Mother!, de Darren Aronofsky
Por Pedro Fernandes Mother! é um longo poema alegórico. E o poema que dá forma ao imbróglio cinematográfico se faz no seu interior. Isto é, estamos diante de um meta-poema. Logo, o poema é, a um só tempo, ele próprio, o filme e a representação simbólica do genesíaco; esta, por sua vez, designa tanto a criação poética, quanto a fílmica, como a criação do mundo. Aronofsky constrói, assim, um rico jogo de matrioscas no qual cada camada revela, por sua vez, uma poderosa metáfora sobre nós mesmos, desde o mito bíblico da criação à ruína apocalíptica. Além das metáforas e do vasto conteúdo simbólico sugerido – o próprio filme conforma um símbolo – é necessário notar a forma circular, a desidentificação das personagens e a descontinuidade do que, na ausência de um designativo melhor elaborado, chamaremos de enredo. Distinguiremos aqui não o motivo principal, a criação, nem as simbologias diversas propositalmente forjadas pela unidade poemática. E sim o símbolo principal que estab