Boletim Letras 360º #348
Amigos leitores do Letras in.verso e re.verso, estas são as notícias que fizeram parte da semana em nossa página no Facebook. Na proximidade do fim de ano, rareiam novidades no mercado editorial brasileiro, o universo para o qual melhor dedicamos interesse de noticiar nos últimos anos. Mas, ainda assim, encontramos excelentes chegadas ainda em 2019 ou previsões para o ano vindoura. Não deixaremos de atentar.
Segunda-feira,
4 de novembro
Nova edição
de um dos textos mais conhecidos de Charles Dickens.
Scrooge é um
homem avarento, muquirana, miserável e mão de vaca. Para ele, até mesmo o Natal
parece um enorme desperdício de tempo e de dinheiro. Em mais uma lastimável
noite natalina, o fantasma de seu sócio Marley aparece para assombrá-lo e lhe
fazer um alerta: Scrooge será assombrado por três espíritos, que lhe mostrarão
seus erros (e as consequências deles) no Natal passado, presente e futuro. Publicado
originalmente em 1843, Um conto de Natal é o clássico com o qual Charles
Dickens se tornou o inventor do Natal como celebramos hoje. Escrita em uma
época em que a celebração dessa data caía no esquecimento na Inglaterra, a obra
fez o milagre de aquecer o coração dos leitores e criou o que conhecemos como
espírito natalino. Também se consagrou como um dos livros mais adaptados de
toda a história, figurando no imaginário de todos nós graças a inúmeros filmes,
peças e animações, chegando até a inspirar a criação de um famoso personagem, o
Tio Patinhas (em inglês, Uncle Scrooge). A edição da Antofágica traz tradução
de Leonardo Alves e cinquenta ilustrações inéditas do quadrinista Guilherme
Petreca. Além disso, o livro conta com posfácios do escritor Ricardo Lísias e
do jornalista e escritor André Cáceres, e apresentação de Melina Souza, do
canal Tea with Mel.
Terça-feira,
5 de novembro
Nova edição
da obra de Bruno Schulz.
O escritor e
desenhista polonês Bruno Schulz (1892-1942) criou a sua breve e deslumbrante
obra literária em um período de pouco mais de uma década, quando teve a sua
vida tragicamente interrompida pela barbárie nazista. Em sua pequena cidade nos
confins da Europa Central, Drohobycz, escreveu, ao todo, dois ciclos de contos
e mais um punhado de narrativas, que alcançariam a admiração de nomes como
Witold Gombrowicz, Czesław Miłosz, Isaac Bashevis Singer, John Updike e Philip
Roth, entre muitos outros. Além de Lojas de canela, livro de estreia do
autor, publicado originalmente em 1934, este volume inclui os cinco contos que
não figuram em sua segunda obra, Sanatório sob o signo da clepsidra — entre
eles, um texto inédito em português, “A primavera” —, e se encerra
com um brilhante posfácio em que o eslavista italiano Angelo Maria Ripellino lê
a obra de Schulz à luz dos seus pares poloneses e das vanguardas europeias,
restaurando a proximidade da sua prosa e da “exuberância irrefreável” de suas imagens com as tendências estéticas da art nouveau e do modernismo.
Para esta nova edição da ficção de Bruno Schulz, a ser completada com a
publicação de Sanatório, a consagrada tradução de Henryk Siewerski —
extremamente fiel aos adornos e arabescos tão característicos da escrita de
Schulz — foi novamente revista e cotejada com as edições mais recentes da obra
do autor. O livro sai pela Editora 34.
Quarta-feira,
6 de novembro
Nova edição
de um dos clássicos da literatura latina.
Único
romance latino da Antiguidade a sobreviver na íntegra até os nossos dias, O
asno de ouro (também conhecido como Metamorfoses), de Apuleio, escrito no
século II d.C., influenciou escritores como Boccaccio, Shakespeare e Flaubert,
além de ter se tornado referência nos estudos literários acerca da evolução da
prosa narrativa no Ocidente. A obra traz a atribulada história do jovem Lúcio
que, viajando à Tessália, na Grécia, se hospeda na casa de uma mulher versada
nas artes mágicas. Curioso por conhecer os mistérios da metamorfose, ingere uma
poção e é transformado por engano em um asno — sem perder, no entanto, a sua
inteligência. Raptado por um bando de salteadores, passa por uma série de
provações, e tem que trabalhar como burro de carga, num claro paralelo com a
escravidão, até conseguir voltar à condição humana. Na forma de asno, sendo um
observador insuspeito, é testemunha privilegiada da intimidade dos homens e
mulheres com quem se depara ao longo de suas aventuras, e assim a obra acaba
compondo um interessante retrato da vida privada na época. Mais do que isso, a
estrutura do romance possibilita a inserção de uma série de narrativas
paralelas, contadas pelas personagens e ouvidas por Lúcio, sendo a mais
conhecida a célebre história de Eros e Psiquê, que ocupa quase três dos onze
capítulos do livro. Obra única, verdadeira fábula sobre o pecado e a expiação,
O asno de ouro é publicado pela Editora
34 em edição bilíngue, com apresentação de Adriane da Silva Duarte, da
Universidade de São Paulo, e tradução direta do latim realizada pela grande
escritora Ruth Guimarães (1920-2014), que soube preservar com mestria toda a
vivacidade e o colorido do original.
Quinta-feira,
7 de novembro
Um conjunto
de ensaios sobre Machado de Assis coloca uma linha a mais na extensa fortuna
crítica do autor.
Segundo
Roberto Acízelo de Souza, “Ninguém desconhece a extensão e a qualidade da
fortuna crítica de Machado de Assis, decorrência, naturalmente, do vigor de sua
obra, especialmente na vertente da ficção, mas também na da crítica literária.
Por isso, quem se dispõe fazer desse autor objeto de estudo corre sempre o
risco da redundância, tão amplamente vêm sendo explorados os muitos aspectos de
seu legado de escritor. Os ensaios reunidos neste As duas pontas da
literatura: crítica e criação em Machado de Assis, contudo, esquivam-se com
mestria de chover nesse molhado, constituindo contribuição de real interesse
para os estudos machadianos”. O livro de Andréa Sirihal Werkema sai pela
editora Relicário.
Sexta-feira,
8 de novembro
A edição 18
da Revista
7faces homenageia a poesia de Orides Fontela.
“Ninguém
duvidará que Orides Fontela contribuiu de forma significativa para o
progressivo afastamento da nossa poesia do sopro das vanguardas e do frenesi
instaurado pelo modernismo, ampliando as fronteiras do espírito revolucionário
que se inaugurou com tais movimentos. Isso não é pouco”, escreve Pedro
Fernandes no editorial desta edição. Este número que homenageia Orides é
coorganizado por Nathan Matos, quem escreve, ao lado de Gustavo de Castro e
Márcio de Lima Dantas, sobre a obra da poeta de Transposição. Dela,
publicam-se uma seleção de poemas e imagens de arquivo, incluindo inéditas. A
revista sublinha, assim, as duas décadas da morte da poeta paulista e o
cinquentenário de sua estreia literária, efemérides circunscritas no biênio
2018-2019. Dois cadernos de poesia completam a edição; neles, encontram-se
poemas de Tarso de Melo, Antonio Carlos, Ana Elisa Ribeiro, Bruna Kalil,
Demetrios Galvão, Ítalo Lima, Lucas Rolim, Madjer de Souza Pontes, Mariana
Basílio, Pedro Belo Clara e Shelly Bhoil. Para ler a edição gratuitamente basta
visitar o site da revista, aqui.
Nova edição
e tradução de Hamlet, de William Shakespeare.
Publicado
pela Editora Ubu, o livro traz 21 xilogravuras feitas por Edward Gordon Craig
para a edição clássica de Hamlet publicada em 1930 pela Cranach Press. A edição
conta ainda com seis textos dos principais críticos da obra de Shakespeare, que
fazem um arco de 1819 a 2008. A maioria é inédita em português como os textos
de S. T. Coleridge (1819), Ivan Turguêniev (1860) e Northrop Frye (1986). A
esses se somam os textos de A. C. Bradley (1904), Jacques Lacan (1958-59),
Barbara Heliodora (2008). A nova tradução é de Bruna Beber.
DICAS DE LEITURA
Sophia de
Mello Breyner Andresen nasceu no Porto, em 1919. Estudou filologia
clássica na Faculdade de Letras de Lisboa. Além de
poemas, escreveu contos, literatura infantil e ensaios. Traduziu Eurípides,
Dante e Shakespeare. Recebeu inúmeros prêmios, entre os quais destacam-se
Camões (1999) e o Reina Sofía. Esta semana passou-se o centenário da poeta portuguesa lembrada no Brasil recentemente pela apresentação de uma antologia reunindo sua poesia afixada no interesse pelo temário do mar e na edição de sua poesia completa. Esta seção aproveita essas ocasiões para recomendar três títulos da sua importante e imponente obra.
1. Obra completa. A edição brasileira segue aquela que foi publicada em Portugal pela Assírio & Alvim e agrupa num único tomo a obra poética da
autora, seguindo e atualizando os critérios de fixação de texto adotados nas
edições anteriores, graças ao notável trabalho de Maria Andresen Sousa Tavares
e Carlos Mendes de Sousa. O livro inclui, pela primeira vez, alguns
poemas inéditos que integram o espólio da autora, em depósito na Biblioteca
Nacional. A edição brasileira é da Tinta-da-China Brasil.
2. A menina do mar. A extinta Cosac Naify começou, no Brasil, a publicar a obra de Sophia de Mello Breyner Andresen para crianças. Dois livros chegaram aos leitores: este e A fada Oriana. Esses títulos foram reeditados recentemente pela SESI-SP Editora. O aqui recomendado trata-se do primeiro livro que a poeta portuguesa escreveu para a infância; foi editado, pela primeira vez, em 1958. Tendo a praia como cenário, este conto revela-nos uma história de amizade entre um rapaz e a Menina do Mar. Cada um vive no seu mundo: o rapaz na terra e a menina no mar. Mas, a curiosidade de ambos leva-os a querer partilhar essas diferenças: a menina fica a saber o que é o amor, a saudade e a alegria; o rapaz aceita viver com ela no fundo do mar. As edições brasileiras foram ilustradas por Veridiana Scarpelli.
3. O colar. Trata-se de uma peça de teatro dividida em três estranhos e diferentes atos, conforme sublinha Luis Miguel Cintra no prefácio à edição portuguesa. O texto toma como cenário Veneza e apresenta a história da jovem Vanina, que se apaixona por Pietro, um fidalgo arruinado que ganha a vida a encantar pelos canais da cidade.
VÍDEOS VERSOS E OUTRAS PROSAS
1. Neste vídeo publicado na nossa galeria no Facebook, recorta-se um excerto da obra de Sophia de Mello Breyner lido pela própria poeta. E aqui, uma recita do poema “Quando”.
2. Em agosto de 2014, a revista brasileira 7faces publicou um número dedicado à Sophia de Mello Breyner Andresen. A edição está disponível aqui.
3. Sophia de
Mello Breyner Andresen. O nome das coisas é um documentário produzido e
realizado pela Panavideo para a RTP 2. Com testemunhos de quem com ela conviveu
e também de quem, com a necessária distância, consegue analisar a dimensão da
sua obra. O documentário está disponível aqui.
BAÚ DE LETRAS
1. Em nossa página no Facebook, mais especificamente aqui, é possível encontrar alguns links com textos sobre a obra de Sophia de Mello Breyner Andresen já publicados neste blog. E são muitos.
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* Todas as informações sobre lançamentos de livros aqui divulgadas são as oferecidas pelas editoras na abertura das pré-vendas e o conteúdo, portanto, de responsabilidades das referidas casas.
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