Boletim Letras 360º #341
Este boletim deveria iniciar dizendo sobre a realização do sorteio no nosso Instagram no último dia 20 de setembro, mas, três dias antes, as duas páginas (a desta rede social e do Facebook) estiveram com problemas: não se deixavam atualizar e quando isso acontecia não carregava nenhum tipo de imagem. As coisas só normalizaram no fim da tarde de ontem, mas já havíamos adiado o fim da promoção. Bom, até a publicação deste boletim, os leitores do Letras no IG saberão que realizaremos o sorteio no fim do domingo, 22. Se até lá, você encontrou esse BO e ainda não participa da promoção, tem chance de se inscrever. Sorteamos um exemplar de O quarto de Jacob, a belíssima edição com tradução nova proposta pela parceira Autêntica Editora. Recado dado, abaixo encontra as notícias que passaram durante a semana em nossa página no Facebook. Boas leituras!
Livro coloca leitor brasileiro ante as memórias de Herta Müller. Mais detalhes ao longo deste Boletim. |
Segunda-feira,
16 de setembro
Duas vezes Fernando Pessoa, o inesgotável.
1. Em Portugal, coleção editada pela Editora Tinta-da-China publica O mistério da Boca do Inferno.
“ESCRITOR
INGLÊS DESAPARECE DEIXANDO UMA CARTA MISTERIOSA.”
(Diário de Lisboa, 28 de setembro de 1930)
Neste caso,
as notícias do desaparecimento do “mago” Aleister Crowley foram
exageradas. Mas além de O mistério da Boca do Inferno se ter
espalhado pela imprensa, divertiu muito Fernando Pessoa, que participou
ativamente nesta farsa modernista pré‑fake news. Foi ele quem escreveu a “novela policiária” que relata os contornos desta verdadeira investigação
policial, ao mesmo tempo que conduziu o embuste que lhe deu origem. Nesta
edição bilíngue, ela própria um demorado e paciente trabalho de detetive sobre
um dos mais fascinantes mistérios da literatura portuguesa, encontramos
Fernando Pessoa em interação com aquele que foi considerado “o homem mais
perverso do mundo”, o “Master of Darkness” em título: Aleister
Crowley, que terá vindo até Lisboa só para conhecer o poeta.
2. No Brasil, uma caixa
reúne a obra em prosa de Fernando Pessoa.
Ele é
amplamente conhecido por sua monumental obra poética, no entanto, pouco se sabe
de seus passos pela escrita em prosa, até então quase inexplorada no Brasil. A
fim de preencher tal lacuna, a professora Monica Figueiredo apresenta, no
primeiro volume dessa caixa a ser publicada pela Editora Nova Fronteira uma
criteriosa seleção de cartas, ensaios, traduções, artigos, crônicas e
incontáveis rascunhos de projetos do autor. Dividido em partes, cada qual com
uma apresentação específica, este primeiro livro vai construindo o personagem
Fernando Pessoa, um dos mais instigantes da literatura universal. No segundo
volume, outro percurso é instaurado: o do guia “Lisboa — O que o turista
deve ver”, em que Poeta projeta na cidade a experiência afetiva de
percorrer a paisagem urbana, dando a conhecer seu patrimônio cultural,
arquitetônico e intelectual. A edição bilíngue, com prefácio inédito e rica
iconografia, passeia ainda, e sobretudo, pelas vielas de um sujeito que, pelo
exercício da palavra, mantém-se em eterna construção.
Terça-feira,
17 de setembro
O
quase fim do mundo é o novo livro de Pepetela que chega ao Brasil.
Trata-se de
um romance futurista que se inicia em Calpe, cidade fictícia em algum ponto da
África, entre as regiões Central e Austral, onde um grupo de pessoas sobrevive
a um evento apocalíptico de origem desconhecida. O médico Simba Ukolo, ao
voltar para casa após um dia de trabalho, presencia um clarão que ilumina todo
o céu. Na sequência, toda a vida na terra é aniquilada, sobrando apenas as roupas
das pessoas, algumas plantas e poucos animais. Aos poucos, Simba percebe que
não está só. Um grupo de sobreviventes, de origem e perfis diversos, começa a
se formar: uma senhora religiosa, uma adolescente, uma pesquisadora americana,
um aviador sul-africano, um curandeiro etíope, uma historiadora somali, um
ladrão, um mecânico, um pescador, uma criança. A narrativa é cativante, com
personagens complexas e a África como o lugar simbólico do renascer da
humanidade. O livro sai pela editora Kapulana, que já havia publicado do
escritor angolano O cão e os caluandas.
Primeiro
romance do autor de A uruguaia, mescla de road movie com romance
de formação.
Todas
as noites o jovem Daniel Montero encerra-se em seu quarto para assistir
ao Show de Sabrina Love, programa de TV com a atriz pornô mais popular do
momento. Ao vencer um sorteio para passar uma noite com Sabrina em Buenos
Aires, ele terá não apenas uma primeira vez, mas várias: a viagem pelas
estradas argentinas, a descoberta do sexo, a percepção da hipocrisia humana, o
conhecimento do amor. Brilhante estreia de Pedro Mairal, este romance permite
antever as qualidades — a prosa leve, a narrativa cheia de vivacidade e a
construção empática dos personagens — de A uruguaia. A tradução de
Livia Deorsola sai pela Todavia.
Quarta-feira,
18 de setembro
Publicado em
1987, Afetos ferozes é uma verdadeira obra-prima entre os livros de
memórias.
“Mal me
lembro dos homens. Eles estavam por toda parte, lógico — maridos, pais, irmãos
—, mas só me lembro das mulheres”, escreve Vivian Gornick a certa altura deste
livro. O território é o Bronx nova-iorquino da década de 1940, um lugar cercado
de mulheres ansiosas e boas de briga, destacando-se entre elas a indomável mãe
judia da autora. Afetos ferozes é a história de um elo
delicado e muitas vezes exaustivo, a crônica de uma ligação que define e limita
ao mesmo tempo. É também o retrato de uma sociedade e de uma era em que as
mulheres começaram a se tornar protagonistas de suas próprias histórias — além
de uma das mais profundas meditações sobre a experiência de ser mulher.
Crítica, jornalista e ensaísta experiente, Gornick perambula pelas ruas de
Manhattan com sua mãe idosa. Ao longo desses passeios repletos de histórias,
lembranças, reprimendas e cumplicidades, conhecemos a história da luta —
ferrenha e muitas vezes dolorosa — de uma filha para encontrar o seu lugar e a
sua voz no mundo. Desde cedo, a pequena Vivian sofre a influência de dois
modelos femininos bastante distintos: o da mãe neurótica, teimosa e
inteligente; e o de Nettie, sua apaixonada vizinha, viúva, mãe de um bebê,
perfeitamente consciente de sua própria sensualidade. Essas duas figuras
representam padrões que a jovem Gornick a um só tempo anseia e detesta, e que
vão determinar seu relacionamento futuro com os homens, com o trabalho e com
outras mulheres pelo resto da sua vida. Escrito com uma clareza atordoante que
fascina desde a primeira linha, Afetos ferozes pode ser lido como um grande
romance da tradição literária norte-americana do século XX. Mas um romance de
não ficção em que a memória, a família, a palavra escrita e a força inesgotável
das mulheres são as grandes protagonistas. A tradução de Flávia Castanheira sai
pela editora Todavia.
A Editora
Chão publica romance que integra a lista de importantes
obras que trataram sobre o condição do negro no século XIX.
Em
Fantina, de F. C. Duarte Badaró, Frederico, malandro e sensual,
conquista a viúva dona Luzia por puro interesse. Depois do casamento,
estabelece-se uma situação típica das fazendas escravistas do século XIX:
senhor da casa, o aventureiro inescrupuloso quer também exercer seu direito de
posse sexual sobre as escravas. A figura desse malandro urbano, tocador de
viola, adentra o universo da fazenda e - em meio a vívidas descrições de saraus
regados a violão e modinhas na casa-grande, e de batuques de escravos nos
terreiros - desencadeia o drama de Fantina, jovem e bela escrava de dona Luzia.
O romance, publicado pela primeira vez em 1881, não apenas retrata usos e
costumes do passado. Diz muito sobre o Brasil atual, em que diversas questões
civilizatórias colocadas pela luta contra a escravidão estão novamente em
pauta, em pleno século XXI. No posfácio a esta edição, o historiador Sidney
Chalhoub (Harvard/Unicamp), analisa o papel fundamental que a literatura
desempenhou no movimento abolicionista brasileiro. Compara Fantina a outros romances da época, como Escrava Isaura, Úrsula e A cabana do pai Tomás, e mostra a naturalização do abuso sexual
dos senhores sobre suas escravas, para o qual a lei não previa nenhuma punição.
Quinta-feira,
19 de setembro
Numa época
em que as distopias parecem tão próximas, a editora Carambaia lança Kallocaína —
romance do século XXI, ficção futurista escrita em 1940 sobre uma
sociedade baseada no controle estrito dos cidadãos por um Estado todo-poderoso.
Nesse
contexto, a invenção de um soro da verdade — a kallocaína do título — equivale
à arma que faltava para dominar o último território rebelde do ser humano, seu
pensamento. A autora Karin Boye (1900-1941), cultuada na sua Suécia natal como
extraordinária poeta modernista, ganhou atenção internacional com este romance.
Sua projeção de um Estado radicalmente totalitário o coloca ao lado de outras
três obras perturbadoras escritas na primeira metade do século XX:
Nós, de Ievguêni Zamiátin (1924), Admirável mundo novo (1932), de Aldous Huxley, e 1984 (1948), de George Orwell — todas
criadas sob a inspiração do seu tempo, quando o espectro da tirania rondava a
Europa. Kallocaína se passa na subterrânea e sufocante Cidade
Química nº 4, pertencente a um autodenominado Estado Mundial. Apesar desse
nome, os personagens sabem vagamente que há outras regiões habitadas no mundo e
que ocorreu uma Grande Guerra num passado indeterminado. A época, como informa
o subtítulo do romance, é algum momento do século XXI. Leo Kall, o cientista
que inventou a kallocaína, dá início à narrativa quando se encontra recolhido a
uma prisão do estado, ao mesmo tempo que conduz testes da substância em cobaias
humanas. Comprovada sua eficácia, a kallocaína passa a ser um instrumento da
polícia. O livro tem tradução de Fernanda Sarmatz Åkesson, diretamente do
sueco. O projeto gráfico é de Julia Masagão, e faz alusão à ideia de vigilância
social, representado pela figura do olho. A serigrafia com tinta
fotoluminescente na capa faz com que o olho continue seguindo o leitor, mesmo
com a luz apagada.
Estudo sobre
a gênese e a obra de Lima Barreto.
Crônica,
conto, romance e retalhos: quatro tempos que se interpenetram, fazendo ecoar e
escorrer o presente no passado para tratar da instigante permanência de Lima
Barreto nos estudos literários e na vida cultural brasileira. Os capítulos, ou
tempos, podem ser lidos separadamente e buscam apresentar, de forma
introdutória, o legado do autor, seja no que diz respeito à estética de sua
escrita, às temáticas que aborda ou ao diálogo (e ruptura) com
determinadas tradições literárias. Neles são tratados o impasse entre o
jornalismo e a literatura e a atenção para as novas práticas sociais no espaço
da cidade; a análise dos contos “O homem que sabia javanês”, “Um músico
extraordinário”, “Um especialista” e “Um e outro”; seu romance de estreia,
importante por apresentar inovações formais ao gênero e pela polêmica recepção
crítica que marcou, a ferro e fogo, a leitura das demais obras do escritor: o
emblemático e incontornável Triste fim de Policarpo Quaresma; e, finalmente, os
seus “Retalhos”: os cadernos de Lima Barreto, um objeto tão instigante quanto
complexo para o encaminhamento de qualquer pesquisa sobre o autor. Lima
Barreto em quatro tempos, de Carmem Negreiros sai pela Relicário Edições.
Três
publicações assinalam a amizade (e a obra) entre Osman Lins e Hermilo Borba
Filho
Ao longo de
muitos anos, Osman Lins e Hermilo Borba Filho foram cúmplices na escrita, nas
ideias, críticas e sugestões. Desta vez, essa cumplicidade afetiva é celebrada pela
CEPE Editora em três grandes publicações: 1. Agá, de Hermilo Borba
Filho. Esta foi a última obra publicada em vida pelo escritor e a nova edição
intitulada de “Versão Vermelha” ganhou um capítulo inédito, suprimido da
Versão Cor-de-rosa de 1974; 2. Correspondência, de Osman Lins e
Hermilo Borba Filho. Nesse material agora reunido encontramos os dois
escritores numa narrativa sobre suas ações e os sentimentos que vão alimentando
a história de uma amizade; 3. Os casos especiais, de Osman Lins.
Aqui, o crítico Adriano Portela analisa os episódios “A ilha no
espaço”, “Quem era Shirley Temple?” e “Marcha
fúnebre”, escritos por Osman Lins para o programa Caso especial da Rede
Globo.
Sexta-feira,
20 de setembro
Toni
Morrison, ganhadora do Prêmio Nobel de Literatura, reflete sobre questões
raciais, políticas públicas de imigração e outros temas contemporâneos em
ensaios pungentes e profundos.
Baseado nos
discursos que Toni Morrison proferiu na universidade de Harvard, A origem
dos outros é uma busca de respostas para questões históricas, políticas e
literárias sobre o racismo e a radicalização da identidade. Se o racismo é
aprendido com exemplos cotidianos, a literatura mostra-se uma arma fundamental
para combater o problema. Pensando nisso, a autora analisa autores desde Harriet Beecher Stowe até Ernest
Hemingway e William Faulkner para entender melhor o papel da narrativa no
estabelecimento dos padrões de pensamento racial. A origem dos outros é um
livro de atualidade extraordinária, no qual os temas que estamos acostumados a
ver banalizados e desencorajados no debate público são abordados pela escritora
americana com extrema elegância. Com prefácio de Ta-Nehisi Coates e ensaios
intitulados “Romantizando a escravidão”, “Ser ou tornar-se o estrangeiro”, “O
fetiche da cor”, “Configurações de negritude”, “Narrar o outro” e “O lar do
estrangeiro”, A origem dos outros é um livro necessário de uma das mais
importantes intelectuais do século. A tradução é de Fernanda Abreu.
Livro de
contos da escritora argentina Mariana Travacio ganha primeira edição no Brasil.
O mundo não
acaba com um estrondo, já sabemos por T.S. Eliot. Mas de que trama é feita esse
gemido que às vezes é um final, a dissolução de algo, e às vezes é só um rumor,
um ronronar interno que reverbera em cada esquina da mente e não nos deixa
respirar? Os contos, as vozes de Mariana Travacio transitam por esse limite
estreito, cuja única escapatória parece se materializar nas duas caras da
mesma moeda: a loucura e o esquecimento, últimas estações de uma viagem que com
frequência apenas se inicia. A distância e estranheza dessas vozes as tornam
perigosas; exageradamente controladas, se fundem, contudo, no exagero sem
perceberem, como se retardassem algo que pode vir a resultar em uma fatalidade.
Talvez haja um traço que defina a escritura de Travacio como nenhum outro: esse
traço é a angústia. E se essa angústia se volta onipresente para os seus
personagens, não é porque eles distorcem a realidade, muito pelo contrário: é
porque aninham em cada gesto, em cada movimento, o silencioso fluir do
cotidiano. Traduzida por Bruno Ribeiro, a antologia Cotidiano é
publicada pela Editora Moinhos.
A escritora
vencedora do Prêmio Nobel Herta Müller repassa sua trajetória de vida e obra.
Em uma
profunda conversa autobiográfica com a jornalista austríaca Angelika Klammer,
Herta Müller conta sobre o que a levou à literatura e o que determinou sua vida
como autora, desde a infância campesina na Romênia, passando pelo despertar da
consciência política até a concessão do Prêmio Nobel de Literatura, em 2009. Em
Minha pátria era um caroço de maçã, Herta Müller imprime um diálogo franco a
respeito de sua vida e de uma produção artística em que a só a força da palavra
pode dar conta de uma realidade marcada pela brutalidade, que a leva a
desconfiar do Estado e dos amigos mais íntimos com igual intensidade. Uma obra
que percorre os caminhos de sua vida e obra, tanto para quem já conhece seus
livros como para quem toma contato com a autora pela primeira vez. O livro sai pela Biblioteca Azul, selo da Globo Livros.
DICAS DE LEITURA
1. Melancolia,
de Carlos Cardoso. Num texto ainda inédito e que será publicado em breve aqui
no blog, Pedro Fernandes sublinha que neste livro “encontramos um poeta interessado
em constituir um diálogo mais de perto dos ventos ainda vivos do nosso modernismo
– não apenas pelas recorrências espirituais desse tempo patentes nessa
dialética entre o passado e presente, mas pelas referências ricamente construídas,
algumas reveladas, outras nem tanto, e pelo interesse de transformação do lugar
da memória e do lugar natal em universalismos do eu-poético. Alguém poderá
dizer que existe nisso certo saudosismo. Mas não é. É a direção certa de um poeta
cuja maturidade permite aproximar-se dos nossos melhores lugares e, da maneira
sempre esperada, alargá-los no intuito de contribuir para o andamento da nossa
literatura”. O livro do poeta carioca é publicado pela Editora Record e tem texto
de Antonio Carlos Secchin e Heloisa Buarque de Hollanda, para quem este é: “Um
livro belo, que mostra o poeta, em voo solo, em busca do ponto preciso no qual
a melancolia se descobre palavra”.
2. Carta
à rainha louca, de Maria Valéria Rezende. A escritora brasileira dispensa apresentações;
é já um nome consolidado na nossa literatura e aqui no blog tem sido comentada em algumas publicações que apresentam leituras de outras obras suas. Nesse romance de natureza
histórica, cujo enredo remonta a 1789, conta-se a história de Isabel das Santas
Virgens. Presa no convento do Recolhimento da Conceição, ela escreve à rainha
D. Maria I, conhecida com a Rainha Louca. Em suas cartas, ela, tida por muitos
como também lunática, conta os destemperos cometidos pelos homens da Coroa – e
por aqueles que galgaram tal posto – contra mulheres, escravizados e todos os
que se encontravam mais vulneráveis. Por meio dos tormentos passados por ela e
por sua senhora Blandina, nossa narradora expõe o pano de fundo da colonização
brasileira e da situação da mulher que ousava desafiar. Com uma pesquisa histórica ímpar e usando o vocabulário próprio do setecentos
mesclado a uma linguagem moderna, Maria Valéria Rezende recria com maestria a
história de duas mulheres em um período conturbado do passado brasileiro. Como
promete à rainha, Isabel conta “toda a verdade sobre o que em Vosso nome se faz
nestas terras e a mim me fizeram.” O livro foi publicado pela Editora
Alfaguara.
3. A
ponte flutuante dos sonhos seguido de Retrato de Shunkin, de
Junichiro Tanizaki. O livro que sai pela Editora Estação Liberdade reúne dois
contos do escritor japonês. O primeiro foi publicado em 1959 e tem seu título
emprestado de um capítulo de Genji Monogatari, escrito no século XI
pela cortesã Murasaki Shikibu e considerado o primeiro romance japonês.
Tanizaki, que conhecia muito bem os textos clássicos (alguns dos quais traduziu
para o japonês moderno) revisita na narrativa alguns temas de Genji
Monogatari, como a relação ambígua de um jovem com a esposa do pai e a
simbologia clássica dos elementos da natureza, inspirada pela tradição
budista. O narrador Tadasu compartilha com o leitor a história de sua
infância e de suas duas mães, que se misturam em sua memória. A confusão
psicológica e a vergonha do narrador se contrapõem à limpidez do estilo de
Tanizaki. O autor explora as nuances daquilo que não é dito e nos joga no
centro do peculiar arranjo familiar estabelecido pelo pai de Tadasu, que tenta
recriar, na segunda esposa, a mãe que o filho perdeu. A segunda data de 1933 e
apresenta uma das mais marcantes personagens de Tanizaki: Shunkin, prodígio
musical, cega, cujo talento e beleza despertam todos os tipos de paixões. A
relação entre Shunkin e Sasuke, seu ajudante e amante, é a matéria da história.
A convivência de mestra e discípulo, seu desenvolvimento artístico, o
temperamento cruel de Shunkin, a fervorosa servidão voluntária de Sasuke, as
tragédias que marcam suas vidas, tudo é apresentado deixando entrever uma
“história secreta”, desconhecida até do próprio narrador. A narrativa gerou
entusiasmo da crítica e de autores como Yasunari Kawabata, que a chamou de
“obra-prima”. A forma como Tanizaki trata a memória, a paixão e a devoção é o
que conecta os dois clássicos, demonstrando sua maestria narrativa e
aproximando-o, tematicamente, de Bataille e Sade em suas especulações sobre o
potencial destrutivo do amor e da sexualidade.
VÍDEOS,
VERSOS E OUTRAS PROSAS
1. “Salvem os livros. E as bruxas.” A imagem de Fernanda Montenegro num ensaio realizado para a revista Quatro cinco um esteve em toda parte nessa semana. Parte na campanha da Companhia das Letras para a publicação do livro de memórias da atriz - Prólogo, ato, epílogo - que chega às livrarias em vésperas do seu aniversário de 90 anos.
BAÚ DE
LETRAS
1. Nas
recomendações de leitura deixamos como dica o novo livro de Carlos Cardoso. Em
agosto de 2016, o Letras publicou um texto de Pedro Fernandes sobre outro livro
do poeta: Na pureza do sacrilégio (Ateliê Editorial). Você pode ler o
material aqui.
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