Boletim Letras 360º #323
Começo de semana de riquezas para os leitores do Letras in.verso e re.verso. Em nossa conta no Instagram realizamos o sorteio da nova edição de Grande sertão: veredas, de João Guimarães Rosa (Companhia das Letras); foi o segundo sorteio deste livro entre os que acompanham o blog a partir das redes sociais, o primeiro foi em nossa página no Facebook. Bom, e nesse espaço realizamos outro sorteio: há muito estávamos com uma enquete que perguntava aos leitores sobre o conteúdo disponibilizado na página e os interessados em concorrer a um livro surpresa bastavam deixar um comentário na enquete depois de votarem. Noutra ocasião, quando o livro chegar às mãos da ganhadora (foi uma leitora do Rio de Janeiro) divulgaremos qual era o título em questão. Agora, vamos às notícias da semana por lá.
Euclides da Cunha. O evento que sublinha homenagem à sua obra divulga programação. |
Segunda-feira,
13 de maio
Escritora
conhecida por seus cordéis, Jarid Arraes estreia no gênero dos contos.
Redemoinho em dia quente foca mulheres da região do Cariri, no Ceará; os contos de Jarid desafiam
classificações e misturam realismo, fantasia, crítica social e uma capacidade
ímpar de identificar e narrar o cotidiano público e privado das mulheres. Uma senhora
católica encontra uma sacola com pílulas suspeitas e decide experimentar um
barato que a leva até o padre Cícero, uma lavadeira tenta entender os desejos
da filha, uma mototáxi tenta começar um novo trabalho e enfrenta os desafios
que seu gênero representa. A edição é
da Editora
Alfaguara.
Este livro
foi anunciado aqui no final de 2018. Agora em junho, chega às livrarias.
O autor do
prêmio Nobel selecionou os sete pensadores liberais que o ajudaram a
desenvolver um novo conjunto de ideias após uma grande decepção: o desencanto
com a Revolução Cubana e o distanciamento das ideias de Jean-Paul Sartre, o
autor que mais o inspirou na juventude. Vargas Llosa estabelece um diálogo
denso e detalhado com os pensadores que formaram sua base de leitura durante
seus anos de frustração: Adam Smith, José Ortega y Gasset, Friedrich Hayek,
Karl Popper, Raymond Aron, Isaiah Berlin e Jean-François Revel. A partir desses
autores, Vargas Llosa conheceu uma tradição de pensamento que favorece o
indivíduo frente à tribo, à nação, à classe ou ao partido, e que defende a
liberdade de expressão como um valor fundamental para o exercício da
democracia. O chamado da tribo é a autobiografia intelectual de um
dos maiores escritores dos nossos tempos. A tradução de Paulina Wacht e Ari
Roitman sai pela Objetiva.
Neste
romance celebrado pela crítica, a ucraniana de língua alemã Katja Petrowskaja reconstitui a fragmentada trajetória de sua família a partir de uma perspectiva
inusitada.
Numa esquina
da Kiev dçe setembro de 1941, a babuchka, que talvez se chamasse Esther,
pergunta em iídiche a soldados alemães o caminho para Babi Yar, onde, dois dias
depois, mais de 33 mil judeus seriam mortos. Essa história, porém, começa muito
antes e é narrada de um ponto de vista singular: o de uma ex-cidadã soviética
nascida na Ucrânia no início da década de 1970 que escolhe Berlim como refúgio
e ponto de partida, e adota o alemão, aprendido aos 26 anos, como instrumento
de resgate de uma fragmentada história familiar. É dessa Berlim, hoje pacífica,
que parte a jornada da narradora em busca da própria história, entrecruzada a
todo instante por eventos cruciais do século XX. Talvez Esther é
traduzido por Sergio Tellaroli e sai pela Companhia
das Letras.
Neste livro
de contos, Sérgio Rodrigues brinca com coisa séria. Depois de presenciar um
encontro mitológico no céu da MPB, o leitor vai para a cama com Machado de
Assis e acompanha um desfile de histórias cheias de graça, prosa afiada,
erudição literária e cultura pop.
Nos contos
de A visita de João Gilberto aos Novos Baianos, o prazer de contar
histórias sobre histórias é o antídoto à alardeada perda de potência da
literatura em nosso tempo. Assim, a história do mundo pode caber em treze
tweets, tornamo-nos cúmplices de uma farsa erótica ambientada na Vila Rica dos
inconfidentes e espiamos pela fechadura a intimidade de um famoso personagem
machadiano. No conto que abre e nomeia o livro, fantasia pop inspirada no
encontro real entre o gênio da bossa nova e os jovens hippies liderados por
Moraes Moreira, vislumbra-se uma síntese da contribuição original que a arte
brasileira pode dar ao mundo: metade precisão rigorosa, metade delírio e festa.
Os mesmos ingredientes podem ser encontrados na prosa entre o culto e o popular
que anima um livro dividido em três partes, como um LP impossível. No Lado A
ficam as narrativas mais clássicas. O Lado B é dedicado aos fragmentos de um
experimentalismo que examina com humor ferino, mas sem perder a ternura, os
cacos restantes das velhas catedrais literárias e suas vaidades autorais na era
da internet. Fecha o volume a deliciosa novela "Jules Rimet, meu amor",
publicada em 2014 como e-book.
Um dos
testemunhos mais relevantes e estarrecedores do genocídio nazista ganha agora
nova dimensão. Publica-se uma nova versão do Diário de Anne Frank: o caderno de
rascunhos que deu origem ao famoso livro.
O trabalho é
de Laureen Nussbaum, uma sobrevivente do Holocausto que se dedicou à tarefa nos
últimos 25 anos. Ela sustém que a versão agora publicada é que a própria Anne
Frank queria publicar. Intitula-se Querida Kitty. Rascunho de um romance
em cartas (em tradução livre) e ocupa quase 200 páginas. É um manuscrito
incompleto de uma menina que aspira a ser escritora. "Em todo caso, depois
da guerra, gostaria de publicar um livro intitulado 'Anexo secreto' [em alusão
ao lugar onde se escondeu com sua família em Amsterdã das garras do nazismo].
[...] meu diário pode servir como uma base", escreveu em 11 de maio de
1944. Nussbaum vive nos Estados Unidos desde 1954, onde dirigiu o Departamento
de Estudos Germânicos da Universidade de Portland. Otto, o pai de Anne Frank e
único sobrevivente da família, ficou com os diários de sua filha depois da
guerra e foram os pais de Nussbaum que o aconselharam que os publicasse depois
do assassinato da menina de 15 anos no campo de Bergen-Belsen; a obra saiu dois
anos depois da sua morte. O pai revisou os manuscritos originais e juntou-os
com a versão revista pela autora, resultando, assim, no Nussbaum considera
"uma amálgama" produzido pelo pai de Anne Frank.
Terça-feira,
14 de maio
Memória e
história se misturam e ao mesmo tempo se esquivam no relato semiautobiográfico de Aharon Appelfeld, o lançamento do selo
Ilimitada da Editora
Carambaia.
O romance,
originalmente publicado em 2013, é uma das últimas obras do escritor que
integra a linha de frente da moderna literatura israelense – ao lado de nomes
como Amos Oz e David Grossman. Por seu estilo original e pela abordagem oblíqua
dos temas fundamentais do judaísmo nos séculos XX e XXI, Appelfeld ocupa um
lugar único entre seus contemporâneos. O romancista Philip Roth, um de seus
maiores admiradores e corresponsável pela publicação de seus livros nos Estados
Unidos, o definiu como "um autor deslocado de obras deslocadas, que soube
se apossar de modo inconfundível do tema da desorientação". Appelfeld
filtra com sua história pessoal a diáspora judaica, a perseguição nazista e a
fundação de Israel – história marcada, aos 8 anos, pelo assassinato da mãe
seguido de uma fuga que o levou a se juntar a um bando de ladrões de cavalos e
ao trabalho como serviçal de uma prostituta, até chegar à Palestina, dois anos
antes da criação de Israel, sem família e sem idioma. Meu pai, minha
mãe retoma uma fase anterior, idílica mas assombrada pelo medo, da
infância do escritor. O livro se passa em 1938 e narra o mês de veraneio de uma
família da burguesia judaica às margens do rio Pruth, numa região que havia
sido alguns anos antes parte do Império Austro-Húngaro. Pai, mãe e um filho de
exatos 10 anos e 7 meses, chamado Erwin (nome de batismo do escritor),
atravessam seus dias entre horas dedicadas à natação e o convívio com outros
judeus em férias. São momentos de tranquilidade, em que a iminência de uma
guerra e do acirramento da violência contra os judeus é insistentemente
subestimada. Pelos olhos do menino, o leitor conhecerá um pai esportista,
cético e racional em confronto sutil com a mãe flexível e inquiridora. Outros
personagens frequentam o cenário: um homem diabético que teve sua perna
amputada, uma bela garota desiludida amorosamente, um médico abnegado, uma
vidente, um escritor às voltas com as exigências do ofício, um ex-socorrista do
exército, uma senhora que na juventude desprezou o cortejo de um príncipe. O
exercício de perscrutar e refazer memórias e o reforço das características
econômicas do idioma hebraico trazem à literatura de Appelfeld seus traços
únicos. O tradutor e autor do posfácio desta edição é Luis S. Krausz, professor
de literatura hebraica e judaica da Universidade de São Paulo.
Três livros de Valter Hugo Mãe, incluindo inéditos no Brasil
1. Contos de cães e maus lobos
A escrita de
Valter Hugo Mãe chega ao conto como uma delicadíssima forma de inclusão. Estes
contos são para todas as idades e são feitos de uma esperança profunda. Entre a
confiança e o receio, cães e lobos são apenas um símbolo para a ansiedade
perante a vida e a fundamental aprendizagem de valores e da capacidade de amar.
Entre a confiança e o receio estabelecemos as entregas e a prudência de que
precisamos para construir a felicidade. Como a edição portuguesa, a edição brasileira tem prefácio de Mia Couto.
2. Outro título
na biblioteca especial Valter Hugo Mãe
As mais
belas coisas do mundo trata-se de um conto apresentado pela primeira vez em
2010 e depois reeditado na antologia que agora se publica no Brasil. O selo Biblioteca
Azul, da Globo
Livros, organizou uma edição com projeto exclusivo e inédito que ao lado de O paraíso são os outros forma parte da biblioteca especial Valter Hugo Mãe.
Esta é a história de um menino que, desafiado pelo avô, procura conhecer os
mistérios da vida. Avô e neto vivem num jogo sem fim de perguntas e respostas,
enigmas e soluções, procurando, adivinhando e aprendendo sempre. Certo dia, o
menino fica sem resposta quando o avô lhe pergunta: Quais são para ti as coisas
mais belas do mundo? São as coisas de verdade, como tanto quanto se vê e toca?
Ou as coisas invisíveis, aquelas que pensamos, sentimos e sonhamos?
3. O primeiro
romance de Valter Hugo Mãe ganha nova edição
Este é o
primeiro livro da série composta por o remorso de baltazar serapião (2006), o apocalipse dos trabalhadores (2008) e a máquina de fazer espanhóis (2010). o nosso reino conta, em uma escrita arrebatadora, a história de um menino de
oito anos e sua vida em uma pequena aldeia portuguesa nos anos 1970, nos
estertores do regime salazarista. Narrado em primeira pessoa pelo pequeno
Benjamim, o texto descreve a sua busca para distinguir o bem e o mal em meio à
repressão da igreja e aos trágicos acontecimentos que ocorrem a seu redor,
quando ele é tido ora como santo, ora como demônio. Apresentado no Brasil pela
primeira vez pela Editora 34, o livro ganha reedição pelo selo Biblioteca
Azul, da Globo Livros. A nova edição tem prefácio de Maria Angélica
Melendi.
Quarta-feira,
15 de maio
Entre os
dias 24 de maio e 22 de junho, no Centro Cultural da Escola de Design da
Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG), uma série de eventos ocorrerá ao
redor da obra do escritor mineiro, como mostra, lançamento de livros, palestras
e oficinas. A não-presença do autor será explorada por meio de manifestos e
atividades.
O escritor
Sebastião Nunes publica pela editora Lote
42 o livro Um caso liquidado: memórias e Desvarios
de um poeta inacabado. Junto ao lançamento, uma série de ações acontecerá
no mês de maio em parceria com a UEMG, em Belo Horizonte, norteadas pela
pergunta "Onde está Sebastião Nunes?". O pontapé acontece no dia 24 de maio,
com a abertura da exposição Sebastião Nunes: Delirante Lucidez no
Centro Cultural da Escola de Design da UEMG. Com curadoria do autor e designer
Gustavo Piqueira, a mostra traz livros originais e uma análise das cinco
décadas de produção impressa do artista mineiro. Na abertura da mostra serão
distribuídos manifestos — do próprio Sebastião, da Lote 42 e Gustavo Piqueira e
da Escola de Design da UEMG. Esses manifestos inéditos giram em torno da
não-presença do Tião na sua homenagem. O poeta se mudou para Portugal em março,
alguns meses depois do Prêmio Governo de Minas Gerais pelo conjunto da obra.
O
conhecimento de Mário de Andrade acerca da cultura e do folclore brasileiros.
O nome de
Mário de Andrade é uma referência perene quando se trata da cultura e da
literatura brasileiras. Seus romances, contos e crônicas tingiram boa parte do
imaginário existente acerca das identidades que formam nossa cultura. Mário
conhecia o Brasil como poucos, graças às leituras e viagens que realizou ao
longo de sua vida por vários cantos do país. A obra "Aspectos do folclore brasileiro"
simboliza parte do fundamental conhecimento que ele acumulou acerca do conjunto
de tradições e costumes que integraram a formação do povo brasileiro. No estudo
“O folclore no Brasil”, Mário empreende um amplo e profundo balanço acerca dos
estudos existentes sobre o folclore no país, apontando para a necessidade de os
pesquisadores posicionarem seus objetos não como algo pitoresco, mas sim
cientes de estarem diante da importante missão de lidar com conhecimento de
grande utilidade para a humanidade. Além disso, expõe com minúcia e clareza
todo um plano de estudos e ações que deveria ser conduzido para que os
trabalhos acerca do folclore no país se estruturassem de forma promissora. A
seção intitulada "Estudos sobre o negro" congrega anotações de Mário – até então
inéditas em livro – sobre a presença da cultura africana na vida social
brasileira. Nela, destaca-se o texto "Cinquentenário da Abolição", escrito por
ocasião das comemorações na capital paulista dos 50 anos da abolição da
escravatura, em 1938. A edição é da Global
Editora.
Divulgada a
programação oficial da Festa Literária Internacional de Paraty.
"Relembrando
uma ideia do escritor argentino Ricardo Piglia, que só não veio a Paraty por
conta de um imprevisto, a literatura é a arte de construir uma memória própria
a partir de lembranças alheias. A formação de um leitor e de sua perspectiva
crítica, capaz de modificar tudo ao seu redor, passa pela memória dos outros,
cujas memórias foram formadas por outras, num processo de infinitas
possibilidades", assim se lê na apresentação da FLIP 2019 que homenageia
Euclides da Cunha, autor de uma obra-prima da nossa literatura e até o presente
um texto-denúncia que muito diz sobre os desmandos do poder sobre os menos
favorecidos no Brasil. O programa do evento reúne 33 criadores de diversos
universos, além do literário, de 10 diferentes países. Os ingressos para o
evento que acontece entre os dias 10 e 14 de julho começam a ser vendidos a
partir de 3 de junho. Saiba todas as informações no site.
Carlos
Drummond de Andrade sobre Machado de Assis
Em 1925, um
estudante de farmácia e jovem poeta que assinava Carlos Drummond publicou n’A
Revista, de Belo Horizonte, um artigo intitulado "Sobre a tradição em
literatura". Aos 22 anos, cheio de ímpeto juvenil, considerava Machado de Assis
um "entrave à obra de renovação da cultura geral" a ser repudiado. Três décadas
mais tarde, em 1958, Drummond publicou o poema "A um bruxo, com amo", uma das
mais belas homenagens de escritor para escritor na literatura brasileira. Um
único verso dá a medida do elogio: "Outros leram da vida um capítulo, tu leste
o livro inteiro". Ao longo das três décadas que separam posições tão
antagônicas, sob distintos pretextos e ângulos, Machado foi tema de inúmeros
textos do poeta itabirano. Pela primeira vez reunidos num único volume e
acompanhados de imagens, esses saborosos escritos retraçam o percurso da
compreensão profunda do escritor mais velho pelo mais novo e permitem um novo
olhar sobre o legado machadiano e sua relação com o modernismo brasileiro. A
organização é de Hélio de Seixas Guimarães e sai pela Editora Três Estrelas.
Quinta-feira,
16 de maio
Cem anos
depois da sua primeira publicação, O Potomak se revela aos leitores
lusófonos como um baú de preciosidades.
Neste livro,
encontramos máximas consagradas de Jean Cocteau e um vanguardismo literário
extraordinário, em que texto e imagem compõem, conjuntamente, a narrativa de um
romance dedicado a Igor Stravinsky, ou seja, à música, mas criado a partir de
um encantamento com a dança, mais precisamente com o Balé Russo de Serge
Diaghilev. Quando, em uma noite de 1912, Diaghilev disse a Cocteau:
"Surpreenda-me", este não poderia ter-lhe dado uma resposta melhor: O Potomak.
Nesse universo perfeitamente coctaliano, o narrador nos leva consigo em suas
visitas a um aquário situado no subsolo da praça da Madeleine, em Paris, onde
se encontra exposto o Potomak, um monstro aquático gelatinoso inspirador de
poesia. Além desses passeios poéticos e filosóficos, somos convidados a fazer
uma viagem desenhada, a bordo de um navio, na companhia dos pacatos Mortimar e
dos Eugenes, seres canibais. Mário de Andrade também não ficou indiferente a
esta obra: o modernista brasileiro conservava em sua biblioteca as edições
francesas de 1919 e 1924. É chegado o momento de você também se deixar
surpreender. A tradução de Wellington Júnio Costa sai pela Autêntica
Editora.
Um romance
hilário e poderoso sobre o experimento de hibernação de uma jovem, sua amiga
desastrada e uma das piores psiquiatras da história da literatura.
Estamos no
ano 2000, em Nova York, uma cidade cheia de possibilidades. E a narradora de Meu ano de descanso e relaxamento não tem motivo para queixas. Ela
é jovem, bonita, trabalha numa galeria descolada, mora num belo apartamento e
recebeu uma herança polpuda. Mas traz um enorme vazio no peito. E não apenas porque
perdeu os pais ou por causa da relação destrutiva que desenvolveu com sua
melhor amiga. O que pode estar tão errado? Durante um ano, ela passa a maior
parte do tempo dormindo, embalada por uma combinação de remédios prescritos por
uma psiquiatra inescrupulosa. O pior é que ela parece ter razão em seu desprezo
pelo mundo. Tudo fica um pouco ridículo sob sua ótica. Moshfegh nos convence de
que a alienação, em tempos confusos como os nossos, pode ser razoável e até
mesmo necessária. Delicado e carregado de humor ácido, impiedoso e compreensivo,
este romance revela por inteiro uma escritora inventiva e extremamente
talentosa. A tradução é de Juliana Cunha; a edição da Todavia.
Romance
retrata com precisão a atmosfera sufocante, as ambiguidades, a laceração social
e a angústia de um momento sombrio da história da França.
Em um regime
de opressão, que postura adotar? Resistir ou omitir-se? A armadilha se passa
durante a ocupação da França pela Alemanha nazista durante a Segunda Guerra. Em
1940, o jornalista Joseph Bridet deseja obter um salvo-conduto para ir à África
(de onde – justifica a si mesmo – poderia partir para a Inglaterra e juntar-se
às forças de De Gaulle). Para tanto, procura um conhecido que passara a ocupar
um posto importante no governo e se oferece como correspondente oficial na
Argélia. Começa então a provação de Bridet. A tradução de Paulo Serber F. de
Mello traz apêndice de Albert Camus é sai pela Editora
Mundaréu.
Sexta-feira,
17 de maio
A nova
edição brasileira de O Hobbit traz projeto original desenhado pelo
próprio Tolkien.
Bilbo
Bolseiro era um dos mais respeitáveis hobbits de todo o Condado até que, um
dia, o mago Gandalf bate à sua porta. A partir de então, toda sua vida pacata e
campestre soprando anéis de fumaça com seu belo cachimbo começa a mudar. Ele é
convocado a participar de uma aventura por ninguém menos do que Thorin
Escudo-de-Carvalho, um príncipe do poderoso povo dos Anãos. Essa jornada fará
Bilbo, Gandalf e 13 anãos atravessarem a Terra-média, passando por inúmeros
perigos, sejam eles, os imensos trols, as Montanhas Nevoentas infestadas de
gobelins ou a muito antiga e misteriosa Trevamata, até chegarem (se
conseguirem) na Montanha Solitária. Lá está um incalculável tesouro, mas há um
porém. Deitado em cima dele está Smaug, o Dourado, um dragão malicioso que...
bem, você terá que ler e descobrir. Lançado em 1937, O Hobbit é um
divisor de águas na literatura fantástica mundial. Mais de 80 anos após a sua
publicação, o livro que antecede os ocorridos em O Senhor dos Anéis continua arrebatando fãs de todas as idades, talvez pelo seu tom brincalhão com
uma pitada de magia élfica, ou talvez porque J.R.R. Tolkien tenha escrito o
melhor livro infanto-juvenil de todos os tempos. A edição é da Harpercollins
Brasil.
Um livro ácido e cortante sobre a rotina de uma prisão para mulheres.
Romy Hall
está no ônibus que irá levá-la para uma prisão na Califórnia, onde encontrará
um mundo novo, repleto de regras próprias, em que centenas de mulheres vivem em
meio à violência dos guardas e das próprias circunstâncias. Enquanto aprende os
códigos e os macetes para sobreviver, Romy pensa em sua vida anterior e em tudo
que a levou até ali. Pensa, sobretudo, em seu filho Jackson. Com uma notável
capacidade para descrever os absurdos da vida carcerária, Rachel Kushner criou
um romance antissentimental, audacioso e trágico. Mars club foi
traduzido por Rogerio W. Galindo e sai pela Todavia.
Reedição de Os três contos de Gustave Flaubert
Estes
constituem um dos pontos mais altos da literatura francesa. Ao retornar a
temas, figuras e paisagens que o acompanhavam desde a juventude, o autor de Madame Bovary destilou uma suma de sua obra nas breves páginas
deste último livro que chegou a completar. Seja narrando o meio século de
servidão de uma criada em "Um coração simples", seja desdobrando a tapeçaria
alucinada da "Legenda de São Julião Hospitaleiro" ou ainda reinventando um
episódio bíblico em "Herodíade", Flaubert levou a arte da ficção a territórios
ainda pouco explorados. Seu contemporâneo Henry James não tardou a ver "um
elemento de perfeição" neste livro de 1877; e o próprio Flaubert, a meio
caminho de sua redação, confidenciou numa carta: "Tenho a impressão de que a
Prosa francesa pode chegar a uma beleza de que mal se faz ideia". A tradução de
Samuel Titan Jr. e Milton Hatoum apresentada pela extinta Cosac Naify ganha
reedição pela Editora
34; integra a Coleção Fábula.
Adaptado
para a TV, o romance une ficção e realidade e influenciou toda uma geração de
artistas ganha edição no Brasil.
Chris Kraus,
uma cineasta independente e falida, apaixona-se por Dick, um respeitado crítico
cultural, e tenta seduzi-lo com a ajuda do marido. Quando Dick se recusa a
responder suas cartas, marido e mulher continuam a escrever um para o outro,
imaginando uma aventura que leva Kraus para muito além de sua paixão. Ao não
separar a privacidade da expressão artística, o livro atraiu tantos fãs quanto
detratores, numa controvérsia que continua até os dias de hoje. Eu amo
Dick, tradução de Taís Cardoso e Daniel Galera sai pela Todavia.
DICAS DE
LEITURA
Nesta semana
foi divulgada a programação da Festa Literária Internacional de Paraty de 2019.
O evento, como sabemos desde o final de 2018, homenageia a obra de Euclides da
Cunha. Se vamos ou não participar (pela carestia das coisas e a elitização do
evento só alguns iluminados conseguem chegar à cidadezinha) é uma boa ocasião
para revisitar ou conhecer a obra homenageado e de outros autores que
participarão do momento. Para isso, aliás, nada nos impede. Por isso, as
recomendações de leitura desta semana destacam alguns livros FLIP ’19.
1. Os sertões, de Euclides da Cunha. Há no
mercado edições para gostos diversos. De um breve levantamento realizado nas
livrarias contamos pelo menos cinco publicações diferentes. Para os de gosto sofisticado e exigente, a Editora Ubu
reeditou a versão especial da edição crítica preparada por Walnice Nogueira
Galvão; numa caixa reúne-se o livro seguido de extensa fortuna crítica,
reprodução de páginas das cadernetas de campo do escritor e um conjunto de
imagens de Flávio Barros, único registro fotográfico conhecido da Revolução de
Canudos. Soma-se um caderno de anotações sobre o estabelecimento do texto. Junto
com esta edição, a casa editorial preparou uma edição mais em conta, mas
preservando extensa parte do conteúdo da edição especial. Nesta mesma linha, o
leitor pode se identificar com a publicação da Ateliê Editorial e SESI-SP
Editora. Trata-se também de uma edição crítica preparada por Leopoldo Bernucci;
além do texto rigorosamente restaurado conforme as fontes autorizadas, o leitor
encontrará cerca de três mil notas que auxiliam o esclarecimento do vocabulário
do escritor. Das publicações mais em conta e com material de qualidade,
recomendamos Os sertões da Penguin /
Companhia das Letras; esta edição foi estabelecida por Lilia Moritz Schwarcz e
traz textos de apoio da professora, junto como André Botelho e Luiz Costa Lima.
A leitura da obra de Euclides da Cunha tem um valor para além da experiência
estética; enviado para Canudos para cobrir os eventos de massacre da República
sobre a gente simples do interior da Bahia, o escritor finda por documentar um
episódio que é, ao mesmo tempo, síntese e metonímia do Brasil: um país gestado
no calor da imposição autoritária e violenta de uma classe sobre as menos
favorecidas. A contar pelo que passamos, este livro é atualíssimo e fundamental
no processo de nosso autorreconhecimento que insistimos negar.
2. Também os brancos sabem dançar, de Kalaf
Epalanga. Um músico e escritor
angolano chega de trem à fronteira entre Suécia e Noruega. Juntamente com sua
banda, ele pretende se apresentar em Oslo. Sem um passaporte válido para
mostrar, vivendo num limbo entre as cidadanias angolana e portuguesa desde que
escapou da guerra em seu país para poder tocar a vida em Lisboa, ele é detido
por tentativa de imigração ilegal e conduzido à delegacia para averiguação.
Aflito com a precariedade de sua situação e ansioso para conseguir chegar a
tempo para o concerto, começa a se perguntar: como explicar que ele é apenas um
pacato artista angolano? Esse é o mote do romance de Kalaf Epalanga, uma viagem
colorida e repleta de memórias pessoais, musicais e literárias em torno da
África, Europa e Brasil. Narrado com leveza e graça, este livro é uma crônica
dos muitos encontros propiciados pela música e pelas palavras. Publicado no
Brasil pela Todavia.
3. Redemoinho
em dia quente, de Jarid Arraes. A notícia de apresentação do livro está
disponível na abertura deste boletim, trata-se, portanto, de trabalho que o
leitor encontra até a primeira semana de junho em pré-venda. Neste livro a
escritora reúne contos sobre mulheres brasileiras que não se encaixam em
padrões e desafiam expectativas. São textos que, como apresenta a sinopse
fornecida pela editora, misturam realismo, fantasia, crítica social e uma capacidade
ímpar de identificar e narrar o cotidiano público e privado das mulheres.
VÍDEOS,
VERSOS E OUTRAS PROSAS
1. Além do
clássico Os sertões, de Euclides da
Cunha, este ano foi o de reencontrar com Grande
sertão: veredas, de João Guimarães Rosa. Na semana quando se passam dois
anos da morte de Antonio Candido, recordamos este vídeo em que o professor
comenta sobre a obra do escritor mineiro. O autor de Formação da Literatura Brasileira participou da FLIP 2011 que
homenageou a Oswald de Andrade; há registros dessa passagem no YouTube do
Estadão: aqui e aqui, especificamente sobre o poeta modernista.
2. Euclides
da Cunha, além de Os sertões e de
outros textos em prosa, também escreveu poesia. Em 2009, a Editora Unesp publicou
uma antologia que reúne toda a produção literária do escritor nesse gênero; trabalho
de Francisco Foot Hardman. Em agosto de 2012, o blog da Revista 7faces reproduziu dois poemas que saíram num encarte da
edição dos Cadernos de Literatura
Brasileira, produzidos pelo Instituto Moreira Salles.
BAÚ DE
LETRAS
Ana Cristina
Cesar esteve um bom tempo dos anos sessenta na Inglaterra para um intercâmbio
pela Rotary Foundation. Nesse período, reavivou seus contatos com a poesia de língua
inglesa e chegou a traduzir poemas de autoras praticamente desconhecidas no
Brasil. É o caso de Emily Dickinson. No dia 15 de maio, quando da morte da poeta
estadunidense, recordamos esta postagem, dentre uma série das publicadas no
Letras sobre a poeta. É um texto seguido de traduções de Ana Cristina Cesar
para poemas de Dickinson.
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* Todas as informações sobre lançamentos de livros aqui divulgadas são as oferecidas pelas editoras na abertura das pré-vendas e o conteúdo, portanto, de responsabilidades das referidas casas.
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