Tempo, és um dos deuses mais lindos
Por Wagner Silva Gomes
Vingadores:
Ultimato (2019), filme que reuniu em
torno de si grande expectativa, visto ser o último de uma sequência que começou
com Os vingadores (2012), tendo continuidade com Vingadores: era de Ultron
(2015), Vingadores: guerra infinita (2018), tem 3 horas de duração e traz a
passagem do tempo como questão principal a ser resolvida. Se o público não Cult
tem o costume de ver filmes de menos duração este consegue prender a atenção
até o final e fazê-lo desejar ainda mais.
Para isso os
irmãos Russo se utilizam da ilusão do tempo linear. Se para Einstein o tempo é
relativo, os irmãos Russo se valem de um tempo linear ilusório, que na verdade
é psicológico, pois no jogo de física, com o efeito mágico de uma máquina, os
cineastas fazem com que os vingadores transitem do futuro para o passado, para
evitarem que Thanos reúna as joias e execute seu plano e, este, quando descobre
através da leitura da mente de sua filha Nebulosa, que foi com um vingador para
o passado para recuperar uma das joias, manda a filha do passado para fingir
que era a do futuro, quando ela e outro vingador, o Máquina de Combate,
voltariam para o tempo deles. Este é um exemplo de muitos, já que envolve
várias personagens, pois cada dupla viaja para um tempo em busca de uma das
joias, estando três delas em Nova Iorque no mesmo ano, o ano do primeiro Vingadores.
A passagem
do tempo faz com que entre esse jogo de ilusão entre o linear e o não-linear, o
tempo psicológico traga o flash-back. A grande sacada dos irmãos Russo, um
golpe baixo que mexe com o emocional das lembranças, é que eles constroem as
histórias das personagens (características de roupas, aparências, modo de agir etc.)
fazendo uma intertextualidade com filmes que foram produzidos entre 2012 e 2019
e em um passado mais distante (século XX, De volta para o futuro, por exemplo).
Um Hulk
consciente, que assume a aparência por de vez e se sente bonito na diferença é
uma grande homenagem a Shrek. Essa intertextualidade ocorre no intervalo dos 5
anos que Thanos dizima a população e, encontrado pelos vingadores com a ajuda
da Nebulosa e da Capitã Marvel, é morto por Thor. Passado o tempo, com a
descoberta de como voltar ao passado pelo Stark, por incentivo do Homem
Formiga, o Hulk vai à Asgard visitar o amigo Thor e é mostrado na traseira de
uma caminhonete com o Rocket, em uma filmagem como se o Shrek e o burro
estivessem indo para o reino de Tão Tão Distante.
Thor, por
outro lado, só bebe cerveja, e assume a aparência de O Grande Lebowski (1998), uma
grande homenagem a este personagem dos irmãos Coen, um beatnik aposentado e
desprendido das coisas materiais. Os beatniks aliás são citados como pessoas de
ações repulsivas para os comprometidos com o exército estadunidense na guerra
do Vietnã. Ao voltar para buscar o cubo o Tony Stark encontra o seu pai, que
pergunta afirmando negativamente: você não é daqueles beatniks, né!?, no momento
em que confuso de como agir com o pai ele esquece a mala que carregava e é
lembrado. Na sintonia e em defesa do movimento literário, até porque muitas de suas personagens foram criadas
durante o movimento, Stan Lee aparece dizendo pra não fazer guerra, fazer amor,
como alguém que foi obrigado a estar na guerra mas está na contramão. É o que alguém
do submundo, oprimido, rebaixado, que luta pela sobrevivência, com um pouco de
alienação, muita atração pela cultura
pop, sendo um grande sujeito, tiraria de aprendizagem da convivência com a
diversidade, o se colocar em situações perigosas, e que em um mento mágico
descobre que é capaz ou tem força pra realizar grandes feitos, como os
super-heróis.
O tempo é
máquina que brinca com o ser criança-adolescente-jovem-adulto-idoso do Homem
Formiga, como brincou com o Deadpool 2 (2016), mas neste as pernas não acompanharam
o resto do corpo e tiveram que começar de bebê – nele a responsabilidade com o
humanismo é algo raro e em algumas horas
a mente também regride. O tempo não foi justo com o Capitão América, que deixou
um amor no passado quando foi congelado, e como um bom homem levou a sério o
conselho do amigo, que tanto fez por ele, de que ele deveria experimentar
envelhecer.
O tempo mexeu com o humanismo das personagens, duas delas se
sacrificam para que grande parte da humanidade voltasse a viver. Foram as
personagens de início mais egoístas. Diz o Homem de Ferro se lamentando: nós
somos os vingadores não os precavidos. E elogia a Capitã Marvel ao falar que
ela é sangue novo, e que sua geração já passou – será mesmo uma fase de vingadores
precavidos?, ou seja, mais cidadãos engajados, no que se refere estar em
sintonia com a política, as demandas das minorias, ao respeito à soberania de outros
povos, que nem por isso vai deixar de somar na troca cultural.
“Tempo,
compositor de destinos, tambor de todos os ritmos”, como diz Caetano, “ouve bem
o que te digo”: essa geração de super-heróis vingadores marcou mais pelo final (os
dois últimos filmes – contando com a aparição do Pantera Negra e da Capitã
Marvel) mostrando que a próxima vai ser melhor ainda: um negro é o novo Capitão
América, mesmo em dias com Trump. Como diz o rapper Baco Exu do Blues: “Eles
tem medo pra caralho de um próximo Obama”. Mas a Marvel parece não ter.
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