Orfandade poética
Por Beatriz Martins Ilustração: Sakuya Higuchi este é um poema que eu queria ter lido para minha avó. há exato um mês, eu perdi a minha avó. e de certa forma perdi o poema. porque ele foi feito para ser lido a vovó. não li o poema. às vezes eu tentava conversar com vovó e ela dizia minha filha por favor minha filha volte amanhã eu não quero esse negócio chato nos meus ouvidos hoje – o aparelho auditivo – eu não quero conversar eu quero estar aqui com a minha filhinha; minha filhinha que não caga, não come, não chora. a boneca de vovó era uma perfeição de filho, principalmente a alguém com mais de 90 anos e que gosta de companhia para assistir Malhação . vovó desenvolveu uma habilidade incrível ao longo da vida. podia dar vida a meros objetos, podia se teletransportar no tempo, podia criar outros tipos de tempo. um dia, nos surpreendemos quando um velho amigo da família disse que vovó teria sido registrada errado – se em seus documentos constam 93 anos, esta não