorda com o plano. Eles simulam e divulgam o suicídio (na vida real, havia um jornalista mancomunado com o poeta e o mago). Mas a meio caminho da escrita da novela policial, Pessoa desiste de tudo e, com a ajuda de sua amiga Ophelia Queiroz, elabora um plano B: irá sumir, metamorfoseando-se em seus heterônimos. Crowley, irado, passa a perseguir o ortônimo, mas descobre que para isso terá que sair no encalço de Álvaro de Campos, Ricardo Reis, Alberto Caeiro… Em outras palavras, o leitor se perde junto com Crowley, vítima dessa espécie de uso “diversionista” dos heterônimos. Para o bem da “realidade”, a novela de José Alfredo nos leva ao ambiente mirífico de criaturas que, diante de um mundo estupidamente materialista, viveram como personagens salvadores de si mesmos. Aos anti-heróis sublimes, que subvertem a submissão à ordem e à racionalidade, para ressumar este “nada que é tudo”, este ímã indefinível e constelado que são os mitos. O livro é publicado pela Kotter Editorial.

Dois novos livros ampliam a coleção do ano do centenário de Clarice Lispector.

1. A legião estrangeira. Há neste livro uma parte significativa da ampla poética de Clarice Lispector. Conforme afirma quem conduz a narração no primeiro dos admiráveis e extasiantes contos aqui dispostos por orgânica sabedoria – “as palavras me antecedem e ultrapassam, elas me tentam e me modificam, e se não tomo cuidado será tarde demais: as coisas serão ditas sem eu as ter dito”. Dessa prova de poder e de relativa independência da língua, extrai-se a própria substância de uma arte verbal capaz de articular diferentes tipos de registros, que obedecem à variedade e mutação dos estados de espírito, bem como à variedade e mutação das experiências (observadas ou imaginadas, sempre intensamente vividas). Precaver-se ante a palavra e a ela entregar-se, eis o modo possível e laborioso de escrita – ajustar língua, conhecimento, percepção e disponibilidade. Infiltrar, assim, no espaço do habitual, orações complexas, desdobráveis, provocadoras de grandes distúrbios de rumos e de expectativas, ao lado de frases retas, curtas, certeiras e velozes. Feitas, por vezes, de um fervor só encontrável nos grandes textos místicos. Todo um mundo de segredos e de revelações. Aqui está a vida – pela palavra – sendo gerada aos nossos olhos, com seus contrastes de forças, seu regredir e avançar, a conquista da soberania e da humildade. Com o esforço e a destreza exigidos, surpreende-se o que se processa com inteligência arqueológica até surgir como se nascesse do puramente espontâneo, acompanhando, portanto, os inúmeros cálculos necessários para que se construa a longa e quase atemporal história dos corpos. Esculpe-se, nas sentenças, a alma. (Roberto Corrêa dos Santos)

2. Onde estivestes de noite. Os textos aqui reunidos desenham um conjunto heterogêneo, onde é possível identificar o tom das crônicas que Clarice Lispector publicava semanalmente em sua coluna do Jornal do Brasil de 1967 a 1973, reunidas em A descoberta do mundo (1984), como também certa crueza e humor que os aproxima daqueles publicados na mesma época em A via crucis do corpo (1974). Alguns dos textos, além disso, sofreram um deslocamento, pois já tinham sido publicados anteriormente (“Esvaziamento” e “Um caso complicado”), outros foram extraídos de romances e submetidos a ligeiras modificações, procedimentos que indiciam a urgência que a autora tinha de escrever para garantir sua sobrevivência.

Publica-se obra de teatro pouco conhecida de Machado de Assis.

O caminho da porta: comédia em um ato trata de uma dama sedutora que, cortejada por diversos pretendentes, encontra a sua lição quando estes resolvem entender o que está por trás dos jogos e poderes de sedução daquela linda viúva, rica e cobiçada. Uma comédia de costumes muito bem contextualizada e atual, se pensarmos em certos ciclos sociais. Mais uma obra de mestre, agora em forma dramatúrgica, de nosso sem igual Bruxo do Cosme Velho. A publicação é da editora Faria e Silva.

O novo livro de Evandro Affonso Ferreira Ontologias mínimas: Romance redemoinho.

Observadores desaforados garantem que nossa ontológica personagem, na maioria das vezes, se excede na absurdez, no desatino, para magnetizar incautos e irrefletidos leitores. Às vezes se preocupa com a tessitura da própria voz – motivo pelo qual fica dias seguidos rendendo ampla-total-irrestrita homenagem ao silêncio. [...] Sabendo da impossibilidade de combater obstáculos com blasfêmias e derrubar barricadas com irreverências profanas, aprendeu, desde cedo, a adestrar seu olhar para escarafunchar subterrâneos, transitar nos meandros subsequentes aos óbices. [...] Vez em quando sai aos tropeços procurando cadência, compasso nas suas andanças quase sempre lacônicas. Ontem cedo nossa ontológica personagem se arrastou muito devagar, réptil revelhusca, entre os becos sinuosos da própria longevidade. O livro é publicado pela editora Faria e Silva.

Duas vezes Ben Lerner, o romancista e o poeta.

1. Darren Eberheart arremessa a bola branca no meio da festinha de sua turma na Topeka High School. A bola, girando no ar como a lua, parece que esteve lá a vida toda. O ano é 1997, e o gesto de violência, aparentemente gratuito, desdobra – em diferentes esferas, da família, da ideologia e da linguagem – todo um passado e todo um futuro urdidos naquele Meio-Oeste estadunidense. Com necessidades especiais, Darren está no último ano do colegial e é colega de Adam Gordon, que faz de tudo para integrá-lo àquela pequena comunidade escolar, mas não sem alguns resultados desastrosos. Além de poeta aspirante, Adam é um destacado orador nos torneios de debates da escola, e se prepara para vencer um campeonato nacional antes de seguir para a faculdade. É, definitivamente, um dos garotos populares de Topeka, ainda que necessite de muitas idas à academia, sessões de biofeedback e suplementos de creatina para não expor suas fraquezas em um ambiente de masculinidade tóxica. Em casa, porém, as coisas são um pouco mais complicadas para Adam. Seus pais são psicanalistas da Fundação, um prestigioso instituto psiquiátrico em Topeka que atrai pacientes de todo o mundo. Jane, a mãe, que sofrera abuso sexual quando criança, torna-se uma famosa escritora feminista. Jonathan, o pai, atende a adolescentes, inclusive a Darren, sem que Adam saiba disso – embora vá descobrir outras coisas impactantes sobre o pai. Narrado em diferentes pontos de vista e em tempos que se entrecruzam, “Topeka School” é um drama familiar sofisticado que reflete sobre padrões que se repetem ou se rompem de geração para geração. É também uma narrativa política, que entrelaça as tecnologias emergentes nos anos 1990 e os campeonatos de debates nacionais ao que eclodiria no início do século XXI: o colapso do discurso público e o advento da pós-verdade. A tradução é de Maria Parula. O livro é publicado pela Editora Rocco.

2. Conforme destaca Paulo Henriques Britto na apresentação do livro, neste Percurso livre médio, “Ben Lerner recorre a uma terceira via: os textos que compõem o livro não são em verso livre nem recorrem a nenhum modelo tradicional de verso, e sim adotam um novo modelo, criado pelo autor. Ou melhor: dois modelos. O livro é dividido em cinco seções; três delas se adequam a um formato, e duas a outro. O corte do verso muitas vezes abre a possibilidade de que um verso seja a continuação não do imediatamente anterior, mas de algum que veio antes deste, o que tem o efeito de multiplicar as leituras possíveis. O que dá unidade a todo o projeto é a voz do eu lírico, que discorre sobre os grandes temas da poesia – entre eles o amor, a morte e a própria linguagem – a partir de uma perspectiva contemporânea, valendo-se de uma abundância de metáforas (inclusive a do título) quase sempre extraídas do mundo da ciência e da tecnologia de ponta, com uma inteligência e uma criatividade que nunca cessam de surpreender o leitor. Inteligência e criatividade são também as marcas desta tradução de Maria Cecilia Brandi, ela própria uma poeta refinada. Dando igual atenção às exigências formais dos dois tipos de verso inventados por Lerner e às complexidades do plano do sentido, em que abundam jogos de palavras envolvendo repetições, interrupções e ambiguidades, ela consegue com muita felicidade recriar em português o sofisticado jogo de alusões, imagens e sentimentos elaborado pelo autor de Percurso livre médio.” A tradução é de Maria Cecilia Brandi. E Percurso livre médio é publicado pelas Edições Jabuticaba.

REEDIÇÃO

A Farsa da boa preguiça é o novo título no projeto de reedição da obra de Ariano Suassuna pela Nova Fronteira.

Esta compõe a trindade das peças mais representativas da dramaturgia de Ariano Suassuna, junto com o Auto da Compadecida e A pena e a lei, e, como elas, bebe na fonte do universo mítico e poético do romanceiro popular nordestino. Montada pela primeira vez em 1961, a peça foi inteiramente escrita em versos, e traz, como um dos seus protagonistas, o poeta popular Joaquim Simão, escritor de cordel, cantador e adepto do ócio criativo ― a boa preguiça de Deus, contrária à preguiça do Diabo. Peça preferida do próprio autor, a Farsa conserva o tom irônico e bem-humorado das comédias de Ariano e é considerada por parte da crítica como “a súmula de todo o seu teatro”.

Nova edição de Agosto, de Rubem Fonseca.

Os turbulentos acontecimentos políticos de agosto de 1954 no Rio de Janeiro, capital da República, são o ponto de partida de um dos maiores sucessos de Rubem Fonseca. Alberto Mattos, comissário de polícia, tenta desvendar o assassinato de um empresário no edifício Deauville, enquanto é planejado o atentado frustrado contra o jornalista Carlos Lacerda, opositor de Getúlio Vargas, no Palácio do Catete. Nos dias que antecederam o suicídio de Vargas, Rubem Fonseca ― em seu quinto romance ― relata e relaciona os dois episódios, mesclando com maestria realidade e ficção. O romance é publicado pela editora Nova Fronteira.

OBITUÁRIO

Morreu o escritor Juan Marsé.

Juan Marsé nasceu no dia 8 de janeiro de 1933 em Barcelona. Sem terminar os estudos se dedicou desde adolescência à joalheria. Trabalhou algum tempo na revista de cinema Arcinema e inicia sua carreira como escritor a partir da publicação de contos nas revistas Ínsula e El Ciervo em 1958. No ano seguinte ganha o prêmio Sésamo pelo conto “Nada para morrer”; é quando se muda para Paris, cidade onde viveu até 1962. No retorno à sua cidade natal, casou-se, passou a colaborar com a imprensa (entre 1988 e 1989, p.ex. escreveu o folhetim Aventuras do capitão Blay para o jornal El País) e a se dedicar a escrita. Nos anos 1990 vem sua consagração com os livros mais importantes de sua carreira, alguns deles publicados no Brasil: Rabos de Lagartixa (Arx, 2004), Caligrafia dos sonhos (Alfaguara, 2014) e Últimas tardes com Teresa (Alfaguara, 2015). Da considerável lista de galardões, destaca-se o Prêmio Cervantes, recebido em 2009. O escritor morreu neste 19 de julho de 2020.

Morreu Sérgio Blank.

Sérgio Blank nasceu em Cariacica, Espírito Santo, em 1964. Há muito morava na capital, Vitória. Dedicou toda a vida a causa literária, mesmo depois do longo intervalo que ficou sem publicar novos livros. Sua obra está organizada em duas linhas criativas principais: a poesia e narrativas infanto-juvenis. Dentre elas, destacam-se títulos como Estilo de ser assim, tampouco (1984), o livro de estreia, Pus (1987), Um (1988) e Blue sutil (2019). O poeta morreu neste 23 de julho de 2020.

DICAS DE LEITURA

Em 2020 passa-se a simbólica data de 80 anos do escritor J. M. Coetzee. No Brasil, as celebrações, parece que ficarão restritas à publicação do terceiro volume de trilogia que acompanha a jornada existencial da personagem Simón. O escritor sul-africano fez aniversário em fevereiro. Autor de mais de duas dezenas de títulos premiados em várias partes do mundo, incluindo-se na lista dois Man Booker Prize e o Prêmio Nobel de Literatura, este recebido em 2003. Neste Boletim, destacamos três de seus livros que podem servir de porta de acesso à sua obra. As informações sobre os títulos são a partir da sinopse oferecida pela editora Companhia das Letras, responsável pela publicação da obra de Coetzee no Brasil.

1. Desonra. Este é um dos mais conhecidos e um dos melhores livros do escritor; foi com ele que recebeu um dos dois Man Booker Prize. O que aqui se conta a história de David Lurie, um professor de literatura que não sabe como conciliar sua formação humanista, seu desejo amoroso e as normas politicamente corretas da universidade onde dá aula. O recorrente drama acadêmico inclui aqui o envolvimento da personagem principal com uma aluna e sua condena a uma vida de desgraça – da expulsão da universidade onde viaja ao aparecimento de uma consciência atormentada que toma contato com a brutalidade e o ressentimento da África do Sul pós-apartheid. A tradução é de José Rubens Siqueira.

2. Diário de um ano ruim. Neste livro, J. M. Coetzee exercita experiências criativas recorrentes em outros romances de forma híbrida, como Elizabeth Costello, fundindo ficção e ensaio. Esse é talvez o ponto mais radical desse tratamento. Um renomado escritor sul-africano radicado em Sidnei, na Austrália, recebe do editor a incumbência de escrever um livro com suas opiniões acerca de alguns dos temas mais espinhosos de seu tempo: os conflitos étnicos, o terrorismo, a economia globalizada, as questões ambientais, os avanços indiscriminados da ciência. Incapaz de escrever, o homem contrata uma vizinha para transcrever as gravações onde se registram as polêmicas reflexões. E assim se faz um livro dentro do livro, já que às impressões deste homem somam-se às da jovem Anya. A tradução é também de José Rubens Siqueira.  

3. Mecanismos internos. Nem só de ficção se faz a obra J.M. Coetzee. Há o autor de exímios textos autobiográficos (ou que beiram a essa forma) e há o autor de ensaios, um trabalho escritural que advém não só do seu exercício como literato mas de sua vivência como professor, tradutor e pesquisador. Uma amostra da sua ensaística pode ser encontrada neste livro que reúne 21 textos, quase todos escritos para a prestigiada New York Review of Books. Aqui está ainda um excelente roteiro de leituras que constituem sua formação de leitor, seja de autores seus contemporâneos como Nadine Gordimer ou clássicos como Robert Musil. A tradução é de Sérgio Flaksman.

VÍDEOS, VERSOS E OUTRAS PROSAS

1. Se por aqui as celebrações pelo aniversário de J. M. Coetzee são tímidas, lá fora, nem tanto. O Amazwi South African Museum of Literatura e o Harry Ransom Center organizam a exposição Scenes from the South com materiais variados sobre o universo criativo do escritor sul-africano: manuscritos, primeiras edições, cartas, instalações, fotografias. Bom, um privilégio? É possível acompanhar virtualmente aqui

2. Falando sobre aniversários, no dia 19 de julho é celebrado o de Vladimir Maiakóvski, talvez um dos nomes da poesia russa mais conhecidos entre nós. Ele nasceu em 1893 e foi uma das principais figuras do futurismo em país. Ora, mas não foi só isso. Ele também fez algumas pontas como ator. Neste breve vídeo é possível revê-lo em Drama no cabaré dos futuristas nº13; em cena também está Lilia Brik, um dos seus amores.

3. Por esses dias de necessário isolamento social, muito se tem cobrado de nós para criar e se reinventar. O resultado é uma avalanche coisas acontecendo ao mesmo tempo; um caos digital que talvez seja puramente a materialização do caos da vida comum, mas como não temos alcance, chamamos de normal. Um e outro limites parecem estar na base dessa história de como Virginia Woolf manteve por longo período a notícia sobre a vida do irmão mais velho Thoby Stephen, quando este morreu de febre tifoide tão logo a voltaram de uma viagem à Grécia e à Turquia. Leia mais neste texto publicado na New Yorker

BAÚ DE LETRAS

1. Sem mudar o tom da pauta, aniversários, lembramos o dia do nascimento de Antonio Candido. O crítico literário e intelectual brasileiro nasceu no dia 24 de julho de 1908. E, aproveitamos a data para recordar três publicações deste blog: a) o texto sobre a fotobiografia de Candido organizada por Ana Luisa Escorel e publicada pela editora Ouro sobre Azul; b) e esta entrevista exclusiva com ele, que reproduzimos aqui; c) quando aconteceu a exposição no Itaú Cultural sobre Antonio Candido, Guilherme Mazzafera escreveu sobre aqui.

2. J. M. Coetzee foi incluído na lista de perfis editada pelo Letras em 2011. Neste conjunto de notas, o leitor sabe um pouco mais sobre o escritor e aproveita as janelas para outras duas publicações relacionadas com ele aqui no blog: um ensaio seu sobre Saul Bellow; e uma lista de leituras recomendadas pelo sul-africano.


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* Todas as informações sobre lançamentos de livros aqui divulgadas são as oferecidas pelas editoras na abertura das pré-vendas e o conteúdo, portanto, de responsabilidades das referidas casas. 

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