Boletim Letras 360º #379
DO EDITOR
1. Cara
leitora, caro leitor, obrigado pela companhia com o Letras. Abaixo estão
as notícias divulgadas durante a semana em nossa página no Facebook e a
atualização das demais seções deste Boletim com as recomendações de leitura,
assuntos de arredores do campo de interesse do blog e a sugestão de visita a
algumas das publicações apresentadas aqui. Boas leituras!
Ray Bradbury. Obra reúne os textos fundadores de Fahrenheit 451. |
LANÇAMENTOS
Uma seleção
de escritos de George Orwell, extraídos de seus romances, ensaios, cartas e
reportagens, reúne de forma única os pensamentos do autor de 1984 sobre o tema
da verdade.
Na semana da
posse de Donald Trump, quando sua assessora justificou as falsas estimativas do
presidente sobre o número de presentes no evento utilizando a expressão “fatos alternativos”, livros de George Orwell como 1984 e A revolução dos bichos foram catapultados ao topo da lista de mais
vendidos nos Estados Unidos. Numa realidade dominada pelas fake news, as
reflexões de Orwell sobre a verdade se tornam cada vez mais urgentes. “Se
não for combatido, o totalitarismo pode triunfar em qualquer parte”,
escreveu o autor britânico. E o totalitarismo, na visão de Orwell, fundamenta-se
em uma noção de “mentira institucionalizada”, que nega qualquer
possibilidade de liberdade de pensamento. Em Sobre a verdade, estão reunidos de forma
inédita textos que têm como eixo a ideia da verdade. A seleção abrange trechos
de toda a produção de Orwell, do seu primeiro livro, Dias na Birmânia, de 1934,
até seu romance derradeiro, 1984, publicado em 1949, um ano antes da sua morte.
O apagamento da verdade é a chave para entendermos a obra de Orwell e,
principalmente, o mundo atual. Se a verdade morreu, nunca foi tão importante
dizer: viva a verdade! A tradução é de Claudio Alves Marcondes e a edição da
Companhia das Letras.
Livro de
Gabriel García Márquez revela devoção à imprensa.
“Não quero
ser lembrado por Cem anos de solidão nem pelo Prêmio Nobel, e sim pelo jornal.
Nasci jornalista e hoje me sinto mais repórter do que nunca. Isso está no meu
sangue, me atrai.” Gabriel García Márquez, uma das figuras mais importantes e
influentes da literatura universal e ganhador do prêmio Nobel de Literatura em
1982, deixou bem claro, nos últimos anos de vida, que o jornalismo sempre foi
sua maior paixão, a mais duradoura. Além de romancista, foi contista,
ensaísta, crítico cinematográfico, roteirista e, principalmente, um intelectual
comprometido com os grandes problemas do nosso tempo – em especial com aqueles
que afetavam sua amada Colômbia e a América Hispânica em geral. Figura máxima
do chamado realismo mágico, em que história e imaginação urdem uma literatura
viva que respira por todos os seus poros, Gabo, como era conhecido, foi
definitivamente o criador de um dos universos narrativos mais densos de
significado com que a língua espanhola nos brindou no século XX. O escândalo do
século é a amostra mais representativa da tensão narrativa – entre jornalismo e
literatura – que permeou toda a trajetória de García Márquez como repórter.
Cobrindo quatro décadas, esta deliciosa viagem através de meia centena de
textos mostra como “o melhor ofício do mundo” está no coração da obra do Prêmio
Nobel colombiano. Com seleção de textos de Cristóbal Pera e prólogo de Jon Lee
Anderson, esta antologia contém textos indispensáveis, que vão desde as
reportagens escritas em Roma sobre a morte de uma jovem italiana, acontecimento
que possibilitou ao autor pintar um afresco incomparável das elites políticas e
artísticas da Itália, até crônicas sobre o tráfico de mulheres de Paris para a
América Latina ou apontamentos sobre Fidel Castro ou João Paulo II. Na
coletânea O escândalo do século encontramos também fragmentos precoces, nos quais aparecem pela
primeira vez Aracataca e a família Buendía, ao lado de artigos que contemplam a
política, a sociedade e a cultura sob a luz sólida, profunda e experiente desse
grande contador de histórias. O escândalo do século traz cinquenta textos de
García Márquez, publicados em jornais e revistas entre 1950 e 1984, escolhidos
em meio à monumental Obra jornalística em cinco volumes, que proporcionam aos
leitores de ficção do autor uma amostra de seu trabalho na imprensa, fruto do
ofício que ele sempre considerou base de sua obra. Em todos esses textos
detectamos uma voz característica e uma narrativa única que já encantaram
incontáveis leitores no mundo todo.
Obra resgata
um dos principais nomes da literatura brasileira de início do século XX.
Cecília se
rebela contra sua vida na “masmorra”, das amarras patriarcais de um
casamento insosso e do duplo jugo da mãe ambiciosa e da sogra conservadora: a
casa que divide com a sogra ciumenta, o marido insípido e dois filhinhos. Essa “Madame Bovary da rua das Marrecas sonhava com uma existência maior, a
independência da mulher elegante e rica, que sai só, vai a teatros e alimenta
a corte ardente de muitos admiradores”. Um retrato desabusado do que era ser
mulher em uma sociedade (ainda mais) dominada pelos homens, escrito por uma das
mais corajosas e influentes jornalistas do começo do século XX,
convenientemente “esquecida” entre os grandes escritores brasileiros. Carmen
Dolores é o pseudônimo mais conhecido de Emília Moncorvo Bandeira de Melo,
uma das mais representativas e influentes escritoras do início do século XX,
pioneira na luta dos direitos femininos. Em uma época em que mulheres não
podiam votar, Emília tratou de temas com escrita incisiva e corajosa como o
direito ao divórcio, educação e acesso igualitário ao mercado de trabalho.
A publicação é do selo Imã Editorial.
A saga de uma
família russa que atravessa duas guerras mundiais na esperança de reunir
novamente.
O
renascimento em outras terras é primeiro romance da escritora Silvia Gershman;
narra a saga de uma família russa que atravessa as duas guerras mundiais,
imigra para a América do Sul e cujos descendentes encontram seus jeitos e
maneiras de renascer, tendo como alicerce o legado de coragem e resistência de
seus antepassados. O livro começa com dois irmãos capturados pelo exército alemão
durante a Primeira Guerra Mundial. Eles planejam fugir cientes de que qualquer
falha representará a morte de ambos. Percorrem a pé mais de mil quilômetros
para chegar à Lituânia, apenas alimentados por sonhos e a esperança de reunir a
família. À mercê da passagem do tempo e dos acontecimentos históricos, esse clã
se reencontra, se separa, aumenta e diminui no ritmo dos destinos de seus
protagonistas: alguns empobrecem espiritualmente e colhem os frutos dessa
escolha, outros persistem na busca da Felicidade. Como imigrantes, são
obrigados ao exercício constante de alteridade, tendo de se adaptar aos novos
povos e costumes. O livro é publicado pela editora Patuá.
A obra
organizada pelos irmãos Grimm pela mão de Monteiro Lobato.
10
inesquecíveis histórias contadas pelos irmãos Grimm reúne contos
traduzidos e adaptados por Monteiro Lobato. O livro integra a sequência de O livro de ouro dos contos de fadas, também organizado pelo pai da
literatura infantil brasileira. As ilustrações são de Renato Moriconi, artista
plástico paulista que já recebeu prêmios da Fundação Nacional do Livro Infantil
e Juvenil (FNLIJ), o prêmio Jabuti (CBL) e o prêmio da Fundación Cuatrogatos. A
edição é da editora Nova Fronteira.
Antologia
reúne contos inéditos de Ray Bradbury.
Autor do
clássico Fahrenheit 451, Ray Bradbury tinha quinze anos quando Hitler mandava
queimar livros em praça pública, na Alemanha. Foi ali que ele percebeu que os
livros que tanto amava estavam em perigo. Anos depois, este luto se transformou
em uma ideia: escrever sobre uma sociedade em que os livros fossem proibidos, e
os bombeiros, em vez de apagar o fogo, recebessem a missão de queimá-los. Prazer em queimar: histórias de Fahrenheit 451 é leitura obrigatória
para os fãs da clássica distopia. Neste livro estão reunidos dezesseis contos:
treze que foram escritos antes de Fahrenheit 451 e mais três histórias
escritas depois. Observador sagaz dos tempos obscuros que sucederam a Segunda Guerra
Mundial, Bradbury canalizava sua criatividade escrevendo contos críticos a tudo
que via e sentia. Há contos sobre queima de livros, morte, liberdade, arte,
policiamento nas ruas etc. O último desses contos chama-se “O bombeiro”.
Publicado inicialmente em uma revista literária, este texto chamou a atenção de
seu editor que, deslumbrado com a história, desafiou o jovem Bradbury a
ampliá-lo, prometendo que aquele texto seria publicado como um romance se ele
conseguisse dobrá-lo de tamanho. Bradbury trancou-se na biblioteca da
universidade, alugou uma máquina de escrever e só saiu de lá quando conseguiu
atender ao pedido de seu editor. Nascia, então, a ficção científica Fahrenheit
451. A tradução é de Bruno Mattos e Antonio Xerxenesky. O livro sai pela Biblioteca
Azul, selo da Globo Livros.
Primeiro
livro do poeta israelense Amir Or a ser publicado no Brasil.
Traduzido
diretamente do hebraico e organizado pelo poeta e professor de literatura
hebraica da USP Moacir Amâncio, A paisagem correta é o primeiro livro do
poeta israelense Amir Or publicado no Brasil. Sua poesia contém diversas
tendências, mas a ideia e a sensação da incompletude pontilham estes poemas na
palavra e na cena que se articulam numa coisa só. Porque Amir posiciona-se como
poeta na perspectiva de uma sofisticada e ousada imitação do Deus criador
de Gênesis a partir do que a palavra se confunde com a coisa criada. Tradutor
do grego clássico e conhecedor das religiões do espectro budista, incorpora-as
ao universo da Criação hebraica num fluxo de renovação particular e geral. Seus
versos ecoam também a literatura da Beat Generation junto com elementos
gregos,orientais, cristãos e judaicos, numa síntese que vai da iconoclastia à
graciosidade de suas imagens. O livro sai pela Relicário Edições.
A
marca do editor, de Roberto Calasso.
Em uma época
de nivelamento das categorias, de fácil acesso a uma suposta biblioteca
universal digitalizada (de fato, fragmentária e caótica), o editor tende a ser
visto como um intermediário desnecessário entre o escritor e o leitor. Em A marca do editor, Roberto Calasso rebate ponto a ponto esse e
outros graves erros dos paladinos do imediatismo, da velocidade e do desempenho
financeiro como categorias absolutas. Escorado em sua posição excepcional, na
intersecção entre o grande editor — está à frente há muitos anos da mais
prestigiosa casa editorial europeia, a Adelphi, uma referência internacional —
e o escritor de enorme cultura e perspicácia crítica — escreveu livros já
clássicos sobre Kafka, Baudelaire, Tiepolo e sobre a mitologia hindu — Calasso adota
uma posição dura, comprometida e fundamentada por sua própria trajetória. Ao
iluminar a figura dos grandes editores europeus e americanos do século XX,
Calasso mostra a importância decisiva que editoras como Gallimard, Einaudi,
Suhrkamp ou Farrar, Straus & Giroux tiveram na formação de um critério e de
um público leitor, no ordenamento e na separação do essencial do supérfluo no
que diz respeito à literatura. Calasso discorre sobre sua ideia da “edição como
gênero literário”: um editor da estirpe à qual ele pertence é um caçador de
“livros únicos”, é alguém que escreve, com os livros que publica, o melhor
livro de todos: seu catálogo, que é ao mesmo tempo sua autobiografia. Contra a
ideia daqueles que querem encarar a edição como uma indústria qualquer, este
livro mostra, tanto com fineza quanto com contundência, a importância do editor
que defende e cultiva sua marca. Sem a qual tudo se resume a uma única
categoria: a do entretenimento fácil e o rápido esquecimento. É significativo o
caminho que Calasso faz por sua própria memória, pelas grandes personalidades
com as quais lidou, não somente do âmbito editorial, como também, claro, do
literário; nesse aspecto, é insuperável o retrato traçado aqui, por exemplo, de
Thomas Bernhard. A marca do editor é o relato de uma trajetória excepcional,
de uma estirpe que formou nossa sensibilidade e nossa cultura, e que agora mais
que nunca precisa de nosso reconhecimento. A tradução de A marca do
editor, publicada pela Editora Âyiné, é de Pedro Fonseca.
Nova edição
de Contos inacabados, de J. R. R. Tolkien chega às livrarias
brasileiras em julho.
Contos
inacabados responde a muitas perguntas pendentes em O Hobbit, O Senhor dos Anéis e O Silmarillon. Os contos aqui
reunidos e editados pelo filho do autor, Christopher Tolkien, formam parte dos
nove volumes que compõem a mitologia da Terra-Média; são textos que vão desde
os Dias Antigos da Terra-Média ao final da Guerra do Anel, dentre eles, um
relato alternativo da lenda dos filhos de Húrin, uma descrição detalhada sobre
a organização militar dos Cavaleiros de Rohan, além de um relato de Gandalf
sobre como ele enviou os Anãos para o Bolsão, a única história que restou sobre
as longas eras de Númenor antes de sua queda e tudo o que se conhece sobre
temas como os Cinco Magos, os Palantíri ou a Lenda de Amroth. Cada texto traz
anotações explicativas de Christopher Tolkien, um mapa de Númenor e diversas
referências bibliográficas. A ilustração da capa (que também se repete num
pôster para os primeiros exemplares) é do próprio escritor: data de 1927 e
mostra Glaurung saindo em busca de Túrin e faz referência à lenda dos filhos de
Húrin. A tradução é de Ronald Kyrmse e sai pela HarperCollins.
Depois de
três livros de contos, Marco Severo chega à novela.
O cotidiano
e seus entornos – suas mazelas, suas grandezas, seus personagens repletos de
humor, medo, ternura, coragem – nada passa despercebido ao olhar perspicaz do
autor, que observa a sociedade em sua ampla diversidade como se estivesse
presente em cada canto, e deles pudesse extrair o essencial para narrar um
pouco do que somos todos nós. Neste livro você vai conhecer Cacilda, uma mulher
que nasceu para o amor – desesperadamente. Engolfada em situações-limite
desde a infância, Cacilda passa a conhecer todos os tipos de meandros
disfarçados de normalidade. Transitamos do universo dos livros para as ruas,
bingos clandestinos, casas de massagem, igrejas neopetencostais – tudo isso em
meio a fugas, assassinatos, amores perdidos e encontrados, e uma protagonista
sem rédeas nem escrúpulos, e pronta para atingir seus objetivos numa busca
frenética pela descoberta do sentimento que acredita lhe ter sido negado desde
sempre e que precisa enraizar dentro de si. Um dos nomes inventados para
o amor é uma história sobre caçar a si mesmo – sem se preocupar com o que
vai encontrar – nem mesmo os tantos significados possíveis que pode ter a
palavra amar. O livro é publicado pela Editora Moinhos.
A coletânea
definitiva sobre um tema que inspirou e assombrou Charles Bukowski durante toda
a vida: o álcool.
Nesta
reveladora antologia de poesia e prosa, Charles Bukowski se debruça sobre o
copo e a garrafa, trazendo ao leitor alguns de seus melhores e mais memoráveis
textos. Um autoproclamado “velho safado”, Bukowski usava o álcool como musa e
como combustível – uma relação conflituosa responsável por alguns dos seus
momentos mais sombrios bem como por algumas de suas maiores alegrias e
iluminações. Em Sobre bêbados e bebidas, o especialista em Bukowski
Abel Debritto reúne os trabalhos mais profundos, engraçados e notáveis sobre
seus tapas e beijos com o vício – um assunto que lhe permitia explorar algumas
das questões mais prementes da vida. Por meio da bebida, Bukowski consegue
ficar sozinho, estar com outras pessoas, ser poeta, amante e amigo, ainda que,
muitas vezes, a um preço muito alto. Sobre bêbados e bebidas é um
testamento poderoso sobre os prazeres e as misérias de uma vida inebriada, e
uma janela para a alma de um dos mais adorados escritores norte-americanos de
todos os tempos. A tradução da antologia é de Rodrigo Breunig e é publicada
pela L&PM Editores.
REEDIÇÕES
Nova edição de O amante, de Marguerite Duras.
Prêmio Goncourt em 1984, com mais de 2 milhões e meio de exemplares vendidos apenas na França, este romance autobiográfico acompanha a tumultuada história de amor entre uma jovem francesa e um rico comerciante chinês na Indochina pré-guerra. Com uma prosa intimista e certeira, Duras evoca a vida nas margens de Saigon nos últimos dias do império colonial da França e relembra não só sua experiência, mas também os relacionamentos que separaram sua família e que, prematuramente, gravaram em seu rosto as marcas implacáveis da maturidade. A tradução publicada pelo selo Tusquets é de Denise Bottmann (publicada pela extinta Cosac Naify) e conta com prefácio de Leyla Perrone-Moisés.
OS LIVROS POR VIR
Dois novos títulos de Audre Lorde ganham edição no Brasil no segundo semestre
de 2020.
Ensaios, diário
e poesia da Audre Lorde estarão disponíveis aos leitores brasileiros. A Ubu
editora publicará Sou sua irmã e a Relicário Edições Unicórnia preta. O
primeiro é uma reunião de textos da escritora produzidos depois do já conhecido
nosso Irmã outsider e que inclui o ensaio “Um explodir de luz”' (A burst of
light) publicado como um livro que expande as reflexões de “Cancer journals” origem
do ensaio “Transformação do silêncio em linguagem e ação”. O segundo é um livro
de poemas de 1978; esses escritos de Audre Lorde são de quando escreveu Irmã
outsider e abrange um período aproximado entre 1975-83. As traduções são de Stephanie
Borges.
OBITUÁRIO
Morreu a
poeta Terêza Tenório.
Integrante
da chamada Geração de 65 e considerada um dos seus pilares, Terêza Tenório
nasceu a 30 de dezembro de 1949, no Recife. Suas primeiras incursões com a
poesia foram apresentadas em jornais como o suplemento literário do Diário de
Pernambuco e a estreia em livro veio em 1970 com Parábola. Depois deste,
vieram títulos como O círculo e a pirâmide (1976), Mandala (1980),
Poemaceso (1985), livro que lhe valeu o prêmio da Associação Paulista de
Críticos de Arte (APCA), Corpo da terra (1994), Fábula do abismo (1999) e A casa dorme (2003). Sua obra foi reunida pela CEPE Editora em 2018. Terêza
Tenório morreu a 7 de junho de 2020, no Recife.
DICAS DE
LEITURA
Por esses
dias, a Companhia das Letras divulgou no Twitter recomendações de leituras de
alguns calhamaços da casa para esse longo período de necessário isolamento
social. De fato, a pedida é boa. Os livros extensos exigem uma dedicação maior,
mas quando mergulhamos neles, se tornam nossas melhores companhias porque
situações, personagens e percursos findam por nos seguir em toda parte. E,
pensando nessa ideia, decidimos utilizar este espaço para indicar três grandes
livros ―
no tamanho e na riqueza literária.
1. De
amor e trevas, de Amós Oz. Muito da prolífica obra literária desse escritor
israelense sempre favorito nas especulações para um Prêmio Nobel de Literatura
está traduzido no Brasil. Não há muito, os livros que estavam esgotados foram
reeditados em novo projeto editorial; este aqui recomendado é, talvez, o mais
volumoso da obra de Oz. Mas, o longo itinerário é perfeitamente recompensador.
Seguimos os volteios da memória de um escritor que na sua maturidade decide
percorrer os muitos vãos da sua história, sobretudo, as raízes que o
determinaram e o formaram. Entre o riso e o encanto, entre a lágrima e a dor e
sempre com uma voz livre, limpa e erudita percorremos minuciosamente
geografias, cheiros, cores, situações, sentimentos, sentidos sobre o passado,
ora vistos com os olhos desse passado ora relidos com os olhos nele postos. Traduzido
por Milton Lando, o livro está publicado como o restante da obra de Amós Oz pela
Companhia das Letras.
2. Canadá,
de Richard Ford. Enquanto a Editora Estação Liberdade trabalha na publicação de
um próximo livro desse escritor, vale citá-lo nessa listinha. Situada nos 1960,
a narrativa se desenvolve em torno de um crime, o assalto cometido pelos pais de
Dell Parsons, o narrador, que mudaria para sempre os destinos seu e da irmã
gêmea Berner. Logo essa ideia estrutura todo o romance que trata de acompanhar
seu desenlace e seus efeitos incluindo a decisão de Dell não querer ficar sob a
custódia do Estado e aceitando a ajuda de uma amiga da família, a senhorita
Remlinger, cujo irmão, Arthur, mora no Canadá. O romance é, aliás uma leitura
sobre as rápidas intervenções que destino ― induzido, nesse caso ― impõe
aos autores de suas escolhas. Um exemplo: no Canadá, Dell se torna um dedicado
professor e a irmã, ainda na terra natal, é arrastada para os seus últimos dias
de vida, debilitada por um linfoma. A tradução é de Mauro Pinheiro.
3. Os
miseráveis, de Victor Hugo. Dos três livros aqui citados, este é o mais
extenso. A depender de qual critério se estabeleça para o que é um calhamaço
e se considerar extensões a partir de livros com este, os dois primeiros não
chegariam a figurar aqui. As três edições da extinta Cosac Naify são já
relíquias de museu, mas o leitor encontra a mesma tradução de Ozam de Barros,
editada pela histórica casa editorial pelo selo Penguin / Companhia. O romance
considerado a grande obra da literatura desse importante nome da literatura
francesa se desdobra em muitos: “é uma história de injustiça e heroísmo, mas
também uma ode ao amor e também um panorama político e social da Paris do
século XIX”. Aqui acompanhamos a trajetória de Jean Valjean, que ficou anos
preso por roubar um pão para alimentar sua família e que sai da prisão
determinado a deixar seu passado criminoso, claro, num ambiente em nada
favorável para o andamento dessa possibilidade. A edição aqui recomendada
reproduz, inclusive, o excelente texto de apresentação escrito pelo Renato
Janine Ribeiro.
VÍDEOS,
VERSOS E OUTRAS PROSAS
1. Uma
entrevista inédita de Jorge Luis Borges a Mario Vargas Llosa. O registro foi
filmado em junho de 1981 e ficou inédito até este ano quando o escritor peruano
apresenta sua transcrição no novo livro publicado agora em língua espanhola,
“Meio século com Borges” (em tradução livre). Vargas Llosa descreve um Borges
que vive num simples apartamento do centro de Buenos Aires “acompanhado de uma
empregada que lhe faz as vezes de guia, pois Borges perdeu a vista há anos, e
de um gato batizado com o nome de Beppo porque, diz, assim se chamava o gato do
poeta inglês que admira, Lord Byron”. A entrevista está reproduzida no caderno
Babelia, do jornal espanhol El País.
2. O dia 13
de junho é marcado pelo aniversário de Fernando Pessoa. Na web tem muita
coisa maravilhosa sobre o poeta e sua obra: em 2010, foi publicada a biblioteca
de Pessoa. Comentamos sobre aqui ― e, a partir da post, você tem o endereço
para acessar ao projeto; outra ideia ótima é o Arquivo Pessoa, uma
plataforma que reúne, com os critérios necessários de um escritor popular como
Fernando Pessoa, a obra completa do poeta e de seus heterônimos. Está aqui.
3. Na nossa
galeria de vídeos no Facebook, o leitor encontra uma variedade de poemas do
poeta Fernando Pessoa lidos e mesmo cantado (no caso de “Há uma música do povo”):
há a belíssima leitura de Cleonice Berardinelli, “Furia na noite o vento”; um
excerto de “Aniversário”, poema de Álvaro de Campos, lido por Mia Couto; Maria Betânia e a leitura de “Eros e Psique”, entre outros.
4. Uma das efemérides de 2020 é o centenário de nascimento do escritor Ray Bradbury. A imagem que ilustra este boletim, em destaque para a edição com textos inéditos agora publicada pela Biblioteca Azul / Globo Livros foi coletada neste site dedicado ao autor de Fahrenheit 451. Aqui estão reunidas informações sobre a vida, a obra, entrevistas, as previsões, as influências criativas em obras posteriores, fragmentos do seu universo fabular, enfim, um material de valia preciosa aos leitores e fãs.
BAÚ DE
LETRAS
1. Ontem,
dia 12 de junho, Dia dos Namorados, recordamos uma lista de leitura publicada
em 2010 no blog. Se o amor evocado pela data está perto ou longe, a companhia de
um livro é sempre fundamental.
2. No blog,
ainda não existe um texto sobre De amor e trevas, algo que será resolvido
muito em breve, mas há algumas matérias sobre Amós Oz: um perfil biográfico; e
um depoimento de Mario Vargas Llosa sobre o escritor.
3. Caso o leitor
se decida por ler Os miseráveis, de Victor Hugo noutra tradução e quer
ter acesso ao texto de Renato Janine Ribeiro, “Um novo olhar”, ele está
reproduzido aqui; e aqui, um resumo biográfico sobre o escritor francês. Em 2014,
o leitor Lee Pontes escreveu para o Letras “A cruzada moral em Os
miseráveis”; e, neste ano, Rafa Ireno começou a ler o grande romance
recomendado na seção anterior.
4. E, sobre Canadá,
de Richard Ford. Em 2016 traduzimos um texto de Javier Úbeda sobre o romance
que pode ajudá-lo a saber melhor do romance ou acrescentar alguma visão ao seu olhar
de leitor, no caso de já ter lido ou de encontrar este texto como posfácio ao
romance do escritor estadunidense.
.........................
* Todas as informações sobre lançamentos de livros aqui divulgadas são as oferecidas pelas editoras na abertura das pré-vendas e o conteúdo, portanto, de responsabilidades das referidas casas.
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