José Saramago, o ano de 1998
Por Pedro Fernandes A aparição destes diários de José Saramago é um acontecimento que guarda relações muito estreitas com um elemento recorrente na sua ficção: o acaso. É o acaso que abre o terror da barbárie em Ensaio sobre a cegueira ; é o acaso que coloca em cheque a mesmidade política em Ensaio sobre a lucidez ; é o acaso que faz um homem sair à procura de sua própria identidade em O homem duplicado ; ou à procura da identidade do outro em Todos os nomes ; e os exemplos poderiam se multiplicar. O acaso é um agente de transformação, claro está. Mas, na obra do escritor português, esse transformar só é possível se pela ação humana; sem ela, o acaso é só o acaso. Foi o acaso que ofereceu a oportunidade de se encontrar um diário que nunca teria fim se as obrigações e o tempo não fossem tão cruéis para com o diarista. É verdade que este último é cruel com todos, afinal não há existência por longa que seja, que não chegue ao fim. Aqui, bem poderia juntar a frase do próp