Que fazemos com “Lolita”?
Por Laura Freixas Medo e hostilidade: é a reação de muitos ante o movimento #Metoo, isto é, ante o feminismo aplicado à cultura. Criadores, intelectuais se mobilizam pela liberdade de criação; tem que a ideologia se imponha sobre a qualidade como critério máximo; e afirmam o direito da arte de representar o mal. Este último argumento me parece o mais interessante e é nele em que vou me concentrar. Não podemos exigir, nos dizem quem assim pensa, romances, filmes, óperas que pintem um mundo mascarado, politicamente correto, com personagens positivistas e ações moralmente não reprováveis. A arte que assim se porta seria falsa. Tomemos, por exemplo (é de fato seu exemplo favorito) Lolita : a história de um homem de meia-idade, Humbert Humbert, que gosta de meninas. O mundo, nos dizem, está cheio de Humberts. Que ganharíamos censurando seu reflexo literário? Aceito de imediato: tomemos Lolita . E o que primeiro vejo é uma história de violência exercida por um