Boletim Letras 360º #369
DO EDITOR
1. No Twitter
@Letrasinverso lembramos, durante a semana, sobre duas coisas. Primeiro, falemos
sobre a necessidade de, quem puder, ajudar as pequenas livrarias, livreiros,
editoras independentes durante o longo período que atravessamos. Uma estratégia é variar
as compras de livros do mês, colocando na lista de imediatos aqueles livros de
editoras independentes que por vezes ficam para depois e comprá-los ou
diretamente na editora ou na livraria adotada. E variar isso, mês após mês.
2. Várias
editoras e livrarias independentes têm ampliado suas presenças na web sempre
com novidades que facilitam o acesso aos livros: e-books para download gratuito, antecipação de pré-vendas, frete grátis, promoções etc.
São estratégias de divulgação do trabalho desenvolvido por elas. Se o leitor não consegue apoiar financeiramente adquirindo o livro pode ajudar,
comentando, curtindo, compartilhando os materiais divulgados. Pense que isso serve
para ampliar os limites de atenção e atingir outros leitores que ainda não conhecem a editora ou a livraria e possam ajudá-las.
Na seção dicas de leitura deste Boletim, três títulos de editoras independentes
para incrementar suas listas.
3. A segunda
coisa é a acelerada queda de informações vindas do universo das artes e da
literatura. Mas, o boletim que depende exclusivamente dessas notícias continuará a existir sempre que houver uma notícia que
seja e, claro, vida deste lado.
4. Reforçamos
o pedido que se tornou universal: se puder, fique em casa. E estar em casa é
sempre uma oportunidade de ouro para ler. O BO Letras 360º é uma publicação
semanal que reúne informações disponibilizadas (ou não) na página do Letras no
Facebook. Obrigado pela companhia e, boas leituras!
A obra de Clarice Lispector continua a ser reeditada no novo projeto editorial. |
REEDIÇÕES
A editora
Nova Fronteira prepara caixa com nova edição de Os miseráveis, clássico
da literatura de Victor Hugo.
Um dos
maiores clássicos da literatura mundial, Os miseráveis é considerado um
manifesto contra a desigualdade e as injustiças sociais. Publicado
originalmente em 1862, descreve de maneira vívida a sociedade francesa do
século XIX, traçando também um panorama político da época. Com narrativa
envolvente e trama complexa, a história é centrada em Jean Valjean, que, após
cumprir 19 anos de prisão pelo roubo de um pão e ter sido submetido a trabalhos
forçados, tem seu destino entrelaçado ao de personagens fortes e intensos,
cujas vidas são um retrato da difícil realidade do país. A obra-prima de Victor
Hugo atravessa os séculos com uma temática que subsiste ainda nos dias de hoje
— não à toa já foi adaptada diversas vezes para o cinema e a televisão. Esta
edição a sair pela Editora Nova Fronteira conta com prefácio de Carlos Heitor
Cony.
Nova edição de A bela e a fera, de Clarice Lispector.
Esta é uma das obras de Clarice Lispector que exalam a capacidade criadora e o poder de imaginação da estrela maior da literatura de autoria feminina no Brasil. As ideias que nutrem estes oito contos, escritos em 1940 e 1941 (parte I) e 1977 (parte II), recriam uma atmosfera a partir de situações cotidianas corriqueiras que termina por despertar no leitor a sensação do insólito que há em nossas vidas. Ninguém consegue ficar indiferente a essas ideias. Elas estimulam o lado mais criativo e belo que há em cada um de nós, talvez porque “o nascimento de uma ideia é precedido por uma longa gestação” – como nos diz a narradora de “História interrompida”. Leitora de Heidegger, Clarice nos transmite a visão de que a tranquilidade e a normalidade do cotidiano são aparentes, e o que importa é uma compreensão mais profunda do ser humano. Capaz de construir enredos e personagens inusitados a partir das situações mais banais que cada um de nós vivencia, ela nos dá a chave para romper com uma realidade que em geral é vista como imóvel ou imutável. Por isso, esta obra, como todas as suas outras, é uma lição de vida. O tom confessional de diário, de conversa ao pé do ouvido, que é a tônica de seu estilo, registra, nestes contos, a enigmática reação das personagens femininas contra a repressão patriarcal, e mostra que a conquista da independência da mulher passa pela busca do próprio eu: “Senti que podia. Fora feita para libertar. Libertar era uma palavra imensa, cheia de mistérios e dores” – já descobrira Tuda, a protagonista adolescente de “Gertrudes pede um conselho”. (Luiza Lobo)
OS LIVROS
POR VIR
Livro de
ensaios de Alice Walker ganhará publicação no Brasil.
O anúncio é
da Bazar do Tempo, que publicará In search of our mothers’ gardens —
Womanist prose. Na edição, publicada originalmente em 1983, a autora estadunidense,
conhecida mundialmente pelo livro A cor pórpura, vencedor do prêmio
Pulitzer e adaptado com imenso sucesso para o cinema, reúne trinta e seis
ensaios em que reflete sobre questões pessoais e políticas, destacando sua
perspectiva de feminista negra, como ela define. A infância conturbada, o
racismo e suas diversas expressões, os desafios sociais para a mulher negra, o
movimento dos direitos civis nos anos 1960 e a literatura feminina e feminista
americana são alguns dos temas tratados no livro. A tradução é de Stephanie
Borges.
OBITUÁRIO
Morreu Mécia
de Sena
No início da
noite da sábado, 28 de março de 2020, as redes sociais da Revista 7faces noticiaram
sobre a morte de Mécia de Sena: “É com tristeza que recebemos a notícia sobre
a morte de Mécia de Sena. Foi dela todo incansável trabalho de organização,
sistematização e mesmo apresentação da obra do seu companheiro Jorge de Sena. A
poesia dele foi lembrada na edição mais recente da Revista 7 faces”, dizia a
nota. Mais tarde, os jornais portugueses confirmaram a notícia. Mécia tinha 100
anos (nasceu em Leça da Palmeira a 16 de março de 1920) e estava em Los Angeles,
Estados Unidos; seu irmão, o professor, crítico e historiador Óscar Lopes
morrera em 2013. Formada em Ciências Histórico-Filosóficas pela Faculdade de
Letras da Universidade de Lisboa, foi professora, escritora e colaboradora de
Jorge de Sena. Graças ao seu trabalho é que leitores podem acessar a extensa
parte da obra do escritor português, incluindo o romance inacabado Sinais de
fogo, publicado postumamente em 1979, e a vasta correspondência que manteve
durante o restante do seu vida de exílio (como as que manteve com Sophia de
Mello Breyner Andresen, comentadas no blog). Mécia casou-se com Jorge quando
este era engenheiro civil da Junta Autônoma de Estradas; veio com ele para
Brasil, onde a família viveu até o estopim da ditadura militar, partindo depois
para os Estados Unidos.
DICAS DE
LEITURA
1. O
templo, de Stephen Spender. Este livro é um dos trabalhos do conjunto
variado de traduções realizadas por Raul de Sá Barbosa. A leveza das narrativas
que constituem esse romance que nos coloca em relação com outro tempo, de efervescências
e modificações nos modos de ser e estar e nas culturas, é o que definiríamos como o bom deste livro. O romance do escritor inglês começou a tomar forma
em 1929, mas só foi publicado em 1988; nele se cruzam a inquietação –
erótica, literária, política – do jovem Stephen Spender e a singularidade de um
momento histórico – a República de Weimar – em que uma inédita liberdade de
costumes florescia à sombra do nazismo já rampante. O livro de Spender é uma
das publicações recentes da Editora 34.
2. Não
aceite caramelos de estranhos, de Andrea Jeftanovic. A editora Mundaréu tem
uma coleção ótima para albergar títulos da literatura latino-americana, a ¡Nosotros!
No âmbito destas publicações saiu este livro da escritora chilena que reúne o
que tem sido chamado por uma antologia de contos ousados, onze socos no
estômago, em que o ambiente familiar e as relações íntimas são palco de
frustrações, temores e perturbações; de amores profundos e grandes esperanças. O
tom da coletânea é definido no conto que lhe dá título: a dor de uma ausência
que nada pode preencher, a relação com uma realidade absolutamente
incompreensível e inaceitável. Jeftanovic confere a variadas personagens em
situações extremas sua voz terna e inconvenientemente franca.
3. Ano da
fome, de Aki Ollikainen. Este é o primeiro romance do escritor finlandês;
com ele, ganhou vários os prêmios e concorreu ao Man Booker
International Prize em 2016. O livro retoma o ano de 1867, um dos períodos mais
dolorosos na história da Finlândia: o inverno rigoroso e debandada de camponeses
para São Petersburgo em busca de comida mais de 15% da população do país morreu
de fome. Num cenário gélido, as pessoas habitam o limite de sua humanidade. A
fome cala e o silêncio que ela provoca é força motora da narrativa. Quem come
fala em frases engasgadas. A vida resiste na força obstinada dos caminhantes e
na escrita intensa do autor. O leitor brasileiro, através de uma narrativa
delicada e fluida, tem a oportunidade de se emocionar e encontrar, num cenário
muito diverso, questões, dificuldades e tensões que são universais,
compartilhadas por povos de quaisquer lugares. A ficção, aqui, é a forma pela
qual a realidade se expressa. A tradução é de Pasi Loman e Lilia Loman e foi publicada pela editora Numa.
VÍDEOS,
VERSOS E OUTRAS PROSAS
No meio da
semana publicamos em nossa página no Facebook um áudio de Manuel Bandeira lendo
o seu poema “Pneumotórax”; o ótimo dessa partilha é que alguns leitores entraram
em contato conosco para saber sobre duas coisas (algumas estavam ali expostas, é
verdade): de onde as imagens do Bandeira e o depoimento sobre os que não
conheciam a voz do poeta. “Pneumotórax” foi apresentado na antologia Libertinagem,
publicada em 1930 e descrito como o primeiro livro inteiramente modernista de
Manuel Bandeira. Em 1968, o selo festa lançou um LP com leituras realizadas pelo
poeta. Entre os poemas lidos está este que foi acoplado às imagens realizadas
por Fernando Sabino e David Neves no filme O habitante de Pasárgada, de
1959. A seguir, lembramos o poema e outros poemas:
a) a leitura
de “Pneumotórax” pode ser vista aqui;
b) o poeta na bela leitura de “Vou-me embora pra Pasárgada”;
c) neste
outro recorte, recita “Testamento”;
d) e podem
ver o filme de Fernando Sabino e David Neves aqui.
BAÚ DE
LETRAS
Do nosso baú,
recordamos algumas publicações para sublinhar o Dia Internacional do Livro
Infantil, celebrado no dia 2 de abril.
1. Esta lista com 12 títulos indispensáveis aos pequenos (e, por que não, aos grandes) leitores.
2.
Indiretamente, José Saramago escreveu contos para crianças: a) o mais famoso deles
é, certamente, A maior flor do mundo – uma nota aqui e a possibilidade de
ver o curta com a premiada adaptação realizada por Juan Pablo Etcheverry; e, O silêncio da água – notas aqui.
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* Todas as informações sobre lançamentos de livros aqui divulgadas são as oferecidas pelas editoras na abertura das pré-vendas e o conteúdo, portanto, de responsabilidades das referidas casas.
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