Boletim Letras 360º #327
Aos poucos leitores que demonstraram preocupação com nosso futuro no Facebook, depois que revelamos sobre os ataques de censura ao conteúdo sofridos por nossa página nesta rede social, deixamos registrados por aqui nosso agradecimento. Os apoios, por breves que sejam, não é demais repetir, sempre nos dão alguma força sobre a necessidade de seguir e, por vezes, tal estímulo findam por nos oferecer algumas saídas. Nesta semana, sofremos outros dois ataques, devidamente denunciados, enquanto seguimos à espera de alguma satisfação por parte da rede. Agora, diferentemente, das outras posts censuradas, revidamos oferecendo de alguma maneira a garantia da postagem e sua veiculação noutras páginas do blog. É possível, como já buscamos experimentar, que utilizemos mais o Twitter; embora o público nessa rede seja minúsculo, variável, incapaz de crescer, além das limitações com as possibilidades do que trabalhamos, é uma alternativa interessante frente à gulodice dos algoritmos do Sr. Zuck. Mesmo assim, o aquecimento propiciado pelas notícias, sobretudo dos lançamentos de livros serviram para uma semana intensa por lá. Abaixo tem o registro de tudo, além das dicas de leituras e nossas recomendações de novos caminhos em nosso círculo de literaturas.
Aparece um registro da possível voz de Frida Kahlo. Mais notícias sobre ao longo deste Boletim. |
Segunda-feira,
10 de junho
Os
anos, de Annie Ernaux
Uma das
principais escritoras francesas da atualidade, Annie Ernaux empreende neste
livro a ambiciosa e bem-sucedida tarefa de escrever uma autobiografia
impessoal. Com ousadia e precisão estilística, ela lança mão de um sujeito
coletivo e indeterminado, que ocupa o lugar do eu para dar luz a um novo gênero
literário, no qual o registro pessoal se mescla à grande História, numa
singular evocação do tempo. Consciente do caráter fugidio e maleável da
memória, Ernaux abraça a incerteza e faz dela um trunfo: “Assim como o desejo
sexual, a memória nunca se interrompe. Ela equipara mortos e vivos, pessoas
reais e imaginárias, sonho e história”. Dotada de uma profunda sensibilidade
social, Ernaux, cuja obra é permeada pela temática de sua origem humilde,
revoluciona o conceito de autobiografia ao situá-lo dentro do campo da
sociologia, transitando entre a subjetividade e o coletivo, entre a experiência
íntima e o peso das grandes narrativas sobre os indivíduos. Para isso, a autora
se debruça sobre fotos de família, entradas de diário, notícias de jornal e
recordações variadas de um tempo cujas transformações ela própria vivenciou.
Por ter nascido em 1940, em uma pequena cidade no interior da França, Annie
Ernaux pertence a uma geração que veio ao mundo tarde demais para se lembrar da
guerra, mas que foi portadora das recordações e mitologias familiares daquele
tempo. Uma geração que nasceu cedo demais para estar à frente de Maio de 68,
mas que ainda assim viu nas manifestações a possibilidade para os mais jovens
de uma liberdade que por pouco não pôde gozar. Finalista do International
Booker Prize e vencedor dos prêmios Renaudot na França e Strega na Itália, Os anos é uma meditação filosófica poderosa e uma saborosa crônica
de seu tempo. Pela prosa original de Ernaux, vemos passar seis décadas de
acontecimentos, entre eles a Guerra da Argélia, a revolução dos costumes, o
nascimento da sociedade de consumo, a virada do milênio, o 11 de Setembro e as
inovações tecnológicas, signo sob o qual vivemos até hoje. das principais
escritoras francesas da atualidade, Annie Ernaux empreende neste livro a
ambiciosa e sucedida tarefa de escrever uma autobiografia impessoal. Com
ousadia precisão estilística, ela lança mão de sujeito coletivo e
indeterminado, ocupa o lugar do eu para dar luz a novo gênero literário, no
qual o registro pessoal se mescla à grande História, numa evocação do tempo
Consciente do caráter fugidio e maleável da memória, Ernaux abraça a incerteza
e faz dela um trunfo: “Assim o desejo sexual, a memória se interrompe. Ela
equipara e vivos, pessoas reais e imaginárias, sonho e história”. Dotada de uma
profunda sensibilidade social, Ernaux, cuja obra é perpassada pela temática de sua
origem humilde, revoluciona o conceito de autobiografia ao situá-lo dentro do
da sociologia, transitando entre a subjetividade e o coletivo, entre a experiência
íntima e o peso das grandes narrativas sobre os indivíduos. A autora se
debruça sobre de família, entradas de diário, notícias de jornal e recordações
variadas de um tempo cujas transformações ela própria vivenciou. Por ter nascido em 1940,
em uma pequena cidade no interior da França, Ernaux pertence a uma geração que veio
ao mundo tarde demais para lembrar da guerra, mas foi portadora das
recordações e mitologias familiares daquele tempo.
A poesia de
Hannah Arendt
Os leitores
mais assíduos sabem que obra de Hannah Arendt integra o âmbito das reflexões
mais importantes do pensamento filosófico do século XX. Em breve, outra face da
autora de obras fundamentais como Origens do Totalitarismo ganhará
projeção entre nós: a da poeta. Informações da coluna Babel, do jornal
Estadão, confirmam que a poesia nunca publicada em vida e que veio
a público em 2016 na Alemanha chegará ao Brasil. A coletânea alemã trouxe 71
poemas e, aqui, terão a tradução por Daniel Arelli. A antologia sai pela
Relicário Edições possivelmente em 2020. São poemas escritos entre 1942 e 1961
e que contemplam diferentes etapas de sua vida – dos anos de formação ao exílio
nos EEUU.
Terça-feira,
11 de junho
O
poeta de Pondichéry, segundo título da obra de Adília Lopes pela Editora
Moinhos.
Foi também o
segundo livro da poeta portuguesa, publicado em 1986 pela Editora Frenesi e em
1998 pela Angelus Novos – é um conjunto de doze poemas que narra a história de “um
jovem que escreve versos. O jovem poeta é recebido por Diderot, que se preocupa
“com a fortuna do mau poeta” e “aconselha-o a partir para Pondichéry e a
enriquecer lá”, como lemos na nota de introdução. Na opinião de “Diderot”, os
versos são maus. E esse argumento, a má qualidade dos versos, dá a poeta
ironista uma base para criar sua história própria. Estratégia à Adília, como
vemos com a personagem Mariana Alcoforado, por exemplo, personagem em tantos
poemas. A edição tem apresentação de Raquel Menezes.
Ainda em
2019, leitores poderão receber inéditos de Agustina Bessa-Luís.
Até ao final
do ano, um volume com a correspondência da autora com o jornalista e escritor
britânico Juan Rodolfo Wilcock deverá vir a público. Em declarações à Agência
Lusa, Francisco Vale, editor da Relógio d’Água, colocou também a hipótese de se
publicar, ainda em 2019, um volume de contos inéditos. A editora começou a
republicar a extensa obra de Agustina — que inclui romances, peças de teatro,
contos infantis e ensaios biográficos — em 2017. Nesse ano, saíram alguns dos
livros mais famosos de Agustina, como A Sibila e Fanny
Owen, acompanhados por novos prefácios. A edição das obras completas da
autora pela Relógio d’Água vai continuar nos próximos anos. Desde 2017, já
saíram 15 títulos.
Clube de
leitura Rádio Londres
A editora Rádio Londres apresentou uma ideia sensacional, não porque o clube de leitura seja uma novidade cá entre nós; do contrário, tem se multiplicado vertiginosamente entre nós. Mas, é dada a qualidade das obras e dos autores revelados que um clube capaz de oferecer facilidades de acesso a esse universo — sim, este é o valor do sensacional da ideia. No novo site da casa, podem tirar todas as dúvidas sobre os planos de assinatura oferecidos e como aderir. Junto com a apresentação do clube, saíram também os títulos que começam a ser publicados a partir de junho e seguem mês a mês até outubro de 2019, e são:
1. Meu pequeno país, de Gaël Faye, a publicação de junho
Um romance
de passagem à idade adulta sobre a infância, a guerra, o exílio e a questão da
identidade, que conta os tormentos e as inquietações de um menino preso no
mecanismo inexorável da História, tentando lidar com eventos que o obrigam a
amadurecer mais cedo do que o previsto.
2. Canto da tarde planície, de Kent Haruf, o primeiro título de uma trilogia é a publicação de julho
Ambientado numa natureza desoladora e ainda intacta, caraterizado por uma mescla de consolo e ameaça, este romance desperta uma sensação de trama sutil e consegue extrair do anseio silencioso de uma mulher momentos fugazes de profunda beleza e compaixão. É um livro de grande profundidade que explora a condição humana em toda a sua complexidade.
3. Em agosto, O desvio, de Gerbrand Bakker
Ambientado numa natureza desoladora e ainda intacta, caraterizado por uma mescla de consolo e ameaça, este romance desperta uma sensação de trama sutil e consegue extrair do anseio silencioso de uma mulher momentos fugazes de profunda beleza e compaixão. É um livro de grande profundidade que explora a condição humana em toda a sua complexidade.
4. No final da tarde, o segundo título da trilogia de Ken Haruf, sai em setembro
O final da tarde desvela as verdades atemporais sobre o ser humano: sua fragilidade e resiliência, seu egoísmo e sua bondade, além de sua capacidade de encontrar uma família nos outros. É um livro intensamente melancólico, cheio de compaixão e esperança.
5. Em busca do Barão Corvo, de A J A Symons, é o livro de outubro
Um retrato hilário e, ao mesmo tempo, pungente de uma personagem estranha, aspirante frustrado a sacerdote, homem com um talento infinito para a autodestruição. É uma das biografias mais importantes de todos os tempos, uma obra duradoura da literatura inglesa do século XX.
6. E, em novembro, O
imitador de homens, de Walter Tevis
Uma distopia
moderna acerca das inquietações da raça humana, em que a tecnologia desenfreada
se transforma de recurso em perigo. Um romance poderoso, assombroso e repleto
de aflição, mas também capaz de celebrar o amor e a magia de um sonho.
Quarta-feira,
12 de junho
Romance
inédito do escritor português Bruno Vieira Amaral chega ao Brasil.
Um romance
singular sobre o poder da linguagem, das histórias e das artimanhas da memória.
Segundo colocado no Prêmio Oceanos 2018. Neste poderoso romance autobiográfico,
Bruno Vieira Amaral apaga a fronteira entre realidade e ficção e faz da
literatura o instrumento para reconstituir um episódio de sua infância: o
assassinato de seu primo João Jorge, em 1985, num bairro de uma periferia de Portugal.
Ao rememorar o vilarejo em que cresceu, a relação com o pai ausente e o peso de
nossa herança familiar, ele destrincha não apenas os acontecimentos
relacionados ao crime, mas também os elementos que constituem sua própria
história. Um verdadeiro elogio ao poder da linguagem, este livro ultrapassa a
investigação factual ao trazer à tona um narrador observador e inquieto, sempre
desconfiado das artimanhas da memória. Editado pela Companhia
das Letras, Hoje estarás comigo no paraíso chega às livrarias a
partir da primeira semana de agosto.
Reedição de
um texto importante na literatura de Elias Canetti.
Vencedor do
prêmio Nobel de literatura, Elias Canetti conjuga antropologia, psicanálise,
economia política, história das religiões, ciência política e sociologia da
cultura nesta obra-prima do ensaísmo contemporâneo. Assustado e pesaroso diante
do espetáculo de adesão crescente das massas populares às organizações
nazistas, na Alemanha e na Áustria dos anos 1930, o então jovem escritor Elias
Canetti passou as três décadas seguintes tentando decifrar os segredos
profundos da humanidade em suas manifestações mais corriqueiras e terríveis:
mandar e obedecer; matar e sobreviver; medo e voracidade; paranoia e poder. O
resultado dessa obsessão é esta obra-prima do ensaísmo, que une descrição
narrativa a diversas áreas do saber ― entre elas, a antropologia, a
psicanálise, a história das religiões e a ciência política ― e destrincha de
modo singular a propagação do mal na contemporaneidade. Há muito fora de
catálogo no Brasil, Massa e poder volta pela Coleção de Bolso
da Companhia
das Letras agora em julho.
Autora
vencedora do Jabuti na categoria contos, Natalia Borges Polesso estreia no
romance com um livro sobre o amor e a amizade entre duas mulheres.
Conhecida
por sua escrita ritmada, informal e envolvente, Natalia Borges Polesso
apresenta, em Controle, uma narrativa impactante sobre relações
homoafetivas entre mulheres, o poder do desafio e, acima de tudo, as escolhas
que precisam ser feitas para que as pessoas se tornem quem elas querem ser.
Mesclando citações de letras da banda New Order em seu texto, a autora escreve
um romance geracional que permanecerá na mente do leitor. A protagonista,
Nanda, é epilética. Descobriu o transtorno ainda na infância, depois de uma
queda de bicicleta, e sua vida nunca mais foi a mesma. Cercada de cuidado pelos
pais, com medo de crescer e sair da casca protetora fornecida por sua condição,
ela evita ao máximo o contato humano ― exceto pela amiga, Joana. Mas
compartilhar o que acontece na vida de outra pessoa não é como viver junto
dela. Nanda se pergunta até quando conseguirá manter a rotina morna que leva.
Porém, seu dia a dia será posto em xeque quando ela finalmente se der conta de
que não viveu. “Raros escritores transitam com a mesma desenvoltura entre
o conto e o romance. Natalia Borges Polesso é um desses casos. Autora do
premiado Amora, ela faz em Controle a sua primeira incursão pelo romance, e o
resultado é uma narrativa bela, potente e transformadora”, sublinha Carola
Saavedra. O livro sai pela Companhia
das Letras na segunda semana de julho.
A
autobiografia de Pablo Neruda em edição atualizada com textos inéditos.
Em sua obra
autobiográfica, o poeta chileno Pablo Neruda narra desde as memórias de sua
longínqua infância até o duro golpe que derrubou Salvador Allende do governo
chileno. Através do apaixonante relato dos fatos mais interessantes de sua
jornada, Neruda afirma que sua vida foi feita de todas as vidas: as vidas do
poeta. Ele confessa: “Do que deixei escrito nestas páginas se desprenderão
sempre ― como nos arvoredos de outono e como no tempo das vinhas ― as folhas
amarelas que vão morrer e as uvas que reviverão no vinho sagrado.” Seja na
prosa, seja na poesia, a intensidade lírica do poeta contagia e nos arrebata
com sua habilidade literária. A edição é da Bertrand
Brasil.
Entre a
Barra da Tijuca e o balneário mexicano de Cancún, um comovente romance de
formação, mergulho de rara sinceridade em temas como religião e paternidade.
Às portas da
adolescência, Joel sente-se deslocado entre os amigos da escola e do prédio
onde mora. O ano é 1998 e o mundo parece cada vez mais um lugar ameaçador. Ao
mesmo tempo em que busca acolhimento num grupo de jovens de uma igreja
evangélica, entra em colisão com o modo de vida do pai, que acaba de regressar
ao Brasil após quatro misteriosos anos na cidade de Cancún. Décadas depois, com
a morte do pai, longe da religião e prestes a ter um filho, Joel decide voltar,
sozinho, ao balneário mexicano. Ao tentar repetir os passos paternos, uma
viagem simples se torna complexa, e o que se evidencia são os caminhos que
levaram Joel a ser quem é. Com uma prosa clara e irretocável, Miguel Del
Castillo faz o retrato de uma classe forjada em condomínios fechados e paraísos
fiscais, em colégios onde a violência é a regra e no brilho plástico dos
fast-foods. Um dos romances mais surpreendentes da nova geração de autores
brasileiros. “Miguel Del Castillo conduz o leitor com firme serenidade por
um relato impecavelmente estruturado, no qual a família é a expressão imperfeita
e acolhedora dos mistérios da vida”, destaca Daniel Galera. Para Noemi
Jaffe, “Nesta jornada sutil de reconhecimento do pai, o que está em jogo,
ao fim, são as zonas de sombra de todos nós”. Cancún sai na
primeira semana de julho pela Companhia
das Letras.
No dia em
que se passam os 90 anos de Anne Frank, uma novidade: o Grupo
Editorial Record publicará a edição que reúne inéditos e a versão mais
autoral dos diários.
Antes mesmo
de ser presenteada com um diário em seu 13º aniversário, no dia 12 de junho de
1942, Anne Frank já gostava de escrever. Ela rabiscava versinhos, às vezes nos
cadernos de suas colegas de escola, e se correspondia com sua avó desde 1936.
Nas cartas, Anne comentava de assuntos adolescentes — meninos, visitas ao
dentista, a bicicleta, a mochila e o vestido que ganhou dos pais — às carências
trazidas pela guerra. Anne também escrevia contos, anotava suas citações
favoritas em num caderno e esboçou um romance, A vida de Cady. Todos esses
escritos — os versinhos, as cartas, o romance inacabado, os contos — e outros,
como as três versões do diário e punhado de anotações sobre faraós e o Antigo
Egito que ela redigiu para um trabalho escolar, compõem sua Obra reunida que
a Record publica por aqui em novembro. Os Contos do esconderijo apareceram em
português em 1984, mas boa parte das cartas, das fotografias, dos textos
críticos inclusos na Obra reunida são inéditos para o público brasileiro —
tudo traduzido direto do holandês por Cristiano Zwiesele do Amaral. Os textos
da Obra reunida, mesmo os inéditos, não pintam uma nova Anne Frank, mas
revelam algumas coisas sobre o contexto em que ela viveu.
Quinta-feira,
13 de junho
Alguns
caminhos para chegar a'Os sertões, de Euclides da Cunha
Com sua
escrita poética e ampla interpretação do país, Os sertões é uma das
mais importantes obras da cultura brasileira. Lançado em 1902, o relato da
guerra de Canudos foi um sucesso imediato e instalou-se em definitivo no cânone
nacional, tornando-se referência incontornável a todos que desejam entender a
história do Brasil. Escrito por um dos maiores pesquisadores de Euclides da Cunha,
A terra, o homem, a luta é a leitura perfeita para quem deseja
se iniciar neste clássico nacional. Enriquecido com imagens e um novo prefácio
assinado por Milton Hatoum, o livro abre caminhos para a leitura não só da
obra, mas também dos pioneiros ensaios euclidianos sobre a Amazônia, além de
abordar aspectos da vida do escritor. Originalmente publicado dentro da coleção
“Folha explica”, o livro ganha uma nova edição no ano em que Euclides da Cunha
é o autor homenageado da Flip. Roberto Ventura foi professor de teoria literária
e literatura comparada da Universidade de São Paulo. A nova edição é da Três
estrelas editora.
As cartas
entre Graciliano Ramos e Candido Portinari em exposição online
A
universalização de Portinari, sua vida e obra, foi anunciada pelo Google Arts
& Culture. A coleção conta com mais de 5 mil obras e 15 mil cartas e
documentos do artista, que é o primeiro brasileiro a ter uma retrospectiva na
plataforma. Todos os materiais estão em alta resolução, o que permite o
internauta conhecer detalhes de obras emblemáticas como Mestiço (1934), Lavrador de Café (1934) e Café (1935). A captura de cada
detalhe foi feita pela Art Camera, uma câmera de altíssima resolução
(gigapixel). Em uma das cartas enviadas pelo alagoano ao pintor, Graciliano
Ramos questiona Portinari sobre o sentido da arte e pergunta se ele acredita
que a arte depende da desgraça de alguns para ter sucesso. O escritor também
relata que saiu atordoado da casa de Portinari, indagando se seria possível
fazer arte em um mundo feliz e se era correto ambos os artistas falarem de
universos dos quais não tinham propriedade (tanto o escritor quanto o pintor
retratavam a miséria humana e a pobreza em suas obras). A retrospectiva foi
Intitulada: Portinari: O pintor do povo. Veja aqui.
Sexta-feira,
14 de junho
A voz de
Frida Kahlo?
O enigma
sobre a voz da pintora mexicana começou a ser resolvido. A Fonoteca Nacional do
México publicou uma gravação radiofônica na qual Frida recita fragmentos de “Retrato de Diego”, um texto que escreveu em 1949 para descrever o
companheiro e também pintor Diego Rivera. A secretaria de cultura do país
assegura que o registro possui várias coincidências suscetíveis à tese de ser a
voz de Frida. Por dois minutos uma voz pausada, tranquila e de timbre doce
descreve Rivera. A gravação é parte de um dos programas que o locutor Álvaro
Gálvez y Fuentes produziu em 1956 para a XEW. Ele ficou conhecido nesses anos
por conseguir entrevistas exclusivas com personagens da cultura como Xavier
Villaurrutia, Alfonso Reys e Jorge Luis Borges, entre outras. A descoberta se
deu em janeiro deste ano quando o diretor da Fonoteca Nacional, Pável Granados,
viajou a Huamantla, centro do México, para reencontrar-se com o locutor da XEW
Manuel de la Vega que lhe assegurava ter uma gravação com registro de Diego
Rivera. Ao revisar o material, Pável se surpreendeu ao encontrar o fragmento
com registro de Frida. O programa era dedicado a Diego e trazia relatos de
amigos e colegas. Ouça o registro aqui.
Uma coleção
para mostrar a poesia portuguesa contemporânea aos leitores brasileiros
As Edições
Macondo preparam a Colecção, projeto que apresenta ao público
brasileiro cinco nomes da poesia portuguesa atual. São livros de autores que
ainda não foram publicados no Brasil, como é o caso de Cláudia R. Sampaio e
Miguel Cardoso, e também de poetas que já possuem uma certa recepção no país,
como Manuel de Freitas. Dos três autores citados saem Inteira como um
coice do universo, Víveres e Ubi Sunt, respectivamente. Além destes livros, publicam-se Um quarto em
Atenas, de Tatiana Faia e Antes da iluminação, de Mariano
Alejandro Ribeiro. Os livros saem entre este mês e setembro e os leitores
têm a oportunidade de realizar assinatura para receber mês a mês as
publicações. Para saber mais detalhes e-ou realizar a assinatura pode
visitar aqui.
Mulheres
e ficção, de Virginia Woolf
Após a morte
da escritora, a maior parte do manuscrito Women and fiction foi
entregue por Leonard Woolf ao Museu Fitzwilliam, em Cambridge, onde, até sua
redescoberta, ficou praticamente desconhecido por quase 50 anos. Este é o
principal ensaio e título de uma série de palestras ministradas por Woolf no
Newnham College e no Girton College, duas faculdades de mulheres da
Universidade de Cambridge. Aí, a escritora traça as razões para as conquistas
muito limitadas entre as mulheres romancistas através dos séculos. Por que eles
falharam? Eles falharam porque não eram financeiramente independentes; falharam
porque não eram intelectualmente livres; porque lhes foi negada a mais completa
experiência mundana. É um texto que continua sendo uma importante reflexão feminista
sobre a relação mulheres e literatura e sai em breve pela Penguin / Companhia.
Antonio
Tabucchi tem nova casa editorial no Brasil, a Editora
Estação Liberdade
O anúncio
foi feito no comunicado sobre as celebrações dos 30 anos da editora. “Depois de termos introduzido ou readmitido por aqui autores como André
Gide, Heinrich Böll, Hans Fallada, Yasunari Kawabata e outros, agora nos toca
trazer à baila Antonio Tabucchi e sua profícua fusão dos mundos italiano e
português, tanto em inéditos quanto em reedições”. Antes da reedição de
títulos que ficaram conhecidos entre os leitores brasileiros pela extinta Cosac
Naify, a Estação Liberdade publicará o livro póstumo Para Isabel.
Neste livro, que pode ser descrito como uma alucinação o escritor funde
elementos do fantástico, com os dos romances de investigação e metafísicos.
Antonio Tabucchi nasceu em Pisa, onde fez os seus estudos, primeiro na
Faculdade de Letras e depois na Scuola Normale Superiore. Ensinou nas
Universidades de Bolonha, Roma, Génova e Siena. Foi professor visitante no Bard
College de Nova York, na École de Hautes Études de Paris e no Collège de
France. Publicou 27 livros, entre romances, contos, ensaios e textos teatrais.
As suas obras estão traduzidas em mais de 40 países. Por aqui, são conhecidos
títulos como Noturno indiano, Afirma Pereira e Requiem, obras que foram adaptadas ao cinema respectivamente por
Fernando Lopes, Alain Corneau, Roberto Faenza e Alain Tanner.
DICAS DE
LEITURA
Esta foi uma
semana de aniversariantes importantes; citamos apenas três, dentre muitos:
Fernando Pessoa, Saul Bellow e Yasunari Kawabata. A obra de cada um desses
escritores é grandiosa e formam três universos que, suspeitamos, seja impossível
de um leitor mortal consiga abarcar todos eles. Mas, sempre há os que leram
extensa parte deles e nos deixam dicas de títulos indispensáveis. Foi, seguindo
esse interesse que pensamos em recomendar nesta seção um título de cada um
desses autores. É possível que não seja o mais importante do universo criativo
de cada escritor, mas é de alguma maneira uma possibilidade de não sucumbir alheio
a ele.
1. Contos
completos, fábulas & Crônicas decorativas, de Fernando Pessoa. Estamos
diante uma das excepcionais mentes criativas. Impossível de se conter, produziu
uma variedade de outros escritores, cada qual excepcional. Ninguém negará que
Pessoa é um paradigma para a poesia moderna universal. E é quase certo que muitos
leitores, sobretudo os de língua portuguesa, tenham cruzado com a leitura de
algum poema seu e sabe-o, portanto, poeta. Mas, é caso de descobrir a face de
ficcionista; esta aparece integrada no amplo baú de inéditos que tem se
revelado ano após ano desde sua morte. A coletânea aqui recomendada foi
publicada em 2018 pela editora Carambaia, como parte do selo Ilimitada. É
formada por 14 textos deixados por Fernando Pessoa; textos concluídos e
revisados – que se diga. Entre eles, está um inédito em livro. Além desse material,
o leitor tem acesso a três contos do escritor estadunidense O. Henry que foram
traduzidos pelo próprio escritor. Esta antologia foi organizada pelo poeta e
tradutor angolano Zetho Cunha Gonçalves, um dos principais estudiosos da obra
do criador português. Este livro, portanto, é uma aposta a se percorrer por
lugares que diríamos incomuns na obra de Pessoa. Incomuns, mas não menores.
2. As
aventuras de Augie March, de Saul Bellow. O escritor nascido no Canadá em 1915
e Prêmio Nobel de Literatura em 1976 escreveu 14 romances, além de novelas, contos
e ensaios. Desde 2009, a Companhia das Letras tem publicado sua obra por aqui e
está muito distante de colocar um ponto final na empreitada; do universo de
grande amplitude só temos, por esta casa editorial quatro novelas e quatro
romances. James Wood recomendaria Agarre a vida, livro que saiu por aqui pela
editora Rocco e fácil de encontrar em sebos. Mas, do universo que vimos citando
antes, recomendamos o romance acima citado; foi o que, depois de sua aparição
em 1953, deu projeção nacional e internacional a Saul Bellow, além, é claro, de
ser reconhecidamente uma obra paradigmática da ficção produzida em língua
inglesa. Consagra os bairros periféricos do sul de Chicago durante a Grande
Depressão; é nesse cenário e nesse contexto por onde transita a
personagem-título. A narrativa percorre do otimismo romântico da juventude ao
cinismo pessimista da idade madura; Augie March é o arquétipo do anti-herói
errante na literatura estadunidense moderna.
3. O país
das neves, de Yasunari Kawabata. Este romance foi recomendado numa lista que apresentamos
no início de 2019. Por isso, voltamos a ele. A primeira versão desta obra data
de 1937, mas só uma década depois que o escritor japonês deu por finalizada. Trata-se
de um romance sobre o amor espontâneo e sem nenhuma esperança de retribuição;
nele o Prêmio Nobel de Literatura expõe a densidade e as contradições das
relações humanas a partir da narrativa sobre o encontro entre Shimamura, um
culto senhor de posses, Komako, uma gueixa das montanhas, e Yoko, uma bela
jovem provinciana. No Brasil, o leitor encontra este livro publicado pela
Editora Estação Liberdade.
VÍDEOS VERSOS
E OUTRAS PROSAS
1. Ainda
considerando o aniversariante ilustre, Fernando Pessoa (tornará a encontrá-lo na
seção seguinte), poderá encontrar alguns poemas seus no blog da revista 7faces.
O destaque na sequência de poemas aqui apresentados são três poemas políticos –
sim, Pessoa guardou e expôs opiniões bastante controversas sobre o tema. Bom,
não expôs nesses poemas agora citados.
2. Outro
nome de grande significado para a literatura – e para a história, depois que se
tornou símbolo de luta dos judeus contra os horrores do nazismo –, e que deve
ser lembrado aqui no rol dos aniversários é Anne Frank. Nesta semana, passaram-se
os 90 anos do seu nascimento. Neste vídeo encontram são os únicos registros em movimento
de Anne Frank. A menina autora do mais famoso diário da história da literatura
tinha aqui 13 anos; aparece na janela do segundo andar de um prédio a observar
um casal de noivos na rua. O registro data de 22 de julho de 1941, quase um ano
antes de ser obrigada a se refugiar com a família num esconderijo devido à
perseguição do nazismo contra os judeus. O vídeo é do arquivo do museu holandês
Anne Frank House.
BAÚ DE
LETRAS
1. Saul
Bellow nasceu no dia 10 de junho de 1915. Recordamos duas publicações no Letras
sobre o escritor e sua obra: a) um texto de J. M. Cotzee sobre o legado do escritor estadunidense para o romance moderno; b) e algumas notas biográficas que
apresentam alguns traços da sua vida e obra.
2. Já Yasunari
Kawabata nasceu no dia 11 de junho 1919, i.e., passam-se, agora, 120 anos do
nascimento do escritor japonês que foi apresentado em nossa coluna Os
escritores nesta post.
3. E,
Fernando Pessoa nasceu em 13 de junho de 1888. Das várias publicações do Letras
sobre o poeta e sua múltipla obra, destacamos, nesta post publicada em nossa página no Facebook, dez delas.
.........................
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