A visita do Dr. Witzig
Por Lucas Grosso
Juliano Kaglis |
"O que importa, no final das
contas, é o afeto."
Marina Colasanti
I
Foi em uma tarde de terça-feira, que
o Dr. Inácio Witzig, cardiologista e cirurgião-chefe de um importante hospital
paulista, foi visitar o seu amigo de longa data, o Dr. Venâncio Bessa, chefe do
setor de radiologia do mesmo hospital. Venâncio, em decorrência de um derrame,
vivia, agora, limitado a uma cadeira-de-rodas, e perdera os movimentos plenos
das mãos; também veio cobrar seu preço, na forma de um tumor na faringe
(combatido com sucesso), os tantos anos fumando quase diariamente um ou dois
Romeo y Julieta, de forma que o radiologista dependia totalmente do trabalho
atencioso de Juliano, enfermeiro de dedicação rara.
O Dr. Venâncio e Juliano estavam a
sós, assistindo s uma partida de basquete na TV, quando o interfone anunciou o
Dr. Inácio. Maristela, a esposa de Venâncio não estava; teve de fazer, ela
mesma, algum exame médico concorridíssimo e aquela data era imprescindível,
pois os resultados daquele exame permitiram que ela começasse um tratamento
que, quanto mais cedo fosse iniciado, melhor seriam os resultados.
Aquela ausência, porém, não era um
problema, de qualquer forma. O enfermeiro acompanhava o paciente há quase seis
meses, e era um jovem de trinta e tantos anos dedicado e habilidoso; sabia
operar a máquina de expressos, sabia a forma de organizar uma bandeja de café
como Maristela gostaria, e sabia ser espirituoso.
A campainha tocou. O enfermeiro foi
abrir a porta e lá estava aquele homem de cabelos brancos e bigode, usando um
clássico terno cinza. Era um homem de quase dois metros de altura, tinha os
olhos azuis grandes e expressivos e uma voz grave, que não escondia sua origem
gaúcha, mesmo depois de cinquenta anos em São Paulo. Juliano pediu que o
convidado sentasse na sala. Ele lhe faria um café e ofereceria alguns biscoitos
de marzipã, comprados com antecedência para aquela ocasião.
– Bom dia, meu jovem. Eu avisei ontem
que vinha. Vou voltar para o sul, e aí vai ser difícil ver os amigos, entende?
– Perfeitamente. Dona Maristela me
avisou. O senhor pode falar com ele, que ele entende tudo. Eventualmente, vai
responder só com um olhar, um ruído. Mas garanto que sua cabeça está em plena
forma. Vou fazer um café.
– Muito obrigado meu jovem. Pode me
chamar só de Inácio. Eu e o Venâncio somos quase irmãos. Ele é praticamente o
meu irmão paulistano.
– Ah sim? Vocês se conheceram no
hospital?
– Antes disso. No curso preparatório
para o vestibular. Eu, um gaúcho pobre, que nunca nem tinha ouvido falar na
Praça da Sé; ele, um caipirão de Santa Bárbara do Oeste, sempre com uma piada
suja nas mangas. Ah, meu rapaz! Eram tempos ótimos, aqueles!
– Sim, imagino. A dona Maristela
conta que o Dr. Venâncio era um grande piadista...
– A alma de todas as festas! –
Exclamou o Dr. Witzig. Era um piadista que rouba as atenções para ele, sempre
tinha uma troça de sogras ou portugueses, não é mesmo?
O Dr. Inácio Witzig olhou para o
silencioso Venâncio Bessa e esse lhe sorriu como pode.
– Vê, meu rapaz? Ele continua com
aquele... Aquele... Aquilo que Jane Austen chama de wittness, sagacidade. Ele
sempre percebia as situações a sua volta e sempre sabia fazer algum comentário
irônico sobre ela, sempre conseguia fazer alguma piada.
– Imagino. Os filhos do Dr. Venâncio
falam muito sobre essa época.
– Ah sim? Conheço só a Dra. Débora
Bessa, ela que é advogada e ajudou meu neto com o seu primeiro estágio na área
de Direito.
– Além da Débora, têm os gêmeos, Ariovaldo
e Arlindo. Ariovaldo mora em Salvador, telefona todos os sábados; me parece que
ele trabalha com engenharia naval ou similar, e o Arlindo vem aqui todas as
quartas-feiras de manhã. Ele passa na feira que tem ali na rua debaixo, traz
produtos para a dona Maristela... Se não me engano, trabalha com importações.
– Veja só... Nenhum deles seguiu
carreira médica... Eu tenho três filhas e um filho e todos são doutores também.
– Mesmo? Que coisa maravilhosa,
trabalhar com o pai.
– É. Não é a profissão dos sonhos,
devo dizer, porque o começo é muito difícil. Uma filha é generalista, uma é
pediatra, uma é psiquiatra e meu garoto seguiu pela infectologia. Profissão
estressante, pouco valorizada, mas tão necessária, não é, Venâncio, meu amigo?
Venâncio sorriu e fez um som nasal,
como se dissesse: “É isso aí. Mas o que podemos fazer?”. Juliano, por sua vez,
aproveitou esse tempo e foi a cozinha fazer o café e pegar os biscoitos de
marzipã.
Quando voltou, serviu o Dr. Inácio,
e pediu licença. Contudo, o médico gaúcho convidou ele a se sentar também.
Gostava de contar histórias engraças; queria rememorar alguns dos momentos que
havia passado ao lado de seu amigo, e de outros do hospital.
– Você conhece aquele filme, O
Quinteto Irreverente? É um filme italiano, de 5 velhotes que vivem fazendo
pilheria com os outros...
– Sim, conheço. Meu pai é um
aficionado por cinema.
– Pois bem. O Venâncio e eu, e nossos
outros amigos, o Saulo, o... Fabrício – e olhava para Venâncio, que concordava
com a cabeça –, nós erámos como o quinteto irreverente, vivíamos fazendo o
diabo na faculdade e depois dela.
– Imagino. A dona Maristela me
mostrou um vídeo do Dr. Venâncio cantando aquelas serestas bem das antigas,
como cantava minha avó, numa festa.
– Sim! Erámos grandes seresteiros,
não, Venâncio?
E o Dr. Bessa riu em silêncio,
mostrando os dentes amarelos por anos de fumo. Então, aspirou, como se quisesse
falar alguma coisa, tossiu um pouco, contraiu o rosto e emitiu vocalizações
roucas. Mas parou e olhou para o Dr. Witzig, bufou e desistiu de lutara contra
aquela força inexplicável que havia combalido o seu ser.
O Dr. Inácio Witzig sorriu
melancolicamente, e deu uns tapas na perna de seu amigo. Riu contidamente,
bebeu um pouco do café e comeu um biscoito.
– Você vê, Dr. Inácio, ele tenta
falar, mas...
– É um caso complicado. É uma idade
complicada. Nós dois, praticamente, nascemos num comício do Getúlio. Já estamos
vendo “A luz”, como diz o dito.
– Mas o senhor, nem parece que tem
idade de ter nascido num comício de Getúlio!
Os médicos riram. Inácio terminou
sua xícara e, como os olhos baixos, olhou para o enfermeiro, suspirou e ficou
uns instantes em silêncio.
– O silêncio, meu rapaz... Penso que
às vezes nós ficamos em silêncio porque é melhor que não falemos mais nada. Que
nosso tempo acabou e se falarmos, aí parece que é só outro velho rabugento...
Não quero dizer que... Bem, eu preferia que ele pudesse cantar uns trechos de
algum sucesso. A Deusa da Minha Rua, Maria Bethânia, Perfídia. Lembra Venâncio?
– E o médico balançou a cabeça em concordância – É claro que seria melhor
assim. Contudo, quem sou eu pra debater com as escolhas de Deus? – Você não
note, não, que eu sou de uma família luterana, então, nós aprendemos que Deus
age por modos que não dá pra se explicar assim – e estalou os dedos e bateu na
coxa.
– Deus dá a força pra seguirmos, não
é?
– Sim! Dá a força. Um homem sem
Deus...
– Mas pelo menos ele tem amigos
fiéis, como você, Dr. Inácio...
– Sim, os amigos. Passamos tanto
tempo brincando juntos, troçando, cantando... – e então cantou um trecho de A
Noite do Meu Bem – E agora acontece dessas coisas. Não dá pra explicar. Porém,
temos de seguir em frente...
– Com fé e força.
– Perfeito, com fé e força, porque as
novas gerações vêm aí, o mundo muda...
– E isso não dá pra mudar.
– Mas é melhor assim. Já pensou um
velho gordo como eu, vivendo pra sempre? – Indagou apontando para o peito e
causando a risada nos três ocupantes da sala. – Nosso tempo está perto do fim;
contudo – e essa é a graça da vida -, nossas crianças crescem, atingem o
sucesso, viram gente decente e mostram que, afinal, nossa existência não é sem
sentido; que nós conseguimos fazer um mundo um pouquinho melhor. Não é mesmo
Venâncio? – E o médico afirmou com a cabeça.
O Dr. Witzig ficou em silêncio por
uns instantes, os olhos ficaram mais profundos. Juliano olhou para o homem
sentindo compaixão por sua tristeza, pensando como deve ser a vida de uma
pessoa que vê todos aqueles com quem conviveu por anos, partindo, ou, como
Venâncio, sendo enclausuradas em silêncio e imobilidade, apesar de tanta vida
ainda terem. E sentiu uma tristeza que, como enfermeiro, considerava que não
devia sentir, senão não teria forças para fazer seu trabalho. Porém, o que ele
poderia fazer? Era humano – a frase mais banal e supervalorizada de todos os
tempos, disse uma vez, outra enfermeira de idosos, “Sou só um humano e as
emoções são a maior prova de minha humanidade” era a frase.
Seus pensamentos foram interrompidos
pelo gesto do Dr. Inácio, de se levantar e bater no terno, como se estivesse
tirando alguma migalha. Estendeu as mangas e, em seu relógio de ouro, olhou as
horas.
– É muito triste, ficar algum tempo
sem ver uma pessoa, e então, rever ela e ela... Bem, e ela não poder mais falar
com você. Já vi pessoas assim no hospital; esposas, filhos... Mas também é bom
revermos os amigos, relembrarmos as pilhérias! Mas uma hora eu preciso ir, e
acho melhor ir agora.
– O senhor, digo, você pode ficar
mais, Dr. Inácio. Quer outro café, aceita, quem sabe, uma taça de licor?
– Ah meu rapaz, até aceitaria, mas eu
sei que isso só vai dificultar tudo. É melhor eu ir agora, antes que eu me
torne muito sentimental. E você não vai querer ver um velho de 105 quilos
chorando, não é? – Exclamou, fazendo Venâncio rir. – Vê só? O bom da vida é ver
que nós ainda serviços pra fazer nossos amigos rirem! Ver que, apesar de tudo,
a vida continua. A vida! A vida, apesar de tudo, continua, e essa é a única
verdade que eu conheço. E vamos continuar!
– O senhor é um homem admirável! Faz
um grande uso das palavras!
– Ora meu rapaz, é um moço muito bom.
Pudesse, ficava, esperava Maristela, minha amiga querida. Mas tenho minha
esposa em casa, hoje vamos a ópera. Um dos prazeres da vida é a arte.
Juliano dirigiu-se até a porta,
dirigindo a cadeira de Venâncio.
– Deixe que eu abra, Dr. Inácio.
Visita que abre a porta não volta mais, dizia minha avó.
– Minha mãe dizia isso também. Vê?
Estou ficando velho! – E riu alto – Porém, não acho que eu volto mais aqui.
Infelizmente. Parto pro Sul e não sei se eu volto. Mas ainda vou ver você
muitas vezes, hein Venâncio? Falou e apontou para baixo - Ainda nos veremos lá,
na parte... Do que? Da Luxúria? Da Gula? – e riu junto com seu amigo,
batendo-lhe no ombro.
Juliano abriu a porta, e ele passou
para o pequeno hall. Olhou uma pintura à cubismo de um vaso de flores.
– Essa pintura, esse quadro, quem deu
de presente foi um amigo nosso, o Laercio. Lembra Venâncio? – Ele concordou –,
o pai dele era um pintor nas horas vagas, um metido à Picasso, e o Laercio deu
as obras do pai pra todo mundo. Pelo menos são quadros bonitos. Laercio. Deus o
tenha. Não vivia sem um doce, um brigadeiro, torta de limão, goiabada... A
diabetes não perdoou.
Abaixou a cabeça e escondeu os olhos
com as mãos. Venâncio ficou olhando para ele com uma expressão que parecia a de
dúvida ou tristeza. Quando levantou o rosto, estava aos prantos. Foi até seu
amigo, beijou-lhe as faces, deu um longo abraço. Deu um abraço mais contido em
Juliano. Tirou um lenço do bolso e secou os olhos.
– Você me desculpe. Desculpe por
alguma coisa que eu falei. É... É triste. Ver as pessoas assim, os objetos que
elas deixam, as memórias. É triste. Dá uma saudade!
Exclamou essa última frase com a voz
arrastada e embargada e, logo em seguida, chegou o elevador. Despediu-se uma
vez mais, e entrou sob o silêncio de Juliano e Venâncio. O enfermeiro acatou ao
decoro de sua profissão, e levou o paciente de volta a sala de TV. Ligou em uma
amenidade – um jogo de vôlei.
– Gostou da visita, Dr. Venâncio?
Ele afirmou com a cabeça.
– É... É sempre bom ver os amigos,
não é?
Ele concordou.
II
Mais ou menos trinta minutos depois
da partida de Inácio, Maristela chegou. Estava com um vestido marrom discreto,
e carregando uma sacola da padaria mais próxima. Entrou em silêncio, e viu o
marido dormindo na cadeira, e Juliano fazendo palavras-cruzadas.
– Boa tarde. Olhe, trouxe pão, queijo.
Vá fazer um sanduíche para você antes do fim do seu turno.
– Vou sim senhora. Mas ainda falta
uma meia-hora pro fim do meu turno. Vou já trocá-lo, é melhor – disse acordando
com leveza, Venâncio.
– Não se preocupe. Espere mais um
pouco. E então, veio o tal do Inácio? O Venâncio gostou do Inácio?
– Ah sim, senhora! Ele ficou muito
bem. E o Dr. é um grande homem. Uma pessoa de alma nobre! Ficou aqui
relembrando dos momentos da juventude com o Dr. Venâncio, contou alguns casos,
fez o Dr. até dar boas risadas! É um homem formidável, esse Dr. Inácio.
– É um canalha!
– Um canalha? Mas... Mas o homem...
Ele falou tão emocionado, sobre a vida, sobre a perda, como ele gosta do Dr.
Venâncio. Veio aqui se despedir, porque vai embora pro Sul, pra junto da
família e saiu chorando, coitado.
– Vai embora? Vai tarde! É um
canalha. Um desquitado, um boêmio, traiu a esposa, levava o Venâncio pras
bebedeiras dele. Uma vez, o Venâncio recebeu um telegrama cheio de bobagens, um
telegrama sujo, assinado com Luiza. Eu fui perguntar por Venâncio quem era, se
ele estava me traindo... Você acredita que era esse homem, tirando uma com a
minha cara?
– Aquele homem?
– Aquele homem! Eu fiquei tão brava
que joguei três pratos no chão! Telefonei pra casa daquele homem e fali um
monte pra ele. Acho que ele não gosta de mim.
– Falou que a senhora era uma amiga
querida...
– E ele é um cachorro. Um bocó que
ficava cheio de histórias pra cima de mim, levava o Venâncio e os amigos pras
noites, e ele voltava bêbado pra me encher “os picuás”, como dizia minha mãe.
Nas festas ele fazia cena, subia nas mesas, cantava Cauby Peixoto com aquela
voz toda escangalhada... Ele cantou?
– Cantou sim. Uma música que era, não
sei bem. É... “Hoje/eu quero rosa mais linda”... – Falava Juliano, francamente
impressionado com o desgosto e desprezo de Maristela pelo pobre homem. Falava
até um pouco baixo, e pensando as palavras com cuidado, evitando deixar a
mulher muito exaltada.
– Ah! É da... Como é mesmo o nome?
Aurora Miranda? Não, é... Angela Maria? Enfim. Ele gosta de cantar essas
músicas do nosso tempo, mas esse homem não tem voz, e fica cantando, não tem
critério, ficava flertando com as médicas.
– Nossa, senhora, não imaginava.
– É... O Venâncio e os amigos, às
vezes, aprontavam umas, que eu e as outras esposas queriam dar na cabeça deles!
– Berrava ela, sob o olhar perplexo do marido e do enfermeiro.
– Ele não falou nada disso.
– É... Isso ele não falou, não é? Da
festa de fim de ano com umas cocotes? Da vez que ele, o Venâncio, o Laercio e o
Saulo foram assistir a um jogo do Palmeiras e beberam tanto que eu tive que ir
lá com a minha irmã, que ele estava recebendo soro na veia? Da vez que esse
homem, que dizia porque dizia que consertava rádios, que ele sabia mexer em
aparelhos eletrônicos, que no Sul ele trabalhava, quando era menino,
consertando rádios e veio aqui mexer no rádio e quebrou o meu rádio? Esse
canalha.
– Dona Maristela, o homem ficou tão
triste, a senhora precisava ver. Parecia um homem tão bom, ficou tão feliz de
ver o Dr. Venâncio...
– Deve ter ficado sim, que eles são
grandes amigos “no crime”, nas farras. Esse boêmio, falador...
Juliano já tinha passado do susto
para o riso. Agora estava rindo das palavras da mulher. Venâncio continuava com
seu olhar perplexo. A esposa foi até ele e deu-lhe um beijo no rosto. Virou-se
ao enfermeiro.
– É... O homem era um canalha, mas
pelo menos foi bom pro Venâncio, ver os amigos, lembrar das histórias, não é?
Mas que ele é um canalha, isso ele é!
– E pelo menos os exames que a
senhora fez, foram tudo bem?
– Exames?
– A senhora não ia fazer uns exames
hoje, uns exames inadiáveis?
– Ah sim. Os “exames” – disse ela,
com ironia -, falei isso só para não precisar ficar aqui e ver a cara daquele
homem. Não queria ver ele, mas achei que ia ser bom para o Venâncio rever os
amigos. Porque nesse momento, o que a gente pode fazer? Não há o que fazer; nós
vamos levando. Temos que ir levanto. Pelo menos ele riu um pouco, isso é o mais
importante – concluiu ela, por fim, indo para o seu quarto.
Juliano olhou para o seu paciente.
Ele respondia ao olhar com uma expressão que bem poderia ser de ironia, uma
expressão de conformismo, ou de alguém que, por um momento, lembrou-se de todas
as aventuras que lhe foram atribuídas e, com um pouco de nostalgia, divertia-se
com elas e com a reação que a simples menção delas provocava em Maristela.
– Então o senhor foi um boêmio, um bon-vivant,
hein, Dr. Venâncio?
O médico reforçou o sorriso que
estava sugerido na face.
– Bem... Como disse a dona Maristela,
pelo menos o senhor riu um pouco, lembrou dos momentos, viu um amigo querido,
não é mesmo? Pelo menos o senhor tem amigos que lhe gostam tanto. Isso é o mais
importante, não é mesmo?
O olhar dele respondia a questão.
***
Lucas Grosso é um professor e
escritor de São Paulo.
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