Boletim Letras 360º #321
Como temos
feito desde a primeira semana de abril, semana a semana apresentamos dois novos
colunistas que a partir de 2019 passam a integrar o blog Letras in.verso e re.verso.
Ainda guardamos estreias. E nesta semana chegou-nos Marina Rufo Spada. Aguardemos
novidades – que sempre virão. E, aproveitando a ocasião dos recadinhos lembramos
soube outras duas coisinhas: até o dia 11 de maio recebemos inscrições no nosso
Instagram para a promoção que sorteia o segundo exemplar da nova edição de Grande
sertão: veredas (João Guimarães Rosa / Companhia das Letras); queremos logo chegar
a 74K amigos em nossa página no Facebook – isso para realizarmos outro sorteio –
por isso, até o dia 11 de maio o leitor pode participar de uma enquete
que abrimos por lá interessada em saber sua opinião sobre o conteúdo que
vinculamos naquele espaço. Os participantes nesta enquete interessados podem concorrer a um sorteio com livro-surpresa. Estamos carentes; queremos interação. Bom, recados
apresentados deleitem-se com as notícias da semana, as dicas de leitura e
outras novidades que este boletim reúne semanalmente.
Reedições colocam obra de Amós Oz em evidência no Brasil. Mais detalhes ao longo deste Boletim. Foto: Daniel Mordzinski. |
Segunda-feira,
29 de abril
As livrarias
portuguesas recebem a reedição de um importante ensaio de Sophia de Mello
Breyner Andresen há muito fora de catálogo
Em 2019,
como sublinhamos outras várias vezes nesta página, se comemora o centenário do
nascimento da poeta portuguesa Sophia de Mello Breyner Andresen. Entre as
diversas iniciativas que marcam esta efeméride, está a reedição, pela Assírio
& Alvim, de "O nu na antiguidade clássica". O célebre ensaio de
Sophia integra uma obra que reúne ainda uma antologia de poemas sobre a
Grécia e Roma; a reedição é constituída, portanto, pelo que, de principal, a
poeta escreveu sobre a Antiguidade Clássica. A edição é coordenada e organizada
por Maria Andresen de Sousa Tavares, responsável também pela seleção dos poemas
e respectivas notas e tem um prefácio de José Pedro Serra. A apresentação da
obra é motivo para a inauguração da exposição Olhares Mútuos,
que procura evidenciar as afinidades e o diálogo poético entre Vieira da Silva
e Sophia.
Uma visita
ao universo poético de Ana Martins Marques
As edições artesanais são sempre de alto charme. E eis uma. A Editora
Quelônio publica O livro dos jardins com capa em
papel artesanal feito com resíduos de folhas de bambu; o livro reúne poemas de Ana
Martins Marques de safra diversa. Ao todo são 21 textos: há alguns quase
contemporâneos ao seu primeiro livro da poeta; e textos que foram publicados em jornais,
revistas e na antologia dedicada a Orides Fontela O nervo do poema (Relicário Edições). O que os une são o tema das plantas, das flores e outros
vegetais; o tempo e sobre a própria poesia nas composições em homenagem a algumas
das poetas de predileção da autora: além de Orides, Sylvia Plath, Wislawa
Szymborska e Alejandra Pizarnik, entre outras.
Terça-feira,
30 de abril
Mais poemas inéditos e dispersos, de Charles
Bukowski
Charles
Bukowski escreveu prolificamente durante toda a sua vida – centenas de contos,
romances e, principalmente, poesia. A maioria desses poemas eram publicados em
revistas marginais, de pequena circulação, e muitos permaneceram não
publicados até hoje. Em Tempestade para os vivos e para os mortos,
Abel Debritto, especialista e biógrafo do autor, vem preencher essa lacuna.
Aqui estão reunidos os melhores desses poemas inéditos – que ficaram na gaveta
– e outros que jamais foram compilados em livro. Encontramos poemas do início
da carreira, nos quais é possível ver o autor em busca de sua verve, e também
poemas da velhice, no auge da maturidade como escritor. Reunidos e ordenados
cronologicamente, os versos compõem como que uma autobiografia acidental de
Bukowski. Não faltam a abrasão, a autocomiseração e a franqueza
característica, que revelam em toda sua glória a sordidez que faz parte do ser
humano. Também está incluído aquele que é considerado o último poema escrito
por Bukowski, “#1”, semanas antes de sua morte. Nunca o assombro diante da existência
foi retratado em versos ao mesmo tempo tão cotidianos e tão geniais. Nunca um
poeta conseguiu expressar de forma tão marcante e tão simples o fato
irrefutável de que, por dentro, todo ser humano é um perdedor. A tradução de
Rodrigo Breunig sai pela L&PM Editores.
As repercussões sobre Eça de Queirós no Brasil e em Portugal
As Edições
Sesc SP apresentam edição revista e ampliada da coletânea organizada pelo professor Benjamin Abdala Junior; Ecos do Brasil:
Eça de Queirós, leituras brasileiras e portuguesas reúne
nove artigos de estudiosos brasileiros e portugueses sobre a obra do autor de Os Maias. Os artigos buscam refletir sobre as características pelas quais a
obra eciana é mais comumente conhecida: o naturalismo, o realismo, sua elegante
mordacidade, a visão crítica e a composição minuciosa de tipos, comportamentos,
grupos sociais e da atmosfera burguesa de Portugal. Na segunda parte, apresenta
uma antologia de textos não ficcionais do autor organizada pelo professor Carlos
Reis, especialista na obra de Eça; a nova edição conta, ainda, com uma breve cronologia e caricaturas do escritor.
Quarta-feira,
1º de maio
Machado
de Assis real. A Faculdade Zumbi dos Palmares lança neste mês o movimento cujo
interesse é apresentar a imagem mais fiel do escritor brasileiro
A partir de
dados históricos e fotografias antigas, o movimento busca reparar a imagem de
Machado respeitando seus traços, sua origem e o tom da sua pele. O objetivo é
fazer a primeira errata para reparar a injustiça racial na literatura do país e
inspirar jovens artistas negros do Brasil inteiro a se expressarem para
superarem o preconceito racial. O projeto conta, dentre diversas atividades,
com este site, em que público pode retirar
a imagem de Machado recriada em substituição ao modelo branqueado que o fez
reconhecido. Essa foto corrigida e emoldurada será entregue à Academia
Brasileira de Letras, instituição fundada e presidida pelo escritor.
Encontrado
retrato inédito de Leonardo Da Vinci
A obra, que
segundo estimativas teria sido realizada entre 1517 e 1518, é um dos dois únicos retratos de Leonardo da Vinci feitos durante sua vida que sobreviveram através dos séculos. O outro, mais famoso, é o trabalho de Francesco Melzi, seu
mais fiel discípulo. Ambos serão apresentados ao público em uma grande
exposição em Londres dedicada a Da Vinci no Palácio de Buckingham, de 24 de
maio a 13 de outubro, informou em comunicado a Royal Collection Trust,
organização responsável pela conservação da herança real. Foi precisamente
durante a realização de uma investigação para preparar esta exposição, que
Martin Clayton, diretor de pinturas e desenhos da Royal Collection Trust,
identificou o retrato inédito entre as inúmeras obras da coleção. O esboço foi
"provavelmente" feito por "um assistente não identificado de
Leonardo" em uma folha de papel de estudo, na qual também há esboços de
pernas de cavalo feitas por Da Vinci, explica o comunicado. A exposição
apresentará outra surpresa: os estudos de mãos feitos por Da Vinci para "A
Adoração dos Magos", uma pintura inacabada. Esses esboços, que
desapareceram com o tempo, serão visíveis usando a tecnologia ultravioleta. O
brilhante pintor e cientista, nascido na cidade italiana de Vinci em 15 abril
de 1452 de uma relação ilegítima entre um homem rico e uma camponesa
adolescente, morreu no dia 2 de maio de 1519 na França.
Quinta-feira,
2 de maio
Depois de A caixa preta, a Companhia das Letras recorda Amós Oz com a reedição de outros seis livros do escritor que há muito estavam fora de catálogo no Brasil. São obras revistas e como novo projeto editorial.
1. Conhecer
uma mulher, um olhar atento e sensível sobre os mistérios
que, escondidos em cada um de nós, unem e separam as pessoas. Depois de
trabalhar para o serviço de informações por 23 anos, o agente secreto Yoel
Ravid passa em revista sua vida profissional e familiar. Afastado do serviço,
ao tentar entender a nova ordem de enigmas surgida de seu convívio com o
cotidiano da vida familiar, Yoel vê desmoronar suas táticas profissionais.
Diante da trágica morte da esposa, procura compreender a mulher que, apesar de
amar, ele nunca conheceu completamente; com ela travou durante anos uma batalha
subterrânea cujos motivos também lhe escapam. A história de Yoel, assim como a
daqueles que o rodeiam – a filha epiléptica, a sensual vizinha americana e seu
irmão voyeur, o corretor de imóveis Krantz, a moça de Bancoc –, está repleta de
enigmas, de pontos em suspenso que, como uma linguagem em código, exigem
decifração. Numa prosa marcada pelo equilíbrio entre concisão e expressividade, Amós Oz
traça as linhas que fazem do passado e do presente matéria de uma contínua
reflexão e ponto de partida para a descoberta de novas possibilidades de
conduta. A trajetória de Yoel Ravid, que tem aproximadamente a mesma idade do
Estado de Israel, pode ser lida como uma sutil alegoria da situação política
israelense, que, convivendo com ameaças constantes, deve encontrar em meio aos
conflitos as interpretações e respostas mais adequadas para instaurar uma nova
ordem regional. Este é um romance
arquitetado com rara versatilidade: história de detetive entrelaçada a uma
aventura doméstica e existencialista, que põe o conhecimento de si mesmo e do
outro como a mais premente missão.
2. Fima.
Com graça, agudeza e conhecimento profundo da alma humana, Amós Oz traça o
retrato de um homem e de uma geração que teve sonhos nobres e generosos, mas é
incapaz de fazer alguma coisa. Fima vive em
Jerusalém, mas acha que deveria estar em outro lugar. Ao longo de sua vida,
teve diversos amores, foi um jovem poeta promissor, meditou acerca do sentido
do universo, polemizou sobre os descaminhos de Israel, elaborou uma fantasia
detalhada sobre a criação de um novo movimento político e sentiu a ânsia
constante de abrir um novo capítulo em sua vida. E ei-lo agora, aos 54 anos, em
seu apartamento imundo, numa manhã cinzenta e úmida, travando uma batalha
humilhante para soltar a ponta de sua camisa presa no zíper da calça.
3. O mesmo mar, o mais alto grau de elaboração literária de
Amós Oz. Neste
romance introspectivo e poético, as guerras existem, mas são guerras da
intimidade – como a do próprio Oz, que no livro aparece no papel de um escritor
e faz referência a uma tragédia pessoal: o suicídio de sua mãe, quando ele
tinha doze anos. A certa altura da narrativa, uma mulher jovem vai lhe
dizer que há algo de ridículo num homem que há 45 anos está de luto pela
mãe. O autor, entretanto, é uma personagem a mais, e o vigor do romance
evidentemente não se vincula a essa exposição autobiográfica direta. O enredo vai se revelando
numa seqüência de seções curtas, compostas às vezes no tom casual e ameno das
conversas de todo dia, às vezes como parábola bíblica, fábula, sonho ou poema.
O mundo em que vivem as personagens de Amós Oz é barulhento, mas o romance,
paradoxalmente, cria um intimismo que convida os leitores a se concentrar no
que elas estão dizendo.
4. Meu Michel, o romance
que projetou Amós Oz no cenário literário do Ocidente. Em 1998,
quando o escritor recebeu o Prêmio Nacional de Literatura de Israel, uma ala da
direita israelense apresentou queixa num tribunal, alegando que os textos
escritos por ele provocavam dor. O que se pode fazer contra a dor que um texto
é capaz de provocar? À parte as implicações políticas locais, esse episódio que
comporta algo de grotesco apenas confirmou a força da literatura de Oz. Lançado
em Israel em 1968 e reeditado agora no Brasil com nova tradução, este é o retrato magistral de uma mulher que desliza lentamente para a névoa
do delírio esquizofrênico, na Jerusalém da década de 1960. A protagonista, Hana
Gonen, trinta anos, é casada com um geólogo calmo, trabalhador, sensível – o
"meu Michel" –, um bom cidadão que, ao contrário da mulher, se recusa
a estender seus sonhos para além da linha do despertar. Para Michel, o tempo
presente é a matéria dócil com a qual se deve moldar o futuro. Já Hana se apega
à memória e às palavras como quem se agarra a um parapeito num lugar muito
alto. Com o passar do tempo, como uma ravina no deserto – tema da tese de
doutorado de Michel –, a fenda entre os dois se alarga. Abandonada aos próprios
pensamentos, girando em volta de si mesma, Hana deixa de ter o mundo exterior
como referência. Os contornos se borram. Schízo – em grego, "cisão",
"separação" – é o termo para esse desgarrar-se da realidade, para o
delírio que aos poucos cresce dentro dela como uma planta exuberante, feita do
desencontro assustador e doloroso entre atos, desejos, memória e palavra.
5. Não
diga noite, a aparente banalidade de uma crise conjugal revelada com
lirismo e ironia, dosados com a sutileza própria desse mestre da narrativa
contemporânea. Entre meias
palavras e palavras não ditas, Teo e Noa conversam sobre o dia-a-dia, num
diálogo pontuado pelo cansaço dos anos de convivência. Ao procurar o sentido
que se esconde e se revela em cada frase, o casal tenta se decifrar num curioso
jogo em que uma palavra pode significar seu oposto. Passando do cômico ao
trágico sem qualquer reviravolta dramática, Amós Oz transforma a relação entre
os dois amantes numa narrativa sutil que surpreende pelo modo como são vistos
os acontecimentos mais banais.
6. Pantera
no porão, misto de autobiografia e romance de formação, este livro
investiga com humor e poesia a tênue fronteira entre o real e a ficção, entre a
infância e a idade adulta, no conturbado alvorecer do Estado de Israel. Aqui o leitor é conduzido à
Jerusalém de 1947, às vésperas do fim da ocupação britânica e da criação do
Estado de Israel. O protagonista é um garoto judeu de doze anos, filho de
imigrantes poloneses, chamado de Prófi (diminutivo de professor) devido a sua
obsessão pelas palavras. Uma noite, surpreendido na rua após o toque de recolher, Prófi conhece o
sargento britânico Dunlop, um amante das tradições judaicas que fala um
hebraico comicamente arcaico. Os dois ficam amigos: Dunlop ensina inglês a
Prófi, este lhe ensina hebraico moderno. Membro fundador da organização secreta
LOM (Liberdade ou Morte), Prófi acredita poder extrair do amigo/inimigo
importantes segredos estratégicos. Mas os dois outros membros da organização,
Ben Hur e Tchita Reznik, vêem a coisa de outro modo: picham a frase "Prófi
é um traidor infame" na parede de sua casa e submetem-no a um julgamento
sumário. Ao mesmo tempo que fantasia inúmeros meios de limpar sua honra e
ajudar Israel a vencer seus inimigos (os ingleses e os árabes, antes de tudo),
Prófi se vê às voltas com sentimentos confusos pela irmã mais velha de Ben Hur,
Yardena, que um dia ele viu nua pela janela, sem querer. Narrado
retrospectivamente pelo protagonista já adulto, Pantera no porão não apenas
reconstitui a vida cotidiana em Jerusalém num momento crucial da história de
Israel, como também capta o delicado e inefável momento da passagem da infância
à idade adulta, no qual a fronteira entre a fantasia e a realidade ainda não
está totalmente delineada. Numa prosa leve, envolvente e bem-humorada, Amós Oz
põe em discussão conceitos como traição e lealdade e exalta a compreensão
humana acima dos conflitos étnicos, nacionais e religiosos.
Já encontram novo livro
de Buchi Emecheta no Brasil
Adah, a
mesma protagonista de Cidadã de segunda-classe, tem que criar e sustentar
sozinha os cinco filhos, vivendo no subúrbio de Londres, em um lugar que ela
chama de "o fundo do poço". Tentando manter seu trabalho diário e suas aulas
noturnas em busca de um diploma, ela se vê às voltas com o serviço de
assistência social, que lhes classifica como "família problema". É onde Adah
encontra uma causa comum com seus vizinhos brancos da classe trabalhadora e sua
luta contra um sistema social que parece destinado a oprimir todas as mulheres.
A tradução de No fundo do poço é Julia Dantas e sai pela Dublinense.
Sexta-feira,
3 de maio
Livro de destaque na carreira de Audre Lorde é o novo título na coleção
éFe da Autêntica Editora
Audre Lorde
é muitas e única. Mulher negra, poeta, lésbica e guerreira. Mãe e professora.
Ativista e pensadora. Todas essas facetas coexistem nos ensaios de Irmã
outsider, em harmonia. O pensamento de Lorde é profundamente enraizado na
experiência de estar fora do que chamou de "norma mítica" – branca,
heterossexual, magra. O olhar da outsider, deslocado, estrangeiro, é capaz
de análises certeiras sobre a necessidade de agirmos para transformar a
sociedade. Tal como sublinha Stephanie Borges, tradutora dos textos agora
publicados pela primeira vez no Brasil, "carinhosamente, Lorde nos convida
a enfrentar nossos medos e a quebrar silêncios. Descolonizar nossas mentes e
encontrar outras formas de sentir e pensar. Ler Irmã outsider é um modo de
começar." Este é o livro mais célebre de Lorde e os 15 escritos aí
reunidos datal de entre 1975 e 1983. São ensaios e conferências que costuram
temas recorrentes em seus nove livros de poesia e cinco de prosa: sexualidade,
autocuidado, racismo, amor, sexismo, classe, LGBTfobia.
Nova edição
para as fábulas de Esopo
Fábulas são
pequenas histórias que terminam com um breve ensinamento e em geral são
representadas por animais que pensam como gente. Aqui estão presentes 67
histórias que a tradição atribui a Esopo, um dos maiores contadores de fábulas
de todos os tempos, que viveu há mais de três mil anos na Grécia. Com adaptação
de Guilherme Figueiredo, esta edição conta com as belas ilustrações de
Alexandre Camanho, além de um glossário que ajuda os leitores a aproveitarem
melhor cada fábula. A edição é da Editora Nova Fronteira.
A Editora
Aleph anunciou o lançamento de uma nova versão de um clássico romance de Philip K. Dick
A edição
tem design de Giovanna Cianelli e capa de Rafael Coutinho, fortemente
inspirada no estilo de Norman Rockwell, artista conhecido por retratar o estilo
de vida estadunidense no início do século XX. O Homem do Castelo
Alto foi publicado originalmente em 1962 e se passa em uma versão
alternativa da Segunda Guerra Mundial. No livro de K. Dick, os exércitos do
Eixo teriam ganhado a guerra, depois do assassinato de Franklin D. Roosevelt em
1933 – quando o presidente dos Estados Unidos sofreu um atentado à sua vida,
mas que acabou vitimando Anton Cermak, então prefeito de Chicago. O livro
inspirou a série The Man in the High Castle, que chega ao fim em
sua quarta temporada.
DICAS DE
LEITURA
1. As odes de um
poeta àquelas criaturas que nascem com o gostoso e fatal veneno da lascívia. Falávamos sobre edições artesanais, eis uma: Odes a
Maximin, pelo coletivo Garupa. Este livro nasceu, como de praxe no trabalho do poeta Ricardo Domeneck,
de uma obsessão varonil. Era o verão berlinense de 2011 quando o poeta chegou à
casa de amigos gays que conversavam alto e animadamente sobre um rapaz que
aparecera em uma festa dias atrás. Aos dezenove anos e com cachos pendentes
sobre o rosto, o rapaz deixara os rapazes em polvorosa. "Exibia-se!", diziam.
Uma mera semana depois, o poeta o conheceria por acaso em outra festa. Corte na
ilha de edição da memória para este verão brasileiro de 2018, sete anos mais tarde,
após um caso tórrido, muitas noites em claro nos inferninhos berlinenses,
muitas conversas e brigas, e eis que chega às mãos do leitor este Odes a
Maximin – que não é o nome do rapaz, pois o poeta esconde embaixo deste
codinome aquele que antes se escondia sob cachos, como as sujeiras debaixo de
um tapete, assim como Adélia Prado escondeu o seu Jonathan e Cazuza escondeu
seu Beija-Flor. Se na obra anterior do poeta, o homoerotismo erguia
sua cabeça e outras extremidades em vários poemas, este é
certamente sua mais desbragada e honesta declaração de paixão homoerótica. Influenciado pela poesia homoerótica grega e latina, o livro tem
como pano de fundo histórico o culto a Antínoo e também o culto a Maximin no
chamado Círculo de George, do poeta alemão Stefan George. Pois existiu deveras
um Maximin histórico, o jovem poeta berlinense Maximilian Kronberger
(1888-1908), que seria praticamente divinizado em poemas por Stefan George após
sua morte precoce. O livro une-se a tantos outros relatos em prosa ou verso
dedicados por autores a paixões, como os poemas de Frank O’Hara para o
dançarino Vincent Warren na década de 1950, ou, já que falamos em um Vincent,
também o diário da relação conturbada do francês Hervé Guibert com um rapaz
parisiense em Fou de Vincent (1989). A tonalidade por vezes clássica do livro
está também no seu projeto gráfico, que segue tendências da edição de livros
tradicional, como a capa dura e a tipografia serifada. Cada exemplar traz uma
de doze cartas escritas pelo poeta, como quando encontramos uma carta esquecida
em algum livro no sebo. Já a temática homoerótica do livro aparece nas
ilustrações do artista alemão David Schiesser, que intercalam os poemas.
2. Novo
livro de Ian McEwan. Lá fora lido já como um trabalho que apesar não estar situado entre os primeiros, nem entre os dez, do escritor, não deve ser nunca uma obra menor. É que o escritor britânico é tão magistral em sua prosa e um pensador provocativo que até mesmo seus romances menores deixam marcas – palavras de Jeff Giles no The New York Times sobre Máquinas como eu, editado por aqui pela Companhia das Letras. A narrativa deste romance é situada em Londres, 1982. A Grã-Bretanha perdeu a Guerra das
Malvinas. A primeira-ministra Margareth Thatcher tem seu poder desestabilizado
ao ser desafiada pelo esquerdista Tony Benn. O matemático Alan Turing vive sua
homossexualidade plenamente e suas contribuições para o avanço da tecnologia
permitiram não só a disseminação da internet e dos smartphones como a criação
dos primeiros humanos sintéticos, com aparência e inteligência altamente
fidedignas. É nesse mundo que Charlie, Miranda e Adão ― o robô que divide a vida com o
casal ― devem encontrar saída para seus sonhos e ambições, seus dramas morais e
amorosos. O novo romance de Ian McEwan desafia nosso entendimento sobre humanos
e não humanos e trata do perigo de criar coisas que estão além de nosso controle.
3. Os
diários de Piglia. Pontualmente a Todavia Livros já nos trouxe o segundo volume desta obra de uma vida; tomara o fôlego prevaleça até o fim da longa jornada. Sai agora Os anos felizes. Neste livro o alter ego de Ricardo Piglia, oferece uma jornada inteligente e cheia de anedotas sobre a literatura latino-americana das décadas de 1960 e 1970. Se no volume anterior, Anos de formação (que também recomendamos), assistimos aos primeiros e decisivos passos do escritor iniciante, aqui sua carreira já se desenvolve a pleno vapor no mundo da literatura argentina, com a direção de uma revista, trabalhos editoriais, artigos, cursos e conferências. Renzi torna-se Piglia, dublê de intelectual que passa a ganhar cada vez mais importância. Nestas páginas envolventes, repletas de insights e muito brilho, a obsessão de Piglia pela literatura materializa-se em ideias e esboços de histórias e romances, leituras, encontros com escritores consagrados ― Borges, Puig, Roa Bastos e muitos outros ― e colegas de geração. Também são especiais as inúmeras reflexões sobre a escrita e a respeito do trabalho de autores clássicos e romancistas. E ainda aparecem as viagens, a vida íntima e amorosa, a Argentina daqueles anos convulsivos: a morte de Perón, o surgimento dos grupos guerrilheiros, o golpe militar que esfacelaria o mundo intelectual de Buenos Aires.
VÍDEOS, VERSOS E OUTRAS PROSAS
A estreia de
Maiakóvski como ator aconteceu num pequeno papel no filme Drama no Cabaré dos
Futuristas N° 13, de Vladímir Kassiânov, em 1914. Ao todo foram três filmes em
que poeta russo atua como protagonista; Não nascido para o dinheiro, baseado
no livro Martin Eden, de Jack London; A senhorita e o baderneiro, um
sucesso de bilheteria que ficou em cartaz por muitos anos e foi também dirigido
do começo ao fim pelo próprio Maiakóvski. Neste filme, a personagem é baseada
parcialmente no próprio poeta e também inspirado pelo livro escritor italiano
Edmondo de Amicis A professora do trabalhador. Há uma versão online aqui. E o terceiro filme foi Algemado pelo filme, de Nikandr Turkin, do qual foi conservado algumas
passagens como esta em que se mostra a personagem de Maiakóvski, o Artista,
sendo apresentada à Bailarina. A narrativa é uma adaptação do mito grego de
Pigmalião, que se apaixonou por sua própria escultura. O Artista se apaixona
pela imagem que vê em um filme, a Bailarina (interpretada pela musa de
Maiakóvski na vida real, Lilia Brik) e tem um caso amoroso imaginário com ela.
BAÚ DE
LETRAS
A semana no blog começou com um texto de nosso colunista Pedro Belo Clara. Graças a ele, Eugénio de Andrade deve ser o escritor português, depois de José Saramago, António Lobo Antunes e Fernando Pessoa, mais comentado por aqui. Daí recordamos a primeira post apresentada no Letras que traz alguns traços biobibliográficos sobre o poeta.
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* Todas as informações sobre lançamentos de livros aqui divulgadas são as oferecidas pelas editoras na abertura das pré-vendas e o conteúdo, portanto, de responsabilidades das referidas casas.
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