Boletim Letras 360º #332



1. Em meados dessa semana disponibilizamos os primeiros livros de um bazar virtual que a exemplo de outro realizado há um ano servirá para arrecadar recursos para manutenção do registro do Letras in.verso e re.verso. Para saber quais títulos estão à venda e como adquiri-los basta visitar este link temporário em nossa página no Facebook.

2. No início de 2019, o blog renovou parceria com a Globo Livros com interesse nos livros publicados pelo selo de mesmo nome do grupo e o selo Biblioteca Azul, que edita obras mais próximas dos interesses de sua linha editorial. Esta semana chegou dois novos títulos no projeto de reedição da obra de Valter Hugo Mãe no Brasil, como mostrado em nosso Instagram e Facebook; os leitores que acompanham assiduamente estes boletins saberá que a Biblioteca Azul publicou recentemente o livro Contos de cães e maus lobos, uma antologia de contos editada até então só em Portugal e resenhada por aqui por nosso colunista Pedro Belo Clara, reeditou o primeiro romance da série das minúsculas, o nosso reino, e, no âmbito das coleções especiais, recolheu um dos contos da edição portuguesa da antologia acima citada e editou com ilustrações do próprio autor. Disponibilizamos no final deste Boletim uma oportunidade para que um leitor leve esses dois primeiros títulos. Leia o regulamento e se inscreva. O sorteio ocorrerá nos stories do Letras no Instagram e Facebook (em simultâneo) no dia 9 de agosto.

3. Abaixo, como de costume todos os sábados, as notícias que passaram pelo mural de nossa página no Facebook e nossas recomendações de leitura. Boas leituras.

Inédito de Sylvia Plath é publicado no Brasil. Mais detalhes ao longo deste Boletim.


Segunda-feira, 15 de julho

Obra inédita de Sylvia Plath ganha edição no Brasil

Uma fábula simbólica e obscura, como a própria autora o define, este texto foi escrito quando Sylvia Plath completava vinte anos e permaneceu inédito desde então. Mary Ventura e o nono reino se passa durante uma viagem de trem, e nele estão contidos os dilemas da entrada na vida adulta e o momento em que se assume o controle do próprio destino. É um conto alegórico carregado de referências sutis, com a riqueza visual que define o estilo de sua autora. Traduzido por Bruna Beber, o livro sai pelo selo Biblioteca Azul da Globo Livros.

O próximo título na coleção Clássicos de ouro, da Editora Nova Fronteira é uma antologia de contos em que Simone de Beauvoir apresenta toda sua potência literária.

A mulher desiludida reúne três histórias independentes, narradas por suas protagonistas ― mulheres confrontadas com situações de ruptura que colocam em xeque suas certezas. Na primeira, uma intelectual de esquerda se vê em conflito com as posições cada vez mais conservadoras do filho, ao mesmo tempo que luta contra a fatalidade do envelhecimento. Na segunda se dá o monólogo de uma mulher angustiada e fora de si, após dois casamentos fracassados e o suicídio da filha. O último texto trata do desmoronamento da vida de uma mulher abandonada pelo marido e desprezada pelas filhas. Sob o ponto de vista íntimo e dilacerante dessas personagens, os contos refletem sobre a condição da mulher e seu papel numa sociedade ainda dominada pelos homens. Com tradução de Helena Silveira e Maryan A. Bon Barbosa.

Terça-feira, 16 de julho

Um livro sobre amor, sexo e raça por uma das grandes vozes da nova ficção americana.

Ferguson Sowell acabou de compor a batida perfeita. Especialista em trilhas sonoras para o cinema pornô, finalmente chegou ao que chama de sua Mona Lisa: uma batida que é o resumo da própria existência humana. Mas ainda falta algo para que ele atinja os píncaros da imortalidade artística: uma colaboração do jazzista Charles Stone, que desapareceu na Alemanha nos anos 1960. Sua única pista o leva a Berlim e ao bar Slumberland. Slumberland: a batida perfeita, de Paul Beatty, o mesmo autor do sucesso O vendido, sai pela editora Todavia com tradução de Rogério Galindo.

Num momento de radicalização ideológica no país, um livro sóbrio que mostra Paulo Freire para além dos estereótipos.

“Chega de doutrinação marxista, basta de Paulo Freire!” Era comum encontrar frases assim nas manifestações contra o governo Dilma Rousseff, em 2015. Com a vitória de Jair Bolsonaro nas eleições de 2018, as críticas a Freire ganharam reforço contundente. O educador, perfil biográfico de Paulo Freire, traz sobriedade a esse debate contaminado pela polarização ideológica; recupera a experiência exitosa de alfabetização em Angicos, no Rio Grande do Norte, às vésperas do golpe de 1964; e conta em detalhe a perseguição que Freire sofreu dos militares. Depois vieram a prisão, o exílio, a fama internacional, as vivências na África, a volta ao Brasil após a anistia, a retomada da carreira acadêmica e a experiência como secretário de Educação em São Paulo. O livro ilumina aspectos pouco conhecidos da vida de Freire. Ele nunca foi comunista. Ainda é mais lido nas universidades do exterior do que nas brasileiras. Nunca pregou uma educação partidária nas escolas. Com discrição e generosidade, Sérgio Haddad, um dos mais importantes estudiosos da obra de Paulo Freire no Brasil, refaz o percurso do educador sem aderir à disputa ideológica, revelando as muitas facetas de um intelectual complexo e decisivo para a cultura brasileira. A edição é da editora Todavia.

A obra de Gary Shteyngart volta ao Brasil. Agora com uma visão hilária da América de Trump e um mergulho comovente e divertido na vida em família.

O fundo bilionário que Barry Cohen administra está sob investigação. Seu filho de três anos acaba de receber o diagnóstico de autismo. Como bom narcisista que vive desconectado do mundo, Barry toma uma decisão impulsiva: ele parte num ônibus Greyhound rumo ao coração dos Estados Unidos e em busca de seu grande amor da juventude. Gary Shteyngart traz neste Lake Success um panorama hilário da nova América, uma viagem inesquecível por um país fraturado e ainda em busca de si mesmo. Traduzido por André Czarnobai, o livro é publicado pela editora Todavia.

Nova edição revista e ampliada de um dos clássicos da poesia moderna estadunidense

Leaves of Grass é considerado, na verdade, um marco da poesia moderna, uma vez que sua influência foi e é sentida dentro e fora dos Estados Unidos, em várias gerações de poetas, escritores, artistas e pensadores das mais diversas áreas. O grande épico da democracia que chegou ao Brasil no segundo semestre de 2005, pela Iluminuras ― feito pioneiro, uma vez que foi a primeira vez que Whitman teve um livro integral, bilíngue, publicado no Brasil ― ganha agora pela mesma casa editorial nova edição. A base para a tradução de Rodrigo Garcia Lopes segue a clássica e revolucionária primeira edição, de 1855. É nela que Whitman exibe sua potência de linguagem e visão pela primeira vez, em que assistimos o frescor e a versatilidade do verso livre sendo inaugurado. A nova edição revista e ampliada traz posfácio do tradutor e assinala os 200 anos do nascimento do poeta estadunidense.

O novo livro de Itamar Vieira Junior

Um texto épico e lírico, realista e mágico que revela, para além de sua trama, um poderoso elemento de insubordinação social. Nas profundezas do sertão baiano, as irmãs Bibiana e Belonísia encontram uma velha e misteriosa faca na mala guardada sob a cama da avó. Ocorre então um acidente. E para sempre suas vidas estarão ligadas ― a ponto de uma precisar ser a voz da outra. Numa trama conduzida com maestria e com uma prosa melodiosa, o romance conta uma história de vida e morte, de combate e redenção. O livro do autor de Dias e A oração do carrasco sai pela editora Todavia.

A longa noite de Cristal é o novo título no amplo projeto de reedição da obra de Oduvaldo Vianna Filho

Cristal é o apelido de Celso Almeida Gagliano, locutor radiofônico que no passado se tornara famoso por seu timbre cristalino de voz. Trabalhando agora como apresentador de um telejornal, ele é incapaz de compreender as pressões do regime militar sofridas por seu colega Murilo, chefe do Departamento de Pesquisa da emissora. Apegado ao sistema de trabalho vigente nos tempos pioneiros do rádio, quando furos de reportagem eram dados com base em fatos testemunhados individualmente e in loco pelos jornalistas, Cristal noticia no ar um acontecimento que presenciara e que, embora verdadeiro, contraria os interesses dos patrocinadores. Assim, a crise desencadeada na emissora será também, para ele, uma crise existencial que o colocará diante de vários enfrentamentos. Por meio de elipses de tempo e de espaço, A longa noite de Cristal, de 1969, aborda em chave crítica o papel da televisão, já então transformada no principal veículo de comunicação de massas do país. A edição da Temporal traz, assim como os títulos anteriores (Rasga coração e Papa Highirte) da coleção, apresentação e posfácio da professora e pesquisadora Maria Sílvia Betti (org.), fotos, fichas técnicas das montagens da peça e sugestões de leitura a respeito da obra de Oduvaldo Vianna Filho. Esta foi a peça de estreia do Studio São Pedro, sala do Theatro São Pedro. Dirigida por Celso Nunes em 1970, a peça em dois atos contava com Beatriz Segall e Fernando Torres no elenco. Segundo constam os jornais da época, embora tenha autorizado a realização do espetáculo, Vianna, ao assistir a um ensaio, não gostou do enfoque dado por Celso Nunes. O diretor respondeu às críticas alegando fidelidade absoluta ao texto do dramaturgo. No ano de sua estreia, a peça ganhou Prêmio Coroa de Teatro por concurso e, em 1970, o Prêmio Molière (SP) — Melhor peça do ano de 1970. Em 1976, Gracindo Jr. produz novamente a peça, dessa vez com Oswaldo Loureiro e Denis Carvalho no elenco.

Romance assinala continuidade da publicação de Grazia Deledda no Brasil.

A cidade do vento sai pela Editora Moinhos com a tradução de William Soares do Santos. A obra até então inédita por aqui amplia sua presença entre os leitores brasileiros que a conhecem por Juncos ao vento e Cosima. Publicado em 1931, este é um dos mais importantes romances da escritora que foi a segunda mulher a receber o Prêmio Nobel de Literatura. Aqui, novamente o leitor reencontra uma metáfora da Sardenha natal, um lugar onde a dureza do território corresponde às relações humanas governadas por leis arcaicas e imutáveis. Há, portanto, uma espécie de comunhão mística entre estados mentais e paisagísticos. A escrita em primeira pessoa, apoiada por uma estrutura linguística / sintática sarda e latina, além de destacar elementos autobiográficos (outro elemento estilístico da literatura de Deledda), dá força e intensidade à narração. Paralelamente à jornada interior feita pelo protagonista / escritor, seguimos a jornada de trem dos recém-casados ​​até a aldeia, marcada pela lembrança incômoda do amante do passado. Central é a situação emocional e psicológica do narrador, mas é o vento que, ao adquirir a fisicalidade real, consegue com sua força decidir o destino das pessoas. É necessário, portanto, encontrar a capacidade de reagir diante de um destino aparentemente inexorável.

Quarta-feira, 17 de julho

Morreu Andrea Camilleri

No Brasil, o escritor italiano ficou conhecido por livros (sobretudo policiais) como O cão de terracota, A paciência da aranha, A pensão Eva, Água na boca, Temporada de caça, Excursão a Tíndari, O Todomeu, O ano-novo em Montalbano, O rei de Girgenti, A lua de papel e O cheiro da noite. Camilleri nasceu em Porto Empedocle, na Sicília, em 1925. Ainda que tenha começado a publicar romances tardiamente, tornou-se um fenômeno literário e de popularidade com os seus romances policiais. Antes de se dedicar a escrevê-los, Andrea Camilleri trabalhou toda a sua vida como professor, diretor de teatro e roteirista. Muitas das suas obras giram em torno do detetive Savio Montalbano, uma personagem cujo nome serve de homenagem ao escritor catalão Manuel Vásquez Montalbano, que trabalha na cidade imaginária de Vigàta — em muito semelhante a Porto Empedocle, que tem sido um chamariz para os turistas nos últimos anos. Camilleri publicou o seu primeiro livro quando tinha 53 anos, mas o reduzido sucesso da obra fez com que deixasse de escrever durante anos. Só tornaria a fazê-lo já perto dos seus 70 anos, em 1994.

A nova edição de Oblómov, de clássico da literatura de Gontcharóv

Um herói de roupão, desprovido de vontade, que vive alheio a tudo. Contudo, debaixo de toda a letargia e imobilidade existe uma alma boa e pura, que precisará entender o que o mundo espera dele — e o que ele pode oferecer ao mundo — para não perder sua chance de amar. Edição com tradução do russo e apresentação de Rubens Figueiredo. Escrito com humor e maestria, Oblómov é um retrato da aristocracia russa às vésperas do fim da servidão. Por meio de seu personagem principal, Iliá Ilitch Oblómov, rico senhor de terras que mal sai do sofá e passa os dias de roupão fazendo planos que nunca põe em prática, Gontcharóv idealiza uma resistência passiva aos ideais de produtividade que chegam à Rússia em meados do século XIX. Apático a ponto de abandonar o trabalho, os amigos e os livros, além de dilapidar o dinheiro da família, o protagonista passa a vida esperando. Sente-se constantemente apavorado com a possibilidade de precisar tomar alguma atitude para participar do mundo real, até o dia que um amigo de infância decide ajudá-lo a conhecer o amor. A tradução de Rubens Figueiredo apresentada pela extinta Cosac Naify ganha edição pela Companhia das Letras.

Os leitores brasileiros receberão, em breve, a obra completa de Leopoldo Maria Panero

A notícia é da Editora Urutau, que fechou contrato para publicação da obra desse importante poeta espanhol que combateu o fascismo de Franco com irreverência e ironia, tendo sido preso e internado em diversos manicômios. Sua obra chegará através do livro Last river together, com tradução feita por Pedro Spigolon. Considerado atualmente como um dos mais importante poetas espanhóis do século XX, a poética de Panero é delirante, selvagem, rebelde, erótica e maldita. Sabia que a linguagem e a arte não apenas representam ou mimetizam a vida, muito mais do que isso, produzem a vida e a realidade mesma que habitamos. Sabia, como Blake, que o caminho do excesso conduz ao palácio da sabedoria.

Quinta-feira, 18 de julho

Nova edição para O jovem Törless, outro dos clássicos de Robert Musil

Considerado um dos mais importantes escritores da literatura alemã do século XX, Robert Musil começou sua carreira em 1906, com a publicação de O jovem Törless. Aqui já estão presentes as audaciosas análises psicológicas que logo depois se tornariam características do expressionismo germânico. Ao narrar a formação de um adolescente vivendo em um rigoroso internato, este romance, na verdade, é uma das primeiras e mais radicais denúncias dos sistemas totalitários europeus que surgiriam depois da primeira guerra mundial. Nas aventuras e desventuras de Törless, o que fica patente é o protesto contra todo e qualquer sistema que só se impõe à custa da violação da liberdade do indivíduo. Esta edição que sai pela Editora Nova Fronteira conta com a tradução de Lya Luft e traz ainda uma apresentação inédita do escritor Antônio Xerxenesky.

Reedição de clássico da obra de Melville

Lançado em 1851, Moby Dick, de Herman Melville (1819-1891), se tornou um dos livros de aventura mais emblemáticos da literatura universal. A história do capitão Ahab, em busca de vingança contra o terrível cachalote que amputara sua perna, entrou definitivamente para a cultura popular, inspirando criações nas artes plásticas, no teatro, no cinema e na música. Mas uma leitura atenta da obra-prima de Melville pode revelar as camadas mais profundas do texto — as alusões bíblicas, as críticas ao nascente imperialismo norte-americano, as referências à obra de Shakespeare, entre muitos outros temas —, que deram ao autor o posto de maior prosador norte-americano do século XIX. Além de trazer ensaios de Evert Duyckinck, D. H. Lawrence e F. O. Mathiessen sobre Moby Dick, que delineiam a recepção crítica do livro, esta nova edição apresenta um prefácio de Albert Camus, inédito em nosso país, e um ensaio de Bruno Gambarotto, um dos maiores especialistas brasileiros na obra de Melville. A edição é da Editora 34.

Sexta-feira, 19 de julho

Escrito com base em pesquisa bibliográfica e documentos de primeira mão, Em busca da alma brasileira – biografia de Mário de Andrade passa a limpo um dos capítulos mais fascinantes da nossa história cultural e que traz muitas lições para o Brasil de hoje.

Estávamos em 2015 quando a notícia da iminente publicação desta aguardada biografia, escrita pelo premiado jornalista, escritor e tradutor Jason Tércio, começou a figurar entre as várias homenagens programadas para a celebração dos 70 anos da morte de Mário de Andrade. Mas a expectativa pela chegada deste livro vinha sendo acalentada desde 2012, quando a mídia especializada começou a noticiar que Tércio estava a escrever aquela que poderia ser a primeira biografia, no sentido lato, de um dos principais escritores do país. Cada nova matéria na imprensa, cada nova descoberta de Jason Tércio acerca da vida de Mário de Andrade dava-nos conta de que os leitores teriam definitivamente uma biografia à altura da importância desse brasileiro cuja morte, em 1945, significou, nas palavras de Antonio Candido, uma perda comparável somente à de Machado de Assis. A espera acabou. Em busca da alma brasileira - biografia de Mário de Andrade demorou o tempo que precisava para ser publicado. O que o leitor verá em cada página é a mais competente reconstituição do contexto histórico em que o genial escritor nasceu, viveu e fez desabrochar todo um oceano de realizações em diferentes áreas. O livro é também um profundo e significativo esforço de compreensão da alma de um dos mais importantes brasileiros de todos os tempos. Em sua obsessão pela busca da alma brasileira, o Mário revelado por Tércio é ousado e tímido, recatado e escandaloso, confessional e comedido, modesto e vaidoso, apolíneo e dionisíaco, singular e plural. Caso único de nossa cultura, Mário era um autodidata com visão multidimensional, que teve consciência de seu papel histórico, esteve no centro dos principais debates num dos períodos mais agitados do país e, ao contrário de muitos dos seus contemporâneos, sempre prezou pela coerência. Mário de Andrade é tão grande que não caberia em nenhum livro convencional, mas o que Jason Tércio consegue aqui é revelar um Mário que ninguém jamais conseguiu apreender.

DICAS DE LEITURA

1. O coração das trevas. A obra de Joseph Conrad integra a lista dos gostos pessoais de importantes nomes da literatura; em Portugal, por exemplo, passou a circular entre um conjunto de obras eleitas as preferidas de António Lobo Antunes. Para ele, com este livro, o escritor alcança o panteão dos grandes de todos os tempos – “um altíssimo e terrível livro, cheio de portas por onde entrar e nenhuma para sair, onde se caminha, página a página, no interior de um nevoeiro deslumbrante, construído em torno de Kurtz, criatura que quase na aparece e pouco fala e, no entanto, é o eixo em torno do qual toda a narrativa gira”, escreveu no prefácio à edição portuguesa. Este livro está no radar das editoras brasileiras e, curiosamente, acumulam-se novas edições e traduções. Com essa variedade fica a dúvida ao leitor que ainda desconhece a obra; então, qual a melhor?

1.1. Para quem busca economia tem as seguintes opções: a tradução de Albino Poli Jr. da L&PM Pocket; a tradução de José Roberto O’shea da editora Hedra, quem preferiu o título No coração das trevas; a edição bilíngue e traduzida por Fabio Cyrino publicada pela Landmark; a tradução de Marcos Santarrita editada pela Nova Fronteira; ou a tradução sempre citada de Sergio Flaksman da Companhia das Letras. Em relação às edições anteriores, esta tem um rico posfácio do historiador Luiz Felipe Alencastro.

1.2. A editora recém-criada Antofágica publica uma nova tradução da novela realizada por José Rubens Siqueira; em padrão semi-luxo, o livro em capa dura foi ilustrado pelo artista plástico Cláudio Dantas e traz dois textos extras, um de Ana Maria Bahiana e outro de Christian Dunker. É uma edição para gostos medianos.

1.3. Para os mais sofisticados, a dica são as edições realizadas pela Ubu Editora. Sim, as edições. A casa editorial preparou uma tiragem mais comercial, também em capa dura, que acrescenta à nova tradução de Paulo Schiller um conjunto de ilustrações da artista plástica Rosângela Rennó. Esse trabalho reconstrói uma experiência estética com a narrativa. A obra reúne uma leva de textos que sublinham seu valor: Bernardo Carvalho escreveu posfácio inédito e se traduziu o célebre ensaio de Virginia Woolf. E, se isso ainda for insuficiente, a obra tem textos críticos de Walnice Nogueira Galvão e Paulo Mendes Campos. A segunda edição da Ubu tem uma tiragem limitada a 200 exemplares e leva ao extremo a experiência de leitura da obra transformando-a em objeto interativo.

BAÚ DE LETRAS

E, por falar sobre O coração das trevas na seção anterior, lembramos que o blog tem publicado uma sequência de textos sobre a obra-prima de Joseph Conrad. Do início do ano até agora, saiu a tradução para dois textos: no primeiro, Antonio Muñoz Molina reflete sobre a potência vanguardista e sempre atual dessa novela. No segundo, Manuel Vicente reconstrói a biografia do escritor para observar sua relação com o mar transformada em espécie de moral para sua literatura.


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