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Mostrando postagens de junho 18, 2019

O coração das trevas

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Por Antonio Muñoz Molina Cena de Apocalypse Now , de Francis Ford Coppola Há uma coisa trágica de grandes animais mortos nos velhos barcos encalhados e à beira da ruína, como nas filas de vagões carcomidos pela intempérie e destruídos pelo óxido que se vê em estradas mortas próximos a estações, como em paisagens de edifícios azulejados mas em ruínas, e em céus escurecendo ao entardecer por entre cabos de alta tensão. Os vagões de carga, os barcos velhos comidos de ferrugem, ou mesmos os carros usados pintados de um cinza de pós-guerra nos quais talvez tenhamos viajado durante noites eternas há muito anos, contêm toda a sensação de decadência e destruição, não suavizado pela dignidade melancólica das ruínas nobres, dos escombros de um palácio ou de uma igreja gótica. A carcaça côncava de um navio morto esquecido à beira-mar se parece muito com a de uma vaca ou um cavalo morto à beira de uma estrada.  Mas há ruínas que aparecem num porto ou nessa estação de trem que