Ficção de realidade e realidade de ficção
Por Amanda Lins Pontes de Miranda, o professor de introdução ao direito diz incessantemente à turma sonolenta, leiam Pontes de Miranda. Algo no tom dele faz nascer em mim um ensaio de irritação, irritação a qual, a princípio, não consigo identificar o motivo. Mas anoto a sugestão-barra-imposição no canto do caderno e empurro a porta, indo em direção ao mormaço do mundo. As salas de aula no verão nunca são convidativas. Nascimento em 1892... morte em 1979... escreveu diversos tratados sobre direito privado, vou lendo enquanto passo meus dedos pelas capas empoeiradas, formando um rastro de que estive ali, marcando-me nos sumários já comidos pelo tempo até a metade e nas contracapas quase inexistentes. Na biblioteca, o que entra de luz precisa antes dançar pelos resquícios de poeira, formando uma cortina que me banha de sol aos poucos e me convida, novamente, ao calor de fora. Posso sentar-me num banco e terminar de ler o romance que larguei durante a aula, reflito.