Boletim Letras 360º #362
DO EDITOR
1. Na chamada
para seleção de novos colaboradores para o Letras in.verso e re.verso, dez
candidatos realizaram corretamente sua inscrição. A leitura do material enviado
favoreceu a inclusão de três novos nomes que, a partir de março, passarão a se
apresentar mensalmente por aqui. São eles: Felipe de Moraes, Maria Louzada e
Paula Luersen. O leitor esteja atento porque dessas mãos sairão, certamente, boa
coisa para ampliar ainda mais o espaço do blog na web.
2. Aproveito a ocasião
para lembrar que, durante o ano inteiro, o Letras está aberto a receber textos
de eventuais colaboradores. Você pode ler a proposta editorial aqui e preparar
seu texto conforme essas orientações. Será um prazer ler seu texto e, quiçá, publicá-lo.
3. Anualmente,
há três anos, o blog realiza um bazar na página no Facebook para vender alguns
livros da biblioteca. Algumas peças do bazar de 2020 já estão disponíveis desde
esta semana. Para saber quais livros são comercializados, como adquiri-los e
outras informações basta visitar aqui. As rendas obtidas com as vendas dos livros
são revertidas para o pagamento da hospedagem do blog. A iniciativa tem encontrado
bom resultado desde o primeiro ano e por isso que o Letras ainda continua circulando
por aqui com um domínio próprio.
3. Este
Boletim, que reúne as informações catalogadas e copiadas em nossa página no
Facebook (agora não apenas), passou por várias modificações, cf. explicado na
edição 360. É há muitas semanas uma alternativa de se inteirar sobre os livros
que chegam e sobre outras notícias desse vasto universo chamado literatura. Obrigado
pela companhia e, boas leituras!
Antonio Candido. O professor e crítico literário ganhará uma fotobiografia. |
LANÇAMENTOS
Contos
que ressaltam a amizade entre a literatura e os gatos.
Por esses
dias, o blog Letras in.verso e re.verso publicou uma matéria retomando a
relação literatura e gatos e, agora, para nossa surpresa, a editora Alfaguara
publica uma antologia que amplia o temário: um conjunto de contos escritos por
alguns dos escritores que sempre deram outra atenção aos amigos bichanos. O
grande livro dos gatos reúne contos mais clássicos sobre a relação dos
felinos com a humanidade e outros que ressaltam os seus mistérios, reviravoltas
e… sonecas. Os contos presentes nessa coletânea são: “O gato”, Théodore de
Banville; “A gata persa da Tia Cynthia”, Lucy Maud Montgomery; “O paraíso dos
gatos”, Émile Zola; “O gato de botas”, Charles Perrault, “Penas de amor de uma
gata inglesa”, Honoré de Balzac; “O gato preto”, Edgar Allan Poe; “Os gatos de
Ulthar”, H. P. Lovecraft; “Sobre os gatos”, Guy de Maupassant; “O gato”, Mary
E. Wilkins Freeman; “O gato-brasileiro”, Arthur Conan Doyle; “A fase felina de
Maurice”, Edith Nesbit; “Vida e opiniões filosóficas de um gato”, Hippolyte
Taine; “O gato que caminhava só”, Rudyard Kipling, “Tobermory”, Saki; “Tom
Vieiro”, Mark Twain; “Gato”, Banjo Paterson; e “A gata branca”, Edith Nesbit.
Novo
livro de Alice Ruiz em parceria com Rodolfo Guttilla.
Nesse
conjunto de poemas breves, brevíssimos, os dois poetas se propõem a um desafio:
depois de longas prosas, concentrar tudo em três linhas de poesia. Ao resgatar,
atualizar e subverter as regras do haikai e do senryu, formas japonesas
clássicas construídas por três versos, Alice Ruiz S e Rodolfo Guttilla
estabelecem um diálogo delicioso, ágil e surpreendente. Com humor e
inteligência, as palavras cintilam e reluzem no papel ― de poeta para poeta. O
livro integra a coleção Poesia de Bolso, editada pela Companhia das Letras.
Ganha edição
por aqui um inédito de Jack Kerouac no Brasil.
Maggie
Cassidy é um tocante romance autobiográfico que mostra o primeiro amor e a
vida adolescente em uma cidadezinha da Nova Inglaterra: uma evocação comovente
sobre como era crescer e adolescer na América dos anos 1930. A tradução de
Rodrigo Breunig é publicada pela L&PM Editores.
A poesia
completa de May Angelou.
Através de
sua ilustre carreira na Literatura, Maya Angelou presenteou, curou e inspirou o
mundo com suas palavras. Agora, a beleza e espírito dessas palavras vivem nesta
nova e completa coleção de poesia que reflete e honra a vida notável da
escritora. Todas as suas frases poéticas, todos os seus versos comoventes podem
ser encontrados nas páginas deste volume – de suas reflexões sobre a vida
afro-americana à celebração revolucionária da condição da mulher negra.
Atemporal, essa compilação definitiva aquecerá os corações dos mais ardentes
admiradores da Maya Angelou assim como introduzirá novos leitores à poeta
legendária, ativista e professora – uma mulher extraordinária para a
atualidade. A tradução de Poesia completa é de Lubi Prates e o livro sai
pela Astral Cultural, a mesma casa que, recentemente, publicou Eu sei por
que o pássaro canta na gaiola, da mesma autora.
Caixa
reúne textos de e sobre Yukio Mishima.
O japonês
Yukio Mishima (1925-1970), considerado um dos mais importantes autores do
século XX, viveu apenas 46 anos, quando, após liderar a rendição de um
comandante, cometeu suicídio nas dependências do quartel militar de Tóquio,
produzindo uma impressionante cena, digna de cinema. Foi quem teve o fim mais
espetacular entre os mais notáveis colegas de ofício. Muitos tiraram a própria
vida, mas Mishima desejava, antes de tudo, a simbologia da morte heroica. É esse
sentimento rebelde e ritualístico que encontramos em seu conto “Patriotismo”, escrito em 1960 e reconhecido pelos críticos como uma
obra-prima mundial. O foco da narrativa está no lado mundano da existência,
mesclando beleza, intensidade e paixão. Em acontecimentos que se desenrolam
durante três dias, com passagens de cunho autobiográfico, o escritor faz a
descrição vívida de um ritual de haraquiri. Com atraente projeto gráfico, este
box inclui, além do conto, o volume “Quem são Mishimas?”, perfil biográfico
do autor japonês, escrito pelo especialista Victor Kinjo e enriquecido com uma
bela seleção de fotos. Dentre outros aspectos importantes da vida de Mishima,
Kinjo narra a temporada em que o autor esteve no Brasil, em São Paulo e no Rio,
onde passou o Carnaval de 1952. A festa popular o marcou para sempre,
influenciando, inclusive, a sua visão mais íntima da vida, como relata em seu
diário de viagem. A tradução de Jefferson José Teixeira sai pela editora
Autêntica.
A poesia
completa de Carlos de Assumpção.
Ao perfazer
um arco de quase setenta anos de produção, Não pararei de gritar reúne
poemas que tematizam, com coragem e urgência, a desigualdade racial brasileira.
“Senhores/ O sangue dos meus avós/ Que corre nas minhas veias/ São gritos de
rebeldia”, declara Carlos de Assumpção no emblemático “Protesto”. Escrito em
1956, o poema causou furor quando foi apresentado ao público pela primeira vez,
na Associação Cultural do Negro, em São Paulo. Seus versos reescrevem a
diáspora africana e denunciam um Brasil que traz na sua origem as marcas da
injustiça, da desigualdade e da discriminação social. Décadas mais tarde, sua
atualidade se mantém. Com dor e revolta, mas também com vitalidade e esperança
na construção de um país mais justo, a poesia de Carlos de Assumpção é um
testemunho poderoso sobre os tempos em que vivemos, um símbolo de luta contra o
silenciamento e a opressão histórica. A edição conta com organização e posfácio
de Alberto Pucheu.
Coletânea
reúne textos de Toni Morrison sobre sociedade, cultura e arte.
Uma das
escritoras mais célebres e reverenciadas de nossos tempos, Toni Morrison sempre
foi uma hábil observadora do mundo. Em A fonte da autoestima,
encontramos uma rica coletânea de textos sobre sociedade, cultura e arte. As
palavras de Toni Morrison são transcendentais não só em seus romances, mas
também nas obras de não ficção. Neste livro, encontramos uma instrutiva reunião
de seus ensaios e discursos mais importantes, como um texto sincero e comovente
sobre sua busca pelo verdadeiro Martin Luther King Jr., um elogio emocionante a
James Baldwin, uma oração ardente pelos mortos do 11 de setembro, entre outros.
A autora, que recebeu em 1993 o prêmio Nobel de literatura, analisa as linhas
tênues que separam o estrangeiro, a mulher, o corpo negro e outros conceitos
igualmente importantes para a sociedade contemporânea. Além disso, Morrison
volta seu olhar crítico para o próprio trabalho ― principalmente Amada ―
e o de outros importantes escritores negros. Uma coletânea essencial para
entender melhor o pensamento de uma das mulheres mais importantes do século XX,
A fonte da autoestima brilha com a elegância literária e intelectual que
fizeram de Toni Morrison a voz mais importante dos últimos anos. A tradução de
Odorico Leal sai pela Companhia das Letras.
Nova
edição de A obscena Senhora D., de Hilda Hilst.
Ao
embaralhar os gêneros em uma prosa densa e radical, A obscena senhora D.
é uma novela sobre o luto com fartas doses de dramaturgia, filosofia e
poesia.Aos sessenta anos, após a morte do marido, Hillé ― a senhora D. ―
percebe que está absolutamente sozinha. Em seu luto, a protagonista decide
viver no vão da escada de casa e experimentar o mais profundo isolamento. Num
intenso fluxo de consciência, ela se vê às voltas com lembranças do passado ao
mesmo tempo que se pergunta sobre o verdadeiro sentido da vida. Lançado
originalmente em 1982, A obscena senhora D. é uma das obras mais
cultuadas e transgressoras de Hilda Hilst. Incluída em Da prosa, esta
edição conta com posfácio inédito da professora Eliane Robert Moraes.
O novo
romance de Noemi Jaffe retrata a vida de Nadezhda, a jovem russa que guardou na
memória os poemas de seu marido morto pela censura soviética para evitar que
fossem apagados para sempre da história.
Neste
romance envolvente e poético, Noemi Jaffe conta, com suas próprias palavras e
invenções, a vida de Nadezhda Mandelstam. Vivendo sob a opressão stalinista,
Nadezhda se casa com o poeta Óssip, que falecerá em um gulag na Sibéria como
inimigo do regime. Contudo, para que os poemas que levaram o marido à desgraça
não desapareçam, Nadezhda os memoriza e os sussurra sempre. Serão essas versões
que chegarão à contemporaneidade. O que ela sussurra é publicado pela
Companhia das Letras.
Uma
antologia com a poesia escrita por poetas do Haiti.
Estilhaços
reúne nomes da poesia haitiana contemporânea. O livro é organizado por Henrique
Provinzano Amaral, autor também das traduções. A edição bilíngue traz o
trabalho de cinco poetas haitianos vivos que residem ou não na sua ilha natal,
sendo que a maioria desses autores está inédita no Brasil: René Depestre,
Frankétienne, Marie-Célie Agnant, Evelyne Trouillot e James Noël. Este é,
aliás, o primeiro panorama da produção poética haitiana a ser publicado por
aqui. O livro sai pelo selo Demônio Negro.
O primeiro
livro de Alejandro Chacoff.
Depois de passar
a infância na Filadélfia, o narrador de Apátridas retorna com sua mãe e
irmã ao Centro-Oeste brasileiro. Numa pequena cidade do Mato Grosso, ele vai
travar contato com sua família materna, principalmente seu avô, José, que fez
fortuna como dono de cartório. A sombra do pai ausente, um homem de moral
duvidosa, parece estar em tudo. À medida que acompanhamos as histórias do clã,
somos enredados numa prosa que vai e vem no tempo, sem nunca perder a
intensidade. Nesse primeiro romance, Alejandro Chacoff não idealiza; ao
contrário, desdramatiza. Num Brasil violento e indiferente, cujo vazio das
planícies é também o vazio histórico e de narrativas, ele busca os matizes da
memória e constrói um romance inesquecível. Chacoff é crítico de literatura e
ensaísta da revista Piauí e com colaborações para outros periódicos como
The New Yorker, The Guardian e The Atlantic.
LITERATURA E
INTERSEMIOSES
A obra de
Lucia Berlin para o cinema pelas mãos de Pedro Almodóvar.
O cineasta
espanhol adapta cinco dos contos de Manual da faxineira, um dos livros
que mais o impressionou nos últimos anos. As narrativas se desenvolvem entre
Texas, Oakland e México, em inglês e espanhol, o que configura a primeira
entrega de Almodóvar à língua inglesa. Há alguns anos os Estados Unidos
colocaram à disposição do diretor alguns trabalhos, então recusados. Uma
reaproximação do país parece ter começado a partir da adaptação de textos
da canadense Alice Munro que resultou em Julieta – o roteiro fora
escrito para Meryl Streep, mas depois de entender que ficaria melhor em
espanhol, traduziu para a Espanha. A previsão é que projeto comece a ganhar
forma perto do fim de 2020. A obra de Lucia Berlin tem sido redescoberta desde
2005 e só então ganhado projeção dentro e fora do seu país. Manual da
faxineira foi publicado no Brasil pela Companhia das Letras.
OS LIVROS POR
VIR
Antonio
Candido ganha fotobiografia
Quase três
anos depois da morte de um dos principais nomes da crítica literária no Brasil,
a filha, Ana Luisa Escorel, publica pela casa editorial Ouro Sobre Azul, A
formação de Antonio Candido. O livro reúne um conjunto de 293 fotografias,
a maior parte do arquivo pessoal do professor que foi doado ao Instituto de
Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo. O livro é apresentado na
segunda semana de março na filial do Instituto Moreira Salles de Poços de
Caldas; Candido morou na cidade do sul mineiro entre 1930 e 1936 e o IMS tem
exibido uma mostra do acervo pessoal do crítico.
REEDIÇÕES
O
anticrítico, livro que é um dos que comprova o rigor e a originalidade de um
dos fundadores da poesia concreta no Brasil.
Como
classificar este livro de Augusto de Campos? Poesia-crítica? Crítica-poesia?
Crítica da crítica? Qualquer que seja a definição, Dante, Donne, Gregório de
Matos, E. Fitzgerald, Emily Dickinson, Lewis Carroll, Gertrude Stein, Duchamp,
John Cage, entre outros, são aqui reconversados numa linguagem nova,
antiacadêmica, e revistos de uma perspectiva não convencional. Os poetas são
revividos em versões em que se impõem os requintes e os rigores da
tradução-arte. Tradução seletiva, personalizada, cujos valores estéticos e
anímicos dos textos originais são recriados em português, numa operação ao
mesmo tempo crítica e poética. O livro de 1986 ganha reedição pela Companhia
das Letras.
A editora
Iluminuras começa a reeditar a obra de Roberto Arlt.
Poucas vezes
a literatura indagou, de forma tão radical, o fascínio que o crime exerce sobre
os sujeitos como possibilidade de redenção social e existencial. Os sete
loucos e Os lança-chamas, romances centrais da obra literária de
Roberto Arlt, levam até as últimas consequências essa indagação. O primeiro é o
que sai agora no projeto de reedição da obra do escritor pela Iluminuras. Uma
galeria espectral de personagens, cujas vidas se afundam na penúria econômica,
na miséria moral e nos porões do delito, desfila por estas páginas, que,
implacáveis, evitam a denúncia social, a compaixão e o didatismo moralizante. O
roubo, o assassinato, a delação, a prostituição, a fraude, a perversão do desejo
oferecem-se como as únicas saídas vitais para essas personagens, que, em um
compromisso brutal com a verdade, assumem o delito como condição de
possibilidade da existência. Erdosain e a coleção de figuras excêntricas que o
acompanha ― Barsut, o Astrólogo, Ergueta, O Rufião Melancólico, a Coxa, O Homem
que viu a Parteira ― não são simples máquinas delituosas, pelo contrário,
cientes da situação em que se encontram, mergulham numa introspecção buscando o
conhecimento de si mesmos e, sobretudo, a compreensão de um mundo que não cessa
de mostrar o cerne arbitrário das regras que o sustentam. Uma lucidez
inexorável que, por momentos, beira a crueldade, permeia os diálogos, as
confissões, os monólogos ou as fantasias dessas personagens que resistem a
qualquer gesto comiserativo. Esse conjunto de raros e excluídos transita pela
cartografia exasperada de uma Buenos Aires complexa e febril que, no final dos
anos 20, exibe sem pudor o reverso monstruoso das utopias modernas. O contraste
domina nessa cena urbana, que, de maneira caótica, justapõe a pobreza das zonas
periféricas, o glamour dos bairros nobres, a desolação das áreas fabris e a
convulsão das ruas do centro crivadas de inovações tecnológicas que distorcem a
promessa futurista do progresso. Crispada e contraditória, a cidade arltiana
transforma-se em um laboratório de transgressão para esses desajustados, que
não se detêm ante nada na hora de imaginar utopias de mudança social que se
fundam na intriga e no crime e que, na sua manifestação extrema, chegam a roçar
o delírio. O traço anarquizante dessas ficções não se limita à configuração das
personagens e à organização da trama, desloca-se também para um trabalho
transgressivo com a língua, que subverte os modos cultos e corretos das
tradições literárias dos letrados. A escrita de Arlt inscreve na própria língua
a violência com que os fluxos tumultuosos e pouco inteligíveis da cidade
moderna atraem e expulsam os sujeitos. Uma forma eficaz e, por isso,
rotundamente atual, de evidenciar, como o próprio Arlt dizia, que “entre os
ruídos de um edifício social que desmorona inevitavelmente, não é possível
pensar em bordados”.
DICAS DE
LEITURA
Está muito
longe de os ataques a livros se tornarem possíveis apenas na ficção. Toda vez
que as sociedades recrudescem, esses estimados objetos são os primeiros vitimados
pela arrogância e ignorância do Poder. Os ataques aos saberes não é, portanto,
nenhuma novidade, nem meta exclusiva deste ou daquele governo; e a censura não é
exclusivamente produto de um índex ou de uma proibição, ela se manifesta toda
vez quando os Estados se recusam a garantir o acesso de seu povo aos patrimônios
simbólicos que os constitui ou sutilmente na imposição de outros atrativos que visam o esquecimento da cultura letrada. Tomados pelos tristes e contínuos episódios de proibição,
mas não ingênuos de acreditar na novidade da censura, é que recomendamos os três
livros a seguir.
1. Aqueles
que queimam livros, de George Steiner. Este é um dos livros mais recentes editados
no Brasil do crítico literário que nos deixou na primeira semana de fevereiro. Trata-se
de um breve ensaio no qual reflete sobre o encontro do homem com livro como um
instante de transformação, isto é, o papel dos livros enquanto nossa chave de
acesso para nos tornarmos melhores do que somos. A edição brasileira é da Editora
Âyiné.
2. Censores
em ação. Como os Estados influenciaram a literatura, de Robert Darnton. O ensaísta
é um conceituado nome em discussões relacionadas ao nascimento da cultura do
livro e seus usos na sociedade. Este é o título mais recente publicado no
Brasil, mas por aqui são singulares obras como Poesia e política e A
questão dos livros. No livro aqui recomendado o ensaísta recria três
momentos em que a censura restringiu a expressão literária. Na França, no
século XVIII, censores, autores e livreiros colaboravam no fazer literário ao
navegar na intricada cultura do privilégio em torno da realeza. Em 1857, na
Índia, o Rajá britânico empreendeu uma investigação minuciosa dos aspectos da
vida no país, transformando julgamentos literários em sentenças de prisão. Na
Alemanha Oriental, a censura era tão onipresente que se instaurou na mente dos
escritores como autocensura, com sequelas visíveis para a literatura nacional.
Ao enraizar a censura nas particularidades da história, este estudo revelador
expõe o impacto da repressão na literatura. A edição brasileira é da Companhia das
Letras.
3. Fahrenheit
451, de Ray Bradbury. A distopia mais famosa do gênero entre leitores e amantes
dos livros. Escrito após o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1953, este é um
livro que condena não só a opressão anti-intelectual nazista, mas
principalmente o cenário dos anos 1950, revelando sua apreensão numa sociedade
opressiva e comandada pelo autoritarismo do mundo pós-guerra. A singularidade
da obra de Bradbury, se comparada a outras distopias, como Admirável mundo novo,
de Aldous Huxley, ou 1984, de George Orwell, é perceber uma forma muito
mais sutil de totalitarismo, uma que não se liga somente aos regimes que
tomaram conta da Europa em meados do século passado, mas das artimanhas constituídas
pelo poder dominante interessado no apagamento da cultura do livro em nome de modelos
descritos como mais sofisticados e modernos fabricados pela indústria cultural.
Em tempos de toda patifaria digital e de conteúdo enlatado entregue pelas
plataformas de Streaming, este é um livro visionário e capaz de nos fazer
repensar o papel dessas imposições nas nossas vidas. É o um romance que nos leva
a refletir, portanto, sobre as variantes possíveis da censura.
BAÚ DE
LETRAS
1. Na
sexta-feira, 14 fev., foi Dia de São Valetim. Para o dia universal dos amantes,
recordamos duas publicações do Letras sobre o temário do amor: esta crônica de Pedro Fernandes escrita em 2012; e esta lista com catorze romances que reúnem as mais interessantes histórias
de amor.
2. Elena, de Petra Costa, voltou para acesso; agora na plataforma Netflix.
Em 2012, Pedro Fernandes escreveu sobre. Leia mais sobre o filme aqui.
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* Todas as informações sobre lançamentos de livros aqui divulgadas são as oferecidas pelas editoras na abertura das pré-vendas e o conteúdo, portanto, de responsabilidades das referidas casas.
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