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Mostrando postagens de maio, 2020

Boletim Letras 360º #377

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DO EDITOR 1. Outra edição do Boletim Letras 360º realizada nos tempos difíceis que atravessamos: uma doença que grassa um país sem governo e vamos escapando pelas margens com um livro na mão — até quando, não sei. Obrigado pela companhia com o Letras ! Abaixo está a cópia das notícias que fizeram a semana do blog na página do Facebook. Cornélio Penna. Dois livros mostram trabalhos até desconhecidos do público. LANÇAMENTOS Dois livros publicados pela recente editora Faria e Silva recolam em cena a variedade criativa de Cornélio Penna. 1. Antes de sagrar-se escritor, Cornélio Penna mostrou-se ao mundo como artista plástico e foi tema da crítica da época por suas exposições e pelas ilustrações que assinava nos principais suplementos culturais do país. Como artista sentia-se aprisionado em grades que ele mesmo acreditava ter construído, mas das quais revelava não conseguir se libertar, e esse sentimento se espelha em seus desenhos e pinturas, como poderemos ver

New Orleans, Faulkner e o jazz

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Por Paula Luersen William Faulkner Enjoys New Orleans Jazz. Grayce DeNoia Bochak Não sabia para onde iria. Fui levada ao ponto de partida no escuro. Sabia que a saída estava marcada e era cedo, numa estação de trem em Atlanta. Mas não imaginava para onde correriam aqueles trilhos. Foi só chegar ao destino, porém, para descobrir que era o lugar certo para encerrar 2016, antes mesmo de o calendário decretar seu fim. O problema é que o arrastar do ano tinha esgotado todo o meu desejo, toda a minha vontade. O que eu sentia era tristeza bruta que se agravava nos muitos momentos em que me via sozinha. Polarização política. Burrice institucionalizada. Instabilidade emocional. Demonstrações vazias de autoridade, de um lado; retórica do sacrifício, do outro. Intolerância soando no seu tom mais agudo, a ponto de tomar as ruas, a casa dos tios, a universidade, o pátio da vó e, às vezes, perigosamente, se incrustar pelos cantos do meu apartamento. O desânimo sentava à mesa, se este

Noivado, de Shmuel Agnon

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Por Pedro Fernandes Shmuel Agnon. Foto:  David Rubinger. Há uma moral da história em Noivado , de Shmuel Agnon¹, indispensável à unidade da narrativa: uma promessa quando realizada com o devido fervor jamais deixará de se cumprir. Na infância, Jacob Rechnitz, contrai um enlace afetivo com uma menina sua vizinha, Susan Ehrlich. O episódio, apesar da inocência de duas crianças que se gostam, acompanha toda a vida dessas duas personagens, muito embora o tempo e as circunstâncias estabeleçam para Jacob o progressivo distanciamento dos dois e, com ele, um apagamento da promessa pueril: primeiro é sua saída da morada vizinha à propriedade dos Ehrlich, depois, sua ida para estudar fora do país e seu estabelecimento em Jafa como professor e pesquisador de botânica, e, por fim, o irrecusável convite para uma cátedra na universidade de Nova York. Ou melhor, aquilo que se estabelece ainda na nossa infância tem contínuas implicações para a vida adulta, o que significa dizer,

O poço

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Por Davi Lopes Villaça O poço , filme do espanhol Galder Gatzelu-Urrutia, tem recebido várias críticas negativas, o que me parece justo em certa medida. Trata-se talvez de uma obra que deixa a desejar, que entrega menos do que promete. Mas o que de fato entrega é mais do que o suficiente para admirá-la pela maneira como articula, numa narrativa carregada de ação e suspense, temas fortes da filosofia e da religião. Isto sem falar, claro, nas boas atuações e nas qualidades propriamente cinematográficas, que não me proponho a analisar. A história tem como premissa um estranho experimento social. Duplas de pessoas são aleatoriamente dispostas ao longo dos muitos andares (não sabemos quantos) do “poço”, um enorme edifício subterrâneo, uma prisão vertical. As celas comunicam-se umas com as outras apenas por um grande vão que atravessa seu centro. Esse espaço é de tempos em tempos percorrido por uma plataforma, uma mesa flutuante, contendo a refeição dos prisioneiros, detend

Kimani. A representante do Brasil na Copa do Mundo de Slam

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Por Rafa Ireno Entre os dias 18 e 23 de maio de 2020 aconteceu a Copa do Mundo de Slam, na França, quer dizer, era para ser em Paris, no entanto, devido a pandemia, o evento foi realizado pela internet. Dia 19, terça-feira, às 16h horário de Brasília (às 21h, Paris). Foi, justamente, sobre essa mudança que eu comecei a entrevista com Cinthya dos Santos, a Kimani, representante do Grajaú e do Brasil na competição. Essa entrevista foi realizada a poucos dias do evento.  * “Vou colocar o celular num pedestal para ter mais espaço para me movimentar, com um microfone na lapela, daí eu fico um pouco mais livre. Estou pensando onde aqui, em casa, fica melhor de luz para ter esse espaço e fazer toda a performance que eu costumo fazer. O corpo, quando eu quero rodar, pular, quando quero mexer com a mão, de um jeito que eu fique muito livre. Tenho ensaiado bastante, pensando no enquadramento, porque ainda que seja mais contido, eu não quero perder esse lance do meu corpo. For

Maria Velho da Costa, a fulguração imaginativo-criativa

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Por Pedro Fernandes “Não sei se sou escritora. Não me há estatuto de especialidade que sossegue. Sei que foi nesta língua que resisti ao que até hoje pretendeu colonizar-me o sentir e o pensar, acaso sem que o conseguisse.” Maria Velho da Costa Maria Velho da Costa. Foto: Rui Guadencio Maria Velho da Costa foi distinguida com alguns dos reconhecimentos mais importantes em seu país e mesmo no âmbito da língua portuguesa: em 1997 recebeu o Prêmio Vergílio Ferreira pelo conjunto da obra; em 2008, recebeu pelo romance Myra , o Prêmio Correntes d’Escrita; em junho de 2003 foi condecorada com a medalha da Ordem do Infante D. Henrique de Portugal; em abril de 2011, com a medalha da Ordem da Liberdade. Entre prêmios e condecorações, recebeu em 2002, o Prêmio Camões. Os méritos se reafirmam quando sabemos que sempre foi lida com louvor no âmbito acadêmico. Mas, a escritora morreu no dia 23 de maio de 2020 e deixou por cumprir igual reconhecimento entre os leitores comuns d