Boletim Letras 360º #279
Amigas e amigos do Letras, os que nos acompanham ativamente por aqui e nas nossas redes sociais já sabem que a obra do mestre J. R. R. Tolkien está em nova casa e passa a ter novas traduções no Brasil. Se ainda não sabem, o nosso colunista Guilherme Mazzafera preparou uma post em nosso Tumblr sobre as novidades. A partir dele, nós temos duas notícias que vocês deverão amar: somos agora parceiros da editora HarperCollins Brasil e todas (anote bem) todas as obras do Tolkien que forem publicadas, ganharão texto aqui no blog e (o melhor) terão exemplares para sorteio entre vocês a partir de nossa página no Facebook. Nada a perder! Agora, passemos às notícias apresentadas durante a semana lá no nosso oásis. Agradecemos a visita. Boas leituras!
Um livro reúne todas as crônicas de Clarice Lispector. |
Domingo, 08/07
>>> Inglaterra: O paciente
inglês, de Michael Ondaatje foi coroado o melhor trabalho de ficção das
últimas cinco décadas do Prêmio Man Booker.
No ano do cinquentenário o Man Booker criou um prêmio exclusivo para revelar o
destaque dos destaques. O ganhador do Golden Man Booker foi revelado no evento
de encerramento do Man Booker 50 Festival no Royal Festival Hall, no Southbank
Center. O vencedor deste prêmio especial foi escolhido pelo público. Todos os
51 vencedores anteriores foram considerados por um painel de cinco juízes
especialmente nomeados, cada um dos quais foi convidado a ler os romances
vencedores de uma década da história do prêmio, antes de os livros enfrentarem
uma votação pública de um mês no site da Man Booker. Publicado em 1992 e
premiado no mesmo ano com o Man Booker o romance se passa no final da Segunda
Guerra Mundial, numa vila abandonada na Itália, onde quatro pessoas vivem um
encontro inusitado: uma jovem enfermeira cuja vida foi devastada pela guerra;
um inglês desconhecido e moribundo, sobrevivente de um desastre de avião; um
ladrão cujas "habilidades" acabaram por fazer dele um herói de
guerra; e um soldado indiano especialista em desmonte de bombas, a quem três
anos de guerra ensinaram que "a única segurança está em si mesmo". O
livro revela os caminhos e detalhes de quatro vidas capturadas e modificadas e
agora inextricavelmente ligadas pelas circunstâncias brutais e improváveis da
guerra. Em 1996, o romance foi levado às telas pelo diretor Anthony Minghella e
recebeu nove prêmios Oscar, inclusive o de melhor filme. Os finalistas a esta
edição especial eram, além do livro de Ondaatje, Num estado livre,
de V.S. Naipaul, Moon Tiger, de Penelope Lively, Wolf
Hall, de Hilary Mantel e Lincoln no limbo, de George
Saunders.
Segunda-feira,
09/07
>>> Estados Unidos: Uma coleção
de cartas inéditas de W. B. Yeats, roubada na década de 1970 e devolvida "anonimamente", foi identificada na Universidade de Princeton
John Kelly,
que passou décadas rastreando milhares de cartas de Yeats, descobriu a coleção
enquanto concluía pesquisas para o último volume de seu trabalho sobre o poeta
e dramaturgo irlandês. Kelly folheava o catálogo da Biblioteca da Universidade
de Princeton, onde se debruçara sobre os materiais registrados em nome de
Yeats alguns anos antes, quando viu um arquivo de 17 cartas. São
correspondências trocadas com o editor, Arthur Bullen, quando trabalhava na
organização das obras completas. Estavam desparecidas desde a década de 1970. O
conjunto de missivas foi devolvido à universidade, segundo se sabe, de forma
anônima. As cartas foram recuperadas “no momento certo”, disse Kelly, para
inclusão na quinta edição de 12 volumes que a Oxford University Press tem
editado com esses materiais de Yeats.
>>> Brasil: Nova edição
de um livro quase sempre esquecido na literatura brasileira:
Úrsula, de Maria Firmina dos Reis
Este livro
pode ser considerado o primeiro romance de autoria negra e feminina do Brasil,
além de ser o primeiro de cunho antiescravista, foi publicado em 1859 na cidade
de São Luís. É, também, o romance inaugural da chamada literatura
afro-brasileira – entendida, aqui, como a produção literária afrodescendente
que tematiza a negritude a partir de uma perspectiva própria. Organizado em
vinte capítulos, pode ser dividido em quatro momentos distintos. Mas é na
quarta parte, que se nota a riqueza do romance de cunho antiescravista, através
de uma solidariedade particular de Maria Firmina dos Reis para com os
oprimidos, em especial as mulheres e os africanos e afrodescendentes
escravizados. A nova edição sai pela Editora Zouk e inclui textos de Rafael
Balseiro Zin, sociólogo e pesquisador do Núcleo de Estudos em Arte, Mídia e
Política da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (Neamp/PUC-SP), Rita
Terezinha Schmidt, professora na Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS) e da poeta, ensaísta, editora e roteirista Eliane Marques.
Terça-feira,
10/07
Brasil: Depois de
quase dez anos sem nenhuma publicação, retorna ao leitor a obra de Dora
Ferreira da Silva, poeta que dispensa apresentação no cenário da poesia
brasileira
Uma
via de ver as coisas foi editado pela primeira vez em 1973; completa,
portanto, seus 45 anos de primeira edição no ano do centenário da autora,
ganhando agora sua 2ª edição como obra. A edição apresenta uma roupagem que
pretende respeitar os desejos e anseios de Dora quanto à sua obra. A
poesia de Dora Ferreira da Silva nos permite pensar os caminhos da poesia
atual, suas possibilidades e impossibilidades ante a tradição, de um dos modos
mais peculiares possível. Com organização de sua filha, Inês Ferreira da Silva
Bianchi, e Miguel Jubé, tem dois novos textos críticos das professoras Enivalda
Nunes Freitas e Souza, Goiandira de F. Ortiz e Maria Severina Guimarães. O
livro compõe o volume 21 da coleção cabeça de poeta, da martelo casa
editorial, série contemporânea, que publica poesia brasileira dos séculos
20 e 21.
>>> Brasil: A
biblioteca elementar, de Alberto Mussa
Na calada da
noite, na hoje chamada Rua da Carioca, um homem de casaca, pistola na mão,
ameaça outro com capa à espanhola e botas de cano longo. Atracam-se. A arma
dispara. O de casaca cai ferido mortalmente. Há uma testemunha, cigana, que
também tem lá suas culpas. Entre os crimes que perpassam este romance policial
situado no Rio de Janeiro do século 18, apenas um é de fato relevante; apenas
um resume e simboliza o livro. E, contraditoriamente, é o único crime que não
acontece. Alberto Mussa opera com perícia a narrativa, conversando com o leitor
e palpitando sobre os dilemas dos personagens sem abandonar o posto de
narrador, ancorado em pesquisa do vocabulário da época, do contexto, das ruas
do Rio, do tráfico de escravos, do contrabando de ouro e da ação inquisitorial,
sempre com uma técnica primorosa. A edição é da Editora Record.
>>> Brasil: Uma
antologia com os sonetos de Camões
Neste livro,
encontramos um Luís de Camões que, diante dos desafios de sua época e de sua
geração, foi responsável por uma revolução na poesia em língua portuguesa.
Vemos o poeta que participa de refinados jogos na corte, enfrenta tempestades
nos mares e nos amores, escreve sonetos teatrais, visuais, musicais e
experimenta novas maneiras de escrever e pensar poesia. Os 20 sonetos de Camões
aqui reunidos são uma excelente amostra de uma poesia lírica que, apesar de
distante de nós no tempo, permanece contemporânea dos leitores que dela se
aproximam. Enriquecida com uma fundamentada introdução, notas aos poemas e
esclarecedores comentários, esta edição pretende tornar a leitura dos sonetos
mais atualizada e informada, tanto para estudantes de ensino médio e
universitários quanto para professores e amantes de poesia. A edição é
organizada por Sheila Hue e sai pela Editora Unicamp.
Quarta-feira,
11/07
>>> Brasil: Obra reunida
de Lima Barreto
O escritor
foi, entre nós, o primeiro a realizar uma literatura militante contra as
injustiças sociais e os preconceitos de raça, de que ele próprio foi vítima.
Considerado um crítico virulento dos vícios e corrupções da sociedade e da
política de sua época, produziu uma obra vasta, que abarca os mais variados
estilos. A Editora
Nova Fronteira reúne numa caixa todos os seus romances, uma
significativa seleção de seus contos e crônicas, os Diários — o íntimo e o do
hospício —, o inacabado Cemitério dos vivos", romance baseado nas
experiências passadas no hospital de alienados, suas três narrativas satíricas, Aventuras do Dr. Bogoloff, Os Bruzundangas e Coisas do Reino de Jambon e ainda o folhetim O subterrâneo do
Morro do Castelo, em que o autor, a serviço de o Correio da
Manhã, misturou jornalismo e ficção para retratar a derrubada parcial do
Morro do Castelo, empreendida por Pereira Passos em 1905.
>>> Grécia: Uma equipe
de pesquisadores descobriu o que pode ser o fragmento mais antigo do
conhecido poema épico de Homero, a Odisseia
Os
pesquisadores gregos e alemães encontraram este fragmento numa placa de argila
gravada na antiga Olímpia, centro dos Jogos Olímpicos na península do
Peloponeso, segundo a informação do Ministério de Cultura da Grécia que afirma
ser esta descoberta “um achado arqueológico, epigráfico, literário e
histórico”. São 13 versos em que o herói Ulisses se dirige ao amigo de
toda a vida, Eumeu. Estimativas preliminares datam o achado de provavelmente
antes do século III d. C. O texto homérico mais antigo que conhecemos trata-se
da versão de Aristarco, do século II a. C. A “Odisseia”, atribuído ao antigo
poeta grego Homero, conta a história de Ulisses, rei de Ítaca, que viaja
durante dez anos interessado em retornar à sua casa depois da queda de Troia.
Primeiro transmitida oralmente, a epopeia foi transcrita antes da era cristã e
destes arquivos só sobreviveram alguns fragmentos encontrados no Egito. A
descoberta de agora é a primeira mais marcante do sítio geoarquelógico de
Olímpia que começou a ser estudado desde há três anos.
>>> Brasil: A
recuperação da poesia de Domingos Caldas Barbosa
Ele é um dos
mais importantes poetas brasileiros do século XVIII e um dos fundadores da
nossa música popular. Mestre na arte do improviso, interpretava suas rimas em
saraus literários acompanhado por uma viola de arame. Nascido no Rio de
Janeiro, filho de um alto funcionário português e de uma escrava de Angola, se
estabeleceu em Portugal em 1763 para estudar Direito em Coimbra. Entretanto,
com o falecimento do pai, se viu repentinamente só e sem recursos, tendo
que abandonar a universidade. Valeu-se então de seu talento como poeta e músico
para fugir à pobreza e cair nas graças da ilustre família dos Vasconcelos e
Sousa, que o acolheu e patrocinou, abrindo caminho para que ingressasse na
Arcádia de Roma sob o nome de Lereno Selinuntino. A doença, editado
pela Imprensa Régia de Lisboa em 1777, é um poema autobiográfico em estilo
épico, no qual Caldas Barbosa narra as dificuldades do início de sua vida em
Portugal e faz o elogio à família de seus protetores. Praticamente desconhecido
no Brasil, este texto é um raro registro da experiência de um mulato brasileiro
no Setecentos, e ilumina de forma extraordinária as relações de poder e de
compadrio entre homens livres e nobres portugueses durante o Período Pombalino.
A edição da Editora
34 traz o poema em ortografia atualizada, acompanhado de notas
explicativas e um ensaio.
>>> Brasil: Eis a
reunião de todas as crônicas de Clarice Lispector
Anunciamos
por aqui a chegada desta edição no final de 2017. E agora chega a informação de
que na primeira semana de agosto estará ao alcance do leitor. Trata-se da
reunião definitiva da extensa produção de Clarice Lispector para jornais. Todas as crônicas apresenta pela primeira vez em volume único toda
a obra cronística da escritora; a coletânea traz as colaborações de Clarice
para veículos como Jornal do Brasil, Última hora e
a revista Senhor, incluindo 120 textos inéditos em livro, além das
crônicas anteriormente publicadas nas coletâneas A descoberta do
mundo e Para não esquecer. Todas as Crônicas permite uma apreciação completa da atividade da autora como cronista. A obra
está dividida em três partes: a primeira corresponde ao período do Jornal
do Brasil, contendo material que não havia sido publicado na coletânea A descoberta do mundo; a segunda engloba as colaborações com outros
veículos de imprensa, muitas delas inéditas em livro; a terceira recupera
esparsos do livro Não esquecer. A organização da coletânea ficou a
cargo do editor Pedro Karp Vasquez, a partir de pesquisa textual de Larissa
Vaz. O livro traz ainda prefácio assinado pela escritora Marina Colasanti. A
edição é da Editora
Rocco.
>>> Brasil: A Editora Rocco renova
o contrato para reeditar sete dos mais importantes livros de Tom Wolfe
Da
Bauhaus ao nosso caos, uma análise de da arquitetura e do estilo
norte-americanos; Os eleitos, história dos astronautas do
primeiro projeto espacial americano; O teste do ácido do efeito
elétrico, uma reportagem sobre o psicodelismo e o movimento hippie que marcaram
os anos 1960; e Radical chic e o terror dos RP’s, sobre conflito
racial nos Estados Unidos; A casa pintada, uma discussão sobre o
mundo das artes; Emboscada no Forte Bragg, fábula contemporânea
sobre os limites do jornalismo e o poder de ilusão da televisão; e A
fogueira das vaidades, romance que colocou Wolfe no primeiro time dos
grandes romancistas do século XX e que permaneceu por mais de um ano na lista
dos mais vendidos do The New York Times. Observador arguto da
sociedade estadunidense e um dos expoentes do Novo Jornalismo, Tom Wolfe
faleceu em maio de 2018, aos 88 anos. A fogueira das vaidades chega
às livrarias ainda este ano, numa edição especial em capa dura.
Quinta-feira,
12/07
>>> Brasil: Na
invasão de portugueses, cinco novos escritores em prosa. É a coleção Trás-Os-Mares
(1) Rui Nunes
nasceu em novembro de 1947. Licenciou-se em Filosofia pela Universidade de
Lisboa e enveredou pela atividade de escritor, em paralelo com a de professor
de Filosofia. Na década de 60, passou pelos jornais, tendo visto censurados
muitos dos trabalhos. Publicou o seu primeiro livro, As Margens, em
1968, regressando em 1976 com Sauromaquia. Foi considerado por
Manuel Frias, membro do Júri que atribuiu ao seu livro Grito,
em 1998, o Prêmio GPRN (Grande Prêmio de Romance e Novela da Associação Portuguesa
de Escritores [APE]), "uma das estrelas mais brilhantes da constelação
literária portuguesa – ocultada, tantas vezes pelas nuvens do fácil e do
óbvio", aludindo à sua prosa densa e reflexiva. Dele, a editora Circuito
publica Noturno europeu. De acordo com Hugo Pinto Santos, crítico
do suplemento literário do jornal Público, Ípsilon,
Noturno Europeu (…) descreve "uma Europa comum, loura, atlética, que uiva pelo
seu guia", e resume, na escolha fixada pelo título, uma situação e determinado
posicionamento que é identitário da própria escrita; "Europa dos lugares
indiferentes, mapeada como uma espécie de metonímia do mundo". A escrita
poderosa e convulsa coloca questões que dizem respeito à essa Europa, hoje
atravessada por questões de identidade, que obrigam a repensar os problemas e
as causas que levaram às grandes guerras do século XX e ao holocausto. Nesta
obra nada nos deixa indiferentes, marcados que somos por um destino histórico
comum e que mostra a o velho continente da Europa como um território onde
falhou a tentativa de implementar uma identidade homogênea, espelhando nela –
enquanto metáfora – todos os sinais da catástrofe iminente.
(2) Jaime Rocha
nasceu em 1949 na vila de Nazaré, em Portugal. Estudou na Faculdade de Letras
de Lisboa. Viveu em França nos últimos anos da ditadura portuguesa. Publica
desde 1970, poesia, prosa e teatro. É autor de cerca de uma trintena de livros
e recebeu alguns prêmios literários ao longo dos anos. Os seus mais recentes
livros editados são Necrophilia e Preparação para a
noite, poesia; O regresso de Ortov, teatro; e Rapariga
sem carne e Escola de náufragos, romance, este último
finalista dos Prêmios Oceanos e Correntes D’Escritas. A editora Circuito
publica no Brasil A loucura branca. De acordo com António Cabrita,
neste livro Jaime Rocha "apresenta-nos um texto que mergulha no cotidiano e no
mundo trivial com uma demência quase surreal, cruzando Kafka com os filmes de
David Lynch. Um misto de mistério, sedução e humor sutil." Para Miguel Real, "A
capacidade de descrever situações claustrofóbicas de um modo estético, não
recorrendo a símbolos narrativos neorromânticos ou góticos, utilizando
exclusivamente um léxico de referentes semânticos realistas, identifica e
singulariza a obra romanesca de Jaime Rocha no horizonte do romance português
contemporâneo."
(3) António
Cabrita é um ex-jornalista (nos dezesseis anos finais da sua carreira de
jornalista esteve ligado, como crítico de cinema e de livros, ao semanário
Expresso, de Lisboa) convertido agora em professor universitário,
em Maputo/Moçambique, e escritor. Tem livros publicados em Portugal, Moçambique
e Brasil. Sendo um poeta referenciado da geração de oitenta, na última década
dedicou-se prioritariamente à ficção (contos e romance), tendo sido os seus
livros sistematicamente finalistas de alguns dos mais prestigiados prêmios do
espaço da lusofonia. A obra Éter, agora publicada no Brasil pela
editora Circuito, foi finalista do Prêmio Pen Club, em Portugal, em Janeiro de
2017. Nele, o autor reúne sete narrativas urbanas, que se localizam nos dois
países em que tem alternado a sua vida. São sete histórias com distintas
estratégias narrativas, tal como são variados os seus temas, sendo, contudo,
transversal uma idêntica tensão entre a memória pessoal e o esquecimento
coletivo, bem como a escrita peculiar do autor de A Maldição de
Ondina. Os seus diferentes narradores atuam na fronteira entre a verdade
e a verosimilhança, adotando o jogo perigoso de fazer coincidir drama pessoal e
memória coletiva. Sobre esta obra disse José Mário Silva no Expresso:
"Quem conheça as obras mais recentes de António Cabrita, nomeadamente esse
belo romance que é A Maldição de Ondina (2013, finalista do Telecom), não se
espantará com as alturas a que consegue subir a sua escrita, essa mistura de
lirismo e galhardia, devaneio e precisão, criatividade à solta e esmero
oficinal. Ainda assim parece que o antigo jornalista escava cada vez mais fundo
na jazida que inventou para si mesmo, a prosa está cada vez mais livre, mais
sensorial, mais sensual, mais jazzística (próxima dos solos de Miles Davis,
tantas vezes evocado ao longo deste volume)".
(4) Hélia
Correia nasceu em Lisboa. É licenciada em Filologia Românica pela Faculdade de
Letras de Lisboa e mestre em Teatro da Antiguidade Clássica. Também poeta e
dramaturga, a escritora revelou-se um dos nomes mais importantes da literatura
portuguesa na década de 1980, ao publicar o seu primeiro romance O
separar das águas, a que se seguiram, entre outros, Montedemo, Insânia, A casa eterna, Lillias
Fraser, Bastardia e Adoecer. Hélia Correia
recebeu vários prêmios literários, tendo sido galardoada com o Prêmio Camões em
2015, em que lhe foi reconhecido a imaginação, o poder de criação de
personagens e o invulgar modo de trabalhar a língua portuguesa. A editora Circuito
publica Adoecer, romance que elabora a vibrante história de amor
entre a modelo, pintora e poeta Elizabeth Siddal (Lizzie, 1829-1862) e o pintor
e poeta Dante Gabriel Rossetti (1828-1882). Como pano de fundo muito bem
documentado, surge a Inglaterra do século XIX, e o grupo dos pré-rafaelitas,
empenhados no regresso a uma certa pureza dos olhos e da arte. Mas o voo do
romance é outro: o do destino, do amor e da doença como luz e danação. De
acordo com Eduardo Lourenço, "Adoecer é um dos melhores romances dos
últimos cinquenta anos". Já Miguel Real escreve, "Este novo romance
de Hélia Correia deveria ser de leitura obrigatória para todos os aspirantes à
arte de escrita literária. (…) A autoria pessoal transfigura-se em autoria
universal – é um texto de todos e para todo o tempo. De atual, mal publicado
passa a ser um clássico. Não se pode pedir mais a um romance."
(5) Maria da
Conceição Caleiro nasceu e vive em Lisboa. Concluiu em 1989 o mestrado em
Literatura e Cultura Portuguesas na Universidade Nova de Lisboa com a
dissertação Estudo de Clarice Lispector. Lecionou Língua, Literatura e Cultura
Portuguesas em Clermont-Ferrand e em Paris III. Entre 1998 e 2003, trabalhou
como assessora no Instituto Português do Livro e Bibliotecas. No âmbito da
promoção da leitura, desenvolveu com a Culturgest uma série de debates, além de
ter lançado o projeto Comunidades de Leitores. A história do encontro entre
Maria Luís e David, em Até para o ano em Jerusalém é também, nas
palavras de Rui Nunes, "uma história de desamparo que os leva numa espécie de
peregrinatio ad loca infecta, de Lisboa aos Açores, ao Brasil, à memória de um
tempo alemão passado, mas tão presente. Para estes dois, toda a terra é uma
expulsão: a Europa expulsa os judeus, os Açores expulsam o exilado, o Brasil
acolhe, integrando, assimilando, isto é, expulsando cada um da sua identidade,
esbatendo quase todas as diferenças". A narrativa é uma reflexão sobre a
memória individual, civilizacional e cultural, que se alicerça em fragmentos da
História, do Holocausto e da interminável diáspora do povo judeu. Até para o
ano em Jerusalém foi finalista do prêmio PEN Clube Português, em 2016. A obra
sai pela editora Circuito.
Sexta-feira,
13/07
>>> Brasil: Sai pela
Penguin / Companhia das
Letras a tradução de Rubens Figueiredo para dois livros de Dostoiévski
Escrito
entre Os demônios e O idiota e descrito pelo biógrafo
Joseph Frank como "uma pequena obra-prima", O eterno
marido traz Dostoiévski em sua melhor forma como um dissecador implacável
das peculiaridades e fraquezas do caráter humano. No meio da noite, um homem
atende a uma batida na porta. O marido de uma antiga amante o espera na
soleira, mas ele ainda não sabe se o romance foi descoberto. A partir dessa
premissa, se estabelece um intenso debate intelectual, que levará os dois
homens a conclusões devastadoras. Em O eterno marido, Dostoiévski
destila toda a sua capacidade de construir enredos arrebatadores e ao mesmo
tempo filosoficamente profundos. Ao revisitar temas caros ao autor, esta
narrativa madura se revela um de seus romances curtos mais bem-acabados e uma das
mais sensatas reflexões sobre a dualidade do amor.
Em Noites brancas, o jovem Dostoiévski mostra a sua versatilidade como
escritor de gênero breve ao abordar um encontro inesperado entre um homem e uma
mulher que se repetirá por quatro noites. São Petersburgo, século XIX. Um homem
solitário vaga pela cidade noite adentro, deixando que o sentimento de cada
rua, esquina ou calçada o penetre. Durante a caminhada, avista uma mulher aos
prantos encostada no parapeito de um canal. Ao acudi-la, tem início um idílio
fadado a se dissipar como a tênue claridade das noites de verão na Rússia.
Quanto mais o anônimo narrador se aproxima da jovem Nástienka, mais parece se
distanciar de sua melancólica vida anterior. Em quatro encontros, no entanto, a
crescente intimidade dos dois personagens chega a um inesperado desfecho,
quando a última noite por fim termina. A novela de 1848, tida como uma das obras-primas de Dostoiévski no gênero
breve, é acompanhada neste volume pelo conto "Polzunkov", escrito no
mesmo ano, que mostra uma faceta mais caricata de um dos maiores autores da
literatura russa.
>>> Brasil: Com este
livro, o ganhador do Nobel J. M. Coetzee prossegue a hipnótica narrativa que
inaugurou em A infância de Jesus
"Nós
temos, cada um de nós, a experiência de chegar a uma nova terra e nos
atribuírem uma nova identidade. Nós vivemos, cada um de nós, com um nome que
não é o nosso. Mas logo nos acostumamos a isso, a essa vida nova,
inventada." Com essas palavras, Simón, o personagem central deste romance,
define a situação tranquilamente absurda em que se encontra. O adulto Simón e o
menino Davíd, que não se conhecem, desembarcam de uma inexplicada viagem de
navio em um lugar indeterminado, numa cidade chamada Novilla. Simón encontra
Inés, que abandona seus irmãos e resolve adotar o órfão Davíd. A peregrinação dos
três representa uma iniciação existencial em terra estranha, que gira inteira
em torno da educação do menino. Logo os dois adultos conseguem trabalho numa
fazenda administrada por três irmãs e Davíd é matriculado numa inusitada escola
de dança, onde se aprende a harmonia do universo através da dança dos números.
Ao tangenciar os gêneros clássicos — o drama, a fantasia, a fábula, a aventura,
a alegoria — Coetzee arrasta o leitor por uma atordoante e provocadora
simplicidade narrativa. E prova mais uma vez por que é um dos nomes mais
importantes da literatura contemporânea. A tradução de José Rubens Siqueira sai
pela Companhia
das Letras.
>>> Brasil: O retorno
triunfante de Salman Rushdie ao realismo, em um épico moderno sobre amor e
terrorismo, perda e reinvenção
No dia da
posse de Barack Obama, um bilionário enigmático chega do estrangeiro para se
instalar em uma joia arquitetônica que fica na comunidade fechada do Greenwich
Village. O bairro é uma bolha dentro da bolha de Manhattan, e a vizinhança logo
fica intrigada com o excêntrico recém-chegado e sua família. Com seu nome
inusitado, sotaque indecifrávele envolto em uma névoa de perigo, Nero Golden
trouxe consigo seus três filhos adultos: Petya, sujeito alcóolatra, recluso e
torturado; Apu, o artista extravagante, famoso por sua fome pansexual e
espiritual; e D., o caçula de 22 anos, que guarda um segredo explosivo. Não há
mãe e não há esposa, até que surge Vasilisa, uma atraente expatriada russa que
captura o coração do septuagenário Nero, tornando-se sua rainha. O narrador é
René, um cineasta jovem e ambicioso, vizinho de Nero e espécie de guia para seu
mundo. Com o propósito de fazer um filme sobre os Golden, ele dá um jeito de
cair nas graças da família. Seduzido pela mística deles, acaba inevitavelmente
envolvido nas disputas, infidelidades e, por fim, até nos crimes. Enquanto
isso, como uma piada de mau gosto, um vilão que parece saído dos quadrinhos
entra numa acirrada corrida pela presidência dos Estados Unidos, deixando a
cidade em polvorosa. A casa dourada e é uma história muito oportuna
para o momento de trevas em que vivemos, contada com a ousadia e a exuberância
características da prosa de Rushdie. A tradução de José Rubens Siqueira sai
pela Companhia
das Letras.
>>> Brasil: Reedição de Oryx e Crake, de Margaret Atwood
O Homem das
Neves pode ser o último homem na terra, o sobrevivente solitário de um
apocalipse sem nome. Quando ainda se chamava Jimmy, ele vivia com os pais nos
Complexos, cidadelas fundadas por multinacionais onde a elite financeira do
planeta dava seus primeiros e pouco inibidos passos na direção da engenharia
genética, na tentativa de atender as constantes demandas dos conglomerados
farmacêuticos. Agora, o Homem das Neves vive em um amargo isolamento,
sobrevivendo como um pária em seu próprio habitat. Quando não precisa sair em
busca de comida em um deserto infestado de insetos, ou encarar a destruição da
antiga plebelândia, a terra dos desprivilegiados, hoje povoada pelos animais
criados nas experiências transgênicas do passado, seu único prazer está em
assistir a filmes antigos em DVD que o fazem lembrar do mundo de outrora e em
entreter os Filhos de Crake, crianças de uma nova espécie com estranhas
habilidades que o tratam como um ídolo. Como tudo veio abaixo tão depressa?
Enquanto o Homem das Neves reconstitui suas lembranças na tentativa de
descobrir as origens dessa catástrofe irreversível, sua mente é povoada pelas
vozes de seus amigos da juventude, o enigmático Crake e a sedutora Oryx,
personagens-chave por trás do Projeto Paradiso, o grande responsável pela
modificação definitiva da Terra e a derrocada da espécie humana. O primeiro de
uma trilogia que inclui O ano do Dilúvio e se encerra com MaddAddão, Oryx e Crake consolida o retorno de Margaret
Atwood ao gênero da ficção científica, em uma narrativa marcada pelas questões
éticas e morais sobre o futuro da humanidade, e na qual a verdade está na
descoberta dos mundos interiores de seus personagens. Por mais estranho que
tudo pareça, o futuro é um cenário assustadoramente familiar. A tradução de Lea
Viveiros de Castro sai pela Editora Rocco.
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