As sementes da infância e a colheita amarga da velhice: a “Sinfonia em branco”, de Adriana Lisboa
Por Flaviana Silva O vazio é o irmão do silêncio. Ambos escondem as palavras não pronunciadas e abrigam em si, por mais estranho que pareça ser, um universo de lacunas. A ausência da cor registra a sua marca na existência, é semelhante aos traumas que não receberam a atenção da sociedade hipócrita ao longo dos anos. É preciso considerar que Sinfonia em branco da autora brasileira Adriana Lisboa é um romance de sentidos cortantes e poéticos. A obra foi publicada em 2001 e foi reconhecida com o Prêmio José Saramago no mesmo ano; para os amantes da prosa poética, o romance é uma viagem singular e satisfatória. O enredo é construído por um narrador onisciente que em sua autoridade, expressa uma descrição minimalista, destacando alguns detalhes e ocultando outros. A história das irmãs (Clarice e Maria Inês) é guiada por uma sequência de transgressões que marcam a vida das personagens, em um tempo narrativo psicológico que é composto por uma dança constante entre o