Boletim Letras 360º #284
Estamos colocando o ponto final em mais uma semana e sempre (como é de costume) pensando nas matérias que irão compor este blog nos dias seguintes. Por enquanto, a comum reunião das notícias que foram publicadas em nossa página no Facebook. Boas leituras!
Roberto Bolaño. Finalmente, teremos em português a poesia do escritor chileno. Mais detalhes ao longo deste Boletim. |
Domingo, 12/08
>>> Inglaterra: Morreu o escritor britânico V.S. Naipaul, premiado com o Nobel de Literatura em 2001
Nascido em Trinidad e Tobago, estudou Literatura inglesa na Universidade de
Oxford, antes de se estabelecer na Inglaterra. Passou muito tempo viajando e se
tornou um símbolo do desenraizamento moderno. Naipaul mudou-se em 1950 para a
Inglaterra, onde trabalhou como jornalista para a rede de TV britânica BBC.
Doutor Honoris Causa pelas universidades de Cambridge, Londres, Oxford e
Columbia, ele foi ainda sagrado cavaleiro britânico pela rainha Elizabeth II em
1990. Ao conceder-lhe o Nobel, a Academia Sueca afirmou que V.S. Naipaul tinha
sido premiado por "ter misturado narração perspectiva e observação
incorruptível em suas obras, que nos condenam a ver a presença da história
esquecida". Naipaul misturou ficção, não ficção e autobiografia sem fazer
distinções. Ele escreveu mais de 30 livros; muitas de suas obras estudam os
traumas das mudanças pós-coloniais. (G1).
Segunda-feira,13/08
>>> Brasil: Relançado
"Glória", o primeiro romance de Victor Heringer
Há meses,
noutra ocasião como esta, noticiamos que a Companhia
das Letras passaria a reunir toda a obra de Victor Heringer; e começam
o projeto com a reedição de Glória. Esta obra é a crônica de uma
família no Rio de Janeiro que compartilha o humor particular e o desgosto
genético. Glória conta a história dos Alencar Costa e Oliveira, uma "família de
doentes imaginários". Eles se comunicam com chistes, tiradas, diálogos
zombeteiros. Falam o oposto do que querem dizer ou repetem as mesmas frases até
que passem a ter outro sentido. Neste caso, o bordão oficial da casa quando
algo dá errado — a comida queima no forno, os filhos não param quietos — é "Deus é, era, gago". Serve, como se vê, para quase todas as situações. Além do
humor idiossincrático, os Alencar Costa e Oliveira têm outra característica em
comum. Ninguém da linhagem morre de doença ou de acidente. A melancolia aguda,
fatalidade que se repete de geração em geração, é a maldição que paira sobre o
sobrenome. Esta talvez seja a única tradição da família: a causa do óbito,
invariavelmente, é o desgosto. Com erudição, graça e inventividade, Victor
Heringer traça o destino de três irmãos — Daniel, Abel e Benjamin —, misturando
referências literárias e notas de rodapé improváveis. Neste livro nonsense e
engenhoso, o estilo à la Machado de Assis se funde ao cotidiano carioca do
século XXI, quando as formigas invadem o bairro da Glória e os personagens
frequentam uma sala de bate-papo virtual em que a palavra de ordem é a ironia.
Esta edição chega às livrarias a partir da última semana de setembro.
>>> Brasil: Apresentada
edição comercial de As últimas testemunhas. Crianças na Segunda Guerra
Mundial, de Svetlana Aleksiévitch
Neste livro
doloroso e potente, a escritora Prêmio Nobel de literatura reuniu os relatos
francos de vários sobreviventes da Segunda Guerra que, quando crianças,
testemunharam horrores que nenhum ser humano jamais deveria experimentar. A
Segunda Guerra Mundial matou quase 13 milhões de crianças e, em 1945, apenas na
Bielorrússia, havia cerca de 27 mil delas em orfanatos, resultado da
devastação tremenda causada pelo conflito no país. Entre 1978 e 2004, a
jornalista Svetlana Aleksiévitch entrevistou uma centena desses sobreviventes
e, a partir de seus testemunhos, criou uma narrativa estupenda e brutal de uma
das maiores tragédias da história. A leitura dessas memórias não é nada além de
devastadora. Diante da experiência dessas crianças se revela uma dimensão
pavorosa do que é viver num tempo de terror constante, cercado de morte, fome,
desamparo, frio e todo tipo de sofrimento. E o que resta da infância em uma realidade
em que nada é poupado aos pequenos? Neste retrato pessoal e inédito sobre essas
jovens testemunhas, a autora realizou uma obra prima literária a partir das
próprias vozes de seus protagonistas, que emprestaram suas palavras para
construir uma história oral da Segunda Guerra. A tradução de Cecília Rosas
passa a circular na primeira semana de setembro.
Terça-feira,
14/08
>>> Brasil: A poesia do
chileno Roberto Bolaño será publicada pela primeira vez no país
A Companhia
das Letras publica a antologia A universidade desconhecida,
organizada pelo autor e só apresentada postumamente. O volume traz poemas de
livros como Los perros románticos e Tres, além de inéditos. A edição,
bilíngue, será traduzida por Josely Vianna Baptista.
>>> Brasil: Nova
tradução para Dublinenses, de James Joyce
A obra mais
acessível do autor de Ulysses é composta por quinze contos que
fazem um retrato vívido e inclemente sobre a "boa e velha Dublin" do começo do
século XX. Essas quinze histórias, incluindo "Arábias", "Graça" e "Os mortos",
mergulham no coração da cidade natal de James Joyce, capturando não só a
cadência da fala, mas também o realismo quase brutal dos sentimentos de seus habitantes.
A edição ainda inclui a história "O velho vigia", escrita por Berkeley
Campbell, que serviu de mote para que Joyce escrevesse o conto "As irmãs", que
abre a coletânea. Publicado pela primeira vez em 1914, este livro decifra a
vida da classe média católica da Irlanda, mas também lida com temas universais
como decepções, frustrações e o despertar sexual. Joyce tinha 25 anos quando
escreveu estes contos, considerados por muitos tanto um experimento literário
quanto a obra mais acessível do autor. A tradução de Caetano W. Galindo sai
pelo selo Penguin / Companhia.
>>> Brasil: No ano em
que se comemoram os 110 anos da imigração japonesa no Brasil, Haicais
tropicais reúne vinte autores brasileiros
E convida o
leitor a conhecer o poema oriental de três versos que trata de temas como a
passagem do tempo, a natureza, as estações do ano e o espírito humano. Pequeno
poema de origem japonesa, o haicai chegou ao Brasil no início do século XX e
aqui trilhou sua própria história. Há mais de trinta anos, o poeta e pesquisador
Rodolfo Witzig Guttilla faz um brilhante trabalho arqueológico para
reconstituir esse percurso e mapear nossos haicaístas. Um dos frutos dessa
pesquisa é Haicais tropicais, que reúne vinte poetas brasileiros que tiveram
contato com a prática — seja criando ou traduzindo haicais — e contribuíram
para sua difusão. São nomes consagrados, como Paulo Mendes Campos, Mario
Quintana e Manoel de Barros, e contemporâneos, como Alice Ruiz S e Régis
Bonvicino. Muitos deles ainda estão na ativa e renovam o gênero com frescor e
originalidade, provando que o poema japonês de três versos permanece atual. Com mais de uma centena
de tercetos, além de uma introdução sobre o histórico do haicai e biografias
dos autores selecionados, este é um convite para conhecer a tradição poética
japonesa em sua melhor roupagem tropical.
Quarta-feira,15/08
>>> Brasil: A Companhia
das Letras publica, em 2019, A fúria, de Silvina Ocampo
Este é o
terceiro livro da escritora argentina e o único que necessitou de reedição
quase imediata. O título foi dado por ela depois de expressa recomendação do
fiel amigo Jorge Luis Borges. O livro reúne 34 contos - a maioria deles
escritos e publicados entre 1937 e 1940 em diversas revistas literárias, como a
"Sur", dirigida pela irmã Victoria Ocampo. Silvina é, até o presente
inédita no Brasil. A tradução a sair no próximo ano é Livia Deorsola.
>>> Brasil: Dois livros
e mais de mil páginas de histórias de crime e horror
Os melhores
mistérios têm uma coisa em comum: um criminoso memorável. Para cada grande
herói, há sempre um grande vilão ou um grande vigarista. E, aqui, as estrelas
são precisamente esses mestres da maldade. Trazendo autores como Robert Louis
Stevenson, Bram Stoker, Jack London, O. Henry e H.G. Wells, entre muitos
outros, a Editora Nova Fronteira apresenta a coletânea organizada por Otto
Penzler O grande livro dos vilões e vigaristas. São 64 contos
reunidos em dois livros numa caixa.
Quinta-feira,
16/08
>>> Brasil: Novo romance
de Ignácio de Loyola Brandão
Desta
terra nada vai sobrar, a não ser o vento que sopra sobre ela transcorre
num futuro indeterminado, em que, ao nascer, todos recebem tornozeleiras
eletrônicas, são seguidos, vigiados, fiscalizados por câmeras instaladas nas
casas, ruas, banheiros. Nesta terra estranha, e ao mesmo tempo tão próxima de
nós, a peste se tornou epidemia que dissolve os corpos. A autoeutanásia foi
legalizada para idosos. Para o governo, quanto mais longevos morrerem, melhor.
Circulam os comboios de mortos das mais variadas doenças. Os ministérios da
Educação, Cultura, Direitos humanos e Meio Ambiente foram extintos. As escolas
foram abolidas. A política, matéria rara, se tornou líquida. Coexistem 1.080
partidos. E ninguém governa verdadeiramente. Uma nação moderna, mas arcaica. No
meio disso tudo, conhecemos o desenrolar da história de amor entre Clara e
Felipe, conturbada como o mundo em que vivem.
>>> Brasil: Pesquisador
descobre propaganda de remédio feita por Guimarães Rosa
A pesquisa
em fontes primárias às vezes revela informações inesperadas e curiosas. Por
exemplo: Guimarães Rosa foi garoto-propaganda de dois remédios, em 1931. Ou
seja, quando ainda era médico e bem antes de lançar Grande Sertão: Veredas,
de 1956. A descoberta foi feita pelo bibliófilo Luís Pio Pedro, durante as
pesquisas para o dicionário de pseudônimos no qual trabalha, previsto para o
ano que vem. O anúncio publicitário dos remédios Cascarobil e Metacal foi
publicado naquele ano na revista O Cruzeiro, com uma carta de Rosa
recomendando-os. Nela, o escritor dizia estar feliz que um paciente que sofria
de "cólica hepática", após o primeiro medicamento, achava-se "lépido,
satisfeito, eufórico, cheio de saúde". "Estou disposto a prestar o meu fraco
concurso em prol da substituição dos produtos estrangeiros pelos nacionais, o
que reputo obra humanitária e patriótica, poupando as finanças do cliente e
defendendo a economia do país", escreveu. Veja o anúncio aqui. (Via FSP)
Sexta-feira,
17/08
>>> Brasil: Nova edição
para A festa de Babette, de Karen Blixen
A narrativa
deste conto se passa num vilarejo na costa da Noruega, onde, numa noite de
tempestade, surge uma francesa misteriosa. Ela bate à porta de duas senhoras
puritanas, filhas de um profeta protestante. Fugitiva do massacre à Comuna de
Paris em 1871, Babette traz uma carta de recomendação do amigo Papin, cantor de
ópera que, muitos anos antes, havia se apaixonado por uma daquelas irmãs de ar
gentil, então jovem e bela. Babette oferece seus serviços de cozinheira em
troca de abrigo. Tempos depois, ela ganha na loteria e prepara um suntuoso
banquete em homenagem ao pai de suas benfeitoras, que irá transformar para
sempre a vida simples e austera do lugar. Conto mais conhecido de Karen Blixen,
autora também de A fazenda africana, foi levado às telas pelo
diretor Gabriel Axel, ganhando o Oscar de filme estrangeiro em 1988. Publicada
pela extinta Cosac Naify, a obra ganha reedição pela SESI-SP Editora.
>>> Brasil: Nova edição
para Contos da Mamãe Gansa ou histórias do tempo antigo, de Charles
Perrault
Os leitores
poderão revisitar histórias como "O Gato de Botas" e "Cinderela ou a Gata
Borralheira" – em versões um tanto diferentes das que se perpetuaram até nossos
dias – e ainda se surpreender com contos menos familiares, como "Riquet, o
Topetudo", e "Pele de Asno". As ilustrações do estúdio espanhol Milimbo trazem
uma técnica diferente para cada um dos nove contos. A edição no mesmo formato
da editada pela Cosac Naify está disponível no catálogo da SESI-SP Editora.
>>> Brasil: Reedição de A paixão, de Almeida de Faria
Originalmente publicado em 1965 e considerado um
marco na moderna literatura portuguesa, este romance-poema faz parte da chamada
Trilogia Lusitana e influenciou, entre outros, Raduan Nassar, no seu Lavoura arcaica. Dividido em três partes (Manhã, Tarde e Noite), A paixão se desenrola durante a Sexta-Feira Santa, numa propriedade
rural do Alentejo, sul de Portugal. O autor dá voz aos diversos habitantes da
casa: pai, mãe, filhos, empregados. Os fluxos de consciência se alternam,
assim, a cada capítulo, e compõem uma verdadeira sinfonia polifônica, de
orquestração magistral. O livro que foi reapresentado no Brasil pela Cosac
Naify ganha reedição pela Editora SESI-SP.
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