Augusto Monterroso. O mestre da brevidade
Por Andrés Olascoaga
A alguns autores bastam um texto para destacá-lo na história da literatura. No caso
do escritor hondurenho Augusto Monterroso, esse texto foi um breve conto que
tinha “interpretações tão infinitas como o próprio universo”, repetindo suas
próprias palavras.
Monterroso apresentou o
referido texto, “O dinossauro”, na sua primeira reunião de contos, Obras completas (y otros cuentos) [Obras completas (e outros contos)], publicada
em 1959. Desde então seu trabalho literário, tal como a personagem principal de
seu conto, se manteve presente no imaginário coletivo.
Mas, seria
injusto limitar a vida do escritor a apenas seu mais célebre texto. Afinal, sua
história é uma das mais interessantes da literatura latino-americana.
Nascido em
21 de dezembro de 1921 em Tegucigalpa, Honduras, Augusto Monterroso Bonilla cresceu
mantendo-se distante da pátria onde nasceu e se instalou junto com seus pais na
Guatemala. Durante a adolescência, o filho de Vicente Monterroso e Amelia
Bonilla enfrentou as destruições que a Segunda Guerra Mundial e a ditadura de
Jorge Ubico provocaram no país centro-americano, dificultando o crescimento de
sua sociedade mas formando o interesse dele pelas problemáticas políticas que
atingiam a nação.
Monterroso
desempenhou um papel-chave durante as revoltas populares que levaram Ubico à
saída da cadeira presidencial desde a mobilização de grupos clandestinos à da opinião
pública a partir de sua coluna no jornal O
imparcial, um dos mais importantes do país. Depois da ascensão do general
Federico Ponce, o escritor fugiu para o México escapando de uma perseguição
policial. A embaixada do país de destino o recebeu e pouco depois foi convidado para
assumir um cargo diplomático. Em 1953, foi convidado por Pablo Neruda para
atuar como secretário na Gaceta de Chile.
Nesses anos, começou a escrever e publicar microcontos, gênero que se
distanciava das tendências jornalísticas, as quais estava acostumado e com que
a partir delas começou a formar o restante de sua carreira literária.
No retorno para o México, em 1956, começou a escrever ensaios e narrativas curtas,
as quais o tornaram um nome principal na nascente indústria editorial na América
Central. Três anos depois, o autor cativou a cena literária com seu microconto “O
dinossauro”, este que com apenas sete palavras consegue apresentar uma história
e um mistério, e que se considera como dos contos mais breves da literatura em
língua espanhola: “Quando acordou, o dinossauro ainda estava lá”.
Depois da
publicação do texto, contido nas Obras completas
(e outros contos) seguiram-se A ovelha negra e outras fábulas, de
1969; Movimento perpétuo, de 1972; e
os romances O resto é silêncio, de
1978, Viagem ao centro da fábula, de
1981, A palavra mágica, de 1983, A letra e: fragmentos de um diário, de
1987, e a coletânea de ensaios A vaca,
de 1998.
Como se fosse pouco, Monterroso foi também condecorado com a Medalha de Águila Azteca
em 1988 por seu trabalho como diplomata. Neste reconhecimento se soma à lista
títulos como o Prêmio Xavier Villaurrutia de romance em 1975 e o Prêmio FIL de
Literatura e Romance em 1996. Quatro anos depois, recebeu o Prêmio Príncipe de
Astúrias. No seu discurso o autor guatemalteco dedicou o galardão à literatura
da América Central e recordou o grande vazio que antecedeu sua aparição como escritor.
“Recordarei
que nossos ancestrais maias, refinados astrônomos e matemáticos que inventaram
o zero antes de outras grandes civilizações, tiveram sua própria cosmogonia no
que hoje conhecemos com o nome de Popol
Vuh, o livro nacional dos quichés, mitológico, poético e misterioso; Rafael
Landívar, autor da Rusticatio mexicana,
o melhor poema neolatino do século XVIII; José Batres Montúfar, contista satírico
em verso, cujas oitavas descendem diretamente de Ariosto e de Casti e fecham
brilhantemente a narrativa mundial nesta forma estrófica; e, por último, para me
aproximar perigosamente do nosso tempo, Rubén Darío, renovador da linguagem
poética em espanhol como não existira desde os tempos de Góngora e Garcilaso de
la Veja” – mencionou no discurso em questão.
Monterroso
também destacou que, em algum momento de sua carreira, seu sonho ideal era
aparecer nos livros de leitura entregues nas escolas primárias de seu país, e por
isso agradeceu à coroa espanhola porque o dinheiro do prêmio o ajudaria na
realização daquele desejo – que considerava “mais vaidoso do que parece”.
Augusto
Monterroso morreu três anos depois na Cidade do México, com a paz de que sua obra, mesmo em sua
versão mais curta, figurava não apenas nos livros de leitura obrigatórios para
os alunos da educação básica, mas também naqueles que são uma necessidade na
vida de todos os que amam os livros.
* Este texto
é uma versão de “El maestro de la brevedad”, e foi publicado inicialmente na
revista Gato Pardo, aqui.
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