Lygia Fagundes Telles, a arte de narrar
Por Pedro Fernandes A obra de Lygia Fagundes Telles se soma a de outras mulheres que marcam a literatura brasileira do século XX e se constitui, como as demais, por uma dupla via: a da transgressão e da resistência. Transgressão porque trata-se de uma obra que estabelece renovações nos estatutos da narrativa, como o exímio trabalho de construção do narrador, ao limite de a narrativa correr como se sozinha; e resistência, porque mesmo desconsiderando um sexo dos textos, é pouco provável que ao invés da categoria narrador tenhamos sempre, mesmo nos casos sub-reptícios, uma narradora. Mas, sua prosa, distribuída entre o romance, o conto e alguma crônica se constitui de uma particularidade: trata-se de uma obra de representação simbólico-social forjada a partir de sua memória e da realidade a qual pertence acerca, mas sem nelas se perder, acerca das inquietudes dos indivíduos no mundo e degelo das linhas objetivas que determinam aos olhos mais ingênuos as fronteiras da realida