Os últimos dias de Thomas Mann
Por Rafael Narbona Catorze meses antes de Thomas Mann começar a sentir dores numa perna enquanto atravessava as dunas da praia holandesa de Noordwijk, sua filha Erika acordou sobressaltada no meio da noite no sanatório onde lutava contra uma insônia crônica e uma gastrite nervosa. Não sabia se era um sonho ou uma alucinação, mas havia visto seu pai agonizando na cama de um hospital, com o rosto lívido e os olhos moribundos. Os médicos que o atendiam se mostravam partidários de amputar as duas pernas. Horrorizada, Erika suplicava que não fizessem isso, pois seu pai sofrera um derrame e sua morte era iminente. Não seria necessário submetê-lo a uma cruel intervenção cirúrgica. Tomada por sua visão, Erika subia e descia as escadas do sanatório, gritando fervorosamente. “Aquela alucinação foi de um horror indescritível, de um terror denso e forte, desconhecido para uma vida de insone – escreveria mais tarde. Quem sonha, quem sofre um pesadelo está totalmente entregue ao hor