Boletim Letras 360º #297


A edição da semana do Boletim Letras 360º está disponível. Há uma notícia que colocamos em destaque e merece um breve comentário: a de publicação no Brasil do diário inédito de José Saramago seguido do livro do jornalista da Fundação José Saramago, Ricardo Viel, que reconstrói a recepção do Prêmio Nobel de Literatura atribuído ao escritor português há vinte anos. Os dois títulos saem em dezembro pela editora parceira do Letras, Companhia das Letras, e nós realizaremos, dentro em breve, sorteio de um exemplar para os nossos leitores. Fique atento às nossas redes sociais. Se ainda não acompanha o blog por elas, veja os links no final desta postagem e se inscrevam.

Último diário e inédito de José Saramago ganha edição no Brasil. Mais detalhes ao longo deste Boletim.


Segunda-feira, 12/11

>>> Brasil: O novo título da obra de James Baldwin, Se a rua Beale falasse

Lançado em 1974, o quinto romance de James Baldwin narra os esforços de Tish para provar a inocência de Fonny, seu noivo, preso injustamente. Livro que inspirou o filme homônimo dirigido por Barry Jenkins, vencedor do Oscar por Moonlight. Tish tem dezenove anos quando descobre que está grávida de Fonny, de 22. A sólida história de amor dos dois é interrompida bruscamente quando o rapaz é acusado de ter estuprado uma porto-riquenha, embora não haja nenhuma prova que o incrimine. Convicta da honestidade do noivo, Tish mobiliza sua família e advogados na tentativa de libertá-lo da prisão. Se a rua Beale falasse é um romance comovente que tem o Harlem da década de 1970 como pano de fundo. Ao revelar as incertezas do futuro, a trama joga luz sobre o desespero, a tristeza e a esperança trazidos a reboque de uma sentença anunciada em um país onde a discriminação racial está profundamente arraigada no cotidiano. Esta edição tem tradução de Jorio Dauster e inclui posfácio de Márcio Macedo.

>>> Brasil: Caixa especial reúne o diário inédito de José Saramago, escrito durante o ano em que receberia o Nobel de literatura, 1998, e o livro do jornalista Ricardo Viel sobre a recepção do prêmio em Portugal e no mundo

No início de 2018, oito anos depois da morte de José Saramago, foram encontrados em seu antigo computador os escritos inéditos do emblemático ano de 1998, quando o grande escritor português recebeu o prêmio Nobel de literatura, algo que mudaria sua vida de modo drástico. O Último caderno de Lanzarote é o diário do escritor, o sexto e último volume de cadernos que ele manteve enquanto vivia na ilha espanhola. Com um tom informal, ele comenta e reflete sobre seu cotidiano ao longo do ano, que culminou, em outubro, com o recebimento do mais prestigioso prêmio do mundo literário. Já o volume Um país levantado em alegria refaz o caminho da notícia do primeiro prêmio Nobel de literatura para um autor de língua portuguesa, revelando episódios desconhecidos, apresentando as mensagens recebidas por José Saramago e celebrando, vinte anos depois, um prêmio que foi intensamente comemorado no mundo inteiro.

Terça-feira, 13/11

>>> Brasil: Será possível a felicidade, afinal? Nova tradução apresenta um dos primeiros romances de Ivan Turguêniev

O fidalgo Fiódor Ivánovitch Lavriétski, após uma temporada vivendo em Paris com sua mulher e depois de descobrir que esta o traía, volta à Rússia e à propriedade da família. Lá, em meio ao melancólico cenário da terra natal, das paisagens dos arredores de Moscou, ele busca se reerguer e conhece a jovem e encantadora Liza, uma das grandes personagens da literatura russa. Publicado em 1859, Ninhos de fidalgos é o segundo romance de Ivan Turguêniev, um dos mais importantes nomes da literatura russa e divulgador desta no Ocidente. Neste romance autobiográfico, rico em detalhes e em belíssimas descrições da terra-mãe, já adaptado para o cinema, Turguêniev problematiza os dramas da classe alta russa e os dilemas da sua geração. Mas, mais do que tudo, reflete, numa prosa límpida e cristalina, sobre a natureza fugidia da felicidade humana. A tradução de Dvorianskoie Gniezdó sai pela L & PM Editores.

>>> Brasil: Nova tradução para os contos de Rubén Darío

Rubén Darío é um autor gigante. Seu trabalho influenciou e ainda influencia uma quantidade incrível de autores e leitores. Nasceu na cidade de Metapa (atualmente Ciudad Darío) em 1867, mas foi em Valparaíso, no Chile, que começou sua carreira como jornalista no Época. Nesse período, publicou Azul, seu segundo livro: uma reunião de contos e poemas que alcançou sucesso rapidamente, tornando o nome de Darío uma referência para a literatura de língua espanhola. Depois da primeira publicação, em 1888, o autor lançou uma nova edição, revisada e ampliada, em 1890. Azul se tornou um dos símbolos do Modernismo e, agora, é editada no Brasil uma antologia que reúne alguns dos textos que aparecerem na edição de 1890; a tradução de Contos azuis é da Iara Tizzot e sai pela editora Arte & Letra. Em 2010, a Demônio Negro havia editado uma tradução de Azul.

Quarta-feira, 14/11

>>> Brasil: Volta às livrarias o romance A sucessora, de Carolina Nabuco

Prosa intimista e psicológica compõem a voz de Marina, uma jovem recém-casada que após uma romântica lua de mel muda-se para a mansão do marido, o milionário Roberto Steen. Ao entrar em sua nova residência, depara-se com um imponente retrato de Alice, a primeira mulher de Roberto, falecida poucos meses antes de Marina e ele se conhecerem. Alice era dona de uma personalidade exuberante e um ícone da sociedade carioca, enquanto Marina, criada na fazenda da família, sempre levou uma vida simples e distante dos costumes liberais da cidade grande. Marina é então invadida por sentimentos de insegurança e inadequação. Afinal, numa vida em que todos – involuntariamente ou nem tanto – a comparam à primeira Madame Steen, será que seu amor por Roberto resistirá ao fantasma de uma mulher tão especial? Publicado em 1934, o livro alcançou grande sucesso editorial, recebendo várias reedições no Brasil. Em 1941, com o Oscar de melhor filme para Rebecca, a mulher inesquecível, do diretor Alfred Hitchcock, um debate internacional teve início: o romance que inspirou o filme, da inglesa Daphne du Maurier, publicado em 1938, teria sido plágio de A sucessora. A semelhança entre os romances foi reconhecida por críticos literários da época, e não se trata de mera coincidência: antes da publicação, Carolina Nabuco enviou ao agente literário da escritora inglesa os originais de seu livro, traduzidos por ela mesma para o inglês. Nabuco, contudo, preferiu evitar conflitos judiciais. Décadas mais tarde, a obra foi adaptada para a televisão por Manoel Carlos e exibida com sucesso pela Rede Globo entre 1978 e 1979. Carolina Nabuco nasceu no Rio de Janeiro, em 1890. Passou a adolescência nos Estados Unidos, onde o pai, o estadista e abolicionista Joaquim Nabuco, era embaixador do Brasil. Tornou-se importante escritora já ao publicar seu primeiro livro: a biografia de seu pai, em 1928, obra que no ano seguinte receberia o Prêmio de Ensaio da Academia Brasileira de Letras. Além de A vida de Joaquim Nabuco e de A sucessora, é também autora, entre outros livros, de Chamas e cinzas (romance, 1947), Visão dos Estados Unidos (viagem, 1953), Santa Catarina de Sena (biografia, 1957), A vida de Virgílio de Melo Franco (biografia, 1962), Retrato dos Estados Unidos à luz da sua literatura (crítica literária, 1967), O ladrão de guarda-chuva e dez outras histórias (contos, 1969) e Oito décadas (memórias, 1973). Em 1978, recebeu o Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras, pelo conjunto da obra. Quatro anos depois, em agosto de 1981, faleceu em decorrência de um ataque cardíaco, aos 91 anos, em sua casa na rua Marquês de Olinda, no Rio de Janeiro.

>>> Brasil: Vernon Subutex, o mais recente romance da francesa Virginie Despentes, ganha edição no Brasil em 2019

Paris, 2014. Clima de pânico em meio a ameaças terroristas. Um cinquentão falido, dono de uma loja de discos, tenta sobreviver após fechar seu negócio. Sem recursos, mergulha numa trajetória de decadência e vai parar nas ruas, vivendo como sem-teto. O livro é uma comédia humana da atual geração, que jurou fidelidade à contracultura e agora padece sob o colapso do sistema de bem-estar social e a volta do fascismo. Best-Seller na França e finalista do prêmio Man Booker International deste ano, o romance é o primeiro volume de uma trilogia que vai virar série de TV em 2019. No Brasil, deve chegar também no ano que vem, pela Companhia das Letras.

Quinta-feira, 15/11

>>> Brarsil: Isto não é um conto, de Denis Diderot

O francês Denis Diderot (1713-1784) foi um dos co-fundadores e editor chefe da Encyclopédie, ou dictionnaire raisonné des sciences, des arts et des métiers, publicada entre 1751 e 1772 e tinha por objetivo, segundo Diderot, mudar a maneira que as pessoas pensavam. Ali estavam representados os pensamentos e as ideias do Iluminismo e entre seus colaboradores figuravam Voltaire, Rosseau e Montesquieu. Um de seus principais livros, O sobrinho de Rameau foi publicado primeiramente em alemão, com tradução de Goethe, quase vinte anos antes da versão original sair em 1823. O detalhe é que o manuscrito original só foi salvo porque Diderot vendeu toda a sua biblioteca, incluindo seus papéis, para a Imperatriz Catarina II da Rússia. Curiosamente, outro livro seu, Jacques, o fatalista, foi também publicado primeiramente em alemão com tradução de Schiller e teve uma grande influência de A vida e as opiniões do cavalheiro Tristram Shandy de Laurence Sterne. Foi um dos primeiros autores que fizeram da literatura um ofício, mas sem esquecer jamais que era um filósofo. Isto não é um conto foi publicado originalmente em 1773 na revista literária Correspondance littéraire editada por Friedrich Melchior Grimm amigo de Diderot. Agora, a tradução de Sandra M. Stroparo sai pela editora Arte & Letra.

Sexta-feira, 16/11

>>> Brasil: Uma coletânea de ensaios sobre o ensaio

Organizada pelo editor da serrote, Paulo Roberto Pires, a antologia apresenta 12 reflexões sobre o ensaio com abordagens distintas, ora intimistas, ora históricas, divididas em cinco blocos temáticos: "Conceitos", "À Inglesa", "Teoria", "Latitudes" e "Variações". No primeiro eixo, o livro apresenta ensaios do suíço Jean Starobinski (1920) e do americano John Jeremiah Sullivan (1974). A seção seguinte começa com um texto da brasileira Lucia Miguel Pereira (1901-1959), "Sobre os ensaístas ingleses", em que a autora defende que a Inglaterra foi o país onde o gênero melhor floresceu. Em seguida, o britânico William Hazlitt (1778-1830) reflete sobre a sua produção e a de seus contemporâneos, em "Sobre os ensaístas de periódico", clássico publicado pela primeira vez em português na revista. No eixo "Teoria", o leitor encontra dois textos de referência. Um dos grandes teóricos do marxismo, o húngaro György Lukács (1885-1971) e o filósofo alemão Max Bense (1910-1990). A seção "Latitudes" traz três textos: um do colombiano Germán Arciniegas (1900-1999), outro de Alexandre Eulalio (1932-1988) e mais outro de Paulo Roberto Pires (1967). A última seção reúne três escritores contemporâneos: Cynthia Ozick (1928), Christy Wampole (1977) e César Aira (1949). A edição é do Instituto Moreira Salles.

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