Boletim Letras 360º #336
Bem-vindo leitora e leitor do Letras in.verso e re.verso! Esta postagem reúne todas as informações de interesse de nossa linha editorial que foram apresentadas durante a semana em nossa página no Facebook. A ideia para o Boletim Letras 360º que chega à sua semana n.326 nasceu quando aquela página começou a limitar a quantidade de acessos das publicações aí apresentadas. O registro no blog se mostra como uma garantia de acesso aos leitores que perderam a notícia divulgada. Boa leitura!
As livrarias brasileiras recebem nova edição de um dos clássicos da poesia moderna: As flores do mal, de Charles Baudelaire. |
Segunda-feira,
12 de agosto
Depois da
reedição de A sucessora, novo título de Carolina Nabuco volta às
livrarias pela Editora
Instante.
Em Chama e cinzas, Carolina Nabuco mais uma vez faz um retrato da
posição da mulher burguesa, agora no final da primeira metade do século XX,
apresentando os valores e os tabus que orientavam o lugar social da mulher, mas
trazendo também uma nova voz feminina que parece emergir desse contexto. Há,
com isso, um distanciamento significativo de A sucessora, seu romance
anterior, uma vez que naquela obra a protagonista Marina teme não ser a mulher
ideal, enquanto Nica, a nova protagonista, deseja compreender por que tem sido
essa mulher. O livro conta a história de Nica Galhardo, a mais despachada das
quatro filhas de Álvaro, viúvo falido, com um fraco para jogos de azar, que
organiza noites de carteado em seu casarão na Praia do Flamengo, no Rio de
Janeiro. Os eventos são disputadíssimos e frequentados por personalidades da
sociedade carioca dos anos 1940, como ministros de Estado e o poderoso
banqueiro Nestor Rabelo, o amigo que de fato sustenta a casa. O patriarca da
família mantém um diálogo aberto com as jovens, que não o chamam de pai, mas de
Álvaro, algo incomum naqueles tempos. Após uma profunda decepção amorosa, Nica,
em atitude bastante ousada para uma jovem da época, decide casar-se com Rabelo,
o homem que ela tanto admira. Mas um casamento bem-sucedido bastará para
fazê-la sentir-se completa? Publicado originalmente em 1947, treze anos após o
sucesso de A sucessora, Chama e cinzas recebeu o Prêmio
de Romance da Academia Brasileira de Letras e anos depois inspirou a telenovela Bambolê, exibida pela Rede Globo entre 1987 e 1988.
Terça-feira,
13 de agosto
Nova edição
de Absalão, Absalão!, de William Fualkner.
Um Sul de
túmulos e fantasmas, marcado pela Guerra Civil e pela segregação racial, num
dos romances mais sombrios e violentos da literatura americana. Numa narrativa
composta de fragmentos delirantes de passado, o prêmio Nobel de literatura de
1949 William Faulkner conta a história da ascensão e queda do self-made man
Thomas Sutpen que, vindo da miséria das montanhas do estado da Virgínia,
torna-se o maior plantador de algodão do condado fictício de Yoknapatawpha.
Publicado em 1936, Absalão, Absalão! revisita, através do apuro da
técnica modernista, temas comumente identificados a certo gótico sulista, colocando
assim em julgamento o estatuto do romance como gênero e construindo uma das
mais brutais jornadas ao coração alucinado do século XX. A tradução de Celso
Mauro Paciornik e Julia Romeu publicada pela extinta Cosac Naify sai pela Companhia
das Letras.
O primeiro volume da edição da obra completa de Rodrigo de Souza Leão.
Em junho de
2019 ficamos sabendo que o Selo Demônio Negro cuidará de reeditar a obra
completa de Rodrigo de Souza Leão. A notícia é simbólica: neste passam-se uma
década da morte do escritor. Organizada por Ramon Nunes de Mello, o primeiro
título a chegar é Todos os cachorros são azuis, um romance,
dividido em quatro partes, que conta a história do protagonista desde sua
internação em um hospício até a sua saída e a fundação de uma nova religião.
Rodrigo de Souza Leão apresenta, através do ponto de vista do paciente, uma
visão da sociedade, da família, da política e do tratamento dado aos internos
dos hospícios.
Quarta-feira,
14 de agosto
Nova edição
para As flores do mal, clássico da poesia moderna.
Grafado pelo
autor originalmente com letra maiúscula, o “Mal” de Baudelaire é um conceito,
uma percepção que perpassa a sua obra e expõe o caráter humano. Livro inovador,
que nas palavras de Marcel Raymond e Paul Valéry funda uma espécie de
“movimento poético contemporâneo”, As flores do mal foi responsável por uma
escandalosa transformação da literatura mundial ao misturar estilos elevados e
populares, influenciando escritores como André Gide, Marcel Proust, James
Joyce, Thomas Mann, entre outros. A primeira edição, publicada em 1857, quando
Baudelaire tinha 36 anos, logo se torna objeto de um processo judicial que
culmina na proibição de seis poemas. A segunda edição, de 1861, suprime os
poemas censurados e inclui outros 35. O poeta ― também tradutor de Edgar Allan
Poe e crítico de arte ― foi alvo de discórdia também nos círculos literários.
Conhecido por encarar a vida com uma paixão enfastiada, Baudelaire transformou
o universo a sua volta em uma poesia forte, visceral e por vezes perniciosa.
Este volume bilíngue reúne toda a poesia de Baudelaire: As flores do
mal tal como publicado em 1861 e os poemas acrescidos à edição póstuma de
1868, em uma edição especial que demonstra toda a potência de um autor ainda
hoje “maldito”. A tradução de Júlio Castañon Guimarães sai pela Penguin /
Companhia das Letras.
Reedição de
uma das obras mais importantes da literatura de Sérgio Sant'Anna.
Publicado
pela primeira vez em 1986, Amazona foi recebido com espanto pelo
público. Este retrato transgressor sobre a libertação da mulher não só destoava
da produção literária da época, mas acertava em cheio as questões políticas do
país, que dava os primeiros passos em direção à transição democrática. O mito
grego das mulheres guerreiras é a metáfora que conduz o livro, que narra a
ascensão da bela Dionísia, uma típica esposa da classe média carioca, ao poder
― primeiro como modelo de revista erótica e depois como uma proeminente figura
política do Brasil dos anos 1980. Fazendo uso dos melhores artifícios da
ficção, Sérgio Sant’Anna põe lado a lado o mais fino das ironias e digressões
machadianas e os elementos vitais dos romances de folhetim ― sexo, drogas,
chantagens e intrigas políticas ― e cria uma obra que permanece única mesmo
depois de três décadas de seu lançamento.
O terceiro
livro na reedição da obra completa de João Guimarães Rosa pela Global
Editora: Primeiras estórias.
Nele, o
escritor mineiro constrói narrativas curtas que tratam de matérias diversas da
experiência humana, como a busca da felicidade, a necessidade do
autoconhecimento e as maneiras de se conviver com a inevitável finitude da
vida. O título deriva diretamente do propósito de Rosa retomar a atmosfera das
narrativas ancestrais, o que dá sentido à escolha pelo termo “primeiras”,
pois deixa-se vincar abertamente pelos “causos” que remetem aos primeiros
tempos da humanidade. Já o emprego da palavra “estória” - em contraponto à
“história” - provém da língua inglesa, pavimentando, assim, o pendor do autor
pelo campo da imaginação. Composto por 21 contos, “As margens da alegria”,
“Sorôco, sua mãe, sua filha”, “Famigerado” e “A terceira margem do rio” são
alguns dos feitos sublimes desse escritor, que levou a artesania da palavra a
patamares jamais experimentados na literatura de língua portuguesa. A
capacidade de encantar desse livro está, dentre outros atributos, nas estórias
tecidas com maestria e que se desenrolam em um território situado à margem da
civilização moderna, compondo enredos que mesclam o real e a ficção, e que
deixam largo espaço para os leitores darem asas à fantasia e, paradoxalmente,
refletirem sobre seus destinos. Esta edição traz um texto de Luiz Costa Lima, um dos principais teóricos da
literatura do país, intitulado “O mundo em perspectiva: Guimarães Rosa”.
Quinta-feira,
15 de agosto
Edição de
luxo de uma das histórias clássicas do Sítio do Picapau Amarelo.
Dona Benta,
Narizinho, Pedrinho, Emília e o Visconde de Sabugosa viajam no tempo e visitam
a Grécia antiga para salvar Tia Nastácia do terrível Minotauro. Publicado pela
primeira vez em 1939, O Minotauro é uma grande aventura em uma
viagem no tempo empreendida pela turma do Sítio do Picapau Amarelo. Dona Benta,
Narizinho, Pedrinho, Emília e o Visconde de Sabugosa visitam a Grécia
antiga com uma missão: resgatar Tia Nastácia do terrível Minotauro ― que a
sequestrou porque já não consegue viver sem os bolinhos da melhor cozinheira de
todos os tempos… Andando entre os filósofos e os artistas mais conhecidos (e
até hoje estudados) da Antiguidade, os picapaus aprendem e discutem assuntos
como o conceito de arte e seus diversos movimentos, filosofia, literatura e
arquitetura ― tudo isso em meio a uma aventura que só os personagens mais
clássicos da literatura infantojuvenil brasileira sabem viver. Ilustrado por
Lole, o livro integra a obra de Monteiro Lobato que começou a ser publicada
pela Companhia
das Letrinhas.
Água
doce, do nigeriano Akwaeke Emezié o próximo título da Editora
Kapulana.
Este é um
livro como nenhum outro. Com uma linguagem crua e, ao mesmo tempo, sensível, a
obra celebra a possibilidade do ser múltiplo, os muitos “eus” que podem existir
dentro de qualquer um. Ada sempre foi estranha. Quando criança, vivendo no sul
da Nigéria, a família se preocupa com ela. Seguindo a tradição, os pais rezaram
para consolidar a existência da criança ainda no ventre, mas algo deu
errado: talvez os deuses tenham esquecido de fechar a porta, pois Ada nasceu
com “um pé do outro lado”, e começa a desenvolver diferentes personalidades.
Quando ela vai para os Estados Unidos para a universidade, um evento traumático
acaba sendo o catalizador que transforma esses muitos “eus” em algo mais forte.
Ada vai desaparecendo e dando lugar a esses outros seres – às vezes,
protetores, às vezes, algozes. Com isso, sua vida vai saindo de controle e se
move em uma direção perigosa.
Sexta-feira,
16 de agosto
Encontrado
na Suíça um conjunto de rascunhos para O pequeno príncipe realizados por
Saint-Exupéry.
Os desenhos
estavam guardados nos papéis do magnata colecionador Bruno Stefanni que os adquiriu
há mais de trinta anos no leilão em Bevaix. O arquivo é formado por três
rascunhos – do bêbado em seu planeta, a icônica imagem da cobra que digere um
elefante acompanhada de notas manuscritas e a personagem principal do livro com
a raposa. Junto aos desenhos também foi encontrado um poema com uma pequena
ilustração e uma carta de Saint-Exupéry para sua companheira, Consuelo. As
ilustrações originais estão guardadas na Morgan Library em Nova York.
DICAS DE
LEITURA
1. O Aleph,
de Jorge Luis Borges. Agora em 2019, a obra considerada pela crítica um dos
pontos culminantes da ficção do escritor argentino, chega aos 70 anos da sua
primeira edição. Por aqui, é possível encontrar a tradução de Davi Arrigucci Jr
publicada pela Companhia das Letras – parte do amplo projeto dessa casa
editorial em trazer toda literatura de Borges ao Brasil. Em sua maioria, “as
peças deste livro correspondem ao gênero fantástico”, esclarece o autor no
epílogo da obra. Nelas, ele exerce seu modo característico de manipular a “realidade”:
as coisas da vida real deslizam para contextos incomuns e ganham significados
extraordinários, ao mesmo tempo em que fenômenos bizarros se introduzem em
cenários prosaicos. Os motivos borgeanos recorrentes do tempo, do infinito, da
imortalidade e da perplexidade metafísica jamais se perdem na pura abstração;
ao contrário, ganham carnadura concreta nas tramas, nas imagens, na sintaxe,
que também são capazes de resgatar uma profunda sondagem do processo histórico
argentino. O livro se abre com “O imortal”, onde temos a típica descoberta de
um manuscrito que relatará as agruras da imortalidade. E se fecha com “O Aleph”,
para o qual Borges deu a seguinte “explicação” em 1970: “O que a eternidade é
para o tempo, o aleph é para o espaço”. Como o narrador e o leitor vão
descobrir, descrever essa ideia em termos convencionais é uma tarefa
desafiadoramente impossível.
2. A fúria,
de Silvina Ocampo. Finalmente vemos chegar ao Brasil um livro de Silvina
Ocampo, que está entre os escritores mais surpreendentes e intensos do
continente. Publicado em 1959, este é considerado “o mais ocampiano”
dos livros de Silvina, obra em que a autora encontra sua voz única e inaugura
seu universo alucinado. “Nos seus contos há algo que não consigo compreender:
um estranho amor por certa crueldade inocente e oblíqua”, escreveu o amigo
Jorge Luis Borges. Saídas do que Roberto Bolaño chamou de “uma limpa cozinha
literária”, suas histórias misturam elegância e excesso, distanciamento e
intensidade, calma e horror. Há a influência macabra que a antiga dona de uma
casa exerce na nova inquilina (“A casa de açúcar”, o conto favorito de Julio Cortázar);
adivinhos e premonições (“A sibila” e “Magush”); amores loucos (“A paciente e o
médico”); a festa de aniversário de uma jovem paralítica (“As fotografias”); e
uma profusão de crianças malignas, como a que incendeia cruelmente uma amiga no
conto que dá título ao livro. Revalorizada com entusiasmo nos últimos anos, a
literatura de Silvina Ocampo é singular, complexa, envolvente e nos convida,
como poucas, à fantasia e à imaginação.
3. Obra
completa, de Murilo Rubião. O escritor mineiro se aventurou no universo do
fantástico antes que ficasse em voga entre os escritores latino-americanos.
Além de precursor — seus contos foram escritos, em sua maioria, entre os anos
1940 e 1960 —, Rubião é mestre em fazer o absurdo penetrar na realidade
cotidiana, subvertendo-a e lançando novos olhares sobre temas consagrados da
literatura, como o desejo, a morte, o amor e a falta de sentido do mundo
moderno. No ano seu centenário, em 2016, a Companhia das Letras preparou um
volume com todos os 33 contos que o autor mineiro lapidou à exaustão. Nessa
edição, o leitor encontra ainda um delicioso artigo de época do crítico Jorge
Schwartz e um alentado ensaio inédito do jovem escritor Carlos de Brito e
Mello.
BAÚ DE
LETRAS
1. Os leitores que acompanharem com assiduidade o blog aqui
e nas várias páginas nas redes sociais sabem já que em junho uma série de
postagens no Facebook foram apagadas com a acusação perversa de Spam. Desde o
início do mês iniciamos a republicação do material censurado seguido da tag #CensuradosDoFace.
Uma das posts censuradas foi esta no dia 7 de junho de 2019. Com a tag #BaúDeLetras,
a ideia original para esta seção no Boletim Letras 360º, recordamos uma lista
das que mais gostamos de fazer: poetas que desafiaram o panteão dos poetas.
2. Em 2018, o blog apresentou a tradução para esse texto que
oferece alguns elementos para a composição do perfil de Silvina Ocampo, a
escritora argentina cuja obra é publicada pela primeira vez no Brasil, como
sublinhamos na seção anterior. “Silvina Ocampo: o et cetera da família”.
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* Todas as informações sobre lançamentos de livros aqui divulgadas são as oferecidas pelas editoras na abertura das pré-vendas e o conteúdo, portanto, de responsabilidades das referidas casas.
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