Os melhores de 2018


Por Pedro Fernandes



Quando por esses dias, alguém me perguntou como foi o ano de 2018, não pude deixar de titubear com a resposta. É que, diferente de outros anos, sobretudo dos dois anteriores, os projetos pessoais tomaram melhor forma e algum rumo. E, por causa disso, sou tentado a responder que o ano foi muito bom.

Mas, como não pertenço ao rol de uns poucos privilegiados que não se comovem com os destinos do seu rebanho, sou levado a modificar a resposta para, não sem algum individualismo, dizer que, pessoalmente foi muito bom, mas coletivamente este ano foi pura desgraça. Vimos triunfar a hipocrisia, a imbecilidade, a ignorância de uma maneira que nenhum dos da minha geração imaginaria ver em plena alvorada de um novo século. E, o pior, já agora que tudo está à beira de um precipício cuja a altura não sabemos alguns continuam a insistir na brincadeira do pagar para ver, quando deveriam ter desistido da loucura.

Para bem e para o mal, essas duas possibilidades, entretanto, têm contribuído para deixar longe aquele desejo que pairou nos anos anteriores em torno desse projeto chamado Letras in.verso e re.verso. Primeiro, sou da tribo dos que, quanto mais se colhe frutos mais se trabalha e quanto mais se trabalha e colhe frutos mais se abre a novas ideias. É bem verdade que as ideias recentes em nada se relacionaram com o blog, mas colocar longe seu fechamento é, sim, alguma ideia. Segundo, em país bloqueado, é tarefa dos que guardam alguma lucidez, trabalhar pela difícil iluminação das consciências. 

Por aqui, se o trabalho braçal ainda é o de uma andorinha, o que, por vezes, imprime certa falta de fôlego para tanto, é preciso dizer que a chegada valiosa de novos colaboradores, extensa parte deles, empenhada em colaborar com a ampliação de nossas estantes e dos debates em torno dos livros e de outras expressões artísticas dialogantes com esse universo, é muito encorajadora. Alguns não sei se aqui voltarão (e não quero citar nomes que o leitor sabe quais são); a vida impõe rumos diversos, muitas vezes, da possibilidade de assumir alguns desejos que à primeira vista pareciam praticáveis. Outros poderão vir, porque o blog fará uma seleção para novos colunistas em breve.

Sobre os que colaboraram, não poderia deixar de marcar este texto o sempre Amigo Alfredo Monte. Eu ainda estava na graduação em Letras quando de uma ocasião em que preparava um curso sobre a obra de Auta de Souza que se chamaria “Em verso e (re) verso” dediquei-me a criar um espaço online para divulgar este evento. Fazia dois anos que o agora Letras in.verso e re.verso estava online com garatujas minhas, cópias de textos alheios que eu lia e achava interessante replicar, numa época, vê-se, quando a partilha nas redes sociais ainda era algo incipiente, e aparece o “Monte de Leituras”; é então quando começo a ler publicações de Alfredo no seu blog que passou a reunir, desde abril de 2009, um acervo invejável de textos sobre as mais diversas expressões literárias brasileiras, clássicas e contemporâneas, e da literatura universal. Anos mais tarde, conversamos por e-mail sobre a sua possibilidade de participar como colunista neste espaço, numa ocasião que este projeto ganhava outro formato: com textos de colunistas e de leitores interessados em escrever e publicar sobre literatura. Alfredo estreou em fevereiro de 2013 com um texto sobre Lima Barreto e continuou até novembro de 2016 com um texto sobre “O pêndulo de Foucault”, de Umberto Eco. Nosso último contato foi aí, mas já sabia o que o tempo havia lhe instaurado por e-mails anteriores e da sua impossibilidade em manter-se fiel colaborador com o blog. E de então acompanhei toda dedicação do crítico para com seus leitores e a literatura, sua maneira de dizer “não” às severas limitações impostas pela ELA. Guardo duas imagens de Alfredo, uma vez que não nos conhecemos pessoalmente: a de dedicado leitor e, talvez a mais cara das lições, certo espírito a Antonio Candido, que para ser acadêmico é fundamental despir-se dos ranços e das arrogâncias da academia. Esta lição pode ser provada e aprendida na simplicidade com que escrevia e falava sobre os livros que lia. A Alfredo Monte um Obrigado pelo empenho dedicado a este blog.

Por fim, não deixo de sublinhar que a ideia de uma lista é recorrente há muito no Letras e há dois anos adotei o modelo que segue: a partir das leituras e das publicações brasileiras que tomei contato durante todo o ano, colijo o que me marcou enquanto experiência de aprendizagem criativa e intelectual. Volto a dizer que não existe aqui qualquer interesse de estabelecer um ranqueamento ou classificação de obras e o elemento motivador de trabalhos como este é o de fomentar o interesse alheio para abrir-se a novas experiências.



Comentários

AS MAIS LIDAS DA SEMANA

A poesia de Antonio Cicero

Boletim Letras 360º #610

Boletim Letras 360º #601

Seis poemas de Rabindranath Tagore

16 + 2 romances de formação que devemos ler

Mortes de intelectual