O livro pequeno mais longo do mundo
Por Kiko Amat Alice Otterloop é a protagonista da tirinha cômica Cul-de-Sac . Ela gosta de dançar sobre tampas de bueiros, mas em certa ocasião fica presa num deles “durante dias”, rodeada por um mar de lama. Quando sua mãe a resgata, no último quadrinho, descobrimos que na verdade só se passaram 15 minutos. A angústia do confinamento é relativa à passagem do tempo em seu relógio interno. Cada segundo se transforma em uma hora. Ler Cândido de Voltaire é uma experiência semelhante. E nem sequer se pode fazer o que fez John Carey em Paraíso perdido de John Milton quando editou a obra para o leitor moderno sem a retórica enfadonha ou a digressão embaraçosa preservando apenas as passagens mais importantes – uma solução que, também, valeria muito para Moby Dick . Isso porque o livro é muito pequeno: uma tacada de cento e poucas páginas insignificantes que, sem dúvidas e segundo avançamos, nos trai ao se mostrar em forma da Grande Enciclopédia Catalã, lida de A-Ami a U-Zw.