Guimarães Rosa, observador literário
Por Guilherme Mazzafera Em uma importante carta para seu tio Vicente Guimarães, datada de 11 maio de 1947, Guimarães Rosa traça um detalhado e combativo diagnóstico da literatura brasileira de então, identificando uma série de problemas graves – sobretudo de ordem técnica – e esboçando soluções possíveis que adquirem, no teor de sua escrita, a dimensão de um posicionamento estético-político. Em seu contexto específico, a carta responde às críticas do tio à recém-publicada “crônica-fantasia” de Rosa, “Histórias de fadas”, mas seu interesse se espraia na formulação de uma tese, considerada vital, sobre a literatura e cultura brasileiras. Elaborada por “dever de artista” e como resposta a um estado de coisas determinado, a carta alterna proposições teóricas e comprovações empíricas de sua eficácia a partir de uma seleção de excertos críticos sobre Sagarana . De modo muito diverso de outras manifestações do escritor sobre o próprio ofício, a linguagem da carta não assume