Boletim Letras 360º #380
DO EDITOR
1. Receio
que, por estes dias de necessário isolamento social o que mais temos feito é
arrumar a casa. Aqui no Letras também. Foi dada continuidade de alguns
trabalhos para melhoria deste ambiente virtual. O trabalho de revisão dos
textos, por exemplo, é serviço contínuo, mas, foi uma tarefa ampliada desde há
alguns anos, quando o blog passou pelas grandes reformas que resultaram
na sua fase atual.
2. Ainda
existe algo próximo a oitenta textos para voltar online; mas, só agora, nesse período, treze que estavam em revisão foram finalizados e voltaram ao arquivo visível para os leitores. Lento
trabalho que um dia, é o que se espera, conseguirá ser alcançado.
3. Nesta
semana foram realizados ainda outros ajustes visuais: vários elementos de página foram
modificados ―
e o interesse é sempre o de garantir o conforto para a estadia do leitor no blog, que este
não seja apenas seu porto de passagem.
4. Abaixo
estão as notícias divulgadas durante a semana na página no Facebook (ou não) e
a atualização das demais seções deste Boletim com as recomendações de leitura,
assuntos de arredores do campo de interesse do blog e a sugestão de visita a
algumas das publicações apresentadas aqui. Obrigado pela companhia. Boas
leituras!
Ruth Guimarães. No ano do centenário da escritora, livros inéditos ganham edição no Brasil. |
LANÇAMENTOS
Nova
edição de Sarrasine, de Honoré de Balzac.
Honoré de
Balzac não foi apenas quem melhor retratou os esplendores e misérias da vida em
Paris, mas também figura entre um dos seus inventores. Ele praticamente tratou
de repertoriar as mais diversas situações sociais na sua comédia humana.
Escorrem pela sua tinta, a vaidade, a ambição, a vergonha, o egoísmo, do mesmo
modo que a leveza, a alegria, a embriaguez da vida em sociedade. Balzac
transportou os dilemas da sociedade ocidental à inteligência das frases,
retratando o que ficou conhecido na comédia como cenas da vida parisiense. A
tradução de Luís de Lima é publicada pela Editora Iluminuras com texto de
apresentação de Leda Tenório da Motta.
Texto
seminal de H. P. Lovecraft acerca do horror sobrenatural na literatura ganha
edição.
“O apelo do
macabro espectral é geralmente restrito porque exige do leitor um certo grau de
imaginação e uma capacidade de distanciamento da vida cotidiana. São
relativamente poucos os que se libertam o suficiente do feitiço da rotina
diária para responder aos apelos de fora, e as histórias sobre emoções e
acontecimentos ordinários ou distorções sentimentais comuns dessas emoções e
acontecimentos sempre ocuparão o primeiro lugar no gosto da maioria; com
justeza, talvez, já que o curso dessa matéria sem nada de particular, constitui
a parte maior da experiência humana.” ― assim inicia H. P. Lovecraft um dos
ensaios mais importantes acerca do tema do horror sobrenatural na literatura.
No âmbito da publicação da obra desse escritor pela Iluminuras, é apresentada
agora a edição de O horror sobrenatural em literatura. A tradução é de
Celso M. Paciornik.
Antologia
reúne parte fundamental da poesia de Alexandre Guarnieri.
Os poemas de
Alexandre Guarnieri trazem oxigênio à poesia brasileira e são um mergulho sem
concessões na medula das coisas: da máquina ao corpo, do fogo à água, do ar ao
vácuo, indo da mais sofisticada referência à mais rasteira citação pop. A
poesia de Guarnieri, absolutamente contaminada pelo real, escancara qualquer
pretensão abusiva de erudição, desmistificando os senhores maus poetas pela
simples presença de versos iconoclastas, incisivos, de doces asperezas.
Confortavelmente instalado na linha demolidora dos poetas que fazem das
vísceras seus versos, Alexandre ingressa na literatura, como queria Torquato
Neto, desafiando/desafinando o coro dos contentes e propondo uma nova harmonia,
um novo canto, um novo samba pós-tudo, bossa-nova neo-apocalíptica mastigando
engrenagens da máquina, do corpo, do coração envenenado das cidades. Arsênico
e querosene é publicado pela Kotter Editorial.
A Oficina
Raquel publica novo livro de Teolinda Gersão no Brasil.
A antologia
de contos Alice e outras mulheres é organizada por Nilma Lacerda e reúne
textos sobre mulheres. Desde a “A mulher que prendeu a chuva” a “Alice in
Thunderland” – último conto do livro que é revisitação nada inocente do famoso Alice
no país das maravilhas, Lewis Carroll. O fio que orienta o conjunto de
narrativas é uma temática recorrente em parte da obra da escritora portuguesa.
Dela, a mesma casa editorial já publicou o romance A cidade de Ulisses.
O novo
romance de Elena Ferrante.
As mudanças
no rosto de Giovanna anunciam o início da adolescência e não passam
despercebidas em casa. Dois anos antes de abandonar a família e o confortável
apartamento no centro de Nápoles, Andrea não se dá conta do que sentencia
quando sussurra para a esposa que a filha é muito feia. Essa feiura estética,
mas que também indica uma possível falha de caráter, recai sobre Giovanna como
uma herança indesejável de Vittoria, a irmã há muito renegada por Andrea. Aos
doze anos, a menina vê um rosto no espelho e, embora não compreenda a fundo o
peso daquela comparação, sente que algo está irremediavelmente à beira de um
abismo. O amor e a proteção oferecidos pelo lar são as primeiras estruturas a
desmoronar quando Giovanna decide conhecer a mulher que pode encarnar seu
futuro. Os encontros com a tia são o ponto de partida para o embate com
inúmeras questões existenciais ― é possível pertencer a algum lugar em uma
Nápoles de contrastes entre o cinza industrial e sua sociedade rica e
instruída? Ou transcender os erros e pecados cada vez mais aparentes de pais
outrora perfeitos? Como sobreviver ao despertar do desejo? Ao longo dos anos
acompanhamos os percalços da transição da infância protegida de Giovanna a uma
adolescência exposta às complexidades daqueles que a cercam, evocando também a
possibilidade de levar a vida adulta como nenhuma outra mulher fizera até
então. Um romance extraordinário sobre transições, paixões e descobertas. A
vida mentirosa dos adultos é publicado pela editora Intrínseca com tradução
de Marcello Lino.
OS LIVROS
POR VIR
Companhia
das Letras anuncia para março de 2021 o novo romance de Kazuo Ishiguro.
Chama-se Klara
e o Sol. Sucessora de O gigante enterrado, esta é a primeira obra
publicada por Ishiguro após ser laureado com o Prêmio Nobel de Literatura em
2017. O novo romance contará a história de Klara, um ser artificial que, da
vitrine onde está exposta, anseia por um dono humano. Angus Cargill, da editora
Faber & Faber, que publicará simultaneamente a obra na Inglaterra, diz que “é
um livro sobre o coração humano que fala urgentemente com o aqui e agora, mas
de outro lugar”.
Uma
editora para publicar no Brasil literatura árabe.
A Tabla foi
recém-criada por Laura Di Pietro e Ana Cartaxo e focada na literatura árabe
conta com a previsão de publicar para já cerca de 20 títulos, todos, em
tradução direta do original. A estreia será com Da presença da ausência,
de Mahmoud Darwich; o poeta é considerado um dos mais importantes da literatura
palestina. Além desse livro, a casa apresenta Poema dos árabes, do poeta
pré-islâmico Chânfara. Em agosto devem sair Correio noturno, de Hoda
Barakat, autora libanesa finalista do International Man Booker Prize de 2015.
Já em setembro, E quem é Meryl Streep? (título provisório), de Rachid
Daif, autor libanês comparado a Italo Calvino e Umberto Eco. O catálogo também
permitirá iranianos e turcos: Madona com casaco de pele, de Sabahattin
Ali, um dos maiores romancistas da literatura turca, também nas previsões da
editora para breve. (Informações de Daniel Dago / Jornal Plural).
Obra de
Ruth Guimarães ganha novo fôlego no ano do seu centenário.
Dois
trabalhos da escritora voltaram às mãos dos leitores brasileiros recentemente:
seu único romance Água funda publicado pela primeira vez e 1946 e
reeditado em 2018 pela Editora 34; e a tradução do latim para O asno de ouro,
de Apuleio. Mas, ainda neste ano, quando celebramos seu centenário, outros
livros ganharão forma. São dois títulos inéditos pela Faro Editorial: Contos
negros e Contos indígenas. No ano seguinte, estão previstos Contos
de céu e terra e Contos de encantamento.
PRÊMIO
LITERÁRIO
Anne
Carson, Prêmio Princesa das Astúrias das Letras 2020.
A poeta
canadense “atingiu níveis de intensidade intelectual e solvência que a colocam
entre os mais destacados escritores da atualidade” ― assim se referiu o júri do
Prêmio Princesa das Astúrias das Letras 2020 no dia 18 de junho em Oviedo, na
Espanha. E acrescenta que Carson “construiu uma poética inovadora onde a
vitalidade do grande pensamento clássico funciona como um mapa que convida a
esclarecer as complexidades do momento presente.” Anne Carson nasceu na
cidade de Toronto a 21 e junho de 1950; é figura constantemente lembrada nas
listas de apostas para o Prêmio Nobel de Literatura. Além de poesia, é autora
de ensaio e peças de teatro. No Brasil, um dos seus trabalhos publicados é O
método Albertine (Jabuticaba Edições, 2017). Entre os ganhadores do prêmio
estão nomes como Mario Vargas Llosa, Carlos Fuentes, Günter Grass, Doris
Lessing, Susan Sontag, entre outros. Nélida Piñon foi a primeira brasileira a
receber o galardão em 2005.
OBITUÁRIO
Morreu o
escritor espanhol Carlos Ruiz Zafón.
Carlos Ruiz
Zafón nasceu a 25 de setembro de 1964. Publicou seu primeiro romance, O príncipe
da névoa em 1993 e com ele abriu uma trilogia de sucesso na literatura
juvenil que se compôs pelos títulos O palácio da meia-noite (1994) e As
luzes de setembro (1995). Seu nome ganha projeção a partir da publicação do
Best-Seller A sombra do vento (2001), traduzida e premiada em várias
partes do mundo. O livro era o primeiro de uma tetralogia mais tarde designada
por O cemitério dos livros esquecidos e composta por O jogo do anjo
(2008), O prisioneiro do céu e O labirinto dos espíritos (2016).
Escreveu contos e textos variados em jornais como o El País e La
Vanguardia. O escritor vivia em Los Angeles, nos Estados Unidos, e morreu
no dia 19 de junho de 2020.
DICAS DE
LEITURA
1. O
método Albertine, de Anne Carson. Há, em variadas revistas brasileiras traduções
de poemas da poeta canadense. Em Portugal, vários livros traduzidos. Mas, até o
ano de 2020 o único livro que temos por aqui é este. Publicado pela independente
Edições Jabuticaba em 2017 e traduzido por Vilma Arêas e Francisco A.
Guimarães, este livro expõe um pouco de uma obra que se distingue por sua riqueza
criativa e o estreito diálogo com as fronteiras desse universo de formas
próprias que é a literatura. Este título estabelece estreitamentos e ampliações
com o Em busca do tempo perdido, de Marcel Proust enquanto se deixa
receber em seus limites Mallarmé, Zenão, Shakespeare, Beckett e uma variedade
de outros textos. Está dividido em duas partes: a primeira reúne 59 fragmentos
em torno da relação Albertine e Marcel, projeção possível da relação entre Proust
e seu chofer Alfred Agostinelli; a segunda é composta por 16 apêndices que
discutem os levantamentos expostos na primeira. Quer dizer, este é um livro que
cobra um leitor inquieto, capaz de perscrutar lugares que possivelmente não
ousou frequentar, principalmente porque somos educados para uma leitura de
princípio básico e conceitual. E, ao que parece, nenhuma dessas qualidades é válida
no universo de Anne Carson.
2. Água
funda, de Ruth Guimarães. O Brasil guarda enorme dívida com tantos que
construíram sua literatura que este livro é apenas uma prova das muitas que
ganharam expressão nos últimos anos e de outras ainda em desconhecimento. Foi
com este romance, o único numa carreira literária composta por uma variedade
(ainda inédita) de narrativas curtas, que a escritora se lançou no universo
literário. O romance teve a primeira edição em 1946 e só em 2003 foi reeditado pela Nova Fronteira. E, há muito fora de catálogo, foi recuperado em 2018 pela
Editora 34. Tempos e personagens recriam a atmosfera rural na Serra da Mantiqueira
num arco temporal que vai da escravidão até meados dos anos 1930. A escritora
está entre o tratamento de recriação etnográfica das práticas linguageiras
desse tempo e sem deixar de se aproximar a questões históricas entre pitadas de
realismo mágico. A edição aqui recomendada reúne textos de outros importantes
autores que sublinharam o valor literário da obra de Ruth, como Antonio
Candido, Álvaro Lins e Brito Broca.
3. Com o mar por meio. Uma amizade em cartas. Enquanto a família de Jorge Amado revisitava o arquivo de correspondências do escritor, encontraram com um material que tomaria forma de livro ao ser colocado em relação com outro arquivo de missivas: o de José Saramago. Os dois se conheceram num ponto alto de suas vidas. Tímido, o escritor português levou algum tempo até tomar coragem de se aproximar do brasileiro já então lido e querido em meia parte do mundo. Este livro registra esse encontro e como ele rendeu um convívio de fraternidade e afeto muito raros. São cartas, faxes, cartões, bilhetes que formam ainda uma conversa pela qual passam as inquietações com o tempo de cada um (no sentido político, sobretudo) e com o reconhecimento de suas obras. A seleção, organização e notas são de Paloma Jorge Amado, Bete Capinan e Ricardo Viel. E o livro editado pela Companhia das Letras.
VÍDEOS,
VERSOS E OUTRAS PROSAS
Vários momentos marcaram os dez anos da morte de José Saramago no
passado 18 de junho de 2020. Nesta seção reunimos alguns deles.
1. Nas redes brasileiras, duas mesas tiveram como centro a obra do
escritor português: a conversa entre Pilar del Río, Carlos Reis e Luiz Schwarcz
no âmbito do projeto Sempre um papo disponível aqui; e a conversa a
partir do filme Um humanista por acaso escritor entre Leandro Lopes, o
diretor, Ricardo Viel, diretor de comunicação da Fundação José Saramago em
Lisboa e Pedro Fernandes, editor da Revista de Estudos Saramaguianos e
deste blog ― o material fica disponível até este
domingo, 20 de junho, no canal da Cardume Curtas.
2. Na nossa
galeria de vídeos no Facebook, o leitor encontra uma variedade de vídeos com /
sobre José Saramago. O mesmo no canal do Youtube. Recordamos dois deles; um de
cada meio: primeiro, este vídeo em que o escritor lê passagem de O evangelho
segundo Jesus Cristo, um excerto de uma apresentação pública na Universidade da
Califórnia, Los Angeles, em 2002; depois, um vídeo que é uma das primeiras entrevistas de José Saramago para a televisão ― ele é entrevistado pelo
jornalista José Carlos de Vasconcelos quando havia publicado títulos como os
livros de poesia Os poemas possíveis e Provavelmente alegria.
3. A revista brasileira Quatro cinco um recuperou o texto “Os
escritores perante o racismo”, de José Saramago, publicado inicialmente em 1996
no livro Raça e diversidade, organizado por Lilia Schwarcz e Renato da
Silva Queiroz (Edusp).
4. Da terra natal
de José Saramago, a Imprensa da Universidade de Coimbra divulgou um livro digital organizado por Carlos Reis e que reúne quase cinco dezenas de textos que
formaram parte do Congresso Internacional José Saramago: 20 anos com o Prêmio
Nobel em 2018.
BAÚ DE
LETRAS
1. O Letras
assinalou os dez anos da morte de José Saramago com um texto de Pedro Fernandes que revisita temas, perspectivas e valores da obra do escritor
português. Esta é uma de várias intervenções disponíveis no blog; duas delas
estão indexadas no material agora recomendado.
2. E por
falar em datas redondas, em 2020, celebramos o aniversário de 90 de Hilda
Hilst. O instituto que cuida da memória da poeta e a Companhia das Letras dedicam
uma série de atividades online sobre a obra de Hilda. Aproveitamos a ocasião para
recordar duas publicações do Letras sobre: esta de quando foi publicado o livro com a poesia completa; e este texto da poeta Fernanda Fatureto sobre as
entrevistas de Hilda reunidas em Fico besta quando me entendem (Biblioteca
Azul).
.........................
* Todas as informações sobre lançamentos de livros aqui divulgadas são as oferecidas pelas editoras na abertura das pré-vendas e o conteúdo, portanto, de responsabilidades das referidas casas.
Comentários