Boletim Letras 360º #328
Esta a edição, para quem ainda não conhece ou chega pela primeira vez ao blog, reúne todas as informações copiadas em nossa página no Facebook de segunda à sexta-feira. O Boletim Letras 360º foi criado desde quando os algoritmos daquela rede social passaram a limitar progressivamente o acesso dos amigos / seguidores. Desde o início deste ano, fizemos alterações no conteúdo e passamos a oferecer, além da reunião desse material circunscrito no arco de interesses editoriais deste blog, outros trabalhos, como uma pequena lista com recomendação de leituras e dicas de materiais externos e internos ao Letras. Boas leituras!
Willa Cather. Obra resgata escritora no Brasil e assinala a entrada no mercado editoral de nova editora. Mais detalhes ao longo deste Boletim. |
Segunda-feira,
17 de junho
Escrito há
50 anos, marco na literatura de
fantasia e ficção científica ganha edição comemorativa.
Enviado em
uma missão intergaláctica, Genly Ai, um humano, tem como missão persuadir os
governantes do planeta Gethen a se unirem a uma comunidade universal.
Entretanto, Genly, mesmo depois de anos de estudo, percebe-se despreparado para
a situação que lhe aguardava. Ao entrar em contato com uma cultura complexa,
rica, quase medieval e com outra abordagem na relação entre os gêneros,
Genly perde o controle da situação. É humano demais, e, se não conseguir
repensar suas concepções de feminino e masculino, correrá o risco de destruir
tanto a missão quanto a si mesmo. Em capa dura, com pintura inédita de Marcela
Cantuária e prefácio de Neil Gaiman, esta edição da Editora Aleph celebra o aniversário desta
obra magistral. A mão esquerda da escuridão, de Ursula K. Le Guin, propõe ricas discussões sobre
assuntos polêmicos e atemporais ― gênero, feminismo, alteridade, filosofia e
antropologia ―, sendo considerado pela crítica especializada não só um dos mais
importantes livros de ficção científica já escritos como também uma verdadeira
obra-prima da literatura moderna.
O romance de
estreia de Ricardo da Costa Aguiar
O que pode
ligar um jesuíta do século XVII a um jovem diplomata dos nossos dias? Muita
coisa, sobretudo se o funcionário for descendente do padre. Das terras bárbaras
conta o sofrimento do jesuíta Diogo Vaz de Aguiar, seus percalços e deleites no
Novo Mundo. Entre seus fabulosos personagens, há vários históricos, e as
pessoas verídicas daquele tempo emprestam realismo a uma narrativa de muitas
guinadas. Das terras bárbaras não é apenas repleto de surpresas,
mas tem cheiro, gosto, cores e sons do Brasil seiscentista, do Portugal
barroco, da África colonial, da São Paulo metrópole, da Lisboa moderna e até de
Brasília. É um romance sobre arrebatamentos e temores de todos os tamanhos. O
livro sai pela Editora Tordesilhas.
O
filho do homem, de François Mauriac, próximo título da Coleção Clássicos
de Ouro
Em 1952, o
Prêmio Nobel de Literatura foi concedido a François Mauriac pela “intensidade
artística com que, em seus romances, ele penetrou o drama da vida humana”. De
fato, cada frase sua é capaz de levar o homem ao encontro de seus anseios e
suas fraquezas mais profundos ― em poucas palavras, ao que ele possui de mais
universal. A leitura de O filho do homem torna evidente por que
Mauriac conquistou não somente o Prêmio Nobel, mas também um lugar certo no rol
dos maiores escritores do século XX. Tanto seu discernimento espiritual quanto
a intensidade de sua escrita resultam, não há dúvidas, do princípio
contemplativo com que se relacionava com a figura de Jesus Cristo ― uma relação
que, nestas páginas, transborda em algumas das mais belas linhas da literatura
mundial. Conduzidos pelas palavras de Mauriac, observamos a vida de Cristo como
se a testemunhássemos, o que inviabiliza uma postura indiferente diante do
convite de identificar, com a d’Ele, a nossa própria vida.
Novo livro
de Bernardo Kucinski toca em questões como a banalidade do mal no Brasil
contemporâneo
Assim como
na sua obra maior K, B. Kucinski poderia iniciar A nova ordem repetindo
“tudo neste livro é invenção, mas quase tudo aconteceu” ou “está acontecendo”.
A narrativa aterradora e envolvente sobre a “nova ordem” no Brasil da ficção
nos lembra aquilo que Hanna Arendt nomeou de “banalidade do mal” referindo-se
aos criminosos nazistas e a seus crimes. A insanidade e o grau de desumanização
daqueles que comandam a “nova ordem” é de tal magnitude que a sociedade
anestesiada não consegue acreditar no que vê e, da mesma forma, não sabe como
reagir. O inimigo principal são os “utopistas” e todos portadores de pensamento
crítico. Como o tamanho do “mercado” interno necessário é de 30 milhões de
famílias há de se reduzir o “excesso populacional”. Não interessa se constituem
um grupo humano de 90 milhões de pessoas. Busca-se, então, a forma mais
eficiente de livrar-se deles ao menor custo e no prazo mais curto. Os
principais personagens da narrativa são figuras patéticas. Dois são
especialmente representativos da “nova ordem”: o capitão médico psiquiatra
Ariovaldo que conquista fama internacional por suas descobertas e práticas de
controle humano através de chip obrigatoriamente instalado nos cérebros da
população e o ex-engenheiro Angelino tornado catador de rua, que tem flashes de
lucidez diante da monstruosidade vigente. Ao que parece a “nova ordem” entra em
colapso por suas próprias loucuras. Em algum momento constata-se que as pessoas
haviam deixado de sonhar. E sem sonho, não há como sobreviver. Nem mesmo na
“nova ordem”. O livro sai pela Alameda
Editorial.
Terça-feira,
18 de junho
Clássico da
literatura holandesa chega ao Brasil pela primeira vez
“Sou
corretor de café e moro na Lauriergracht, no 37.” Com essa frase de
abertura tanto prosaica quanto memorável começa o maior clássico da literatura
holandesa, publicado em 1860, explodindo como se fosse uma bomba dupla: como
uma obra-prima literária e um ato de acusação social. Definido como “o livro
que matou o colonialismo” e uma obra de devastadora modernidade, seja pela
refinada estrutura narrativa, seja pela força em denunciar crimes que
adornam a história do imperialismo ocidental. Não é à toa que quando foi
publicado, Max Havelaar (1860) tenha causado um terremoto político e literário,
sendo considerado até hoje o principal romance da história da Holanda. Usando o
pseudônimo de Multatuli, Eduard Douwes Dekker, um ex-assistente-residente
(cargo semelhante ao de vice-governador), denuncia a corrupção e o massacre
praticados pelo governo holandês nas então Índias Holandesas, atual Indonésia.
Mas não o faz de maneira simples. Batavus Droogstoppel, mercenário corretor de
café, recebe uma caixa cheia de manuscritos de um conhecido seu, Max Havelaar,
e pega um deles para ler, onde Havelaar conta suas experiências como
ex-assistente-residente, lutando contra um sistema político corrompido.
Misturando diversos gêneros literários — peça de teatro, poemas, cartas,
listas, parábolas, contos, notas, documentos — de forma extremamente inovadora
e moderna, Max Havelaar sempre é comparado a Dom Quixote e Tristram Shandy.
Segundo o crítico Otto Maria Carpeaux, cujo prefácio consta nesta edição, “o livro ocupa na literatura universal lugar de grande importância”.
Max Havelaar provocou intensas reformas na política holandesa — “é o livro
que matou o colonialismo”, segundo o escritor indonésio Pramoedya Ananta
Toer, além de ter virado sinônimo de comércio justo — e foi estudado por
intelectuais de diversas áreas, como Freud, Lênin, Mahler, Hermann Hesse.
Traduzido para mais de quarenta línguas, Daniel Dago traz à luz a primeira
tradução direta de Max Havelaar em português; o livro sai pela Editora
Âyiné.
A vida
é boooa, de Remco Campert
Em A vida é
boooa, acompanhamos dois amigos, Mees, um pianista de jazz, e Boelie, um
escritor, e o encontro de ambos com Panda, uma garota mais nova. No decorrer de
um único dia, os três frequentam um parque, uma festa, transam, usam drogas,
dividem seus medos, alegrias, impressões artísticas e políticas. Clássico da
literatura holandesa, cheio de humor e invenções linguísticas, A vida é boooa mantém o frescor de quando foi originalmente publicado, em 1961, ao
dissecar a juventude holandesa do pós-guerra. Remco Campert (1929) é poeta,
romancista e colunista. Ganhador de dezenas de prêmios, entre eles o P.C. Hooft
e o Prijs der Nederlandse Letteren, dois dos mais importantes da Holanda,
Campert já foi traduzido para mais de dez línguas e é considerado um dos
grandes escritores holandeses das últimas décadas. O romance teve adaptação
para o cinema em 2018. A tradução é de Daniel Dago, capa de Hallina Beltrão;
publicado pela Martelo Casa Editorial, o livro tem posfácio
de Flávio Carneiro.
Uma
seleção de poemas de Primo Levi no ano de seu centenário
Com uma
poesia bissexta, escrita em períodos fervorosos de criatividade, a lírica de
Primo Levi atravessou diversas fases. Em todas, temas como a sobrevivência em meio
às catástrofes e a desumanização se unem a um registro delicado que parece
buscar a claridade, a comunhão e o amor por todos os seres vivos. Nesta
antologia, preparada por Maurício Santana Dias e publicada como Mil sóis, o leitor brasileiro conhecerá a
poesia de um escritor que transformou o compromisso moral em alta literatura, e
a força da memória, num verdadeiro ofício. de A tradução também de Mauricio Santana
Dias sai pela Todavia.
Nova
edição de um clássico do romance naturalista que é um retrato poderoso do
Brasil do século XIX e se tornou uma referência da nossa melhor literatura
Amaro é um
escravo foragido que, ingressando na Marinha, vê realizar-se seu sonho de
liberdade. Graças ao biótipo sólido e sua quase inesgotável força física,
torna-se um marujo voluntarioso e benevolente, recebendo o apelido de Bom
Crioulo. É nessa nova etapa da vida que conhece Aleixo. Surge então uma
história de desejo, frustração e tragédia. A publicação causou polêmica ao
mostrar seus protagonistas — um negro e um branco — em uma relação homossexual.
A nova edição de Bom Crioulo, de Adolfo Caminha, é da Todavia.
Ao mesmo
tempo desprovido de artifícios e literário ao extremo, este romance inaugura
uma trilogia que transformou a literatura contemporânea.
Quando
Esboço, de Rachel Cusk foi publicado originalmente, em 2014, um pequeno furor tomou
conta do mundo literário. Como era possível uma trama tão simples e uma escrita
tão desprovida de artifícios produzir um efeito tão poderoso? Uma escritora vai
a Atenas, num verão particularmente quente, para ministrar um curso de criação
literária. Ela propõe aos alunos exercícios de narrativa. Ela vai a
restaurantes com amigos. Ela sai para um passeio de barco com um grego que
encontra no avião. As pessoas a seu redor falam livremente sobre suas
fantasias, ansiedades, teorias, arrependimentos e desejos. A vida familiar
ocupa o centro das conversas: relacionamentos interrompidos, casamentos
frustrados, os dilemas da maternidade, as encruzilhadas profissionais à medida
que a idade avança. Esboço é o primeiro de livro de uma trilogia magistral — os
seguintes são Trânsito e Kudos —, a ser lembrada como uma das grandes
conquistas literárias do nosso tempo. Traduzido por Fernanda Abreu, o livro sai
pela Todavia.
Um thriller sombrio e surpreendente escrito por uma das maiores autoras
coreanas da atualidade.
Jovem
nadador com um futuro brilhante, Yu-jin vê sua carreira ser interrompida pela
epilepsia. Os remédios que previnem seus ataques acabam por cobrar um preço
alto, e o sonho de ser um esportista é sepultado para sempre. Isso não o impede
de sair escondido todas as noites para correr, contrariando sua mãe. Para ele,
os riscos à saúde não se comparam aos prazeres da velocidade e da força. Numa
manhã qualquer, Yu-jin desperta sentindo cheiro de sangue. Tudo indica que
tenha sofrido um ataque epiléptico à noite, mas, ao percorrer o apartamento,
encontra o corpo da mãe ao pé da escada. Aos poucos, sua memória vai voltando,
e ele tem a lembrança de tê-la ouvido chamar seu nome. Não está certo, no
entanto, se ela pedia ajuda ou se tentava salvar a própria vida. Começa assim a
busca desesperada do protagonista para esclarecer o que ocorreu na noite
anterior. Juntando algumas poucas pistas, Yu-jin tentará montar o quebra-cabeça
e descobrir o assassino. Conforme prossegue na investigação, procurará na
própria memória as explicações para o crime, mas o passado esconde armadilhas
mais tenebrosas do que ele pode prever. O bom filho, fenômeno literário que
rendeu a You-jeong Jeong o apelido de “Stephen King coreana”, é um thriller
psicológico e um mergulho no que há de mais sombrio na alma humana. A cada
resposta abrem-se mais perguntas. Neste romance perturbador e surpreendente o
terror se esconde onde menos se espera. A tradução de Jae Hyung Woo sai
pela Todavia.
Não,
não é bem isso é o novo livro de Reginaldo Pujol Filho
Neste
conjunto de experiências narrativas, Reginaldo parece querer começar do zero
após cada ponto final. E, diante de um mundo onde dizem que tudo já foi dito,
já foi tentado, a cada novo texto, segue a busca por uma forma diferente. O
resultado é uma diversidade de formatos e estilos, que vão desde uma narradora
criança a uma página de Wikipédia, de um monólogo teatral a uma nova visão
sobre a arca de Noé, do humor à reflexão. Como um ator que se transfigura a
cada papel, Reginaldo muda de voz de uma narrativa para outra. Uma voz que já
não é feita só de palavras e frases, mas também da disposição delas na página e
da própria página. E, a cada tentativa, pensar que não, não é bem isso. Que é preciso
seguir escrevendo em busca de outra forma, de outra história, de outra voz. A
edição é da Dublinense.
Quarta-feira,
19 de junho
Com tradução
direta do russo feita por Rubens Figueiredo e posfácio de Henry James, nova
edição do clássico da literatura russa Pais e filhos chega ao Brasil.
Quando o
jovem estudante Arkádi Nikolaitch retorna para casa, está acompanhado de um
amigo e mentor, que causa imenso desgosto ao seu pai e seu tio. O companheiro,
Bazárov, despreza qualquer autoridade, é antissocial e se proclama niilista. O
conflito geracional que se segue é ímpar na literatura. Publicado em 1862,
Pais e filhos continua a refletir o confronto entre gerações e as
expectativas de um tempo anterior que se choca com as atitudes e os ideais dos
momentos seguintes, esquecendo-se da potência transformadora da juventude. Com
tradução direta do russo para o português, este clássico protagonizou uma das maiores
polêmicas da literatura russa: Ivan Turguêniev foi acusado de ser responsável
por atos criminosos cometidos por radicais influenciados por sua obra. De
acordo com Rubens Figueiredo, tradutor do romance, “é mais do que provável que
o leitor atual chegue ao fim de Pais e filhos sem um julgamento conclusivo não
só a respeito de Bazárov como também dos demais personagens. Mas sem dúvida
terá gravadas no pensamento figuras humanas sem nada de vago ou de nebuloso”.
Aqui, Turguêniev faz um sutil elogio à incerteza e não esquiva o leitor de se
posicionar, simultaneamente, como pai e filho diante dos problemas de nossa
época. O livro que sai pela Companhia
das Letrasha via sido publicado pela Cosac Naify.
Uma
nova edição revisita a biografia de Euclides da Cunha
Roberto
Ventura estava a ponto de terminar sua pesquisa sobre Euclides da Cunha quando
um acidente automobilístico lhe abreviou a vida, em agosto de 2002. Sua esposa,
Marcia Zoladz, e seu amigo Mario Cesar Carvalho localizaram no computador do
autor o arquivo que armazenava os originais de um trabalho em andamento,
nomeado Euclides da Cunha: uma biografia. Assim, os dois organizaram com o
geólogo e historiador José Carlos Barreto de Santana este volume a partir do
que encontraram: uma pesquisa ampla, inspirada e original sobre a vida de um
dos mais importantes escritores brasileiros. O caráter híbrido da produção de
Euclides ― uma obra que, para alcançar uma interpretação do Brasil,
equilibrava-se entre a literatura, a história e a ciência ― sempre interessou
Roberto. Nesta nova edição, feita dezessete anos depois da morte de Ventura,
inclui-se um texto encontrado posteriormente, parte de sua tese de
livre-docência, sobre a impossibilidade de relatar a barbárie da guerra.
Uma visita aos diários de Walt Whitman
Dias
exemplares, escrito por um dos nomes mais relevantes da literatura
estadunidense, o poeta e ensaísta Walt Whitman (1819-1892), é estruturado como
uma série de anotações de um diário, rascunhos, fragmentos e ensaios curtos
escritos pelo poeta sobretudo durante os anos da guerra civil americana, e
compilados por ele em livro em 1882. Como o próprio autor afirma, a Guerra de
Secessão (1861-1865) foi um dos maiores acontecimentos de seu tempo. A partir
de 1862, quando se envolveu no conflito, cuidando de doentes e feridos em
acampamentos e hospitais da região de Washington, Whitman começou a anotar
relatos, acontecimentos e experiências que vivia em pequenos cadernos, que
colecionou pelos anos seguintes. “Gostaria de poder transmitir ao leitor as
associações presas a esses fascículos enlameados e amassados, cada qual
composto de uma ou duas páginas, dobradas para caber no bolso e presos com um
alfinete. Eu os conservei do modo como os deixei depois da guerra, manchados
aqui e ali com mais de uma gota de sangue, escritos apressadamente, às vezes na
clínica, não raro em meio à agitação da incerteza ou da derrota ou da ação ou
em meio a preparativos para a mesma ou durante a marcha.” Em um segundo
momento, em uma “abrupta mudança de campo e atmosfera”, como descreve, o autor
se dedica a apontamentos sobre a natureza e o campo, escritos durante o período
em que se recuperava de um derrame, entre 1877 e 1881, e relatos de viagens
feitas posteriormente. Juntam-se a eles uma série de fragmentos e relatos
autobiográficos, textos sobre a origem de sua família, os cenários de sua
infância e juventude, comentários sobre sua formação literária e musical, os
locais que frequentava antes da guerra, o início da carreira – começou
trabalhando na gráfica de um jornal, depois virou editor de vários periódicos –
e, ao fim, as lembranças e comentários sobre outros autores, velhos amigos e
leituras. Com projeto gráfico de Thiago Lacaz e tradução de Bruno Gambarotto, o
livro sai pela Editora Carambaia.
Quinta-feira,
20 de junho
Após anos
fora das livrarias brasileiras, eis uma nova publicação deste grande clássico
da literatura angolana: Nós, os do Makulusu, de José Luandino
Vieira.
O romance
traz uma narrativa que, não se rendendo a qualquer simplismo, aposta numa
composição cuja complexidade é capaz também de sofisticar a compreensão não
apenas de determinado momento da história angolana, mas também de nossa
trajetória coletiva como seres humanos. O protagonista, Mais-Velho, se junta a
outras três personagens que cresceram juntas no Makulusu, bairro pobre de
Luanda: Maninho, Paizinho e Kibiaka. O enredo, ambientado em um momento agudo
da luta de libertação nacional, demonstra como a violência do colonialismo
obriga os companheiros de aventuras infantis a escolherem caminhos
inconciliáveis, alguns se envolvendo na luta armada e sendo presos, outros
omitindo-se ou atendo-se ao trabalho clandestino. A obra foi escrita em 1967,
quando o autor estava preso no Campo de Concentração do Tarrafal, na ilha de
Santiago, em Cabo Verde. Sem dúvidas, este clássico, classificado entre os
melhores romances do século XX nos rankings internacionais, é obra marcante da
literatura universal. O livro sai pela Editora
Kapulana.
A Editora
Nova Fronteira publica caixa com três romances considerados clássicos
da literatura gótica
O primeiro
deles é A volta do parafuso, de Henry James. No romance um homem
que se vê responsável pelos dois sobrinhos órfãos decide deixá-los sob os
cuidados de uma jovem governanta, com a condição de que, aconteça o que
acontecer, ela não o importune. É numa isolada casa de verão no condado de
Essex, na Inglaterra, que a preceptora conhece o menino Miles, recém-chegado do
internato para passar as férias escolares, e Flora, sua irmã mais nova. Mas não
é apenas com essas crianças estranhamente distantes, belas e silenciosas que a
jovem vai se defrontar: nos arredores da propriedade de janelas empoeiradas e
torres sombrias, duas figuras espreitam e se aproximam de Miles e Flora, querendo
dominá-los pela mente e pela alma. Com imenso pavor, a governanta percebe que o
mal que os cerca não assusta as crianças — pelo contrário, elas se deixam
atrair. Este romance de Henry James constrói uma narrativa de tirar o fôlego e
questiona os limites da realidade ao tratar das obsessões mais profundas do ser
humano. O segundo título da sequência “Clássicos do Gótico” é O
fantasma da ópera. Prestes a morrer, o pai da jovem Christine Daaé, um
músico famoso, promete à filha que um anjo da música vai protegê-la e guiá-la
até que se torne uma grande cantora. Criada nos bastidores da Ópera de Paris —
por onde correm histórias lendárias sobre um fantasma que aterroriza atores e
funcionários —, Christine de fato começa a ouvir uma voz que a ensina a cantar
como uma estrela. A temida figura, sombria e deformada, acaba se rendendo aos
encantos da jovem e nutrindo por ela uma intensa paixão. No entanto, quando
Raoul, Visconde de Chagny, aparece na ópera para assistir a uma performance
arrebatadora de sua amiga de infância, os sentimentos do fantasma se convertem
em ciúme, fúria e terror — e ninguém mais está a salvo nos labirínticos
corredores do teatro. Uma das histórias mais fantásticas de todos os tempos, O fantasma da ópera continua a arrepiar os leitores mais de um
século depois de seu lançamento, em uma narrativa cheia de mistério, desejo e
escuridão. E, por fim, A casa das sete torres. Numa cidadezinha dos
estados unidos está situada a velha casa da família Pyncheon, com sete torres
pontudas e, entre elas, uma chaminé. A mansão decrépita, porém, não foi
construída sobre bons alicerces: sob aquele chão, jaz a sepultura de uma alma
inquieta, que amaldiçoa e atormenta a vida dos moradores geração após geração.
A casa parece viva ao carregar o peso de assassinatos, injustiças e bruxarias.
Entretanto, quando Phoebe Pyncheon chega do interior para viver com os atuais
proprietários, traz consigo novos ares — e as culpas, então, podem ser
expiadas. Natanael Hawthorne narra em a casa das sete torres um intenso drama
familiar envolto em maldade, vingança e perdão ao inspirar-se em seus próprios
antepassados, que fizeram parte de uma Salém corrompida por orgulho e ganância
no período da caça às bruxas, no século XVII. Adaptada para o cinema e a TV, a
obra de Hawthorne é considerada um marco da literatura estadunidense, tendo
exercido forte influência sobre o trabalho de H.P. Lovecraft.
Sexta-feira,
21 de junho
Um
aplicativo para colocar o leitor próximo à ficção de Machado de Assis
Resultado do
projeto de pesquisa “Machado de Assis: novos modos de usar”,
contemplado com bolsa de produtividade em pesquisa. Foi submetido ao Conselho
Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento (CNPq) em 2015 por Marta de Senna, então
pesquisadora da Fundação Casa de Rui Barbosa (FCRB). Este é o mais recente
desdobramento de uma pesquisa bem mais ampla em torno da ficção de Machado de
Assis; a pesquisa teve início em 2005 (sempre com apoio do CNPq e da FCRB) e
seus resultados parciais foram sendo disponibilizados ao longo do tempo em sítio originalmente
desenvolvido por Eduardo Pinheiro, colega da FCRB, com webdesign de Cristina
Verdade. Apresenta-se, agora, um aplicativo, que deixará o usuário a par de
toda a ficção do escritor brasileiro (romances e contos), com ferramenta de busca
de palavras ou expressões. O objetivo principal é oferecer ao leitor machadiano
do século XXI a possibilidade de ter na palma da mão toda a ficção do autor,
com o bônus de poder localizar, com rapidez e segurança, passagens que lhe
sejam especialmente caras. O App gratuito intitula-se “Machado de Assis
ficção” e pode ser obtido na Play Store aqui.
Livro assinala
o retorno de Willa Cather às livrarias brasileiras
Dona de uma
percepção crítica que moldou a imagem do oeste estadunidense, Willa Cather
(1873-1947) é praticamente desconhecida entre o público brasileiro. Considerado
o “Madame Bovary estadunidense”, seu romance Uma mulher
perdida é um retrato do declínio do espírito do pioneiro estadunidense — “o fim de uma era”. Com uma prosa fina e econômica, Cather explora o
ocaso moral e social de Marian Forrester, esposa de um magnata da construção
ferroviária. A narrativa é apresentada da perspectiva de Niel Herbert, um jovem
que adora a sra. Forrester e a vê como a personificação da feminilidade. Com o
tempo, porém, ele descobre o que concebe como falhas na imagem perfeita que tem
de Marian e passa a questionar se admira a sra. Forrester pelo que ela de fato
é ou se o que adora é o retrato dela que ele próprio criou para si como
representação de um passado idealizado. A relação entre a mulher e as
convenções da época serve de ponto de partida para Willa Cather construir uma
crítica mordaz ao papel do casamento como instituição e ao choque de gerações.
Admirada por Sinclair Lewis, F. Scott Fitzgerald e Truman Capote e alçada ao
panteão do cânone americano por Harold Bloom, Willa Cather é uma das mais
notáveis escritoras americanas do início do século XX, figurando ao lado de
nomes como Edith Wharton, Ernest Hemingway e William Faulkner. Em uma época em
que não se discutia abertamente questões gênero, ousou frequentar a
universidade vestida como homem, usar cabelos curtos e se apresentar com o nome
de William. Embora breve, esse período de performance do gênero marcou de forma
definitiva a literatura que ela produziria mais tarde. Experimentou a linguagem
do romance, do conto e da poesia, colaborou em jornais e revistas importantes,
foi laureada com o Prêmio Pulitzer em 1923 e deixou um vasto acervo de
correspondências. Uma mulher perdida foi traduzido por Mauricio
Tamboni e marca a estreia da editora Ponto Edita. A edição tem apresentação Nicolas Neves,
professor de literatura e criador do canal Las hojas muertas y otras
hojas, posfácio de Mark Robison, especialista na obra de Cather, uma
seleção de ensaios da autora em tradução inédita, o discurso proferido pela
autora na cerimônia do Pulitzer, uma cronologia de vida e obra e uma a curiosa
troca de correspondências com F. Scott Fitzgerald.
DICAS DE
LEITURA
Esta semana passaram-se
os 180 anos do aniversário de Machado de Assis. O escritor brasileiro é, sem
dúvidas – e vigência de sua obra tantos séculos depois é só uma das
justificativas –, um dos mais importantes ficcionistas em língua portuguesa. É
possível que, entre os da literatura brasileira, seja ainda o mais lido ou pelo
menos o primeiro nome lembrando quando se pergunte, aleatoriamente, por um
escritor do nosso país. Isso reafirma sua grandiosidade, mas reforça também sua
popularidade. Daí que persistir no mito do escritor difícil que se formou em
torno de sua obra é um dos crassos erros. Machado de Assis precisa ser lido,
não temido. E, para assinalar as celebrações dessa data redonda, recomendamos
alguns títulos que levam em consideração o ponto alto de sua obra, mas também sua
pluralidade.
1. Contos.
Uma antologia. John Gledson é um renomado professor de estudos brasileiros na
Universidade de Liverpool e dentre os autores de sua predileção está Machado de
Assis sobre quem escreveu o importante Impostura e realismo, um refinado estudo
que mostra como a realidade social do Brasil do século XIX está representada em
Dom Casmurro, e o conjunto de ensaios Por um novo Machado de Assis. Os dois
livros estão há muito fora de catálogo, mas o leitor encontra entre os
livreiros e sebistas. A antologia aqui recomendada também está há muito fora de
circulação sobretudo se considerarmos o formato original: os dois volumes
vinham acondicionados numa caixa e agora muito dos exemplares disponíveis são vendidos
separadamente. Mas, não são difíceis de encontrar. É possível que nunca a
Companhia das Letras volte ao projeto original porque a publicação mais tarde
de parte deste material na Coleção Listras terá sido mais cômoda e mais
acessível aos consumidores. De toda maneira, faria muito o gosto dos leitores
mais exigentes, se pudéssemos voltar a encontrar esses contos no projeto de
1998. Editados nos 150 anos de Machado de Assis os dois volumes reúnem 75
contos tomados sempre o da última edição revisada pelo autor – quer se trate
das coletâneas lançadas durante a vida de Machado, quer se trate do texto que
saiu no jornal ou na revista em que os contos foram publicados pela primeira
vez. E, além dos contos mais famosos, a edição contém três histórias
que não haviam sido publicadas em sua íntegra desde o século XIX.
2. Dom Casmurro.
Talvez este seja o livro de Machado de Assis entre os mais lembrados. Definido pela
crítica especializada na sua obra como um dos melhores e mais perfeitos romances,
diríamos que este título é parte fundamental (ou pelo menos devia ser) na
formação de qualquer leitor brasileiro. Publicado em 1899, Dom Casmurro é uma
acurada investigação sobre o ciúme. Quem já leu (e mesmo que não leu, mas mantém
algum contato com universo literário) jamais esquecerá de um dos impasses mais
famosos da literatura: a traição ou não de Capitu, a olhos de ressaca. Nas livrarias,
o leitor encontra uma variedade considerável de edições, das mais sofisticadas
(embora não circule mais a luxuosa edição preparada pela Carambaia), às mais
simples. Dessas várias edições, gostamos da editada pela Penguin / Companhia
das Letras que traz o texto estabelecido por Manoel M. Santiago-Almeida e uma
introdução escrita por Luís Augusto Fischer.
3. Memórias
póstumas de Brás Cubas. Este romance é considerado um divisor de águas da sua
obra e da literatura brasileira: ao mesmo tempo em que marca a fase mais madura
do autor, é uma transição do romantismo para o realismo. Narrado de maneira
subversiva, por um defunto narrador, a narrativa é um misto de elegância e
ironia e sobre a vida deste homem que é, da raça dos interesseiros, a um só tempo,
signo do auge e da derrocada de certa burguesia carioca. O livro de Machado de
Assis já mereceu releituras diversas, dentro e fora do Brasil, pelo cinema,
pelo teatro, pelas HQs etc. E as edições são bastante variadas – para variado
gosto dos leitores. Agora mesmo, por exemplo, a jovem editora Antofágica
publica um projeto editorial que circulou entre pouquíssimos leitores no
passado com as raras – e já clássicas – ilustrações de Candido Portinari. Entre
as edições mais acessíveis, recomendamos a editada pela Penguin / Companhia das
Letras. É uma edição que reproduz o prólogo do próprio autor à terceira edição
do livro, em que ele responde às dúvidas dos primeiros leitores, e tem prefácio
de Hélio de Seixas Guimarães, notas e estabelecimento do texto por Marta de
Senna.
4. Crônicas
escolhidas. Ainda continuaríamos a recomendar os romances; pelo menos mais
dois: Esaú e Jacó e Quincas Borba. Mas voltemos ao trabalho de John Gledson, a
fim de oferecer ao leitor um contato mais amplo com as diversas facetas de
Machado de Assis. Foi nas crônicas que o escritor ainda um homem desconhecido
se revela. Machado foi um retratista do Rio de Janeiro e do Brasil de entre 1859
e 1900: a abolição, a proclamação da república, a guerra de Canudos, tudo passa
da pena do escritor para as páginas da imprensa carioca. Essa antologia aqui recomendada
foi publicada pela Penguin / Companhia das Letras. Gledson fez uma inteligente varredura
nos arquivos de jornais do século XIX e daí selecionou cinquenta textos que
datam do período da maturidade do escritor. O livro tem introdução e
comentários do antologista.
5. A poesia
completa. Os leitores mais exigentes sempre deitam um olhar de soslaio para a
produção poética de Machado de Assis e, considera tão somente isso: uma
produção. Mas, o caso é que o escritor se dedicou ao ofício do verso durante
toda sua vida; sua estreia na literatura, aliás, se deu pela poesia. Em 2008,
no ano do centenário de morte de Machado, a Editora Record publicou uma
antologia organizada por Cláudio Murilo Leal que reunia, pela primeira vez, toda
obra poética do Bruxo de Cosme Velho. Mais tarde, uma edição mais completa,
organizada por Rutzkaya Queiroz dos Reis sai pela Editora da USP. É a antologia
que recomendamos; nela se apresentam notas de esclarecimentos, tanto das
origens e publicação, quanto de problemas de linguagem, cortes, modificações e
dúvidas. A reunião de poemas não deixa de fora nem mesmo a parodia machadiana
de um fragmento de A divina comédia, de Dante, recuperada em pesquisa de
Eugênio Vinci de Moraes. Esta edição veio a lume em 2010; de lá para cá apareceu
na imprensa novas descobertas no gênero, mas a antologia ainda é uma boa maneira
de conhecer o trabalho criativo do escritor.
VÍDEOS VERSOS
E OUTRAS PROSAS
1. Por falar
sobre a poesia de Machado de Assis, nos primórdios do blog Letras in.verso e
re.verso, passamos pelo centenário de morte do escritor e, dentre as publicações
oferecidas aos leitores então estavam a apresentação desses dois manuscritos
com poemas do escritor brasileiro.
BAÚ DE
LETRAS
Por ocasião da passagem dos 180 anos do nascimento de Machado de Assis, reunimos neste endereço quatro publicações sobre o escritor e sua obra mais um conjunto de textos que copiamos em 2008 durante a passagem do centenário de morte do escritor: do primeiro grupo de matérias, há uma leitura sobre “Pai contra mãe”, oferecida por Joaquim Serra; uma leitura sobre Esaú e Jacó, oferecida por Guilherme Mazzafera; e um três textos escritos por Pedro Fernandes em 2008, que percorre traços de um perfil biográfico sobre Machado – um intitulado “A segunda vida”, outro “Memórias póstumas”, e outro, “Histórias sem data”. Já, o segundo conjunto de textos, pode ser acessado aqui.
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