Boletim Letras 360º #353
Todos os anos nós publicamos uma lista com os melhores livros lidos segundo os nossos leitores. No início da semana, disponibilizamos através das redes sociais do blog, um formulário para que você possa fazer parte desse momento ao nos dizer qual foi sua leitura mais marcante em 2019. Para participar, basta ir aqui e informar nome completo, sua cidade, o título do livro e uma justificativa ressaltando, por exemplo, as qualidades e o porquê da recomendação. As listas de Melhores do Ano chegam online até o final do mês de dezembro. A seguir, as notícias divulgadas durante a semana em nossa página no Facebook.
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Segunda-feira, 9 de dezembro
Nova edição brasileira de Um, nenhum e cem mil, de Luigi Pirandello.
Para
Vitangelo Moscarda, tudo começa com uma observação de sua esposa quanto ao seu
nariz. Ele é acometido de uma intensa perplexidade ao averiguar que ela, de
fato, tem razão: seu nariz é mesmo ligeiramente torto para a direita. Esse
comentário banal faz com que Moscarda descubra que todas as pessoas que ele
conhece têm uma imagem diferente dele e que nenhuma dessas imagens corresponde
àquela que ele faz de si próprio. Um Moscarda? Nenhum Moscarda? Cem mil
Moscardas? Essa perplexidade do protagonista torna o livro uma obra fundamental
para quem gosta de questões de identidade, que, aqui, são apresentadas de
maneira bastante filosófica, mas também divertida, por um narrador de primeira
pessoa, que pensa alto. A tradução de Francisco Degani sai pela Editora Nova
Alexandria.
Terça-feira,
10 de dezembro
Uma obra tão
monumental quanto 1Q84, este livro perturbador e hipnotizante
revela as obsessões mais íntimas do mestre Haruki Murakami. Chega o segundo volume da trilogia O assassinato do comendador.
Como um
mágico no auge de seu poder, Murakami dá vida a um universo inteiro povoado por
personagens, histórias e enigmas que têm o poder inesquecível dos sonhos mais
vívidos. No primeiro volume desta história, deixamos o protagonista ansioso
para saber o que está escondido atrás da pintura chamada de “O assassinato do
comendador”. Ele também aprendeu a conviver com os estranhos personagens e
objetos que o cercam desde que se estabeleceu em uma casa nas montanhas. E, a
pedido de seu vizinho, ele começou a esboçar o retrato de uma adolescente
peculiar, Marie Akikawa. Contudo, Marie desaparece misteriosamente no caminho
de volta da escola, e nosso protagonista se lança em uma busca frenética. Neste
segundo livro, de ritmo acelerado e cheio de suspense, os desfechos são
revelados e se encaixam como num quebra-cabeça, para que toda a pintura faça
sentido. A tradução de Rita Kohl sai pela editora Alfaguara.
A
brutalidade da guerra soviético-afegã é retratada neste livro extraordinário,
com o olhar sempre preciso e humano de Svetlana Aleksiévitch.
Entre 1979 e
1989, as tropas soviéticas se envolveram em uma guerra devastadora no
Afeganistão, que causou milhares de baixas em ambos os lados. Enquanto a URSS
falava de uma missão de “manutenção da paz”, levas e levas de mortos eram
enviadas de volta para casa em lacrados caixões de zinco. Este livro apresenta
os testemunhos honestos de soldados, médicos, enfermeiras, mães, esposas e
irmãos que descrevem os efeitos duradouros da guerra. Ao tecer suas histórias,
Svetlana Aleksiévitch nos mostra a verdade sobre o conflito soviético-afegão: a
destruição e a beleza de pequenos momentos cotidianos, a vergonha dos veteranos
que retornaram, as preocupações com todos que ficaram para trás. Publicado pela
primeira vez em 1991, Meninos de zinco provocou enorme controvérsia
por seu olhar perspicaz e angustiante sobre as realidades da guerra. A tradução
de Cecília Rosas sai pela Companhia das Letras.
Com sua
inteligência e verve peculiares, Ian McEwan dá tratamento literário à
experiência contemporânea de um mundo virado do avesso.
A frase de
abertura de "A barata", o novo livro de Ian McEwan, é um evidente
tributo à mais famosa obra de Franz Kafka, A metamorfose: “Naquela manhã, Jim
Sams, inteligente mas de forma alguma profundo, acordou de um sonho inquieto e
se viu transformado numa criatura gigantesca”. Por meio dessa divertida
inversão, McEwan cria a trama desta deliciosa sátira política. Nela, Jim Sams é
um inseto que, do dia para a noite, assume a forma humana de primeiro-ministro
da Grã-Bretanha. Sua missão é realizar a vontade do povo, expressa na aprovação
da Lei do Reversalismo, que pretende remodelar o funcionamento da economia: as
pessoas pagarão para trabalhar e ganharão dinheiro por consumir. Além de radical,
a medida criaria uma enorme complicação na relação do Reino Unido com os demais
países. Trata-se, é claro, de uma engenhosa metáfora para o Brexit. Mas nada
poderá deter o primeiro-ministro: nem a oposição, nem os dissidentes de seu
próprio partido, nem mesmo as regras da democracia parlamentar. A tradução de
Jorio Dauster sai pela Companhia das Letras.
Escritos
entre 1944 e 1962, situados entre o ensaio e a autobiografia, os onze relatos
de As pequenas virtudes são um marco da escrita memorialística do
século XX.
Sem
idealizações nem sentimentalismos, As pequenas virtudes é fruto de
uma prosa límpida, aliada ao vigor típico dos escritores que, ao falar de
coisas simples, revelam as questões humanas mais profundas. Nestes onze textos,
a escritora italiana Natalia Ginzburg não faz delimitações entre as dimensões
social e histórica, construindo uma obra singular e de raro afeto. O livro é
dividido em duas partes. A primeira se atém a deslocamentos ― como o período em
que a autora morou em Londres ― e a retratos de duas figuras centrais em sua
vida: o poeta Cesare Pavese, de quem ela foi amiga, e Gabriele Baldini, seu
segundo marido. Na segunda, figuram ensaios poderosos, como “O filho do homem”,
uma avaliação das sequelas da guerra recém-terminada; “O meu ofício”, em que
Ginzburg explora as relações entre escrita e verdade íntima; e o texto que dá
título a este volume, um elogio extraordinário às verdadeiras grandezas
humanas. Breve e imenso, simples e original, As pequenas virtudes é
um livro inesquecível. Ao retratar uma vida marcada por perdas, desterros e
humildes alegrias, Natalia Ginzburg constrói uma obra luminosa, cheia de
carinho e de genuíno amor às pessoas e às palavras. A edição da extinta Cosac
Naify com tradução de Maurício Santana Dias sai pela Companhia das Letras.
Livro de
memórias de uma das mais importantes escritoras contemporâneas descreve sua
infância e juventude sob o regime stalinista.
Liudmila
Petruchévskaia nasceu no Hotel Metropol, na mesma rua do Kremlin, sede do
governo russo, em uma família de intelectuais bolcheviques que perderam grande
parte de seu status social depois de 1917. Neste livro, a autora narra sua
infância extremamente difícil: a constante falta de comida e aquecimento, os
períodos passados na rua e as adversidades crescentes enfrentadas pela família.
À medida que ela desvenda sua criação itinerante, vemos, tanto em sua notável
falta de autopiedade quanto nas fotografias ao longo do texto, seu instinto
feroz e sua habilidade em dar voz a uma nação de sobreviventes. Um livro
excepcional que fornece um vislumbre do dia a dia do regime comunista russo. A
tradução de A menininha do hotel Metropol: Minha infância na Rússia
comunista é de Cecília Rosas e sai pela Companhia das Letras.
Quarta-feira,
11 de dezembro
Inspirado
no livro A guerra não tem rosto de mulher, de Svetlana
Aleksiévitch, filme estreia nos cinemas brasileiros.
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Uma mulher alta é dirigido pelo premiado diretor Kantemir Balagov e
distribuído pela Supo Mungam Films e já ganhou os prêmios de Melhor Direção e
Crítica da mostra Un Certain Regard no Festival de Cannes e é o representante
da Rússia no Oscar 2020. Nele, conhecemos a história de duas jovens, Iya e
Masha, que buscam por sentido e esperança em meio a luta para reconstruir suas
vidas. O ano é 1945 e a cidade onde habitam, Leningrado, está devastada pela
Segunda Guerra Mundial. O livro da jornalista Prêmio Nobel de Literatura em
2015 foi publicado no Brasil pela Companhia das Letras.
Quinta-feira,
12 de dezembro
Os
ganhadoras do Prêmio APCA 2019 na categoria Literatura.
O anúncio
foi apresentado no dia 10 de dezembro. Na categoria Literatura, foram
vencedores: Crocodilo (Companhia das Letras / romance), de Javier
A. Contreras, uma narrativa emotiva sobre a construção da família, da relação
pai-filho e das mudanças que o amadurecimento traz para a vida;
Melancolia (Record / poesia), de Carlos Cardoso. O
crime da Galeria de Cristal (Companhia das Letras), de Boris Fausto, foi
a premiada em Ensaio / Teoria e/ou Crítica Literária / Reportagem; Em
busca da alma brasileira – Uma biografia de Mário de Andrade (Sextante),
de Jason Tércio, venceu na categoria Biografia e Eric Nepomuceno venceu na
categoria Tradução por conta da tradução da obra O jogo da
amarelinha (Companhia das Letras), de Julio Cortázar.
Uma coleção da editora Iluminuras apresenta quatro títulos da obra de Tom Murphy.
1. Um assovio no escuro. A tragédia
moderna em três atos se passa em Coventry, na
Inglaterra, e mostra de forma realista o cotidiano violento dos irmãos Carney,
imigrantes provenientes do remoto e pobre noroeste da Irlanda. A chegada do pai
com o irmão caçula revela a inadequação social da família ao país que deixaram
e ao país em que chegaram.
2. O concerto
de Gigli se passa no início dos anos 1980, em Dublin, no “consultório” de JPW
King, um psicanalista charlatão inglês. As oito cenas da peça mostram as
sessões entre o “médico” e o Homem Irlandês, ambos de meia-idade e em crise.
Movido pela obsessão de cantar como o tenor italiano Beniamino Gigli, o Homem
Irlandês procura King a fim de se submeter a um tratamento para alcançar seu
objetivo.
3. Bailegangaire se passa em 1984, na cozinha de uma casa rural no oeste da Irlanda. Noite após
noite, de maneira lírica e implacável nos detalhes, Mommo, uma avó senil, conta
uma história interminável às netas, Mary e Dolly: um duelo de risadas em Bóchtan,
e de como aquele local passou a se chamar Bailegangaire (o lugar onde ninguém
mais ri).
4. Trilogia de
Alice justapõe três momentos na vida de uma mulher irlandesa de classe média
alta à beira da loucura e prestes a se exilar de si mesma e do mundo. A peça se
passa nos anos 1980, 1990 e 2005: um tríptico que delineia a evolução de Alice
e do universo interior dessa personagem angustiada.
Sexta-feira,
13 de dezembro
Novo livro
do escritor Teixeira Coelho
São
Petersburgo, na Rússia que virou URSS antes de voltar a ser Rússia, assim como
a cidade conheceu, ela mesma, outros tantos nomes, é o cenário que um grupo de
amigos escolhe para um ajuste de contas de cada um consigo mesmo mais do que
com a História. Querem sonhar juntos e descobrir se sonhos coletivos eram e são
possíveis. Decidindo viajar antes dos outros para acertar os detalhes da
reunião, mas sem um plano específico, Josep Marília descobre que uma primeira e
insuspeitada barreira a vencer, opaca de tão evidente, é o momento que vive
naquele seu próprio presente ao lado da amante ou namorada ou amiga. Se grande
parte do futuro “é inteiramente inacessível”, escreve Eric Hobsbawm, o passado
– que o grupo quer recuperar, reexaminar e voltar a sentir – não o é menos.
Como o presente. O choque entre tempos e sensibilidades, feito de prazeres
desencontrados tanto quanto compartilhados, de impasses multiplicados,
encerramentos e retomadas imprevistos, poderia ser um drama – mas revela-se
apenas uma variação da celebração esperada. E Josep Marília comemora-a, a seu
modo. Puro gesto é publicado pela editora Iluminuras.
DICAS DE
LEITURA
1. Essa
gente, de Chico Buarque. Depois de uma leva de romances de grande valia
para a literatura brasileira contemporânea e do Prêmio Camões, o escritor
publica este que tem se apresentado como uma linha a mais sobre nossa complexa
e fraturada identidade. O livro que se tornou fenômeno entre os leitores portugueses
– não é de estranhar que Chico seja melhor quisto pelos nossos patrícios – traz
como figura o escritor Manuel Duarte, autor e um romance histórico que se
tornou Best-Seller nos anos 1990 e que passa, agora, por um deserto criativo e
emocional sob um Rio de Janeiro envolvo num manto de barbárie social. Apesar de
ser um livro sobre nossa permanente tragédia, Chico Buarque se mostra como um
Autor maiúsculo e brasileiríssimo pela capacidade de se rir sobre nossas
próprias contradições. O livro foi publicado pela Companhia das Letras.
2. Sebastopol,
de Emilio Fraia. O substantivo que intitula este livro-problema não é tão desconhecido
do leitor. Ele aparece numa antologia que reuniu três contos de Liev Tolstói situados
na zona temporal da Guerra da Crimeia. E qual a relação disso com o livro de
Fraia? Além da coincidente quantidade de textos, as narrativas aqui reunidas tratam
das mudanças bruscas da vida, num contexto sem grandes perspectivas uma vez que
o futuro parece tomado pelo apocalíptico. Uma escaladora sofre um acidente no
Everest que muda o rumo de sua vida e, anos depois, assiste a um vídeo de uma
artista desconhecida que parece narrar a sua história. Um homem, de passagem
por uma pousada desativada no centro-oeste brasileiro, desaparece
misteriosamente, e aos poucos ficamos sabendo de sua vida pregressa. Uma jovem
e um velho diretor de teatro escrevem juntos a história de um pintor russo que
nunca chegou a terminar uma de suas principais obras. O livro foi publicado
pela Editora Alfaguara.
3. Rastros,
de Tarso de Melo. Em 2014, o poeta havia publicado uma antologia que recolhia
os seis livros de poesia publicados até então e assinalava os quinze anos de
lida com a poesia, desde sua estreia com A lapso, em 1999. Agora, o trabalho
de compilação toma outra forma, a de uma lista que não quer ser pura reunião,
mas reorganização de uma obra à maneira do que fizeram outros poetas como Herberto
Helder ou mesmo Carlos Drummond de Andrade. Os poemas apresentados nessa edição
publicada pela Martelo Casa Editorial percorrem os anos de 1999 a 2018, mas
estão dispostos à revelia do princípio cronológica. São 155 textos que pela nova
ordem e refabrico de algumas peças abre ao leitor novas possibilidades de
aprendizagem com o universo criativo do poeta – o que é, não deixamos de notar,
uma cilada para os estudiosos de sua obra. Rastros reúnem textos da
poeta Dalila Teles Alves, Sérgio Alcides e escritos que acompanharam
originalmente livros anteriores como o texto de Júlio Castañon Guimarães para
apresentação de A lapso, o de Carlito Azevedo em Carbono, de
Heitor Ferraz Mello em Caderno inquieto.
VÍDEOS,
VERSOS E OUTRAS PROSAS
1. No
passado dia 13 de dezembro de 2019, celebramos o aniversário de Adélia Prado. Há
quatro anos fizemos um recital online com leitores do Letras lendo a poesia da
poeta mineira, resultado que foi disponibilizado em nossa galeria de vídeos no Youtube.
Nesta mesma galeria podem encontrar a poeta na leitura de “Qualquer coisa que
brilhe”, poema de seu livro mais recente, Miserere.
2. A edição
de dezembro de 2019 da The New Yorker publicou a tradução de “Agosto”, o
terceiro conto de Sebastopol que mostra Nadia, jovem que participa da
produção de uma peça sobre a cidade de Sebastopol e um pintor russo que
retratava os soldados da Guerra da Crimeia. Enquanto ela quer desenvolver sua
técnica, Klaus, amigo dramaturgo, quer uma peça de impacto. O resultado é um
fracasso completo da encenação.
3. Em
outubro, Casé Lontra Marques escreveu para a Revista Cult sobre Rastros,
de Tarso de Melo (Martelo Casa Editorial, 2019). No texto que pode ser lido aqui,
o poeta sublinha que “Quanto à modulação compositiva, as peças enfeixadas no
volume editado pela martelo reúnem as inúmeras técnicas exploradas por Tarso ao
longo de anos. As trilhas acidentadas do verso, os fluxos maciços da prosa:
caminhos, encruzilhadas, trincheiras? Faces (e gumes) de um “caderno inquieto”,
em constante formulação. Inacabamento e lapidação — uma poética do rascunho,
que rejeita a totalidade”.
4. A edição
18 da Revista 7faces publicou alguns poemas de Tarso de Melo dos
apresentados na antologia Rastros; visite aqui.
BAÚ DE
LETRAS
1. Em julho
de 2010, transcrevemos aqui parte de uma entrevista-palestra apresentada por
Adélia Prado ao projeto Sempre um papo.
2. Melancolia, de Carlos Cardoso, recebeu o Prêmio APCA 2019 para Melhor Livro de Poesia. Antes da publicação do livro, o blog publicou este texto de Pedro Fernandes sobre.
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* Todas as informações sobre lançamentos de livros aqui divulgadas são as oferecidas pelas editoras na abertura das pré-vendas e o conteúdo, portanto, de responsabilidades das referidas casas.
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