Anatomia do ócio, de R. Leontino Filho
Por Pedro Fernandes As discussões sobre o texto poético quase sempre partem de um jogo de relações que dissociam, às vezes por oposição e exclusão, os elementos que distinguem a prosa narrativa. O que podemos chamar de submissão do poema a tais limites deve-se a um ponto impossível de deixá-lo de fora quando tocamos no assunto: o amplo lugar alcançado pela prosa e sua penetração no cotidiano comum faz este gênero ocupar a posição de partida ou grade de leitura para a compreensão da poesia. Esta, por sua vez, ampliou, no tempo dos exageros, sua condição de à margem. Dizemos isso, evidentemente, porque se considerarmos, no âmbito da história da literatura (e mesmo de sua teoria), sempre encontramos a poesia como a mais insubmissa das formas e consequente a que deve, por sua condição, prevalecer no lugar-qualquer; na Poética , Aristóteles não lhe dedica interesse e elege a tragédia como o gênero mais significativo no âmbito das criações com a palavra, enquanto na República