Boletim Letras 360º #335
Neste dia 9 de agosto de 2019 pelas 16h30, realizamos uma transmissão ao vivo para o sorteio de Contos de cães e maus lobos e o nosso reino, dois livros de Valter Hugo Mãe publicados no Brasil recentemente pela Biblioteca Azul, selo da Globo Livros. Dos 22 inscritos, a ganhadora é de Feira de Santana Bahia. Esses momentos de apresentação de obras a leitores que acompanham o Letras são sempre os melhores do blog e já manifestamos o desejo impossível de poder abraçar a todos com livros de excelência para presenteá-los. De toda maneira, seguimos apostando no sonho da leitura por amostragem. Tomava venham novas oportunidades! Abaixo, as notícias que passaram pelo mural do Letras em sua página no Facebook. Agradecemos pela visita e por acompanhar nosso trabalho.
Toni Morrison, uma das vozes mais originais da literatura estadunidense. |
Segunda-feira,
05 de agosto
O
romance da minha vida é o novo título de Leonardo Padura no Brasil.
Após dezoito
anos vivendo no exílio, Fernando Terry consegue autorização para voltar a Cuba
por um mês, atraído pela possibilidade de encontrar a lendária e desaparecida
autobiografia de José María Heredia, o poeta romântico a quem dedicou sua tese
de doutorado. Aproveitará também para tirar a limpo seu passado e, quem sabe,
curar-se do rancor que alimenta há quase duas décadas em razão da expulsão da
universidade e o consequente desterro. Heredia, seu objeto de estudo, foi ele
próprio um desterrado: laureado precocemente como o maior poeta da ilha de
Cuba, conheceu os deleites da glória e da fama, para repentinamente afundar-se
num lodo conspiratório. Romântico incurável, o poeta, que morreu na desgraça
aos 36 anos e que doou a própria vida na luta pela liberdade de seu povo, seria
tardiamente reconhecido como o fundador da literatura cubana e um de seus mais
notáveis frutos. Neste envolvente romance histórico, Leonardo Padura mescla não
só as narrativas do injustiçado professor Fernando Terry com a inconveniente
autobiografia romanceada do poeta mas também com a história de seu filho
caçula, o elo que explica o paradeiro final desses desaparecidos papéis.
"O romance da minha vida" revela uma outra história de Cuba, sem
heróis nem mártires, mas do poder avassalador e corruptivo do capital. A
tradução de Monica Stahel sai pela editora Boitempo.
O segundo
volume da série Xenogênese, uma poderosa história de existência alienígena, de
Octavia Butler está disponível.
Nessa
sequência de Despertar, Lilith Iyapo deu à luz ao que parece um
menino saudável de nome Akin. Porém, Akin tem na verdade cinco pais: um homem e
uma mulher, um Oankali macho e um fêmea, e um Ooloi agênero. Os Oankali e os
Ooloi são parte de uma raça alienígena que resgatou a humanidade de uma
devastadora guerra nuclear, mas o preço a ser pago a eles é alto, uma vez
que os alienígenas são obrigados a unir seu material genético com o de outras
raças, alterando drasticamente ambos no processo. Nesse planeta Terra em
reabilitação, essa “nova” raça está emergindo através da mistura de
humano/Oankali/Ooloi, mas há também humanos “puros” que escolhem resistir aos
alienígenas e a salvação que oferecem. Esses resistentes são esterilizados
pelos Ooloi para que não possam passar para frente o defeito genético que os
faz destruírem a si mesmos, mas, fora isso, são deixados em paz (a menos que se
tornem violentos). Quando humanos resistentes sequestram o jovem Akin, os
Oankali escolhem deixar a criança com seus captores para que ele, a mais “humana”
das crianças Oankali, decida se os humanos resistentes devem ter sua
fertilidade e liberdade devolvidas, mesmo que isso signifique apenas a volta da
sua autodestruição. A tradução de Ritos de passagem é de Heci
Regina Candini e sai pela Editora Morro Branco.
Um retorno à
literatura de Elena Poniatowska.
Paris,
inverno de 1921. A artista plástica e exilada russa Angelina Beloff escreve,
sem obter resposta, sucessivas cartas ao marido, o pintor Diego Rivera, que
havia retornado ao México. Nessas cartas, reconstrói o cotidiano de Paris na
época da Primeira Guerra Mundial e suas vanguardas artísticas, demonstra sua
devoção incondicional ao marido e fala de sua busca artística. Uma história
comovente; sensível e brutal ao mesmo tempo. Vencedora do Prêmio Cervantes
(2013), a jornalista e escritora mexicana Elena Poniatowska parte de um fato
real, o relacionamento entre o reverenciado pintor mexicano Diego Rivera e a
pintora russa Angelina Beloff, para elaborar uma registro pungente e comovedor
sobre amor, entrega, dependência e a posição da mulher e da arte no começo do
século XX. A tradução é de Nilce Tranjan e Ercilio Tranjan; Querido Diego, sua Quiela sai pela Editora
Mundaréu.
Terça-feira,
06 de agosto
Lançamento
de Dias úteis.
Uma novela
em sete contos curtos, um para cada dia da semana, um prefácio fora de jogo,
uma didascália e um epitáfio por preencher. É este o livro que Patrícia Portela que estreia na Gira, coleção interessada na ficção portuguesa contemporânea, da Dublinense Editora.
Os leitores
franceses terão acesso a contos inéditos de Marcel Proust em outubro.
Le
mystérieux correspondant et autres nouvelles inédites sairá pelas edições
Fallois, em Paris. O volume reúne nove textos de Proust, escritos de juventude,
datados de quando o autor tinha cerca de 20 anos e deveriam ter feito parte do
primeiro livro do escritor, Les plaisirs et les jours (1896), mas
que ele rejeitou. A descoberta dos inéditos foi feita pelo fundador da
casa editorial, Bernard de Fallois, especialista na obra de Marcel Proust, que
morreu no ano passado. Fallois foi também o responsável pela revelação de um
romance inédito do escritor, redigido entre 1895 e 1899, Jean
Santeuil, publicado pela Gallimard em 1952, assim como pela edição de Contra Sainte-Beuve, em 1954. Com transcrição, anotação e apresentação
do professor Luc Fraisse, da Universidade de Estrasburgo, O
correspondente misterioso e outros contos inéditos (na tradução livre, em
português) “não possui o apuro” posterior da obra de Proust, segundo a editora,
mas, por isso mesmo, “ajuda a compreender melhor as suas origens”. O tema
dominante destes contos, escreve a casa Fallois, é uma reflexão sobre “o amor
tão injustamente condenado”, o “amor físico”, entre pessoas do mesmo sexo, como
se estabelecesse um “diário íntimo” de si mesmo. A publicação do livro coincide
com a passagem dos cem anos da atribuição do Prêmio Goncourt a Proust, pela
obra À sombra das raparigas em flor, em 1919.
Morreu Toni
Morrison
A escritora
que recebeu o Prêmio Nobel de Literatura de 1993, por seus romances fortes e
pungentes, que relatam as experiências de mulheres negras nos Estados Unidos
durante os séculos XIX e XX morreu neste dia 5 de agosto de 2019, segundo a
Agência Associated Press. Formada em Letras pela Howard University, estreou
como romancista em 1970, com O olho mais azul. Em 1975, foi
indicada para o National Book Award com Sula (1973), e dois anos
depois venceu o National Book Critics Circle com Song of Solomon (1975). Amada (1987) lhe valeu o prêmio Pulitzer. Aposentou-se em 2006
como professora de humanidades na Universidade de Princeton. Sua obra trilhou
por temas como gênero e raça — recorrentes em seus últimos romances. Escreveu
peças, ensaios, literatura infantil e um libreto de ópera. Na sexta-feira, 9 de agosto, o blog publicou um breve perfil sobre a escritora.
Quarta-feira,
07 de agosto
A biblioteca
nacional de Israel planeja disponibilizar na internet o espólio de Franz Kafka
agora sob seu cuidado.
Os papéis
estavam na posse das irmãs Eva Hoffe e Ruth Wiesler, que argumentaram que os
herdaram legalmente de sua mãe, Esther Hoffe. Esta foi secretária do amigo,
biógrafo e testamenteiro de Kafka, Max Brod, que ignorou o desejo do autor de
língua alemã, expresso na véspera de sua morte, de queimar toda sua obra ainda
não publicada. (falamos sobre esses trâmites aqui)
O arquivo inclui três rascunhos do conto Preparativos de casamento no
campo, um livro de exercícios no qual praticava hebreu, centenas de
cartas pessoais para Brod e outros amigos e diários de viagem. A biblioteca
disse que, dede que os processos terminaram em 2016, vem coletando os papéis em
locais de Israel e da Alemanha e, há 15 dias, finalmente, da caixa forte de um
banco suíço. O material ainda se compõe por desenhos, em grande parte já
conhecidos. Todos os escritos de Kafka sob custódia da biblioteca serão
digitalizados e abertos ao público de todo o mundo.
As
máquinas celibatárias é um livro chave para entender a sobrevivência dos
mitos no universo das máquinas.
Editado
originalmente em 1954, o livro ganhou uma edição ampliada em 1976, base para a
presente edição brasileira. Michel Carrouges, ao estabelecer uma relação
inédita entre Marcel Duchamp e Franz Kafka, criou um catálogo de máquinas
literárias. Esta obra é uma das primeiras leituras conceituais da obra de
Marcel Duchamp, La mariée mise à nue par ses célibataires, même ou simplesmente
O grande vidro (1915-1923), na qual Duchamp é surpreendentemente um fio
condutor para a crítica literária. Mobilizado essencialmente por essa obra e
mantendo-a como fio condutor, Carrouges cataloga um conjunto de máquinas
impossíveis, inúteis, delirantes ou com dispositivos aparentemente
incompreensíveis. Trata-se de um modo bem apropriado para situar a literatura
no final do século XIX até meados do século XX. O repertório literário que o
leitor encontrará neste livro abrange Franz Kafka, Raymond Roussel, Alfred
Jarry, Guillaume Apollinaire, Jules Verne, Villiers de l'Isle-Adam, Irène
Hillel-Erlanger, Adolfo Bioy Casares, Lautréamont e Edgar Allan Poe. A edição
contém ainda uma breve correspondência entre Michel Carrouges e Marcel Duchamp.
Em uma das cartas, Duchamp admira a leitura do autor pela súbita e clara
aproximação feita entre o dispositivo do Grande vidro e aquele encontrado na
Colônia Penal, de Franz Kafka. Agora, a tradução de Eduardo Jorge de Oliveira
sai pela Relicário
Edições.
Quinta-feira,
08 de agosto
Compreender
o insistente interesse do homem contemporâneo por poesia, nesta era digital,
sempre alimentou a curiosidade do poeta e estudioso paulistano Carlos Felipe
Moisés.
Em um mundo
preenchido pela tecnologia de ponta, onde os ideias de qualidade total,
produtividade e eficiência máximas dominam corações e mentes neste século XXI,
qual é o espaço que cabe à poesia? Diante dessa questão, Poesia para quê? A
função social da poesia e do poeta, do crítico literário, poeta e docente
paulistano Carlos Felipe Moisés, lançamento da Editora Unesp, é leitura fluida,
porém profunda, que coloca a poesia no espaço e na perspectiva que lhe cabem.
“Os ensaios aqui reunidos, escritos em épocas diferentes e com variados
propósitos, de início sem a intenção de que viessem a formar um livro, giram em
torno de uma só pergunta básica, quanto ao papel social da poesia e do poeta”,
anota Moisés. O autor regressa a Platão e Confúcio e caminha ao lado da poesia
até os dias atuais, buscando apreender elementos que extrapolam a produção
lírica em si e fornecendo um panorama profundo do lugar da poesia ao longo dos
séculos: da oralidade coletiva pré-Gutenberg ao pensar o fazer poético na forma
de linguagem e não apenas como devaneios oníricos – mais racional que
passional, ele diz. “O estímulo que me levou a pensar neste livro foi a
constatação do surpreendente interesse que o homem contemporâneo dedica à
poesia, um interesse que só tem feito crescer, ano após ano – boa razão,
talvez, para insistir na indagação”, pontua o autor. “Meu ponto de partida foi
a utópica República platônica, a sociedade ideal, em que não haveria lugar para
o poeta. Mas o ideal não se cumpriu. A Verdade e a Justiça sonhadas por
Sócrates e convivas é que foram banidas da sociedade. O poeta não arredou pé e
aí está, até hoje, incitando-nos a prosseguir. Quanto mais certeza tivermos de
que só nos resta a Utopia, mais a Poesia insistirá em alimentar o espírito que
nos move.”
Sexta-feira,
09 de agosto
Nelson
Rodrigues para o teatro, o cinema e a televisão pelas mãos de Viola Davis.
O anúncio
foi apresentado pela atriz e produtora em sua conta no Twitter. O trabalho é
fruto de uma parceria com a Wise Productions, dirigida pelo neto do dramaturgo
brasileiro Mauricio Mora. A obra motivo da parceria é O beijo do
asfalto, reeditada recentemente pela Editora
Nova Fronteira. Esta é uma das obras mais conhecidas de Nelson Rodrigues.
Na história, Arandir presencia um atropelamento e atende ao último desejo da
vítima: um beijo na boca. A peça ganhou a primeira versão para o cinema em
1981, dirigida por Bruno Barreto; em 2018, a obra foi refilmada por Murilo
Benício.
DICAS DE
LEITURA
Apenas uma
pequena parte da obra de Toni Morrison foi publicada no Brasil. Sua produção
ensaística, por exemplo, continua sem edição por aqui e alguns dos seus
romances também não foram traduzidos, enquanto outros seguem esgotados. Depois
da sua morte, é possível que as coisas mudem e os leitores passem a contar com
a possibilidade de entrar em contato com uma parte mais significativa do universo
criativo da escritora estadunidense. Abaixo, considerando os romances seus publicados
no país, destacamos três obras indispensáveis para conhecer um pouco de sua literatura,
até agora publicada exclusivamente pela Companhia das Letras.
1. O olho
mais azul. O romance de estreia de Toni Morrison teve uma recepção morna pela
crítica aquando de sua publicação em 1970; mas é uma das peças fundamentais da
sua literatura: não apenas porque é seu primeiro romance e sim porque leva o
leitor para os principais entrechos de seu imaginário que se desenvolverá ao
longo das produções seguintes. A tradução saiu por aqui quase cinco décadas
depois. Situada nos Estados Unidos da década de 1940, a narrativa se centra em
torno de Pecola, uma menina negra que sofre toda sorte de rejeição por sua raça
e reza para ter olhos azuis, num delirante e inconsciente desejo de redenção e ascensão
social. O drama é registrado pela amiga da protagonista, Claudia MacTeer. No
posfácio escrito pela passagem dos vinte anos da primeira edição do romance, a
autora diz que sua tentativa foi a de dramatizar a opressão que o preconceito
racial pode causar na mais frágil das criaturas: uma criança negra do sexo
feminino.
2. Amada.
Este é o romance mais celebrado da escritora. Grande parte disso se deve à
celeuma causada no ano de sua publicação nos Estados Unidos, quando depois de ignorado
pelos prêmios literários mais importantes naquele país foi motivo para vários escritores
questionassem o silenciamento em torno da obra. Com o livro, Toni Morrison
ganhou o Pulitzer, em 2006 o New York Times incluiu entre as obras mais
importantes dos últimos vinte e cinco anos nos Estados Unidos e foi adaptado para
o cinema com Oprah Winfrey no papel principal. Ambientado na Guerra de Secessão,
a narrativa se baseia na vida da escrava Margaret Garner, que escapou da
condição escravagista de Kentucky em janeiro de 1856 e se refugiou em Ohio. A estrutura não linear já demonstra a
escritora plenamente desenvolvida em seu estilo que se desfaz da ordem cronológica
do tempo por apostar numa força do tempo psicológico e as fortes incursões do lirismo
pelo interior da prosa. O romance forma uma trilogia com Jazz e Paraíso.
3. Voltar
para casa. O lugar histórico pelo qual circula a narrativa desse romance é
a Guerra da Coreia. Dela, sobrevive Frank Money que volta para casa contra sua
vontade, uma vez que sua saída para o conflito teria sido sua única
possibilidade de se distanciar da condição opressora que vivia na sua cidade
natal. Ao lado de sua história corre a de sua irmã, Ci, que além do extenso
drama da opressão racial enfrenta uma sociedade machista. Esses dois fios
narrativos se entrelaçam e oferecem uma história marcada pelo mito do retorno e
uma revisão traumática sobre as histórias desses dois heróis. Rica e densamente
simbólico, Toni Morrison reaviva aqui, por entre os escombros de uma tragédia
de várias ramificações, todo um imaginário afro-americano. Há um comentário de Pedro Fernandes sobre o romance, publicado aqui, no blog.
BAÚ DE
LETRAS
Seguindo o
mesmo tom deste Boletim-homenagem, recordamos duas publicações do blog Letras
in.verso e re.verso que mantêm relações estreitas com Toni Morrison e sua
literatura:
1. Um dos
temas principais da literatura de Toni Morrison se filia a uma tradição
literária há muito vigente nos Estados Unidos, desde A cabana do Pai Tomás,
e que, nos últimos anos continua a alimentar o imaginário ficcional de
escritores: um exemplo mais próximo é a obra de Colson Whitehead que em 2016
recebeu o Prêmio Pulitzer o National Book Award por Os caminhos para a
liberdade. Este é o motivo de uma lista que publicamos aqui, em
2017.
2. Já
dissemos acima sobre o Pulitzer para Amada, o romance mais conhecido de
Toni Morrison. No mesmo ano da lista apresentada na primeira recomendação do
Baú de Letras, o blog editou uma com dezesseis obras imprescindíveis e que
foram ganhadoras do prêmio literário. Reencontrarão o romance da escritora
estadunidense e outros diversos. Aqui.
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* Todas as informações sobre lançamentos de livros aqui divulgadas são as oferecidas pelas editoras na abertura das pré-vendas e o conteúdo, portanto, de responsabilidades das referidas casas.
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