Boletim Letras 360º #325
Estimados leitores, apresentamos a seguir as notícias que correram nossa página no Facebook, nossas dicas de leitura da semana e outras novidades (estas últimas sempre voltadas para Walt Whitman e, não por acaso, no passado 31 de maio de 2019, o mundo literário celebrou o bicentenário do poeta estadunidense, principal referência da poesia moderna).
Segunda-feira,
27 de maio
Novo romance
de César Aira chega ao Brasil e surpreende pela diversidade
de temas e estilo
Em uma
pequena cidade na costa da Catalunha nos últimos anos da Idade Média, vive um
velho monge conhecido por ser um santo. Devido aos seus pequenos e abundantes
milagres, tornou-se alvo da devoção e da peregrinação de fiéis de todo o mundo
cristão. O convento onde vive se transformou em um próspero centro econômico
graças às intermináveis peregrinações de aleijados, doentes, desesperadas e
abandonadas que chegam de todos os lugares. Ao sentir a proximidade da morte,
ele decide voltar para a Itália, para desfrutar de seus últimos dias na paz de
sua cidade natal. Diante da perda da principal fonte de renda para a região, as
autoridades locais e o abade do mosteiro decidem contratar o melhor assassino
para garantir a morte do monge, mantendo, assim, a sagrada relíquia de seu
corpo na Catalunha. Tem início então sua fuga pelos céus escarpados da
Catalunha e as águas quentes do Mediterrâneo a bordo de embarcações gregas e
ameaçado por piratas turcos, até chegar à África muçulmana profunda, quando
literalmente troca o espírito pela carne e, afinal, reencontra o mal
transfigurado. Combinando o bizarro com o real, César Aira mais uma vez alia
ficção, ensaio e humor em uma narrativa multifária, que desafia as
classificações mais óbvias e já nasce indispensável entre sua numerosa e
prestigiada bibliografia. O santo é o título; a obra traduzida por Jorge Wolff sai pela editora Record.
Chega às
livrarias brasileiras, no mês de outubro, dois livros inéditos de Patti Smith
Um deles, O ano do macaco, está previsto para ser publicado nos Estados
Unidos em setembro. O livro é traduzido no Brasil por Camila Von Holdefer;
trata-se de um relato de 2016, quando os Estados Unidos passaram pela eleição
de Donald Trump e Patti Smith chegou aos 70 anos. Ela passa os doze meses em
turnê pela América e precisa lidar com a perda de dois amigos queridos: seu mentor,
Sandy Pearlman, e seu referencial artístico da vida toda, Sam Shepard. O
segundo título é Devoção, traduzido aqui por Caetano Galindo. Nele,
Patti oferece uma reflexão íntima sobre seu processo criativo. Por que
escrevemos? De onde vem as ideias para uma história? Como funcionam as
engrenagens da inspiração e da literatura? Os livros saem pela Companhia
das Letras um mês antes de apresentações da cantora no Brasil.
Nova edição
de Os tambores de São Luís, de Josué Montello chega em junho
O negro na
sua luta, nas suas revoltas, e na sua redenção. Obra das mais bem trabalhadas,
original no seu tema e no seu processo técnico e que representa o ponto
culminante da produção do autor, na concatenação aliciante da narrativa, na
modelar limpidez da escrita e na densa atmosfera de suspense e paixão. Embora
se passe numa única noite, que compõe uma parábola perfeita entre o seu começo
e o seu imprevisto desfecho, o livro abarca todo um largo período de vida
brasileira entre 1838 e 1915, com seus clérigos, seus políticos, seus
escritores, seus tipos populares. E tudo isso a se desenrolar com o fundo
sonoro dos tambores rituais vindo da casa das negras-minas, tocados ao longo da
grande noite pela nostalgia, a fé, a revolta e o júbilo dos antigos escravos.
Partindo de um episódio imprevisto, o encontro de dois homens mortos, um negro
com uma facada nas costas, e um branco assassinado por uma paulada dentro de um
bar, numa velha noite de 1915, o autor imaginou cruzar duas linhas narrativas,
de modo que ambas se fundissem, numa perfeita harmonia de planos, fluindo à
feição do barco que desliza pela superfície do lago, tangido pela aragem
matinal. Mais de quatrocentos personagens dão movimento ao romance, numa linha
de interesse crescente. A publicação da nova edição é produto de uma parceria entre a Casa de Cultura Josué Montello e Lei Estadual de Incentivo à Cultura do Estado do Maranhão.
Terça-feira,
28 de maio
Cemitério
dos pássaros é o primeiro romance do moçambicano Adelino Timóteo editado
no Brasil
É a história
de Dazanana de Araújo Simplíssimo, um homem rico com ideias excêntricas, entre
as quais a crença de que cada homem é, na verdade, um pássaro, e tomaria essa
forma após a morte. Seguindo essa convicção, Dazanana constrói um cemitério do
tamanho de uma cidade para seus familiares, no qual cada um é nomeado como um
pássaro. Na sua crença, a existência humana começava somente após a morte: ao
tornarmo-nos pássaros. Tendo enterrado seu último neto, Dazanana sente-se
pronto para deixar a existência humana e tomar sua verdade forma. Para isso,
vai precisar de ajuda para ser enterrado no Cemitério dos pássaros.
A partir disso, a história se desenrola com tons de literatura fantástica. A
edição da Editora
Kapulana.
Quarta-feira,
29 de maio
Uma
divertida sátira da vida no livro vencedor do Pulitzer de ficção de 2018
Arthur Less
é um escritor medíocre prestes a completar 50 anos. Certo dia, recebe um
convite de casamento: o homem com quem teve um relacionamento não tão sério
assim nos últimos nove anos está com data marcada para se casar. Ele não pode
dizer que vai, pois seria estranho demais, e não pode dizer que não vai, já que
seria o mesmo que admitir a derrota. Less pensa: “O que eu posso fazer para não
estar na cidade na época do casamento?” Então, em sua mesa, vê vários convites
para eventos literários menores no mundo inteiro. O que ele faz? Aceita todos!
O que poderia dar errado? Arthur Less quase se apaixona em Paris, por pouco não
morre caindo em Berlim, foge de uma tempestade de areia no deserto do Saara,
reserva por acidente estadia num retiro cristão na Índia e encontra, numa ilha
deserta no mar Arábico, a última pessoa que gostaria de ver no mundo. Em algum
lugar no meio disso tudo, ele faz 50 anos. E, em algum momento em meio a isso
tudo, ele encontra seu primeiro amor. E seu último. Porque, apesar de todos
esses erros, de todos esses mal-entendidos, de todos esses enganos, As
desventuras de Arthur Less, de Andrew Sean Greer, é uma história de amor. A tradução de Márcio
El-Jaick sai pela Editora Record.
Nova edição
do diário de Anne Frank, que seria uma versão mais fiel do que a já conhecida,
traz inéditos
Na
segunda-feira, 13 de maio, publicamos aqui a notícia sobre uma nova versão do
famoso diário da menina vítima do regime nazista. Segundo, o jornal The
Guardian, esta nova edição traz, além do texto original de Anne, algumas
outras novidades, como 14 narrativas curtas, cartas inéditas da autora,
ilustrações, fotografias da família, anotações com os primeiros textos do que
seria o diário, um caderno de citações favoritas, um conjunto de notas sobre o
Egito e um plano do anexo onde se escondeu com sua família. Trata-se, portanto,
da edição mais completa já publicada do diário. As cartas (grande destaque
desse "novo diário") foram escritas entre 1936 e 1941, antes de Anne
iniciar seu diário. Algumas das missivas são para a avó e revelam detalhes de
sua vida cotidiana; mas, trazem ainda a angústia que lhe rondava devido ao
avanço da perseguição nazista pelo regime de Adolf Hitler. Os primeiros
detalhes sobre esta nova edição podem ser obtidos aqui, no Boletim Letras 360º #323.
Quinta-feira,
30 de maio
O grande
romance de Joseph Conrad ganha nova tradução e duas edições
Coração
das trevas é também considerada uma obra-prima da literatura inglesa e se
tornou uma referência cultural sobre os horrores da colonização. Forma o
romance a história de Marlow, capitão de um barco a vapor, que sai ao de
encontro a Kurtz, um explorador de marfim de métodos questionáveis, habitante
entre os selvagens do Congo e que precisa ser levado de volta à civilização. O
romance mergulha no mundo interior da personagem principal, em busca do
inominável, tendo as trevas da selva africana como imagem do inconsciente. As
novas edições são apresentadas pela Ubu
Editora: uma para colecionadores com tiragem limitada a 200 exemplares
numerados e assinados pela artista plástica Rosângela Rennó, que produziu as
imagens do livro; aqui, o livro impresso, dobrado e costurado – sem refile e
sem acabamento – vem envelope lacrado de cartão. A outra edição segue o padrão
comercial. A tradução de Coração das trevas é de Paulo Schiller e
ambas edições trazem um posfácio inédito do escritor Bernardo Carvalho, ensaios
críticos de Walnice Nogueira Galvão e Paulo Mendes Campos, e um texto in
memoriam de Virginia Woolf sobre Joseph Conrad.
Sexta-feira, 31 de maio
Walt Whitman
no Brasil
Leaves
of grass, livro clássico do poeta estadunidense, é um dos livros mais
traduzidos no Brasil, seja em alguma das edições completas, seja em antologias.
A Editora
34 prepara nova tradução para o famoso livro a ser apresentada até o
fim do ano; na tarefa, outro poeta, Guilherme Gontijo Flores que já atribuiu
novo título em português: Folhas de capim, ao invés do conhecido
entre nós Folhas de relva. Outro livro de Whitman que chega às
livrarias até o fim de 2019 é Dias exemplares. Trata-se de uma
reunião de anotações de um diário, rascunhos, fragmentos e ensaios curtos
escritos pelo poeta sobretudo durante a guerra civil estadunidense e compilados
em livro em 1882. Este livro sairá pela Editora
Carambaia no mês de junho.
O
corvo, de Edgar Allan Poe para crianças
O contista e
poeta estadunidense é considerado hoje um dos maiores mestres do horror, tendo
escrito contos célebres que já viraram filmes, histórias em quadrinhos etc.
Como poeta, conheceu enorme sucesso na sua época, sobretudo como autor do poema
longo O corvo, publicado em 1845, no qual um homem solitário tenta conversar
com a ave sinistra que o visita inesperadamente numa noite silenciosa. Tendo
sido traduzido para o português por nomes importantes, como Machado de
Assis e Fernando Pessoa, esse poema continua sendo bastante lido no Brasil. No
entanto, as traduções em geral destinam-se ao público adulto. Desta vez, porém,
Dirce Waltrick do Amarante, ficcionista e especialista em literatura
infanto-juvenil, fez uma versão diferente, a partir do original em inglês,
destinada às crianças e utilizando uma linguagem acessível a esse público, sem
abrir mão, no entanto, do mistério e da ambiguidade que caraterizam o poema em
inglês. As ilustrações desta edição que sai pela Editora
Iluminuras, inspiradas nas gravuras de Paul Gauguin e no cinema
expressionista, são do poeta e artista plástico Sérgio Medeiros.
DICAS DE
LEITURA
No passado
31 de maio de 2019, o mundo literário celebrou a passagem do bicentenário de
nascimento de Walt Whitman. O leitor que chegou até aqui passando a vista pelo
conteúdo primeiro desta postagem soube da nova tradução para Leaves of Grass e um livro com recortes
de diários do poeta estadunidense. O fato é que, no mercado livreiro, o leitor não
deixará de encontrar boas edições do primeiro título e outras publicações
relacionadas a Whitman. Bom, por isso, dedicamos esta seção do Boletim Letras
360º para as indicações seguintes:
1. Folhas de relva. Este livro, principal
obra de Walt Whitman, cresceu juntamente com a formação do poeta. Foram pelo
menos cinco versões diferentes em oito edições continuamente revistas e
ampliadas: de uma dúzia de textos chegou-se a um total de quase quatro
centenas. Nesse meio tempo o livro ganhou muito em variedade e complexidade ao
ponto de se ocupar o lugar fundador da moderna poesia estadunidense. Ignorado e ridicularizado pela crítica de seu tempo, fosse pelo
caráter experimental do verso, fosse pela abertura à polêmica, tratando sem
restrições questões como a sexualidade e expondo uma religiosidade sem dogmas,
as várias edições do livro — que cobrem um período de 1855 a 1891 — serviriam
de veículo para que Whitman vazasse seu testemunho dos principais
acontecimentos e debates de um período em que os Estados Unidos assumiam o
partido da modernidade, entrando em conflito com estruturas sociais e políticas
de raiz colonial, como a escravidão, ao mesmo tempo em que davam os primeiros
passos imperialistas. Nas livrarias brasileiras é ainda possível encontrar duas
edições interessantes: a tradução de Rodrigo Garcia Lopes, publicada pela
Editora Iluminuras e a tradução de Bruno Gambarotto que acrescenta o epígono de
edição do leito de morte para
assinalar a integridade do conteúdo de uma obra de quase quarenta anos
de feitura. Das duas edições, esta última parece, até o momento, a mais cuidada
e, portanto, recomendável.
2. Cálamo. Aos leitores que procuram por um
tema específico dos diversos trabalhados Walt Whitman no seu livro principal,
podem encontrar os poemas de forte teor amoroso, este em dimensão diversa,
valor supremo e indispensável à liberdade do homem, fator decisivo de afirmação
pessoal. Os poemas deste conjunto de composições apareceram pela primeira vez
na terceira edição de Folhas de relva,
em maio de 1860. Nos Estados Unidos vivia-se o calor e a urgência de uma guerra
cujo estopim se daria daí a um ano e que duraria quatro anos dizimando algo em
torno de mais de seiscentos mil soldados. Essa situação levou o poeta à
transfiguração do embate no enlace amoroso; nas edições posteriores Whitman
imaginava que a força bruta dos soldados se converteria em pulsão capaz de não
separar mas unir todos os homens de todas as regiões da América do Norte. Em
2017 o tradutor Eric Mitchell Sabinson pode apresentar sua tradução desses
textos pela editora Jabuticaba.
3. Walt Whitman: a formação do poeta, de
Paul Zweig. O poeta e jornalista estadunidense dedicou extensa parte de sua
vida à composição de um retrato do mestre modernista. A formação do poeta à sua
transformação em profeta é a linha sobre a qual Zweig equilibra sua narrativa neste
livro que consegue a difícil façanha de apresentar uma biografia crítica de
Whitman. O interesse alcançado nos mostra um livro que conta parte da vida do
poeta estadunidense ao mesmo tempo que ilumina sua obra com a leitura de passagens-chaves
da criação poética. Até meados de 2019, é um livro esgotado nas livrarias
brasileiras, mas fácil de encontrar entre os livreiros e sebistas. Foi editado
pela Jorge Zahar no final dos anos oitenta.
VÍDEOS VERSOS
E OUTRAS PROSAS
1. Esta é uma gravação do que se acredita ser a voz de Walt Whitman lendo quatro linhas
do poema “América”. Acredita-se que o registro em cera com 36 segundos tenha se
dado entre 1889 e 1890. Todo um trabalho de remasterização foi realizado para
preservação da voz e redução dos ruídos dada a baixa qualidade da gravação
original.
2. No dia 31
de maio de 2019, data de celebração do bicentenário de Walt Whitman, editamos
no Tumblr do Letras um conjunto com oito imagens que trazem oito objetos
representativos de oito faces do poeta e de sua obra: um ingresso para acesso
ao banho público do Brooklyn; o frontispício da primeira edição de Leaves of Grass, desenhado pelo próprio
poeta; uma das caricaturas de deboche da obra do poeta; sua estreita relação amorosa
com outros homens, como o “soldado rebelde Pete Doyle”; souvenirs “fabricados”
pelo próprio Whitman; a borboleta de papelão com a qual pousou para uma foto em
1877 (esta que abre a edição deste Boletim) etc.
BAÚ DE
LETRAS
Bom, e para
não sair do tom, deixamos este link; através dele tem acesso a todas as publicações
sobre Walt Whitman que realizamos até a presente edição deste Boletim. Encontrará
matérias sobre a biografia do poeta, sobre Folhas
de relva, sobre a novela inédita publicada nos Estados Unidos em 2018,
entre outras.
.........................
* Todas as informações sobre lançamentos de livros aqui divulgadas são as oferecidas pelas editoras na abertura das pré-vendas e o conteúdo, portanto, de responsabilidades das referidas casas.
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