Boletim Letras 360º #330
Durante a semana, a partir da edição 329 deste Boletim, recebemos inscrições para uma promoção que enviará a um leitor dois títulos dos seis indicados entre os destaques das publicações no mercado editorial brasileiro do primeiro semestre de 2019. Ficamos de anunciar o ganhador nesta postagem. Ontem, depois do encerramento das inscrições, às 22h, pedimos em nossa página no Instagram e Facebook a recomendação de um número entre 1 e 242, intervalo que assinala a sequência da quantidade de inscritos. Recebemos até às 10h de hoje 25 palpites, dos quais 6 para o número 13. E o número 13 na ordem de inscrições é o de Amanda Maria da Silva Carvalho, de Cocal, Piauí. Parabéns à ganhadora e desejamos ótimas leituras! A todos que contribuíram para a realização da promoção ficam nossos agradecimentos e o aviso que, para breve, virão outros momentos do tipo. A seguir as notícias que circularam durante a semana em nossa página no Facebook e outras dicas de leitura.
Revelada uma série de títulos da biblioteca pessoal de Fernando Pessoa que havia ficado fora da última catalogação realizada. |
Segunda-feira,
01 de julho
O último
livro de Euclides da Cunha em edição completa
Ao se pensar
em Euclides da Cunha, boa parte — senão todas — as mentes se direcionarão de
forma automática a seu grande sucesso Os sertões. Se a obra é
meritória por sua grandeza, não se pode deixá-la “eclipsar” suas demais
produções. Para iluminar este caminho, a Editora Unesp lança numa edição
cuidadosa e completa o último livro organizado por Euclides da Cunha: À
margem da história, publicado postumamente em 1909.
Reedição de
clássica leitura de Os sertões, de Euclides da Cunha pela fotografia
“Um mundo
real e mítico, onde homem e natureza se confundem num único ímpeto gerador.” É
dessa forma que Maureen Bisilliat (1931) descreve os lugares que registrou em Sertões: luz & trevas. Publicado em 1982, o livro ganha agora uma nova
edição, organizada pelo Instituto Moreira Salles. A publicação combina trechos
do clássico Os sertões, de Euclides da Cunha, com fotos que Bisilliat
produziu entre 1967 e 1972 no Nordeste brasileiro. Na obra, imagens de cenários
e, principalmente, personagens do sertão dialogam com as palavras do escritor
responsável pelo principal relato sobre a guerra de Canudos, um dos conflitos
mais violentos do Brasil oitocentista. A versão lançada pelo IMS conta com dois
novos posfácios escritos por Miguel Del Castillo, curador da Biblioteca de
Fotografia do IMS Paulista e da exposição Fotografia e literatura nos livros de
Maureen Bisilliat, e por Walnice Nogueira Galvão, professora emérita aposentada
da USP, uma das principais estudiosas da obra de Euclides da Cunha.
Terça-feira,
02 de julho
Uma edição
de luxo para as aventuras de Bilbo Bolseiro
Lançado em
1937, O Hobbit é um divisor de águas na literatura fantástica
mundial. Mais de 80 anos após a sua publicação, o livro que antecede os
ocorridos em O Senhor dos Anéis continua arrebatando fãs de todas
as idades, talvez pelo seu tom brincalhão com uma pitada de magia élfica, ou
talvez porque J.R.R. Tolkien tenha escrito o melhor livro infanto-juvenil de
todos os tempos. Bilbo Bolseiro era um dos mais respeitáveis hobbits de
todo o Condado até que, um dia, o mago Gandalf bate à sua porta. A partir de
então, toda sua vida pacata e campestre soprando anéis de fumaça com seu belo cachimbo
começa a mudar. Ele é convocado a participar de uma aventura por ninguém menos
do que Thorin Escudo-de-Carvalho, um príncipe do poderoso povo dos Anãos. Essa
jornada fará Bilbo, Gandalf e 13 anãos atravessarem a Terra-média, passando por
inúmeros perigos, sejam eles, os imensos trols, as Montanhas Nevoentas
infestadas de gobelins ou a muito antiga e misteriosa Trevamata, até chegarem
(se conseguirem) na Montanha Solitária. Lá está um incalculável tesouro, mas há
um porém. Deitado em cima dele está Smaug, o Dourado, um dragão malicioso
que... bem, você terá que ler e descobrir. Ao lado da nova edição brasileira,
que traz o mesmo projeto gráfico da edição inglesa, é apresentada pela Harper
Collins Brasil uma edição com um toque a mais: uma tiragem especial de luxo. O
projeto feito em parceria com a Nerd Store tem capa em tecido e uma variedade
detalhes escondidos numa sobrecapa que vira pôster.
Grande sertão: veredas será publicado, no outono, em Portugal
O projeto é
da filial Companhia
das Letras Portugal e segue o modelo brasileiro com capa resultada da
adaptação do avesso de um bordado do manto do artista Arthur Bispo do Rosário.
Publicado originalmente em 1956, o romance que revolucionou as literaturas de
língua portuguesa continua, depois de sua reedição por aqui, entre os títulos
mais vendidos na categoria ficção.
Quarta-feira,
03 de julho
Reedição
de antologia com artigos, prefácios e textos de Walnice Nogueira Galvão
publicados na imprensa, explorando diversos aspectos da vida e da obra do
genial criador de Os sertões.
Na
apresentação de Euclidiana, Walnice Nogueira Galvão conta que, após
defender sua tese de doutorado sobre Grande sertão: veredas, concluiu que
Euclides da Cunha, espécie de precursor da paixão pela natureza de Guimarães
Rosa, constituía uma vereda de estudos altamente valiosa, a ser investigada com
atenção. Seguiram-se, desde então, décadas de amorosa pesquisa acerca do
escritor de Os sertões. Privilegiando Os sertões e seu
entorno imediato — as leituras que influenciaram sua escrita, as pesquisas que
embasaram a edição crítica do livro, as narrativas paralelas da Guerra de
Canudos —, a autora tem se dedicado a explorar facetas pouco conhecidas do
escritor, em especial suas carreiras paralelas de engenheiro, militar e
jornalista. As frustradas incursões no magistério, as disciplinas científicas
da Escola Militar e o ambiente republicano e abolicionista dos círculos
políticos frequentados por Euclides no Rio de Janeiro também recebem atenção
especial. Num dos pontos altos do livro, o capítulo que compara Euclides da
Cunha a T. H. Lawrence e Joseph Conrad, a autora aponta para toda uma nova e
promissora vertente comparatista. Organizado em quatro núcleos temáticos,
Euclidiana reúne alguns dos pontos altos da produção de uma das mais eminentes
críticas literárias do país.
Quinta-feira, 04 de julho
Leilão
revela obras desconhecidas que pertenceram a Fernando Pessoa
Em junho de
2019 decorreu em Lisboa um leilão que incluía várias peças do poeta português,
como três primeiras edições de Mensagem, a única obra que publicou em vida. A
mais rara das três era uma que foi mandada encadernar pelo próprio Pessoa para
oferecer a um familiar. Mas, a joia do leilão foi um conjunto de obras que
faziam parte da biblioteca particular do poeta. Estas estavam em sua casa
em Campo de Ourique quando morreu a 30 de novembro de 1935, tendo passado
depois para a família. São obras como The Encyclopedia of Wit ou How to Read
Character in Features, Forms, & Faces: a guide to the general outlines of
physiognomy, de Henry Frith. O primeiro trata-se de um livro de anedotas,
editado em Londres em 1804, que tem a particularidade de ter uma dedicatória
para Álvaro de Campos do “seu amigo Alberto”, datada do final de 1923. O
segundo, publicado também em Londres em 1891, é um dos vários volumes de
Fernando Pessoa dedicados ao estudo da fisionomia. O poeta tinha particular
interesse pelo estudo dos narizes e chegou até a idealizar uma obra sobre como
interpretá-los. Em How to Read Character in Features, cujo capítulo VIII era
dedicado apenas ao nariz, deixou várias notas, a tinta, sobre o tema. Dos
exemplares em português, destaca-se uma edição de 1930 de Canções, de António
Botto, numerada e assinada pelo autor, mas sobretudo os cinco números da Athena. Revista de Arte, que pertenceram ao poeta e que a leiloeira descreveu
como o seu “exemplar de trabalho”. Dirigida por Fernando Pessoa e Roy Vaz e
publicada entre outubro de 1924 e fevereiro de 1925, a Athena contou com a
colaboração de autores como José de Almada Negreiros, Luís de Montalvor ou
Mário Saa. O exemplar levado a leilão é particularmente importante para o
estudo da obra de Ricardo Reis, que fez a sua estreia no número 1 da revista
com um conjunto de 20 odes (escritas entre 1923 e 1924). Pessoa alterou
posteriormente algumas dessas odes nas páginas desta Athena, que tinha em sua
casa. O Estado português ficou com 14 dos lotes levados a leilão. A biblioteca
pessoal do poeta fora catalogada entre 2008 e 2010 no âmbito de uma colaboração
entre a Casa Fernando Pessoa e a Universidade de Lisboa, mas esses registros
são todos inéditos. (Via: Observador)
Sexta-feira,
05 de julho
Uma edição
especial para Ensaio sobre a cegueira, de José Saramago
Em parceria
com a Companhia
das Letras, o clube de leitura TAG aproveita a ocasião de antecipação do
romance de José Luís Peixoto que tem o escritor Prêmio Nobel de Literatura como
protagonista e edita uma tiragem especial de Ensaio sobre a
cegueira. O romance-parábola é uma leitura autêntica do autor que nos faz
lembrar “a responsabilidade de ter olhos quando os outros os
perderam”. José Saramago nos dá, aqui, uma imagem aterradora e comovente
de tempos sombrios, à beira de um novo milênio, impondo-se à companhia dos
maiores visionários modernos, como Franz Kafka e Elias Canetti. Já o livro de
José Luís Peixoto, Autografia, deve sair em breve no Brasil; a
edição pelo clube, para assinantes, foi despachada no mês de junho.
Exposição
apresenta elementos importantes do acervo do crítico literário Antonio Candido
A exposição
Antonio Candido em Poços de Caldas apresenta parte do acervo
pessoal recentemente doada pela família ao Instituto de Estudos Brasileiros da
Universidade de São Paulo (IEB-USP). São fotografias que revelam um pouco de
sua relação com a cidade – onde viveu de 1930 a 1936, por conta das atividades
profissionais do pai, e onde manteve a casa da família, até 1989, e
uma profunda ligação afetiva por toda a vida – em três momentos: a
infância, a juventude e a vida madura. Completam a exposição documentos de
antepassados e de amigos – ofícios do serviço de águas termais, cartas e
postais – além de algumas primeiras edições de seus livros, como
Parceiros do Rio Bonito e Formação da Literatura
Brasileira. A mostra é uma pequena parte do que é possível encontrar no
acervo ainda em fase de tratamento e que será aberto à consulta pública em
breve. A curadoria é de Laura Escorel. Aberta ao público no dia 6 de julho de
2019, a mostra realizada na filial do IMS
Poços, seguirá até 1º de março de 2020. Informações aqui.
DICAS DE
LEITURA
1. As
lembranças do porvir, de Elena Garro. Nas dicas para presentes de fim de
ano em 2018 de nossa conta no Instagram já havíamos recomendado o livro da
escritora mexicana; depois, apareceu na lista do Letras para os melhores
livros publicados naquele ano na categoria prosa. Logo, a recomendação nesta
seção é apenas um reiterativo para que conheçam este romance. Situado num
contexto extremamente traumático da história do México, um conjunto de vozes se
revezam para contar a história das famílias que vivem / viveram / viverão no
povoado de Ixtepec. Aqui se reanima vivências a partir de núcleos marcados
por fabulosas e destemidas figuras femininas que lidam contra uma sorte de
desmandos: do poder e dos maridos. A maneira como tais lutas são engendradas
pelas vozes narrativas é grandiosa; não faltará ao leitor emoção e reencontros
com situações que muito lembram os cotidianos de qualquer parte marcados pela
opressão, pelo ciúme, pela gana de mandar e pela sede de violência. É um dos
grandes feitos editoriais recentes no Brasil porque, além de tudo, a obra de
Garro – até então totalmente desconhecida entre nós, se revela como a
verdadeira precursora das principais características que formariam todo um
período de grandiosa riqueza para a literatura latino-americana. Reaviva-se,
assim, um brilho que o grupo do Boom, eminentemente machista, quis apagar. A
edição é da Arte e Letra.
2. O
poeta de Pondichéry, de Adília Lopes. Este é o segundo título da obra
da poeta portuguesa que começou a ser editada no Brasil pela Editora Moinhos e
é um dos livros que tem sido, no conjunto da sua obra, um dos mais traduzidos e
estudados, em Portugal e no estrangeiro. Em Jacques o fatalista, de
Denis Diderot, é contada a história do mau poeta que o narrador aconselha ir
para Pondichéry, lugar situado na costa oriental da Índia, para tentar
sua vida com um negócio de joalheria; a recomendação tem um motivo, se a personagem
não conseguisse escrever bons versos (como, de fato, não conseguiu) ao menos
estaria melhor posicionado na vida pelo conforto oferecido pela riqueza. Numa
dúzia de poemas, Adília Lopes glosa as venturas e desventuras desta figura, da
qual sabe da sua existência real com o nome de Viguier. É, certamente, um dos
exercícios poéticos mais interessantes da poeta portuguesa.
3. Três
contos, de Gustave Flaubert. Como ressalta a Editora 34, que reeditou a
antologia antes apresentada pela extinta Cosac Naify, aqui estão alguns dos
pontos mais altos da literatura francesa.
Ao retornar a temas, figuras e paisagens que o acompanhavam desde a
juventude, o autor de Madame Bovary destilou uma suma de sua obra nas
breves páginas deste último livro que chegou a completar. Seja narrando o meio
século de servidão de uma criada em “Um coração simples”, seja desdobrando a
tapeçaria alucinada da “Legenda de São Julião Hospitaleiro” ou ainda
reinventando um episódio bíblico em “Herodíade”, Flaubert levou a arte da
ficção a territórios ainda pouco explorados. Seu contemporâneo Henry James não
tardou a ver “um elemento de perfeição” neste livro de 1877; e o próprio
Flaubert, a meio caminho de sua redação, confidenciou numa carta: “Tenho a
impressão de que a Prosa francesa pode chegar a uma beleza de que mal se faz
ideia”.
VÍDEOS
VERSOS E OUTRAS PROSAS
1. Uma das
novidades editoriais apresentadas em destaque entre os seis títulos escolhidos
pelo blog Letras in.verso e re.verso na edição n.329 do Boletim Letras 360º é a
antologia preparada por Maurício Santana Dias Mil sóis com poemas de
Primo Levi. No início do mês de junho o blog da revista 7faces publicou três poemas apresentados nessa edição. No próximo 31 de julho passam-se 100
anos do nascimento do escritor italiano; sobrevivente de Auschwitz toda sua obra
decorre dessa condição.
2. E, por
falar em aniversários, no último 2 de julho passaram-se os 96 anos de Wislawa
Szymborksa, poeta que recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 1996 e se tornou,
entre os leitores brasileiros, nos últimos anos, leitura preterida. Na galeria
de vídeos do Letras no Facebook, apresentamos um vídeo em que a poeta polonesa recita “Um amor feliz”. O poema serve de título para a segunda antologia publicada
no Brasil em 2016 pela Companhia das Letras. Szymborska morreu em 1º de fevereiro
de 2012.
BAÚ DE
LETRAS
No dia 5 de julho
foi aniversário de Mia Couto. Neste link, o leitor encontrará um conjunto de
postagens sobre o escritor moçambicano e sua obra: destaca-se a série de
anotações para a leitura conto a conto de O fio das missangas; resenhas para
títulos como Cada homem é uma raça e A confissão da leoa; e
informações biobibliográficas.
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* Todas as informações sobre lançamentos de livros aqui divulgadas são as oferecidas pelas editoras na abertura das pré-vendas e o conteúdo, portanto, de responsabilidades das referidas casas.
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