Boletim Letras 360º #317
Entrou abril
e com este mês iniciamos a apresentação dos novos colunistas do blog. Estão acomodados
para novas viagens, Rafa Ireno e Joaquim Serra. Aproveitamos para reiterar as boas-vindas
e avisar aos nossos leitores que durante as próximas semanas, calmamente, chegarão
os nomes restantes. Para não perder nenhuma informação é simples: fica atento ao
Letras — temos postagens diárias e às nossas redes sociais (os links estão disponíveis
no final deste boletim). Também queremos lembrá-lo sobre a nova promoção que
realizamos em parceria com Global Editora; no dia 13 de abril, em nossa página
no Facebook, sortearemos um exemplar da novíssima edição de Sagarana, de Guimarães Rosa. Avisos
dados, vamos às notícias divulgadas esta semana em nossa página no Facebook, às
dicas de leitura e outros ricos detalhes encontrados apenas aqui, no Boletim
Letras 360º.
Maria Teresa Horta. Foto: Luís Barra. A obra da poeta portuguesa começa a circular em edição brasileira. Mais detalhes ao longo deste Boletim. |
Segunda-feira,
1 de abril.
A arte de
repaginar clássicos da literatura
Em parceria
com a Amazon uma nova editora brasileira, a Antofágica. E, do interesse de
repaginar clássicos da literatura, o primeiro título que chega na primeira
semana de maio é A metamorfose, de Franz Kafka. Essa pequena
novela, lançada em 1915, revolucionou a literatura e as artes. De forma
agressiva, acessível e inovadora, tornou-se um dos mais importantes e
difundidos textos da história. O início da obra está inscrito entre os melhores
começos da literatura. "Quando Gregor Samsa, certa manhã, acordou de
sonhos intranquilos, tudo mudou. Não só em sua vida, mas no mundo". Ao se
encontrar metamorfoseado em um inseto monstruoso, Gregor acompanha as reações
de sua família ao perceberem o estranho ser em que ele se tornou. E, enquanto
luta para se manter vivo e entender a sua nova realidade, reflete sobre o
comportamento de seus pais, de sua irmã e de seu chefe, e de forma ainda mais
angustiante, pensa na própria vida até então. A nova edição, além de tradução
inédita feita por Petê Rissatti, traz 93 ilustrações exclusivas, por meio das
quais o artista e escritor Lourenço Mutarelli interpreta o processo de
transformação de Gregor. Inclui-se, por fim, um ensaio de Flavio Ricardo
Vassoler, doutor em literatura comparada, sobre a contemporaneidade de Franz
Kafka.
A contística
de Wolfgang Borchert
Ele foi um
dramaturgo e escritor alemão. Teve uma curta existência de 26 anos, marcada por
experiências nos campos de batalha da Segunda Guerra Mundial, pela vivência nas
forças hitleristas e na luta contra elas que o levou a várias prisões. Contos reunidos de Wolfgang Borchert é uma antologia que apresenta
este escritor pela primeira vez no Brasil; seus textos retratam o nazismo e são
referência da literatura alemã sobre o trauma pós-guerra. Traduzido por Caio
Lindoso e Fernando Miranda, o livro ganha edição no Brasil pela editora Jaguatirica com
apoio do Instituto Goethe.
Terça-feira,
2 de abril.
Nova edição de uma das obras mais lembradas na
cena da crônica brasileira
As crônicas
de A borboleta amarela foram publicadas em diversos jornais entre
janeiro de 1950 e dezembro de 1952, época em que Rubem Braga já era considerado
um expoente da crônica na imprensa brasileira. Graças ao seu lirismo e ao seu
raro dom para captar e transmitir aquilo que parece sem importância, Rubem não
se furta a destacar em suas crônicas o que pode haver de misteriosamente belo
nas angústias e incertezas que a vida apresenta, como também sinaliza para a
fugacidade da plenitude, sentimento desejado por muitos em nosso planeta. Neste
jogo em que expectativa e realidade se digladiam, as visões e experiências mais
prosaicas são cozidas pelo cronista de maneira a conceber textos os quais
apontam que ao fim não deve ser dada tamanha importância, mas sim ao percurso,
ao conjunto de experiências vividas. Os leitores têm aqui uma amostra vigorosa
da potência narrativa do autor, qualidade que conduziu nosso cronista maior a
despejar elementos latentes da alma humana em sua prosa marcada pela minúcia. É
exatamente neste livro que Rubem Braga faz uma de suas mais conhecidas e
características afirmações sobre a crônica, gênero que o consagrou: Há homens
que são escritores e fazem livros que são como verdadeiras casas, e ficam. Mas
o cronista de jornal é como o cigano que toda noite arma sua tenda e pela manhã
a desmancha, e vai. A crônica que dá título ao livro comprova como Rubem estava
sempre pronto a captar a simplicidade das coisas e a ser tocado de forma
comovida por todas as manifestações de beleza que o cotidiano lhe reservava:
"Reparei que nenhum transeunte olhava a borboleta; eles passavam, devagar
ou depressa, vendo vagamente outras coisas — as casas, os veículos ou se vendo —, só eu vira a borboleta, e a seguia, com meu passo fiel". A reedição da
obra é da Global
Editora, que tem se dedicado na repaginação de toda a obra de Braga.
Uma completa
edição de Eugênio Onêguin, o romance em verso escrito por Aleksandr
Púchkin
É
unanimidade que Eugênio Onêguin é considerado um clássico e seu
homônimo protagonista tem servido como modelo para uma série de heróis da
literatura russa. Publicado em série entre 1825 e 1832, a primeira edição
completa foi publicada em 1833, e a versão atualmente aceite é baseada na publicada
em 1837. Nele, a vida em São Petersburgo se apresenta como uma enxurrada de
influências estrangeiras, tanto material, na conformação de um cavalheiro cheio
de apetrechos vindo de Londres, e culturais, influências de romances de língua
inglesa e francesa de sentimento burguês como as obras de Samuel Richardson. A
nova edição em duas partes da obra de Púchkin sai pela Ateliê
Editorial; inclui notas do escritor e dos tradutores Alípio Correia de
Franca Neto e Elena Vássina. Na segunda parte do volume, além da tradução dos Capítulos 5-8
do Eugênio Onêguin, o leitor tem um apêndice que apresenta a tradução de variantes
textuais do romance, bem como dos fragmentos da "Viagem de Onêguin",
não utilizados por Púchkin; outro apêndice apresenta ensaios paradigmáticos
sobre tópicos de interesse relativos ao romance; e um terceiro apêndice inclui
textos dos tradutores sobre princípios teóricos e técnicas que nortearam a
tradução da obra. Dedicada a Boris Schnairderman que orientou os passos dos
tradutores, esta é a edição mais completa do clássico russo entre nós.
Antologia
reúne novas traduções para poemas de Paul Valéry
Paul Valéry
é um dos grandes nomes da literatura francesa e autor de poemas que estão entre
os mais significativos que o século XX produziu, ao lado de obras como as de T.
S. Eliot, Ezra Pound, Fernando Pessoa, Rilke. O catálogo da Ateliê
Editorial, que já dispõe de títulos como Meu Fausto (2011) e Fragmentos do Narciso e outros poemas (2013), publica agora O
azul e o mar. A antologia organizada por Eduardo de Campos Valadares,
autor também da tradução e apresentação do livro, reúne poemas de
Charmes, poemário editado em 1922, do qual se destaca a publicação
de "Le Cimitière Marin" (Cemitério Marinho) e "Ébauche d’un
Serpent" (Esboço de uma Serpente), apresentados um ano antes. O azul
e o mar reúne ainda outros poemas esparsos e "La Jeune Parque"
(A jovem Parca), de 1917, texto que marca seu retorno à poesia por influência
de André Gide.
Serotonina,
de Michel Houellebecq chega às livrarias brasileiras em julho
Florent-Claude
Labrouste tem 46 anos, detesta seu nome e se medica com Captorix, um
antidepressivo que libera serotonina e que tem três efeitos adversos: náuseas,
desaparição da libido e impotência. Seu périplo começa em Almeria — com um
encontro num posto de gasolina com duas mulheres que teria acabado de outra
maneira se protagonizassem um filme romântico ou pornográfico —, segue pelas ruas
de Paris e depois pela Normandia, onde os agricultores estão em pé de guerra. A
França se afunda, a União Europeia e a vida sem rumo de Florent-Claude também.
O amor é uma enteléquia. O sexo, uma catástrofe. A cultura - nem mesmo Proust
ou Thomas Mann — não é uma tábua de salvação. Florent-Claude descobre
escabrosos vídeos pornográficos nos quais aparecem sua namorada japonesa, deixa
o trabalho e vai viver num hotel. Deambula pela cidade, visita bares,
restaurantes e supermercados. Filosofa e diverte-se. Também repensa seus
relacionamentos amorosos, marcados sempre pelo desastre, às vezes cômicos e
noutras patéticos (com uma irlandesa que trabalhava em Londres, com uma
aspirante a atriz que não chegou a triunfar e acabou lendo textos de Blanchot
para o rádio...). Reencontra-se com um velho amigo aristocrata, cuja vida
parecia perfeita mas já não é porque sua mulher o abandonou por um pianista
inglês e levou consigo suas duas filhas. É esse amigo que o ensina a manusear
um fuzil. Niilista lúcido, Michel Houellebecq constrói uma personagem e
narrador desbragado, obsessivo e autodestrutivo que perscruta sua própria vida
e o mundo que o rodeia com um humor áspero e uma virulência desgarradora.
Serotonina demonstra que o escritor continua sendo um cronista
desapiedado da decadência da sociedade ocidental do século XXI, um escritor
incômodo e totalmente imprescindível.
Quarta-feira,
3 de abril.
A edição de
Deus-dará, de Alexandra Lucas Coelho
Este é um
livro de fôlego, que reconfirma o nome da escritora portuguesa como
incontornável ficcionista. Depois dos romances E a noite roda, galardoado com
o Grande Prêmio de Romance e Novela APE, e O meu amante de domingo, Livro do
Ano Público / Time Out, (inéditos no Brasil), chega pela Editora Bazar do Tempo Deus-dará. Sete dias na vida de São Sebastião do Rio de Janeiro, ou o
Apocalipse segundo Lucas, Judite, Zaca, Tristão, Inês, Gabriel & Noé. Um
romance passado no presente, que atravessa quinhentos anos de história entre
Portugal e Brasil: a história do Rio de Janeiro desde a sua fundação à
atualidade, ilustrando a presença portuguesa, o caráter carioca, as
contradições e complexidades de uma metrópole imensa e vibrante. Este livro é
ao mesmo tempo palco histórico e cenário de uma trama irresistível
protagonizada por sete personagens ao longo de sete dias.
A Biblioteca
Azul, selo da Globo
Livros, apresenta mais uma edição de luxo para outro clássico de Monteiro
Lobato
Em A
chave do tamanho Dona Benta está desconsolada com os rumos da humanidade.
Enquanto Pedrinho lê as notícias da guerra no jornal, a matriarca do Sítio do
Pica-pau Amarelo fica cada vez mais entristecida com os horrores que os homens
promovem no mundo. Essa tristeza toma conta de todos e põe Emília para pensar.
A boneca resolve tomar uma decisão das mais drásticas: vai até a Casa das
Chaves e tenta abaixar a Chave da Guerra para que os conflitos cessem. Por
acidente, acaba abaixando a Chave do Tamanho, e reduz a estatura de todas as
pessoas — e também de si mesma. Agora todos precisarão aprender a conviver com
um mundo novo, em que animais e objetos são gigantes diante da pequenez humana.
"A maior reinação do mundo", como definia seu autor, foi escrita e publicada
durante o auge da Segunda Guerra Mundial. Nesta história está expresso todo o
desencanto de Monteiro Lobato com seu tempo, e sua tentativa de mostrar aos
homens quão pequenos eles podem se tornar — em todos os sentidos. Aqui, Emília
vai ficar frente a frente com Hitler e Stálin, visitará a Casa Branca e
liderará um plebiscito. Em A chave do tamanho, a estupidez e a
ignorância são combatidas com as armas da inteligência e da imaginação.
Dois títulos apresenta as duas primeiras décadas da poesia de Maria Teresa Horta
1. A poeta
portuguesa inicia seu percurso literário no início da década de 1960 e, sem
interrupção, continua sua trajetória até os nossos dias, o que representa
praticamente 60 anos de poesia e de ficção de uma qualidade irretocável, uma
trajetória poucas vezes realizada na história da literatura com o vigor e rigor
da que temos, como leitores e estudiosos, a alegria de presenciar. Pela
primeira vez, uma publicação reúne os primeiros volumes da obra de Maria
Teresa Horta: Espelho inicial (1960), Tatuagem (In
Poesia de 61, 1961), Cidadelas submersas (1961), Verão
coincidente (1962), Amor habitado (1963), Candelabro (1964), Jardim de inverno (1966) e Cronista não é recado (1967). O volume conta com os estudos de Ana
Maria Domingues de Oliveira e de Luís Maffei, ambos estudiosos de poesia
portuguesa, que em publicações anteriores se dedicaram à leitura da obra de
Maria Teresa Horta.
2. Depois do
volume que recolhe a poesia da poeta portuguesa apresentada na década de 1960,
um segundo traz ao leitor brasileiro a obra neste gênero apresentada
durante a década seguinte e contempla alguns dos títulos mais conhecidos e
talvez mais emblemáticos e polêmicos de Maria Teresa Horta: Minha senhora
de mim (1971), Educação sentimental (1975) e Mulheres
de Abril (1977). Como o primeiro volume, neste se apresentam dois estudos: o de Tatiana Pequeno, poeta e estudiosa de poesia, e de
Michelle Vasconcelos, uma das organizadoras desta coleção juntamente com
Marlise Vaz Bridi. Os dois volumes são editados pela Editora LiberArs.
A nova
edição de um dos maiores romances de Graciliano Ramos
No declínio
de um atribulado percurso de vida, Paulo Honório, poderoso fazendeiro do sertão
alagoano, conta a sua história. O narrador revisita dramas da sua vida e
conflitos internos que permanecem inexplicáveis até o momento em que suas
memórias estão sendo escritas. Nem a fazenda S. Bernardo, que Paulo Honório
comprou por preço irrisório, nem a professora Madalena, a quem contratou para
alfabetizar as crianças do seu empreendimento rural e com quem acaba se
casando, deram-lhe o sossego que tanto buscava. A escrita, então, é o que lhe
resta, na tentativa de ter de volta a paz desejada. Da elaborada teia
existencial desenvolvida ao longo da trama — com os conflitos entre as visões
de mundo incorporadas pelos personagens —, destaca-se um texto riquíssimo,
principalmente nas falas de Paulo Honório, construído em metáforas
surpreendentes, ainda que disfarçadas pela concretude das palavras. A nova
edição de São Bernardo integra o projeto de renovação gráfica
proposto pela Editora
Record.
Quinta-feira,
4 de abril.
O primeiro
romance da editora e escritora francesa Teresa Cremisi até agora inédito no
Brasil
Em A
triunfante, um livro de memórias, a autora narra sua infância no Oriente
Médio, a mudança para a Europa e faz reflexões sobre ser mulher e estrangeira;
esta é a história de uma criança do Oriente sonhando com a Europa, a cavalgada
de uma estrangeira cuja única pátria é a literatura, o humor, a ironia; é o
retrato de uma aventureira: a odisseia, bem-sucedida ou fracassada, no fim é o
que conta. A tradução de Sandra M. Stroparo sai pela Editora
Âyiné.
Céu
noturno crivado de balas, de Ocean Vuong
Um Vietnã
dilacerado pela guerra e pelo comunismo; Nova York - o símbolo da América -
ferida pela violência e pela intolerância; a homossexualidade como condição de
diversidade e marginalização. Trinta e cinco composições poéticas, inspiradas
na experiência desse jovem autor vietnamita que emigrou para os Estados Unidos
ainda criança. Céu noturno crivado de balas é animado por uma nova
linguagem, de fusão e criação, na qual o amor pelo classicismo — o mito, a estética,
a harmonia, a fé na ordem e na simetria — funde-se com a busca por novas
formas, sempre fiéis ao verso livre e a um diálogo, surpreendente e vital,
entre a prosa e o lirismo. A tradução é de Rogério Galindo e a edição da Editora
Âyiné.
Dois novos títulos integram a coleção Biblioteca Áurea
1. A reedição de
Todos os homens são mortais, de Simone de Beauvoir. Questionando
o poder, a cobiça, a morte, o prazer, o destino e a transcendência, este ensaio em forma de ficção é visto como uma
porta de entrada para a filosofia existencialista de Simone de Beauvoir, além
de ser considerado um de seus romances mais fascinantes. A nova edição
reapresenta a tradução de Sérgio Milliet e conta com prefácio inédito da premiada escritora
Adriana Lisboa.
2. E de um dos
textos clássicos de Virginia Woolf para o pensamento feminista. Em Um
teto todo seu, ensaio que veio a se tornar um texto
feminista fundamental, Virginia Woolf discute a necessidade de as mulheres
escritoras conquistarem seu espaço, tanto literal quanto metafórico, dentro de
um universo dominado por homens. Se Shakespeare tivesse tido uma irmã, dotada
dos mesmos talento e inteligência, poderia ela edificar o mesmo legado do
famoso bardo? Ideias como essa afluem neste livro com a liberdade inerente a
todo pensamento. Esta edição, que conta com um contundente prefácio da escritora Ana Maria Machado, reapresenta a tradução de Vera Ribeiro. A Biblioteca Áurea é uma coleção da Editora Nova Fronteira.
Novo título
nas reedições da obra de Graham Greene: O cerne da questão.
Scobie é um
major inglês que trabalha em uma colônia africana durante a Segunda Guerra
Mundial. Após a partida de sua esposa para a África do Sul, ele participa do
resgate de um naufrágio, e ali presencia a morte de uma criança. Este episódio
o faz reviver a morte de sua filha, que falecera poucos anos antes. Enquanto
revive o luto, conhece Helen, uma das vítimas do naufrágio, que se torna sua
amante. Depois de ser chantageado e se envolver em ações corruptas para o
tráfico de diamantes, o major passa a viver dividido entre o dever e a culpa.
Ao construir uma trama de viés ético-religioso com o pano de fundo de um país
colonial durante a guerra, Graham Greene se afasta do dos clichês da literatura
de viagem. O cerne da questão é, sobretudo, um romance sobre culpa e provação,
expiação e suicídio. A tradução de Octacílio Nunes sai pelo selo Biblioteca
Azul, da Globo
Livros. Este o quinto título das reedições apresentadas desde há dois anos;
antes, saíram Nosso homem em Havana, O americano
intranquilo, Um lobo solitário e Um condenado.
A Editora
34 reúne numa caixa os cinco grandes romances de Dostoiévski
Entre 1866 e
1880, Dostoiévski publicou uma sequência de cinco grandes romances que são hoje
reconhecidos como uma das maiores realizações do espírito humano. Crime e
castigo (1866), O idiota (1869), Os demônios (1872), O adolescente (1875) e Os irmãos Karamázov (1880)
trazem o escritor russo no auge de sua potência criativa. Personagens como
Raskólnikov, o príncipe Míchkin, Nastácia Filíppovna, o "demônio"
Piotr Stiépanovitch, o adolescente Arkadi Dolgorúki e os irmãos Dmitri, Ivan e
Aliócha Karamázov são mais do que invenções literárias: são encarnações das
forças conscientes e inconscientes da humanidade. Modos de, pela via da
literatura, acessar o que há de mais profundo em cada um de nós.
Sexta-feira,
5 de abril
O novo
romance de Manoel Herzog: Boa noite, Amazona
O narrador
desta "saga" amazônica é um economista de esquerda que trabalha para um grande
banco privado. É contra o aborto e a pena de morte, mas se recusa a dar os
mínimos direitos trabalhistas ao caseiro do sítio em que mora. Participa de
confrarias e seitas, é membro da maçonaria. Se diz humanista, mas perde a
cabeça quando um mutuário de empréstimo consignado não consegue pagar as
dívidas. Agora, aos 49 anos, passa por uma crise aguda. Divorciou-se da mulher,
o pai morreu. Queria ser escritor, não consegue produzir nada digno de nota.
Pelas madrugadas, acorda chutando os lençóis, e é diagnosticado com a chamada
Síndrome das Pernas Inquietas. Uma "bruxa-espanhola" lê seu destino no tarô e
lhe diz que sua salvação está na floresta. É a partir daí, guiado pelas cartas,
que ele decide empreender uma viagem ao coração da Amazônia, onde espera se
perder — e se reencontrar.
Há uma maneira de ajudar a Moçambique e é esta
Nos próximos
dias chega às livrarias portuguesas uma edição especial de O conto da
ilha desconhecida, de José Saramago,
exclusivamente dedicada à angariação de fundos para apoiar o trabalho da Cruz
Vermelha Portuguesa na assistência às vítimas do Ciclone Idai.
Esta é uma iniciativa conjunta da Porto
Editora, da Fundação
José Saramago e herdeiras do Escritor, que envolve também as Livrarias
Bertrand, a Fnac
Portugal e várias livrarias independentes, sendo que todas as receitas
e direitos de autor relativos à venda deste livro serão doadas a favor daquela
instituição. Pilar del Río, Presidenta da Fundação José Saramago, afirma, a
propósito desta iniciativa, que esta é uma maneira mais de tornar efetiva a
ética da responsabilidade, que José Saramago defendia como norma fundamental de
convivência. Esta edição exclusiva de O conto da ilha desconhecida,
que José Saramago acabou de escrever a 27 de março de 1997, i.e., há 22 anos e
alguns dias, como deixou registado no Volume 5 dos Cadernos de Lanzarote,
estará disponível nas Livrarias Bertrand, na FNAC e em várias livrarias
independentes, devidamente identificada com uma mensagem alusiva à iniciativa.
Publicado, pela primeira vez, em 1997, pelo Pavilhão de Portugal – Expo 98 e
pela Assírio & Alvim, este conto narra uma história de otimismo e
perseverança na concretização dos sonhos, protagonizada por um homem que
procura um barco para navegar até uma ilha que ninguém sabe existir. O conto da
ilha desconhecida foi por diversas ocasiões alvo de edições especiais para
apoiar a Cruz Vermelha em campanhas de reconstrução de países afetados por
catástrofes naturais, como em El Salvador ou na Colômbia. Em 2010, em resposta
ao forte terremoto que destruiu o Haiti, a Fundação José Saramago colaborou
também com a Cruz Vermelha, então com uma edição especial de A jangada de
pedra, cujas receitas reverteram, na totalidade, para apoiar a
reconstrução do país.
VÍDEOS,
VERSOS E OUTRAS PROSAS
O dia 2 de abril foi escolhido pela International on Books for Young People em 1967 para celebração do Dia Internacional do Livro infantil. A data é alusiva a Hans Christian Andersen. O escritor nasceu nesse dia em 1805 e escreveu extensa variedade de histórias para crianças. Títulos como O soldadinho de chumbo, A pequena sereia, A pequena vendedora de fósforos e O patinho feio, parte no imaginário cultural da literatura ocidental são do escritor dinamarquês considerado, assim, precursor dos livros para crianças. Então, as recomendações desta semana nesta parte do Boletim estão dirigidas ao público infanto-juvenil.
1. Para embalar
a imaginação, uma raridade: Alice no País das
maravilhas, filme de 1903. Esta é a primeira versão da história de Lewis Carroll. O arquivo que foi
restaurado pelo BFI National Archive, da Inglaterra, trata-se de uma peça
composta apenas 37 anos depois de Lewis Carroll escrever seu livro e oito anos
após o nascimento do cinema. A adaptação foi dirigida por Cecil Hepworth e
Percy Stow, e foi baseada nas ilustrações originais de John Tenniel. Veja aqui.
DICAS DE
LEITURA
1. O patinho feio e outras histórias. A
Editora 34 publicou uma coletânea das histórias de Hans Christian Andersen em
2017, quando se passava nove décadas da apresentação de uma edição ilustrada
por Olaf Gulbransson para a obra do escritor dinamarquês. A edição brasileira com
tradução de Heloisa Jahn, aliás, saiu com essas ilustrações originais. As histórias
de Andersen são de primeira grandeza, cheias de nuances no tom, ritmo e ponto
de vista, certeiras no desenho das personagens e da trama, e de uma imaginação
inesgotável, que sempre surpreende e dá o que pensar. A coletânea aqui recomendada
reúne cinco contos: “Polegarzinha”, “História de uma mãe”, “A roupa nova do
imperador”, “A menina dos fósforos” e “O patinho feio”. Na época a editora divulgou
que esta era o primeiro título de uma série chamada Obras escolhidas que reapresentaria a literatura de Andersen.
2. O mágico de Oz. Quando L. Frank Baum escreveu
este livro sabia que renovava a magia dos contos de fadas, mas talvez não tivesse
em conta que se tornaria um clássico e uma das histórias mais conhecidas no
mundo. A vida do Homem de Lata, de Dorothy e seus amigos pela longa estrada de
tijolos amarelos é uma obra-prima da literatura infanto-juvenil. Dorothy é órfã
e mora com seus tios em uma casa modesta da zona rural dos Estados Unidos. Um
dia, é carregada por um ciclone que a leva a um reino encantado: a Terra de Oz.
Durante sua aventura, a garota encontra três grandes amigos – o Espantalho, o Homem
de Lata e o Leão Covarde. Por aqui, há várias edições. Recomendamos a editada
pela Editora Zahar.
3. Alice no País das Maravilhas. Publicadas
pela primeira vez em 1865, as aventuras da menina Alice pelo País das
Maravilhas logo mostraram a que vinham, conquistando crianças, adolescentes e
também os leitores adultos. Este é outro clássico infanto-juvenil
incontornável, cheio de vida e de verve; romance repleto de alusões cifradas e
de humor sutil; fonte de inspiração para escritores, artistas e filósofos;
matéria-prima de adaptações literárias, versões cinematográficas e assim por
diante. Também há muitas edições disponíveis no mercado. Por gosto e porque
sabemos que aqui se preservou a forma integral e mesmo as ilustrações originais
de John Tenniel recomendamos a edição apresentada pela Editora 34 que tem tradução
de Sebastião Uchoa Leite como Aventuras
de Alice no País das Maravilhas. A mesma casa editorial reuniu numa caixa,
em 2005, para marcar os 150 anos da primeira edição, o que se tem como espécie
de continuidade Através do espelho e o
que Alice encontrou lá.
BAÚ DE
LETRAS
1. Para quem quiser mais dicas de leitura para a formação leitora infanto-juvenil recomendamos a leitura de uma lista que preparamos em 2012. Reunimos nesta post doze títulos.
2. Há muita coisa sobre os autores infanto-juvenis e o trabalho de outros autores voltados para este público editada no Letras. O arquivo está aí para ser explorado, mas não deixaríamos de recordar outro conjunto de posts, também de 2012; editamos uma série de catálogos com ilustrações das mais famosas para o livro de Lewis Carroll; a série foi chamada então de "As várias faces de Alice" e formada por sete posts acessíveis aqui.
.........................
* Todas as informações sobre lançamentos de livros aqui divulgadas são as oferecidas pelas editoras na abertura das pré-vendas e o conteúdo, portanto, de responsabilidades das referidas casas.
Comentários
a pré-venda do livro da Alexandra já começou?
obrigada!