Boletim Letras 360º #289


Esta é a edição da semana 289 desde quando foi criado o Boletim Letras 360º. A publicação — sempre gostamos de lembrar aos leitores — foi criada para reunir as notícias que apresentamos durante a semana em nossa página no Facebook. Depois de relembrar isso, noticiamos que o livro O dom da amizade (Colin Duriez), o segundo sorteio desta obra, já foi entregue ao ganhador. Em breve, novas promoções em nossas redes. Boas leituras.

De Vladímir Maiakóvski para Lília Brik. É publicado no Brasil livro do poeta russo dedicado ao seu grande amor. Mais detalhes ao longo deste Boletim. 


Segunda-feira, 17/09

>>> Brasil: Sobre isto, de Maiakóvski

Um dos maiores nomes da poesia do século XX, conhecido como “Poeta da Revolução” por seu engajamento na construção da nova sociedade soviética, Vladímir Maiakóvski foi também um grande poeta lírico. Publicado em 1923, Sobre isto é fruto de sua relação amorosa com Lília Brik, interrompida em dezembro de 1922 por uma briga entre o casal. “Sem você, eu paro de existir”, escreve Maiakóvski numa carta da época, desobedecendo o pacto de silêncio e separação que eles haviam estabelecido. Nos dois meses de afastamento, o poeta redige este que é um de seus poemas mais longos. Partindo da dor e da angústia da separação, Maiakóvski termina por abarcar e revisitar toda sua obra anterior, seus sentimentos e reflexões mais profundos sobre a revolução, o amor e o futuro, num voo lírico extremamente pungente. Criticado à época por tratar de um tema individualista como o amor (o que explica o título cifrado — Sobre isto), o poeta defendeu a sua liberdade de criação nesta que considerou sua obra-prima e que deu origem, entre nós, à canção de Caetano Veloso interpretada por Gal Costa, “O amor”. Primeira tradução integral da obra no Brasil, a presente edição bilíngue conta ainda com apresentação, notas e estudo crítico de Letícia Mei, além das fotomontagens originais de Aleksandr Ródtchenko e de uma seleção da correspondência entre Maiakóvski e Lília Brik no período. A edição é da Editora 34.

>>> Brasil: Reedição de A pele, de Curzio Malaparte

Nas ruas miseráveis de uma Nápoles em ruínas, quando o exército aliado expulsou dali os alemães, a libertação é apenas outra palavra para desespero. A prostituição é desenfreada. O cheiro da morte está em todo lugar. Tudo supervisionado por americanos que, na sua ingenuidade, não entendem exatamente por que estão ali. Lançado em 1949, já em 1950 vieram as sanções: a “proibição moral de Curzio Malaparte” pelo Conselho Comunal de Nápoles e a inclusão do livro no Index dos livros proibidos pela Congregação do Santo Ofício. Em 1962, a publicação no Brasil se deu como celebração. Na apresentação daquela edição, diz Ênio Silveira: “Uma obra prima de violência, de crueldade, de degradação e, ao mesmo tempo, de louvor à condição humana”. Hoje são apontados, para além dos pecados originais, os da incorreção política. O livro nasceu ambíguo como o próprio autor, que deixou resposta no personagem Jack Hamilton: “Não há qualquer importância se o que Malaparte conta é verdadeiro ou falso. A questão a ser posta é bem outra: se o que ele faz é arte ou não”. A tradução de Beatriz de Almeida Magalhães sai pela Autêntica Editora.

Terça-feira, 18/09

>>> Portugal: Criação do Prêmio Monteiro Lobato de Literatura é aprovada em Portugal

O Conselho de Ministros de Portugal aprovou a proposta de resolução relativa ao Protocolo Adicional ao Tratado de Amizade, Cooperação e Consulta entre a República Portuguesa e a República Federativa do Brasil, que cria o Prêmio Monteiro Lobato de Literatura para a Infância e a Juventude, assinado em Salvador, a 5 de maio de 2017. Este Prêmio tem como objetivo consagrar bienalmente um escritor e um ilustrador de livros de língua portuguesa para a infância e a juventude (nacional de um dos Estados membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa) que tenham contribuído para o enriquecimento do patrimônio literário, cultural e artístico da língua comum.

>>> Brasil: Semente de bruxa, uma releitura de William Shakespeare por Margaret Atwood ganha edição no Brasil

Felix está em seu melhor momento como diretor artístico do Festival de Teatro de Makeshiweg. Suas produções anteriores encantaram e desconcertaram a audiência. Agora ele irá produzir A tempestade como jamais fora encenada: a peça não apenas aumentará sua reputação, mas servirá para curar antigas feridas emocionais. Ou este era o plano. Após um ato de traição inimaginável, Felix exilou-se em uma cabana caindo aos pedaços, assombrado pelas memórias de uma filha perdida, enquanto espera por vingança. E ela chega após doze anos, na forma de um curso de teatro em um presídio. Ali, Felix e seus atores encarcerados finalmente montam A tempestade e preparam uma armadilha para os traidores que o destruíram. Mas irá a peça restaurar a vida de Felix, ao derrubar seus inimigos? O livro sai pela Morro Branco e a tradução é de Heci Regina Candiani.

Quarta-feira, 19/09

>>> Brasil: A reunião de toda a poesia de um dos principais expoentes da geração mimeógrafo

Com verso coloquial, breve e divertido — “rápido e rasteiro” —, Cacaso aliou bom-humor, sagacidade e vasto repertório intelectual em uma obra que deixou sua marca incontornável nos anos 1970. Professor, ensaísta, poeta e letrista, o mineiro foi um dos protagonistas da poesia marginal, período em que a postura arrojada, do “desbunde”, se firmou como resposta ao autoritarismo dos anos de chumbo. O livro abarca a produção de 1967, com o título de estreia, Palavra cerzida, segue até o derradeiro Mar de mineiro, de 1982, e inclui uma farta seção de poemas inéditos, organizada por Heloisa Jahn, além de uma amostra da breve incursão do poeta nos contos. Poesia completa traz ainda um caderno de imagens com reproduções dos diários de Cacaso e textos de Roberto Schwarz, Heloisa Buarque de Hollanda, Francisco Alvim, Vilma Arêas e Mariano Marovatto sobre o poeta que se definiu com precisão: “Exagerado em matéria de ironia e em matéria de matéria moderado”. Edição da Companhia das Letras.

>>> Brasil: Espera passar o avião, o novo livro de Flavio Cafiero

Expoente da nova geração da literatura brasileira, Cafiero constrói neste romance um poderoso olhar sobre o Brasil de hoje. Felipe, um técnico de som de filmes radicado em Portugal, volta ao Rio de Janeiro para participar da produção cinematográfica de seu grande amigo de faculdade e loucuras juvenis. O retorno mexe com sua memória, com seus afetos adormecidos, com seus traumas. A família e velhas questões reaparecem. A morte do irmão, na infância, é um dos nós que ele não consegue desatar. Acompanhamos durante a leitura a rodagem do filme ― com seus clichês maravilhosos, como o cineasta controverso e excessivo, a atriz descolada e charmosa ―, ou seja, o tempo presente, e a torrente de recordações familiares, formativas e afetivas do protagonista, no plano do passado. Até que um acontecimento central, ocorrido durante o Carnaval carioca, empurra novamente Felipe para os braços da violência e da mais funda incompreensão. Narrado com extremo engenho e equilibrando consciência e mundo concreto, este romance do premiado Flavio Cafiero é um poderoso olhar sobre o Brasil de hoje.

Quinta-feira, 20/09

>>> Brasil: Dois livros Fiódor Dostoiévski reunidos numa das caixas da Editora Nova Fronteira

Dostoiévski é um dos principais nomes da literatura russa. Suas obras são marcadas pelos temas abordados, muitas vezes controversos e irreverentes. A Nova Fronteira reúne pela primeira vez os romances O idiota e Memórias da casa dos mortos. Este último, traduzido e anotado por Natália Nunes e com introdução de Otto Maria Carpeaux, é um romance autobiográfico inspirado no período em que Dostoiésvki passou na prisão de Omsk, narra a rotina de Alieksandr Pietróvitch, assassino confesso da própria mulher, em uma prisão de trabalhos forçados na Sibéria do século XIX. Fundamental na trajetória literária do autor, a obra expõe, com o realismo crasso, típico de sua poética, os dilemas vividos pelos presos: a privação do direito de ir e vir, a fome, o frio, o trabalho pesado e inútil, os maus-tratos e a solidão. O idiota, escrito em 1868, é considerado um dos grandes romances da chamada segunda fase da obra de Fiódor Dostoiévski. A história começa com príncipe Míchkin de volta à Rússia depois de vários anos na Suíça. Epilético como o autor, Míchkin é um homem de compaixão sem limites cuja boa índole é uma mescla de Cristo com Quixote, um dos personagens mais complexos e impressionantes de toda a literatura mundial. Na trama, os acontecimentos acabam por mostrar como este homem puro se torna um idiota, um inadaptado em uma sociedade de valores corrompidos. A obra apresentada é a a tradução de José Geraldo Vieira e traz prefácio de Brito Broca.

>>> Portugal: O ano da morte de Ricardo Reis, de José Saramago ganhará adaptação para o cinema

A notícia foi divulgada na página da Fundação José Saramago no Facebook. No comunicado a instituição apresenta o roteiro que será filmado pelo diretor João Botelho e com produção de Alexandre Oliveira. A nota estima que o filme deve estrear no final de 2019. Além do romance em questão, sabe-se que O evangelho segundo Jesus Cristo é outro que está em fase de adaptação cinematográfica; este pelo mesmo diretor de José e Pilar, Miguel Gonçalves Mendes. O ano da morte de Ricardo Reis foi publicado em 1984 e está entre as mais importantes obras de José Saramago. Narra, a partir da morte de Fernando Pessoa, o retorno de Ricardo Reis, um dos seus heterônimos a Lisboa numa ocasião de efervescência dos grandes conflitos na Europa dos anos 1930.

Sexta-feira, 21/09

>>> Brasil: Reedição de A idade do serrote amplia a renovação da obra de Murilo Mendes

Lançado originalmente em 1968, este livro reinventa as memórias de um dos mais notáveis poetas brasileiros em uma prosa transgressora, vibrante e bem-humorada. A idade do serrote é descrito como um acerto de contas com o passado. Nesta livre reelaboração de sua própria história, Murilo Mendes recupera ― com estilo extraordinário, vasto repertório cultural e renovada curiosidade com o mundo ― os personagens e os lugares que marcaram sua infância. No começo do século XX, “Juiz de Fora”, em suas palavras, “era um trecho de terra cercado de pianos por todos os lados.”  A vasta galeria de recordações inclui a passagem do cometa Halley, o desejo de “ir do Brasil à China a cavalo”, a rigorosa formação católica, o deslumbre com as sonatas de Mozart e a paixão irreversível pela poesia. O livro inclui posfácios de Carlos Drummond de Andrade, Paulo Rónai e Reinaldo Moraes.

>>> Brasil: Carmen, de Prosper Mérimée é o próximo título da coleção A arte da novela, da Grua Livros

Um historiador francês, procurando o local perdido de uma antiga batalha romana nas planícies da Andaluzia, encontra, por acaso, um homem que descobre ser Don José Navarro, um notório bandido com a cabeça a prêmio. Sentindo simpatia pelo salteador, cujo rosto é “a um tempo nobre e feroz”, ele o ajuda a escapar da polícia. Tempos depois, reencontram-se em Córdoba, onde Don José está preso, condenado à morte. Em seus últimos dias, o prisioneiro conta sua história, que tomou um rumo sem volta da primeira vez que colocou os olhos na cigana Carmen, em Sevilha. Era, então, um jovem oficial do exército com uma carreira promissora pela frente. Alguns autores conseguem a façanha de estabelecer seus personagens no repertório cultural de uma nação. E há aqueles personagens que transcendem nações, línguas e gerações. Este o caso da cigana Carmen que, na Espanha de 1830, se esgueira por entre as pessoas e os adjetivos ― bela, magnética, independente, esperta, malandra, exuberante, entre outros tantos ― sem que nenhum consiga lhe prender. Carmen, novela escrita em 1845, deu origem ao musical de mesmo de nome, de Georges Bizet (1838-1875), que permanece como uma das mais conhecidas e populares óperas de todos os tempos. A tradução é de Sérgio Flaksman.


.........................
Sigam o Letras no FacebookTwitterTumblrGoogle+InstagramFlipboard


Comentários

AS MAIS LIDAS DA SEMANA

A poesia de Antonio Cicero

Boletim Letras 360º #610

Boletim Letras 360º #601

Seis poemas de Rabindranath Tagore

16 + 2 romances de formação que devemos ler

Mortes de intelectual