Boletim Letras 360º #343
Findamos a semana com três sorteios. Três leitores, do Instagram, Facebook e Twitter, ganharam, cada um, um exemplar de Melancolia, de Carlos Cardoso (Editora Record). A campanha assinala a publicação do novo trabalho do poeta brasileiro, distinguido como um dos acontecimentos na cena literária deste ano. A seguir, o leitor encontra as notícias que passaram durante a semana pelo mural do Letras no Facebook, as dicas de leitura que apresentamos costumeiramente há algumas edições deste Boletim e outras recomendações.
António Lobo Antunes chega aos quarenta anos de sua obra com novo livro, distinções e homenagens dentro e fora de Portugal. |
Segunda-feira,
30 de setembro
Livro reúne
parte da correspondência de Efratia Gitai, uma mulher do século XX, de opinião
própria, libertária, com posições feministas e ideais socialistas.
“Em
tempos como estes, não temos escolha a não ser ir em frente e continuar
vivendo”, diz Efratia em uma de suas cartas. As cartas reunidas nesta
edição vão de 1929 a 1994 e retratam, numa escrita saborosa e de um ponto de
vista subjetivo, os contextos políticos e sociais em que ela vive, na condição
de mulher e judia, numa Europa marcada pela guerra e pela constituição do
Estado de Israel. Nascida ao pé do Monte Carmelo em Israel, em 1900, Efratia
faz seus estudos na Europa, na Áustria, e depois na Alemanha, até que a
investida de Hitler a faz retornar a Israel. Dos três filhos que ela tem com o
engenheiro Munio Gitai, o primogênito morre, o segundo é o cineasta Amos Gitai.
Através de suas cartas se entrevê uma mulher inteligente, culta, esclarecida.
As cartas misturam sentimentos pessoais e discussão política e cultural. Em uma
delas, Efratia descreve a sessão de Luzes da Cidade, de Charles Chaplin, que
ela assistiu no lançamento, em 1931. Em outra, responde a seu pai, discordando
de sua posição política. Em tempos como estes é organizado por Rivka Gitai, tem tradução de
Paulo Geiger e sai pela Ubu
Editora.
Novos veios
do pensamento político de Virginia Woolf.
Três
guinéus é um longo e complexo ensaio. Mas não se trata de um ensaio
comum. Em primeiro lugar, ele assume o formato de uma carta escrita por uma
missivista fictícia e endereçada a um destinatário também fictício. Depois,
trata-se de uma carta muito peculiar: dividida em três capítulos, traz cinco
fotos e muitas notas. Virginia constrói aqui uma trama argumentativa para
demonstrar o forte vínculo entre o militarismo e o papel subordinado das
mulheres na esfera doméstica, política e social. O livro está todo recheado de
exemplos da vida cotidiana, de citações de jornais e livros, de extratos de
biografias e autobiografias, de dados e estatísticas de livros de referência.
Pode-se questionar alguns detalhes específicos dos espinhosos teoremas de
Virginia; é difícil, entretanto, não se deixar convencer por suas rigorosas
demonstrações. Incontestavelmente, Três guinéus foi um documento
importante em sua época. E continua, sem dúvida, importante, num tempo em que a
maioria das estruturas opressoras então dominantes continuam tão fortes e
firmes e ferrenhas quanto antes. Três guinéus continua válido e vivo. Virginia,
a feminista e pacifista Virginia, vive. Além do texto de Virginia, completam o
livro extensas notas do tradutor Tomaz Tadeu e um posfácio de Naomi Black, pesquisadora
de ativismo e teoria feminista, sobre o feminismo de Virginia Woolf.
A ilha de Arturo, de Elsa Morante é o novo título no catálogo da editora Carambaia.
Elsa Morante
(1912-1985) costumava dizer que, no fundo, se sentia “um menino”. E afirmou
certa vez, parodiando Flaubert, “Arturo sou eu”. Referia-se ao personagem
narrador de A ilha de Arturo – memórias de um garoto, uma assombrosa evocação
da infância e da puberdade, que a Carambaia lança com tradução de Roberta
Barni. A narrativa desse romance se passa às vésperas da Segunda Guerra Mundial em
Procida, ilha na região de Nápoles em que o personagem vive uma vida de
liberdade e imaginação, sem escola, mas plena de livros e natureza selvagem. A
mãe do garoto de 14 anos morreu no seu nascimento e o pai, Wilhelm Gerace, que
ele idolatra acima de todas as coisas, passa grande parte do tempo em viagens
misteriosas que alimentam os devaneios de Arturo. Os dois vivem no palácio
decaído de um amigo de Gerace que acumulou dinheiro e detestava todas as
mulheres. Pai e filho desprezam a retraída população da ilha – onde as mulheres
se cobrem inteiramente de preto – e admiram apenas os ocupantes de uma prisão
instalada numa elevação de Procida. A segurança de Arturo, para quem a solidão
parecia um “estado natural”, é abalada pela chegada da nova esposa do pai,
apenas dois anos mais velha do que ele. Sentimentos violentos e confusos
começam a aflorar. Acostumado a um pai valente e às vezes cruel, Arturo é
levado a conviver com uma adolescente de natureza doce e submissa que dá à luz
um meio-irmão. No decorrer do enredo, o garoto se vê diante do despertar do
desejo e, mais tarde, de uma revelação sobre o pai. A ilha de Arturo é um romance de formação complexo e contraditório, em que o aprendizado é
corroído por emoções brutais e incontroláveis. Temas como misoginia,
homossexualidade, amores interditados e narcisismo permeiam uma narrativa que
mistura realismo e tons de fábula, nostalgia e ilusão. No ano de sua
publicação, 1957, o livro ganhou o prêmio Strega, o principal reconhecimento
literário italiano. Cinco anos depois, o enredo foi levado ao cinema num filme
homônimo dirigido por Damiano Damiani. Esta edição inclui posfácio de Davi
Pessoa.
Terça-feira,
1º de outubro
Nova edição
de A mãe, de Górki é parte na coleção Clássicos de Ouro editada pela Nova Fronteira.
Este livro
conta a história de Pélagué Nilovna e sua vida na efervescente Rússia
pré-revolução. Seu filho, Pavel, operário de uma fábrica, entende que seu tempo
exige uma mudança social profunda, o que se apresenta a ele muito cedo. O jovem
se aproxima do movimento revolucionário e acaba sendo deportado. Quando isso
acontece, sua mãe, que vinha se alinhando aos ideais que motivavam o filho,
toma sua parte na luta, em um exercício de força, empatia e humanidade. Uma das
obras mais fundamentais da literatura russa, A mãe faz de Górki o
romancista de uma nova era, vislumbrada a partir de sua própria experiência.
Além da apresentação de Marques Rebelo, esta edição conta com prefácio inédito
do escritor e professor Flávio Ricardo Vassoler.
Quarta-feira,
2 de outubro
Portugal
atribui a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade a António Lobo Antunes.
O
reconhecimento veio pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, sem
aviso prévio, durante o encerramento de um colóquio na Fundação Calouste
Gulbenkian, em Lisboa. O encontro, que juntou vários oradores e especialistas
na obra do escritor, celebrava os 40 anos de publicação literária de António
Lobo Antunes; sua estreia foi com Memória de elefante e Os
cus de Judas, em 1979. A Ordem da Liberdade, introduzida após o 25 de
abril, foi “criada com o claro objetivo de agraciar os que se notabilizaram em
defesa dos ideais mais caros aos revolucionários”, lê-se no site da Presidência
da República. A atribuição do título honorífico deve ter em conta “toda uma
gama de méritos cívicos assinaláveis: os daqueles cidadãos, nacionais ou
estrangeiros que se distinguiram pelo seu amor à liberdade e pela sua devoção à
causa dos direitos humanos e da justiça social, nomeadamente na defesa pelos
ideais republicanos e democráticos”. Entre outras personalidades a quem o PR
decidiu atribuir recentemente este título honorífico estão o escritor Fernando
Namora (a título póstumo, entregue à filha do escritor, Margarida) e a pianista
Maria João Pires.
Novo romance de Altair Martins revela a essencial necessidade humana do
outro para ser.
Apesar de
viverem perto um do outro, os irmãos Elias e Fernando se evitam há vinte e
quatro anos. Mas um acontecimento inesperado força o professor Elias a pedir a
ajuda de Fernando, taxista, para realizar o antigo sonho de seu falecido irmão
mais velho. Lado a lado num táxi, eles terão de fazer como os puros-sangues e
seguir em frente, correndo pelo frio do Rio Grande do Sul, Uruguai e Argentina
para levar os ossos do jóquei C. Martins até a grande noite do turfe em Buenos
Aires. Os donos do inverno sai pela Não Editora.
Quinta-feira,
3 de outubro
Rastros de
um passado pesado demais.
Desde 1996,
a antropóloga Ève Klonowski passa seus dias e suas noites se recuperando e
tentando identificar os restos dos desaparecidos na Bósnia. É assim que ela
pode, então, devolvê-los a seus familiares, que se sentem quase felizes por
poderem enterrar seus entes queridos. Passados dez anos da guerra e da limpeza
étnica, o autor nos brinda com um depoimento emocionante. Mediante o destino
cruzado de várias mulheres corajosas e admiráveis, ele evoca, de maneira
oposta à mídia sensacionalista, os traumas e as feridas de um passado que
continua presente. O talento do autor e sua sensibilidade excepcional tornam
este documento universal e contundente. Será que algo pode nos justificar e
tirar dos nossos ombros o fardo da culpa e da vergonha? Talvez apenas a ignorância…
Tochman descreve aqui tudo o que a crueldade engendrou. Revela o medo dos
executores e das vítimas, sendo o dos executores ainda maior do que aquele das
vítimas. Apresenta indivíduos e famílias, criando assim uma imagem da
sociedade. A leitura de Como se você comesse uma pedra é fundamental. Trata-se de um relato limpo,
sem palavras desnecessárias. A tradução de Eneida Favre sai pela Âyiné.
O
cavalo pálido, de Boris Sávinkov é o novo título no catálogo da Grua
Livros.
O codinome
George O’brien vem escrito no passaporte Britânico, mas George não sabe uma
palavra de inglês. Ele lidera Vânia, Fiódor, Heinrich e Erna, especialista em
bombas. Com identidades falsas e armas sob as camisas, eles transitam como
sombras pelas ruas de Moscou vigiando por semanas cada passo do
governador-geral da cidade. Eles são o terror. As relações entre os
terroristas, suas questões de foro íntimo, morais e éticas, quanto ao ato de
matar, o cotidiano tenso na clandestinidade, os sentimentos que um tem pelo
outro, são narrados pelo frio George, que ama Elena, uma mulher casada.
Publicado em 1909, a narrativa em forma de diário da história de um núcleo
terrorista que tem como missão o assassinato do governador-geral de Moscou teve
grande impacto. Seu autor, Boris Sávinkov, havia fugido de uma prisão na Rússia
e morava em Paris. Frequentava o círculo de amizade de artistas como Picasso,
Modigliani, Appolinaire e Cendras, que ficaram fascinados com a exuberância do
autor, cujo nome era sinônimo de terrorismo revolucionário. Com fortes
referências autobiográficas, a obra de Sávinkov, que conta com Memórias de um
terrorista, O cavalo negro, entre outros, influenciou um sem número de
autores, com destaque a Albert Camus, admirador de seus livros. A tradução para
o romance de Sávinkov é de Rubens Figueiredo.
A Global
Editora reedita Zero, de Ignácio de Loyola Brandão
Estamos
diante de um livro que assombrou o Brasil durante a ditadura e continua
fascinando as novas gerações pela ousadia e pelas inovações. Para dar uma
dimensão de tal impacto, nada melhor do que a palavra de Armindo Blanco,
jornalista e crítico de semana, que combateu Salazar, teve de se exilar e aqui
morreu: “Espantoso romance. Às vezes, dá a impressão de uma reportagem
crua, despojada. Outras, de um filme correndo à velocidade de um milhão de
imagens por segundo. Ignácio de Loyola Brandão supera o âmbito do individual
para nos dar o retrato de corpo inteiro de uma cidade. De um parque industrial.
De um caldeirão fervente de raças. De um país. De um continente. Melhor ainda:
de um tempo desvairado, com os homens se transmudando em ratos e perdendo o
sentido da própria existência. Ele nos transmite repulsa e fascínio por esse
universo selvagem, dominado pelo dinheiro e pela solidão e em que mesmo o amor
é uma proposta de aniquilação mútua, a fuga à abjeção. A ordem na desordem, a
desordem das palavras”.
Sexta-feira,
4 de outubro
Os
personagens emblemáticos de Me chame pelo seu nome, Elio, Oliver e Samuel,
voltam no aguardado romance inédito de Aciman.
Samuel está
a caminho de Roma para encontrar seu filho, Elio, agora um pianista renomado. O
acaso, no entanto, se encarrega de adiar a reunião familiar e faz com que
Samuel desembarque na cidade eterna acompanhado de um novo amor e cheio de
planos para novas temporadas em sua casa de veraneio. Elio logo se muda para
Paris, onde vive mais um romance, enquanto Oliver, agora pai de família e
professor na Nova Inglaterra, nos Estados Unidos, cogita enfim cruzar de novo o
Atlântico. O que o move inesperadamente são os primeiros acordes de uma música
que o transporta no tempo para dias de idílio na Itália. Nesta retomada
fascinante e tão aguardada da jornada de Elio e Oliver, André Aciman revisita
seus personagens com a mesma delicadeza e pungência de Me chame pelo seu
nome, trazendo-nos de volta ao relato do que há de mais perene em matéria
de sentimento. Dos detalhes íntimos às nuances emocionais, Me
encontre nos mostra do que é feita a substância da paixão e nos pergunta
se, de fato, um amor verdadeiro pode perecer. Tradução de Alessandra Esteche.
Guerra
e paz, de Tolstói é o próximo lançamento da editora Nova Fronteira.
Este é um
dos romances mais importantes da literatura universal. Compreendendo o período
de 1805 a 1820, esta obra grandiosa - resultado de exaustiva pesquisa de Leon
Tolstói – nos dá detalhes da vida na Rússia antes e durante a invasão
napoleônica. Entremeando os dramas pessoais dos personagens com a rotina
mundana da aristocracia, e, ainda, com a narrativa de batalhas, Tolstói cria
uma série de afrescos épicos, como diz o escritor francês Romain Rolland em
texto incluído nesta edição. Esse cenário nos revela com rara perspicácia uma
Rússia imponente por sua história e suas grandes personalidades, mas guiada
fundamentalmente por seu povo. São dois volumes em capa dura acomodados numa
caixa, ampliando no catálogo da editora a obra do escritor russo.
Belas
artes marca a estreia do escritor argentino Luis Sagasti no Brasil.
Sagasti
provoca uma reflexão sobre a ideia do texto enquanto tecido, operando não desde
fora, em que a literatura, as artes, os muitos textos que se emaranham por esse
mundo ficariam como objeto, mas desde dentro, em que é no próprio tecido
narrativo que vamos sendo levados a atravessar as muitas fendas e brechas
deixadas pelas histórias recolhidas pelo narrador, tal como um tecelão. O autor
capta com maestria o mundo em que vivemos, repleto de informação, material
bruto que não forma nada se não for trabalhado – talhado, tecido, manuseado –
por um ser humano atento e capaz de refletir. Considerando a importância e
qualidade do livro, bem como a proximidade geográfica com a Argentina, a
Moinhos aposta nessa obra como mais uma forma de aproximação cultural entre os
países; aproximação que só se torna possível com um intercâmbio real –
incluindo traduções – das diversas (belas) artes de ambos países. A tradução de
Fernando Miranda sai pela Editora Moinhos.
DICAS DE
LEITURA
Várias
efemérides literárias de 2019 passam pelas páginas do blog Letras in.verso e
re.verso. E voltamos a este tópico na edição deste boletim, para assinalar
outras delas: o centenário de Jorge de Sena (citado aqui na ocasião quando
apresentamos a rica antologia com uma mostra de sua obra poética editada neste ano pela
Bazar Tempo) e as quatro décadas da estreia literária de outro escritor
português, António Lobo Antunes, este considerado revolucionário da forma romanesca
pós-nouveau roman. A obra do primeiro é um pouco escassa entre
nós, mas uma visita com muita paciência aos sebistas poderá nos revelar algumas
joias, como o romance que aqui recomendamos. Essas são nossas dicas de leitura da semana:
1. Sinais
de fogo. O universo literário de Jorge de Sena é vastíssimo. Crônica,
ensaios, crítica literária, conto, teatro, poesia etc. Ele, entretanto, se dizia
poeta. Poeta, mas autor de um romance-prodígio. O livro aqui recomendado seria
um dos três ou quatro tomos (a hipótese segunda é de Mercia de Sena) de um
longo romance que deveria cobrir a vida portuguesa entre os anos de 1936 e
1959. O projeto de uma vida ficou pelo caminho, mas não sem demonstrar o fôlego
de sua grandiosidade. Aqui, o leitor encontrará com o jovem Jorge e seu variado
grupo de amigos na efervescência da vida e da história. Entre o individual e o
coletivo, a narrativa processa em múltiplas camadas as descobertas de um homem
em formação física, espiritual e política. Circunscrito em meses de 1936, a
narrativa registra – à distância, mas sem se deixar perder a atmosfera complexa
e febril desse tempo – o nascimento do que seria um dos conflitos mais sangrentos
no continente europeu, a Guerra Civil em Espanha, e o período dos mais
conturbados e difíceis para o povo português, a ditadura. A beleza do romance
de Jorge de Sena está em captar como o mau se infiltra nas relações sociais e
nas coletividades de maneira sorrateira enquanto toda a
gente parece padecer de um estágio desnaturado de sonolência para o seu
entorno.
2. Os cus
de Judas. Neste ano, os portugueses já receberam um novo romance de António
Lobo Antunes. Chama-se A outra margem do mar. A obra desse escritor distinguido
na prestigiosa coleção Plêiade é, tal como a do seu conterrâneo, igualmente
vasta. Poesia, crônica, conto e mais de duas dezenas de romances; uma
trajetória que começou com este título aqui recomendado e com Memória de elefante,
em 1979. Em Os cus de Judas, o escritor presentifica aos portugueses da metrópole,
como Portugal era tratado nos idos tempos das colônias, o horror das ocupações
em África. Este livro provocou uma celeuma pela maneira mordaz como o escritor,
ele próprio um sujeito que foi à guerra colonial, esclarece o grande horror de
um projeto alimentado pela ideologia do Estado Novo. Um médico alferes
regressado de África repassa sua vida nas zonas de combate, na sua formação e
na condição de sujeito desgarrado e alheio numa terra que o evita e o impele
para o desgarramento. É um romance, portanto, fundamental para todo aquele que
se interessa por encontrar os outros lados da história do colonialismo português,
lados entrevistos em exclusivo por um olhar audacioso e em desencanto. Aqui
estão os fios de um extenso livro feito de ciclos e rupturas perseguido pela escrita
inovadora e grandiosa de um dos mais importantes nomes da ficção contemporânea.
No Brasil de 2019, é possível encontrar a edição editada recentemente pela Alfaguara.
3. As flores
do mal. A obra-prima de Charles Baudelaire acaba de ganhar nova tradução e
edição completa no Brasil. O feito é de Júlio Castañon Guimarães e da Penguin /
Companhia das Letras. O volume reúne os poemas tal como foram organizados pelo
poeta francês em 1861 e traz ainda os textos acrescentados postumamente, na
edição de 1868. Bilíngue, o novo livro reúne ainda importante aparato crítico:
uma introdução do tradutor, apêndices de J. Barbey D’Aurevilly, Guillaume Apollinaire
e Paul Valéry. Por esse ângulo, o leitor já nota que este é, no âmbito da
poesia, um dos maiores feitos editoriais de 2019. A obra de Baudelaire é
singular pela forma radical – e até agora insuperável – com que modificou os
rumos da poesia e da literatura; ao misturar estilos elevados e populares,
influenciou uma geração variada de escritores como André Gide, Marcel Proust,
James Joyce, Thomas Mann, entre outros. Extensamente revista, censurada e motivo
de discórdia diversa em vários círculos literários, As flores do mal é
ainda uma obra que imprime variantes na cena literária contemporânea.
VÍDEOS,
VERSOS E OUTRAS PROSAS
1. Na última
semana, a Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, sediou um evento que
sublinhou as quatro décadas de produção literária de António Lobo Antunes. Uma variedade
de pesquisadores e estudiosos da obra do escritor português debateram lugares
diversos da sua obra. A ocasião foi transmita ao vivo através do canal no
Youtube da instituição e esta disponível aqui – caso alguém interesse.
2. Melancolia,
o livro de Carlos Cardoso em destaque nas três promoções realizadas pelas redes
sociais do Letras in.verso e re.verso, é parte de alguns vídeos apresentados
durante a semana no Youtube. Há, entre eles, também leituras de Antonio Carlos Secchin e Heloisa
Buarque de Hollanda. Pelos stories do Letras no Instagram e Facebook, por
exemplo, circulou o vídeo-poema “Transbordar”, acessível aqui.
3. “Gosto da imagem do tradutor como alguém que lê com uma lupa na mão. Não sabemos o que ele vê ampliado, podemos apenas intuir o processo a partir do resultado”. A poeta Marília Garcia escreve para o Blog da Companhia das Letras sobre a tradução de Júlio Castañon Guimarães para As flores do mal, de Charles Baudelaire, livro recomendado na seção anterior.
BAÚ DE
LETRAS
1. Vários
romances de António Lobo Antunes já foram motivo de comentários aqui no blog. Este
é, certamente, um dos escritores mais lembrados pelo Letras. Neste link podem
encontrar notas sobre o livro recomendado na seção acima – Os cus de Judas.
2. Publicado
recentemente, mas parte de nosso baú como toda post que aqui chega, poderá encontrar aqui ainda leitura sobre Melancolia, de Carlos Cardoso. O livro
ganha edição pela Editora Record com recomendação diversa da crítica e de
poetas brasileiros.
3. Há presenças de Jorge de Sena pelo blog. E por mão
portuguesa. Neste texto, nossa colunista Maria Vaz redige notas para um perfil
biográfico do escritor a considerar sua face poética. E, neste outro texto da
mesma autora, o leitor encontra intercâmbios entre a poesia do português e do
nosso Carlos Drummond de Andrade. Parte da vida de Jorge de Sena foi passada no
Brasil pela necessidade de sobreviver à perseguição da ditadura militar em seu
país natal.
4. E sobre As flores do mal. Do livro de Charles Baudelaire, recomendamos duas entradas: a primeira, de quando o livro do poeta francês foi disponibilizado online; e, a segunda, sobre a obsessão sua pela revisão, caso que quase impediu a publicação de seu famoso livro.
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