Amós Oz: compromisso, lucidez e ternura
Por Eliahu Toker A língua hebraica é um instrumento poderoso, expressivo e musical. Poderoso, porque nela se escreveu, por volta do começo da civilização judaica, uma fascinante biblioteca mítica, sagrada e secular, a Bíblia hebraica; modulou de uma parte essa enciclopédia da interpretação e a polêmica dos sábios do Talmud; mais tarde, produziu uma diversidade de poéticas medievais, para mergulhar depois, e durante muitos séculos, numa espécie de hibernação da qual foi resgatada em finais do século XIX. Língua expressiva porque em sua mais profunda memória o hebreu guarda acordes bíblicos que poetas e prosadores seculares modernos entoam frequentemente, evocando uma expressão do Gênesis ou do Canto dos Cantos, às vezes mudando uma palavra como um gesto de sabedoria a fim de que o leitor descubra um novo matiz do texto sagrado. E é língua musical porque ressoam no hebraico vozes de todas as épocas, é ao mesmo tempo um instrumento flexível, aberto todavia à criação de termos