Boletim Letras 360º #374
DO EDITOR
1. Aqui está
mais uma nova edição do Boletim Letras 360º. Esta publicação foi criada para o Letras
há 374 semanas e reúne as informações disponibilizadas (ou não) na página
do blog no Facebook.
2. Agora,
mais ainda, reforçamos o pedido que se tornou universal: se puder, fique em
casa. E estar em casa é sempre uma oportunidade de ouro para ler. Obrigado pela
companhia e, boas leituras!
A prosa breve de Bulgákov ganha edição no Brasil. |
LANÇAMENTOS
O
trabalho de vanguarda de Mihail Sebastian.
A narrativa
de Fragmentos de um diário encontrado é constituída em torno da figura
de alguém que se entrega aos labirintos de circulação urbana em busca de algo
tão perdido quanto indefinível: através das passagens desse diário o autor
anônimo encarna o olhar do errante sobre a cidade. Obra de 1932, ambientada em
Paris, escrita por Mihail Sebastian (1907-45), afinado com o caráter rebelde
das vanguardas artísticas europeias das décadas de 20 e 30, que influenciaram o
autor tanto quanto outros literatos compatriotas romenos de seu tempo (Cioran,
Ionesco, Eliade). A tradução de Fernando Klabin, com posfácio de Luis Krausz, é
publicada pela editora Hedra.
Plaquete
compila cinco textos da Cabala shabat.
Cabalat
shabat ― poemas rituais é uma plaquete que reúne cinco textos, tratados
aqui como poemas ― rezas e bênçãos judaicas ― e entoados na cerimônia de
cabalat shabat, ou seja, no recebimento do shabat a partir do pôr-do-sol da
sexta-feira. Com alto teor místico e alusão à cabala, os textos são
apresentados nesta seleta de poesia de maneira secular mas não antirreligiosa.
Em tradução direta do hebraico por Fabiana Gampel Grinberg, a temática tratada
no shabat é situada paralelamente a outros lugares poéticos através do texto
introdutório do volume, trazendo no próprio ritual um entendimento estrutural e
histórico do judaísmo como simbologia.
Depois de
publicar romance, conto e literatura infantil, Lucas Barroso estreia na poesia.
O tempo
já não importa é publicado pela editora Artes & Ecos; trata-se de um
conjunto de poemas diverso em forma e conteúdo. Nele, o poeta ilumina temas
como a solidão, a mendicância, a guerra, a passagem do tempo e o amor e o faz
com palavras doces e férteis. Na leitura que faz para apresentação da obra,
Luís Dill observa que o poeta, quando se apoia no humor para a feitura do
poema, este surge com inteligência, não se limita ao poema-piada, ao
poema-trocadilho. É um humor com relevância. “Entre as múltiplas maneiras com
que o eu lírico se manifesta está um discreto sotaque político, coberto por
maturidade e independência”― acrescenta. Para ele, “Lucas Barroso foge dos
hermetismos, não propõe jogos intrincados.”
As
narrativas curtas do autor de O mestre e Margarida.
Publicados
entre 1925 e 1926 em um periódico soviético direcionado aos trabalhadores da
medicina, estes textos têm como base a experiência do próprio autor nos anos de
1916 e 1917, quando, logo após obter o diploma de médico na maior universidade
do país, foi enviado para atuar em um pequeno hospital no interior da Rússia.
São histórias que exploram o que há de mais humano na profissão, seus medos e
incertezas, bem como as agruras da população rural, formando um retrato vívido
e melancólico, ainda que não desprovido de humor, de um período especialmente
turbulento do país, que atravessava a Primeira Guerra Mundial, a Revolução de
1917 e a Guerra Civil. Além do ciclo de contos “Anotações de um jovem médico”, que
dá título a este volume, se inclui a novela “Morfina” e a narrativa curta “Eu
matei”, também de cunho autobiográfico. Complementam o volume um prefácio da
tradutora e um alentado ensaio de Efim Etkind, em que o famoso crítico e
dissidente russo analisa as peculiaridades da prosa de Bulgákov e suas relações
com o meio literário soviético. A tradução de Érika Batista é publicada pela
Editora 34.
Uma nova
edição com a poesia de Jorge Reis-Sá ao Brasil.
O trabalho
do escritor neste gênero é já conhecido há muito nos circuitos literários
brasileiros. Em Pátio, após ter publicado onze livros nos últimos vinte
anos, Jorge Reis-Sá torna a apresentar o seu texto poético repleto de
simbologias, em que inicia pela contemplação de ‘Lápide’ e atravessa os espaços
abertos, de forma elegante e em passos precisos, com excertos, referências e
poesias de poucas palavras e muitos significados. Todas elas se estendem
debaixo desta espécie de sol morno, quase frio, que emoldura sentimentos,
incertezas, inquietudes, sensações inusitadas do confronto permanente entre a
tristeza e a felicidade. Afinal, é diante da morte que somos capazes de sentir
a presença concreta da vida. Neste pátio imaginário, dialoga Reis-Sá com alguns
dos grandes poetas do seu tempo, como Daniel Faria, Gastão Cruz, Luís Quintais,
Pedro Mexia e em especial António Carlos Cortez, prefaciador deste belo volume,
e que anotou com propriedade o “realismo de nevoeiro, pouco nítido” do qual
exsurge a vida, essa hera forte e resiliente que cresce enquanto não estamos a
olhar, e do qual igualmente nascem os poemas de Reis-Sá, palavras que encerram
os espaços míticos nos quais o autor, de modo mágico, faz(-nos) “recordar quem
somos e quem tivemos na nossa vida”. O livro é 14º volume da coleção Lusofonia,
publicada pela Editora Jaguatirica.
A obra de J. D. Salinger em formato digital pela primeira vez.
As várias restrições ao acesso da obra de J. D. Salinger começam a ceder. Os herdeiros, à medida que trabalham para trazer à luz textos inéditos do recluso escritor estadunidense, abrem algumas exceções na publicação e divulgação da sua obra. Uma delas é a permissão para livros digitais. A Todavia, a casa editorial no Brasil que tem reapresentado a obra de Salinger, é a autora nesse processo e publica os títulos que já estão em catálogo em e-book: a partir deste sábado, 9 de maio de 2020, estão disponíveis nas plataformas digitais o célebre O apanhador no campo de centeio, e as antologias de contos Nove histórias e Franny & Zooey.
OS LIVROS
POR VIR
A obra de
Joyce Carol Oates tem nova casa editorial no Brasil.
O trabalho
da escritora estadunidense tem boa circulação no Brasil, mas, desde sempre, em
casas editoriais variadas. Agora, sua obra passa para o catálogo da Harper
Collins. Tudo começa com a nova edição de Blonde, romance baseado na
história de Marilyn Monroe que há mais de uma década estava fora de catálogo no
Brasil. O livro sai em paralelo ao lançamento pela Netflix de uma série produto
da adaptação do romance. Segundo O Globo, a editora adquiriu os direitos
de outros dois títulos recentes de Joyce Carol Oates: My Life as a Rat e
Night. Sleep. Dearth. The Stars.
DICAS DE
LEITURA
1. Escritor
por escritor. Machado de Assis segundo seus pares (1939-2008). Volume 2.
Uma vez recomendamos o primeiro livro do excelente levantamento realizado pelos
pesquisadores Ieda Lebensztayn e Hélio de Seixas Guimarães sobre a recepção da
obra e do escritor que se tornaram maiores na literatura de língua portuguesa.
A Imprensa Oficial do Estado de São Paulo publicou recentemente, conforme
noticiado noutra edição deste Boletim, o segundo volume desse trabalho que
agora cobre do ano do primeiro centenário do Bruxo do Cosme Velho ao ano do
primeiro centenário de morte. Neste volume estão textos de nomes como Ariano Suassuna,
Aníbal Machado, Rachel de Queiroz, entre outros. Caso o leitor ainda não possua
o primeiro tomo, a casa editorial preparou uma caixa de guarda que acondiciona
os dois tomos; trabalho que, como afirma Milton Hatoum, apresentam caminhos
sobre a presença de Machado de Assis sobre os criadores da literatura
brasileira desde sempre.
2. Fliperama,
de Fabiano Calixto. Este é o oitavo livro do poeta. Publicado pela Corsário
Satã, reúne aqui uma variedade de trabalhos que enformam uma década de
atividades criativas com a poesia. Tal como o jogo que o designa, o livro se
propõe ser, ao mesmo tempo, diversão e revisitação a memórias e tempos capazes
de tocar naqueles sentidos sempre caros ao poético. Isso significa dizer que
este é um livro que atesta uma maturidade e uma possibilidade para que o leitor
descubra mais do trabalho deste poeta.
3. Escritos
corsários, de Pier Paolo Pasolini. O leitor brasileiro conhece as múltiplas
facetas artísticas do criador italiano: o cinema, a poesia, a prosa romanesca e
a novelística. Neste livro, o último livro organizado pelo autor em vida, estão
reunidos artigos publicados na imprensa italiana entre 1973 e 1975. O conteúdo
dos textos vão desde a discussão acerca dos movimentos estudantis de 1968, a
decadência da Igreja Católica, as relações entre governo e máfia na Itália e,
especialmente, aquilo que ele chama de Novo Poder ― ou novo fascismo ―, isto é:
o advento de uma sociedade de consumo global, que promove um verdadeiro
extermínio das formas de vida tradicionais. Traduzido por Maria Betânia
Amoroso, quem fez um trabalho minucioso de apresentação e anotação dos textos,
prefaciado por Alfonso Berardinelli, este é uma das edições mais recentes no
catálogo da Editora 34.
VÍDEOS,
VERSOS E OUTRAS PROSAS
1. Circula desde
março um artigo que levanta uma série de possibilidades para justificar a
existência de dois novos registros fotográficos de Arthur Rimbaud: as fotos
mostrariam o poeta à frente das barricadas pela Comuna de Paris em maio de
1871. O texto de Aidan Dun foi divulgado em seu blog e pode ser lido (em
inglês) aqui.
2. Neste vídeo publicado na nossa galeria no Facebook, um encontro raríssimo: Pier Paolo
Pasolini e Ezra Pound. O escritor italiano lê para o estadunidense uma passagem
do “Canto 81” de Os cantos, obra-prima de Pound. O vídeo está em
italiano, mas é possível acompanhar a tradução do excerto a partir do trabalho
de Décio Pignatari, Augusto e Haroldo de Campos.
3. Na
quinta-feira, 6 de maio de 2020, o blog publicou um texto de Pedro Fernandes
sobre As nuvens, de Juan José Saer. O escritor argentino, um dos nomes
mais importantes da literatura de língua espanhola, também escreveu poesia e,
no blog da Revista 7faces, o leitor encontra quatro poemas seus vertidos
para o português.
4. A revista Cult celebra os 90 anos do poeta estadunidense Gary Snyder com a tradução de vários de seus textos, ainda inéditos no Brasil: Rodrigo Garcia Lopes apresenta sete poemas; Leandro
Durazzo traduz “Sutra de Smokey, o urso” e Luci Collin traduz e
introduz “O mundo poroso”. Aqui.
BAÚ DE
LETRAS
1. No último
dia 5 de maio, passou-se mais um Dia Mundial da Língua Portuguesa. Fica aqui algumas
listas das já publicadas pelo blog que incluem obras das literatura brasileira,
para assinalar essa ocasião: a) aqui, 21 livros de contos indispensáveis da
literatura brasileira; b) e aqui, 12 livros indispensáveis da
poesia brasileira.
2. E, neste
domingo, o segundo do mês de maio, é celebrado no Brasil o Dia das Mães. Deixamos
aqui outra lista das sempre lembradas na ocasião: esta inclui onze livros da
literatura que têm como protagonistas a figura da mãe.
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* Todas as informações sobre lançamentos de livros aqui divulgadas são as oferecidas pelas editoras na abertura das pré-vendas e o conteúdo, portanto, de responsabilidades das referidas casas.
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