Boletim Letras 360º #337
Uma nova coleção para publicar autores portugueses no Brasil. Entre as duas estreias no âmbito do projeto, está uma antologia da poeta Adília Lopes. Mais detalhes ao longo deste Boletim. |
Antes de
passar às notícias que divulgamos durante a semana em nossa página no Facebook,
pedimos para uma visita ao nosso bazar; colocamos alguns livros do nosso acervo
à venda a fim de arrecadar fundos para cobrir os gastos com a hospedagem do
blog na web. Você pode nos ajudar de maneira diversas: adquirindo um livro,
passando adiante essa notícia, convidando amigos que amam livros a observar
nossos títulos. Muito agradecemos. Para aceder ao bazar, vá aqui.
Segunda-feira,
19 de agosto
A antologia
Nove histórias é próximo título de J. D. Salinger a ser publicado
pela editora Todavia.
Neste que é
um dos mais célebres e festejados livros da língua inglesa, J. D. Salinger deu
a seus leitores nove obras-primas da narrativa curta. Do cultuado “Um dia
perfeito para peixes-banana”, em que o leitor tem seu primeiro — e impactante —
contato com a família Glass, que Salinger continuaria trabalhando em seus
próximos livros, ao emocionante “Para Esmé — com amor e sordidez”, as histórias
aqui reunidas dão a justa medida do talento inesgotável de Salinger. Nestas
nove ficções, os Estados Unidos do pós-guerra aparecem com inédito frescor
literário conforme acompanhamos os efeitos, às vezes sutis, do conflito na vida
de indivíduos e famílias. A tradução é de Caetano W. Galindo.
O retorno da
obra de Romain Gary às livrarias brasileiras.
A vida
pela frente é um dos livros de maior sucesso na história da literatura
francesa. Vencedor do prêmio Goncourt, tornou-se um dos romances mais vendidos do
século XX. Apesar de publicado há mais de quarenta anos, parece mais atual do
que nunca. Momo vive sob os cuidados de Rosa, uma senhora judia. Sobrevivente
de Auschwitz, ela cuida de diversas crianças em seu apartamento. É nesse
ambiente que Momo conta sua história. Da fricção entre a inocência e a
brutalidade do mundo sai a força de um dos romances mais cativantes da
literatura francesa recente. A tradução de André Telles sai pela Editora
Todavia.
Sai em
novembro nova tradução da Ilíada.
Desde a
publicação da tradução de Trajano Vieira para a Odisseia pela Editora
34 que esperávamos uma possível edição da segunda epopeia de Homero. A
longa espera, parece, está próxima de fim. Em nota divulgada na página da
editora no Facebook, sabe-se que a nova tradução da Ilíada chega às
livrarias em novembro. Seguirá o padrão da Odisseia: em formato
bilíngue, com índice de nomes, sumário dos cantos, excertos da crítica,
posfácio do tradutor e o célebre ensaio “A Ilíada ou o poema da
força”, de Simone Weil.
Terça-feira,
20 de agosto
Livro
reúne parte da crônica de Eça de Queirós.
Conhecido
mundialmente como um mestre do romance, Eça de Queirós atuou em outros gêneros,
entre eles a crônica jornalística. Parte de sua colaboração em periódicos trata
de assuntos internacionais, valendo-se do conhecimento do escritor como
diplomata. A editora Carambaia lança agora uma seleção desses textos em Ecos do
mundo, organizada pelo escritor, tradutor e editor Rodrigo Lacerda, que assina
também a apresentação. Os artigos se alternam entre observações espirituosas de
costumes, análises detalhadas do xadrez geopolítico da época, reflexões sobre
tendências intelectuais e artísticas em Londres e Paris e narrações que beiram
a escrita ficcional. O Brasil ocupa a primeira parte da obra cujo título é inspirado
na coluna “Ecos de Paris”, publicada no jornal carioca Gazeta de Notícias,
periódico em que se deu a mais longa colaboração jornalística de Eça (1880 a
1897). Em nove crônicas, fica evidente que o escritor via o Brasil com
simpatia, sobretudo quando comparado a Portugal. Isso não quer dizer que o
Brasil e os brasileiros sejam poupados da célebre ironia de Eça. Nas demais
partes do livro, estão reunidos artigos não só sobre os lugares em que Eça
morou, Inglaterra e França, mas também sobre a Itália, a Turquia, a China, a
Tailândia e outros países, a maioria deles enredados em conflitos internos e
externos. O projeto gráfico do livro, de Mayumi Okuyama, se inspira
nas implicações da palavra “eco” e se estrutura na ideia de pontes e ligações,
relacionadas à reunião de textos de diversas publicações que apontam para o
passado e o futuro. Encadernado em capa dura, o volume traz o título
serigrafado e repetido, como um eco, em seis camadas de tinta.
Na
impressionante continuação de O conto da aia, Margaret Atwood
responde às perguntas que afligem os leitores há décadas.
Quando a
porta da van foi fechada em O conto da aia, não havia como saber
qual futuro Offred tinha pela frente - liberdade, prisão ou morte. Em Os
testamentos, Atwood retoma a história quinze anos depois que Offred
seguiu em direção ao desconhecido — a partir dos surpreendentes testamentos de
três narradoras femininas de Gilead. Publicado em língua inglesa no início do
ano, o livro sai no Brasil em novembro pela Editora Rocco com tradução de
Simone Campos.
Quarta-feira,
21 de agosto
Antologia
reúne cem poemas de Jorge de Sena e assinala no Brasil o centenário do escritor
português.
Poeta
aclamado e um dos mais importantes intelectuais portugueses do século XX, Jorge
de Sena ganha esta alentada antologia poética no ano de celebração de seu
centenário de nascimento. Autor de uma obra vastíssima, incluindo ainda ficção,
teatro e ensaios, Jorge de Sena teve na poesia seu campo de experimentação,
provocação e renovação. “Sena promove, na sinuosidade erógena dos versos, a
fertilização de uma linguagem sempre à beira do desgaste e sempre pronta a
incessante renovação”, aponta Gilda Santos, professora de literatura portuguesa
da UFRJ e organizadora da antologia Não leiam delicados este livro. A edição reúne, além de 100 poemas do
autor, uma série de notas explicativas e imagens que fazem parte do rico
universo de Jorge de Sena. Um ensaio do filósofo, crítico e ensaísta português
Eduardo Lourenço oferece uma análise aprofundada de sua produção poética. Para
Lourenço, que destaca o papel fundamental de Jorge de Sena como um dos primeiros
e mais lúcidos comentadores e críticos do Modernismo em geral, há na obra do
poeta uma “desconfiança em relação ao poético enquanto lírico, canto por demais
encantador e, por isso mesmo esquecido de sua função, tão mais necessária, de
arma contra a mentira da imagem aceitável e aceita da condição humana.” Essa
suspeita em relação à própria poesia é possivelmente o traço mais original da
obra de Jorge de Sena, e toma proporções cada vez maiores à medida que sua
aventura pessoal se torna mais complexa e mais dolorosa, confrontada não
somente com o mundo confinado de Portugal em um regime ditatorial, assim como
com os vastos horizontes de sua errância voluntária pelo Brasil e pelos Estados
Unidos.
Antologia
reúne poemas de Adília Lopes.
Uma das mais
aclamadas poetas portuguesas da atualidade, Adília Lopes ganha uma nova
antologia poética: Aqui estão as minhas contas, organizada por Sofia de
Sousa Silva, professora de Literatura Portuguesa da Universidade Federal do Rio
de Janeiro (UFRJ). A edição, que integra a Coleção Atlântica, traz mais de 90
poemas de Adília, oferecendo um panorama de sua obra, de 1985 a 2018. A autora
se tornou referência para poetas brasileiros de diferentes gerações e é
quase unanimidade da crítica, além de marcar forte presença em teses e artigos
acadêmicos, assim como blogs e epígrafes de livros de poesia. A tradição do
poema curto e do poema piada, característico do modernismo brasileiro, talvez
seja a razão para que o forte coloquialismo de Adília Lopes assim como o seu humor
tenham encontrado tantos admiradores entre os leitores de poesia no Brasil. A
atenção ao pequeno e ao prosaico e às situações do cotidiano na cidade, a sua
Lisboa natal, conjugam-se na obra de Adília com um vasto universo de
referências, que cobre desde cantigas medievais do século XIII, passando pela
poesia de Luís de Camões, para encontrar diversos poetas da modernidade e da
contemporaneidade, não apenas da língua portuguesa. Para dar conta dessas
citações e da identificação de algumas das relações intertextuais estabelecidas
pelos poemas, a edição oferece uma série de notas explicativas e um ensaio que
proporciona um aprofundamento da leitura dessa fascinante poeta.
Quinta-feira,
22 de agosto
Amares,
livro de Eduardo Galeano chega ao Brasil.
O mundo é
isso. Um montão de gente, um mar de fogueirinhas. Cada pessoa brilha com luz
própria entre todas as outras. Eles são dois por engano. A noite corrige. Os
ninguéns: os filhos de ninguém, os donos de nada... Os ninguéns, que custam
menos do que a bala que os mata. Frases como essas — incluídas nesta antologia
dos melhores textos de Eduardo Galeano, que ele mesmo selecionou — se
sublinham, se presenteiam como sinônimo de cumplicidade, se compartilham;
elas carregam um olhar crítico sobre o mundo, mas também a possibilidade de uma
utopia. Os leitores de Galeano as guardam na memória. As páginas de Amares
revelam os temas que o preocuparam e inspiraram: as vicissitudes agridoces do
amor, a amizade duradoura e os pequenos momentos grandiosos que a vida
cotidiana nos brinda, mas também as injustiças, o grito dos esquecidos da
história e a condenação das piores figuras do mundo contemporâneo. Galeano fala
neste livro do amor em suas múltiplas formas: um casal que fica junto ou se
perde, os filhos, o país que ampara ou expulsa, os companheiros de estrada, a
escrita, os deuses que concedem e tiram, aqueles que vivem à margem. “Fomos feitos de luz, além de carbono e oxigênio e merda e morte e outras
coisas, e enfim estamos aqui desde que a beleza do universo precisou de alguém
que a visse”, escreve Galeano. As histórias de Amares —enternecedoras, reveladoras, pessoais e universais ao mesmo tempo — fazem
justiça à beleza que Galeano se dedicava a encontrar no mundo. A edição que sai
pela L&PM Editores tem ilustrações de Tute e tradução de Eric Nepomuceno,
Sergio Faraco e Sérgio Karam.
Três novas
edições e nova tradução para um clássico da literatura.
Uma menina,
um coelho e uma história capazes de fazer qualquer um de nós voltar a sonhar.
Alice é despertada de um leve sono ao pé de uma árvore por um coelho peculiar.
Uma criatura alva e falante com roupas engraçadas, que consulta seu relógio e
reclama do próprio atraso. Curiosa como toda criança, Alice segue o animal até
cair em um buraco sem fim que mudou para sempre a literatura infantil. Mais de
150 anos depois, Alice no País das Maravilhas continua repleto de
ensinamentos para aqueles que ousaram seguir o Coelho Branco até sua toca. A
DarkSide Books deu a cartada que seus leitores tanto pediram. Alice no País das
Maravilhas é uma obra tão grandiosa que não cabe em uma única edição. Agora,
além de oferecer uma experiência peculiar com o visual único de cada uma das
três novas edições, a editora apresenta um projeto gráfico interno
completamente distinto para os diferentes leitores do clássico de Lewis
Carroll: uma edição limitada com as deslumbrantes ilustrações da artista
brasileira Mika Takahashi; uma edição para os leitores que não abrem mão dos
clássicos com as ilustrações originais de John Tenniel para a primeira edição
de 1865, além de um projeto gráfico que remete à época de lançamento da obra; e
uma edição dedicada aos pequenos e futuros leitores com as ilustrações adaptadas
de Tenniel por colorir, para que as crianças possam dar as cores que quiserem
às páginas.
Sexta-feira,
23 de agosto
Clássico de
Maya Angelou retorna às livrarias.
Carta
a minha filha revela o caminho de Maya Angelou em busca da melhor maneira
possível de viver e se tornar a personagem principal da própria história. Com
seu estilo único, mesclando relato confessional e poesia, ela concebe uma
espécie de manual, contando sua trajetória fascinante e também seus anseios
para um futuro que está nas mãos das herdeiras de seu legado. Conhecida por
estar no front do movimento pelos direitos civis, a autora e ativista não
apenas nos dá seu testemunho de luta, mas nos presenteia com um tocante relato
de exaltação à vida. A nova edição preparada pela Editora
Nova Fronteira conta com prefácio inédito da escritora Conceição
Evaristo.
Um relato
contundente sobre a herança do exílio, a ancestralidade, a perda e a
recuperação da identidade ganha edição no Brasil.
A autora
Lina Meruane nasceu em Santiago do Chile e desde o ano 2000 vive nos Estados
Unidos, onde ensina literatura na Universidade de Nova York. Descendente de
palestinos, conta que seu avô tinha ouvido falar de um vale entre as
cordilheiras na América do Sul, que prometia uma vida como a vivida em Beit
Jala, aldeia da Cisjordânia considerada uma das mais antigas da Palestina. Essa
promessa fez do Chile o país com a maior comunidade palestina fora do mundo
árabe. Duas gerações depois, a neta decide retornar ao território do avô.
Retornar para um lugar que nunca tinha estado antes. Jogando com o duplo
sentido do verbo volver em espanhol (regressar e tornar-se), Tornar-se Palestina é a crônica de viagem de Lina Meruane a Israel para
buscar e reapropriar as origens da sua família em áreas ocupadas. Mas além da
nostalgia e da história familiar, a autora se encarrega de pensar o palestino
também a partir do vínculo com o presente, a partir do que ela considera o grande paradoxo de Israel: que parte de uma comunidade a quem foi
negada, por séculos, a propriedade e o pertencimento a um lugar seguro, agora
submeta o povo palestino ao mesmo mal de que foram vítimas. Hoje, os palestinos
são a maior comunidade de refugiados do mundo. A obra também traz uma série de
reflexões literárias, filosóficas e políticas sobre o conflito entre
israelenses e palestinos através de seu acordo ou desacordo com intelectuais
como Edward Said, Amos Oz, David Grossman, Ilan Pappe e Susan Sontag. A
tradução de Mariana Sanchez integra a Coleção Nos.Otras e é publicada
pela Relicário
Edições.
DICAS DE
LEITURA
1. Os
anos, de Annie Ernaux. A obra da escritora francesa no seu país natal e em
alguns outros onde foi traduzida dispensa apresentações. Na França recebeu
importantes prêmios como o Renaudot e o Marguerite Yourcenar. No Brasil, sua
chegada é tardia, mas expressiva. O primeiro título que aqui chega foi lido
como reinventivo na milenar arte de narrar e uma peça inovadora no âmbito das
chamadas narrativas autoficcionais. Não é apenas isso, ao contar sobre sua
própria vida mergulhada nos acontecimentos que deram forma a meio século de
história, tempo em que a humanidade tomou rumos dos mais amplos e diversos,
Annie Ernaux cobra do seu leitor uma compreensão de que somos parte de um
complexo universo exterior engendrado por nossas próprias mãos: a religião, a
política, a cultura, a economia. Não é possível pensar no eu fora desse
universo e é esse seu exercício com a ficção: “captar o reflexo da história coletiva
projetado na tela da memória individual.” O livro foi publicado pela Editora
Três Estrelas.
2. Meu
pequeno país, de Gaël Faye. Infância, guerra, exílio e a questão da
identidade. Três palavras-chaves utilizadas para descrever o romance de estreia
do escritor nascido em Burundi que foi viver em Paris depois da deflagração da
guerra civil e o genocídio em Ruanda. Essas experiências impressas para sempre
na memória do menino Faye levaram-no a escrever esse romance, que à maneira de
Annie Ernaux, é também marcado pela nascente autoficcional. Aqui, a
história é apresentada pelo ponto de vista de um garoto de dez anos; o tempo
com os amigos e companheiros de aventura do pequeno Gabriel é também
interrompido brutalmente pela guerra civil, seguida da tragédia do genocídio de
Ruanda. A maneira como essa experiência é construída também é inovadora, uma
vez que mundo de horror é entrevisto por uma caudal de sensações que ampliam de
maneira significativa o trabalho de apreensão da história e das marcas na vida
dos indivíduos. A edição brasileira é da Rádio Londres.
3. Com
tinta vermelha, de Mireille Abramovici. Passou meio em silêncio a aparição
deste livro aqui em 2016. Mas, aos leitores que se interessarem pelos dois
primeiros títulos recolhidos nessa lista não devem dispensar também este. A
escritora coloca no papel o seu périplo de uma vida: o desaparecimento de seu
pai Isaac Abramovici que foi levado pelo nazismo de Adolf Hitler. Não é um
livro leve como os dois primeiros, até porque qualquer obra que toque nesse
tema não conseguirá dispensar os tons pesados do drama. Mas não encontrarão
alguém presa a um passado e já incapaz de viver o presente porque em tudo está
a necessidade de descobrir sobre o paradeiro do pai. Trata-se, isso sim, de
alguém que assumiu o compromisso individual de tornar coletiva a dor de uma
injustiça – seja para aprender a conviver pessoalmente com o trauma seja para
despertar o outro do conforto existencial de que as milhões de mortes contra
diversa variedade humana foi só um mero acidente da história ou ainda a
manipulação solitária de um facínora. Leia mais sobre o livro aqui.
VÍDEOS, VERSOS
E OUTRAS PROSAS
1. No dia 20
de agosto celebramos os 130 anos do nascimento de Cora Coralina. Aqui no blog e
nas redes sociais, o leitor encontra uma variedade de materiais sobre a poeta descoberta
por Carlos Drummond de Andrade e sua obra. Em nossa página no Facebook
replicamos uma rara entrevista realizada na antiga TV Manchete quando Cora
havia ganhado o mais importante prêmio literário da literatura brasileira de
então – o Juca Pato. As questões políticas da época, sua relação com a criação literária,
com sua cidade natal, histórias de sua vida, entremeadas com pílulas de
sabedoria. É uma entrevista deliciosa. Veja aqui.
2. O leitor
pode recordar ainda outro vídeo com a poeta Cora Coralina. Nele, ela recita o
poema “Todas as vidas”. O vídeo está em nossa galeria no Facebook desde outubro
de 2016 e pode ser visto aqui.
BAÚ DE
LETRAS
1. Ainda
sobre o aniversário mais importante da semana, podemos citar duas recomendações
de postagens realizadas pelo Letras in.verso e re.verso: uma rara entrevista com Cora Coralina; e o texto no qual Carlos Drummond de Andrade escreve sobre a
descoberta da poesia da poeta goiana.
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