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Mostrando postagens de janeiro 29, 2018

Nicanor Parra, o último antipoeta (e o primeiro)

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Por Javier Rodríguez Marcos Todos os dias morre algum poeta. Os antipoetas, por sua vez, morrem uma vez a cada século. Ou a cada era geológica. A razão é única: poetas sempre existiram e existirão; antipoetas só houve um, Nicanor Parra. Assim, em contraste com o restante de seus pares, o poeta chileno é apresentado pelo mais importante de seus estudiosos: o professor Niall Binns. Depois de assistir há três anos seu próprio centenário e há um ano o de sua irmã, a cantora Violeta, Nicanor Parra, que nasceu em San Fabián de Alico em 1914 morreu em sua casa de La Reina, em Santiago do Chile. Havia se mudado para esta residência pouco antes de seu aniversário, em setembro, e depois de passar os últimos anos no povoado litorâneo de Las Cruces. Ali permaneceu em abril de 2012 enquanto há 11 mil quilômetros de distância, em Alcalá de Henares, um de seus netos, Cristóbal Ugarte, recolhia em seu nome o Prêmio Cervantes. O avô, cuja idade não era mais indicada para uma viagem tra

Nicanor Parra: Preparado para viver e versejar

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Por Matías Serra Bradford Pareceu que o papa máximo da poesia hispano-americana esperou para morrer depois que partiu do Chile o sumo pontífice da Igreja Católica. Em um de seus textos de ataque, “O sorriso do Papa nos preocupa”, havia escrito: “ninguém tem o direito de sorrir / num mundo podre como este / salvo se tiver pacto com o Diabo”. Nicanor Parra não tinha papas na língua e esse paladar forjou um estilo inconfundível (seus imitadores só parecem repetir piadas alheias). Este deslinguado em série podia rir dos cardeais, ministros ou poetas. E disparar contra seu próprio fim: “A morte não respeita nem os humoristas de boa fama / para ela todos os chistes são ruins / apesar de ser ela em pessoa / quem nos ensina a arte de rir”. A personagem favorita de Parra era Chaplin, mas como advertiu o crítico Alone em 1954, “não o chamemos humorista: sugere a ideia de um profissional encarregado de fazer rir”. Se foi o rei Lear – que traduziu – das letras espanholas, o

As relações de Parra com o mundo

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Por Roberto Careaga C . Nicanor Parra, Miguel Grinberg, Allen Ginsberg, Maria-Rosa, Havana, Fevereiro, 1965. Foi na Inglaterra, em finais da década de 1940, onde Nicanor Parra encontrou a iluminação que buscava. A poesia tradicional que havia explorado em  Cancionero sin nombre  (1938) já não fazia sentido e, então, viu de relance na vitrine de uma livraria o livro  Apoemas , de Henri Michaux. “Perguntei-me: ‘Por que não intitular logo como  antipoemas  ao invés de  apoemas ?’”, contou anos depois, quando já havia iniciado a revolução com a antipoesia. Mas, além da ruptura com a tradição lírica chilena – que teve Pablo Neruda como importante antagonista –, o  projeto de Parra afetaria as bases de toda a poesia hispano-americana da segunda metade do século XX e para além de sua língua. Mas, o reconhecimento foi lento. Salvo os estadunidenses que já nos anos 1960 publicaram a obra do chileno em inglês, a Europa se manteve muito esquiva à antipoesia: tinha 97 anos quando n