O desabrochar do primeiro homem
Por Rafael Kafka A leitura de O estrangeiro sugere que Albert Camus era alguém de mente adstringente, seca. Fria. Ao menos, para o Rafael que o leu há mais de dez anos. Mesmo na época estando em profundo amor pelo existencialismo, fiquei com tal imagem em minha mente diante de um escritor que, de forma clara, mostrava como nossa sociedade é baseada em sentimentos de afeição construída e impostas socialmente. Pois mais do que o crime bárbaro cometido por Mersault, que hoje começa a ganhar conotações racistas – debate válido dentro da obra de Camus que discute a relação entre colonizador e colonizado de forma pungente –, o julgamento do protagonista do romance mais célebre do escritor franco-argelino tem como fatores intensificadores o fato de ele não chorar no enterro da própria mãe. Essa falta de sensibilidade coloca Mersault como um monstro e mesmo os leitores mais críticos e desprendidos de tais convenções sociais acabam estranhando um pouco sua postura. O que ajuda um p