Philip Roth no cinema
cena de Goodbye, Columbus, de Larry Peerce (1969) |
A morte do
grande escritor estadunidense Philip Roth nos leva a revisitar uma grande
quantidade de materiais, entre eles os audiovisuais, em torno de sua obra. Incluindo
adaptações de seus romances para o cinema – mesmo que estas em grande parte não
correspondam aos interesses de figurar em listas de bons filmes –, documentários
e entrevistas reveladoras. Esta lista recolhe algumas dessas produções sobre e
em torno de um dos maiores escritores do século XX.
Dois documentários
Philip
Roth Unleashed, de Sarah Aspinall (2014)
A BBC
britânica é um dos melhores exemplos de que o investimento público em cultura
pode render substanciosos frutos. Este documentário da série “Imagine”, dividido
em duas partes e transmitido em 2014 confirma isso, embora o título deixe um
pouco a desejar; o “desacorrentado” é que soa mal, como se o escritor fosse um
preso censurado a quem fosse necessário dar “rédea solta” para falar com
absoluta comodidade. Mas aqui o sentido está relacionado mais à disponibilidade
do famoso escritor, quem antes não havia dedicado tanto tempo para uma entrevista
por estar “acorrentado” com suas ocupações criativas. Por isso, o documentário
é um retrato fidedigno, pelas questões suscitadas na conversa, pelos materiais
de arquivo e pelas participações de importantes depoimentos, entre outros, Edna
O’Brien e Salman Rushdie. Apesar do protagonismo de seu entrevistador – Alan Yentob
é um tanto excessivo nas conversas, mas diverte o espectador a habilidade do escritor
em contestar ou subverter algumas perguntas sem perder a sinceridade. Para
Roth, a liberdade verbal e a honestidade expressiva de sua literatura recuperam
sua infância em Newark. A partir daí, a experiência vivida se converte na forma
mais provocadoramente bela e descarnada da arte.
Arena: Philip Roth (1993)
Este é o documentário
mais valioso até agora sobre Philip Roth. Talvez antes de ver o documentário
anterior, os leitores de Roth deveriam se interessar por este episódio da série
“Arena”, filmado por ocasião dos sessenta anos do escritor e quando publicava Operação Shylock. É um encontro mais sucinto
com o autor e uma aberta discussão sobre suas características mais controversas,
como as acusações de antissemita que recebeu por parte da comunidade judaica
estadunidense. Além das declarações de Roth, aparecem acadêmicos, críticos, as
opiniões negativas de Gershom Sholem e a defesa de Saul Bellow, amigos e
familiares do escritor, entre outros. Das séries da BBC e entre as muitas
entrevistas com Roth, o diálogo com David Remnick, editor há anos do The New York Times, realizado em 2003, também
é recomendável.
Sete adaptações
Apesar de
bem-quisto entre os cineastas, Philip Roth não teve sorte com as muitas
adaptações de sua obra para o cinema. Poucas são as que se aproximam da qualidade
das obras do escritor, apesar do esforço de roteiristas, diretores e atores. Portanto,
os títulos não são apresentados como dicas de obras indispensáveis no catálogo
de interessados na cinematografia ou mesmo releituras do cinema para obras literárias
e sim como justificativa para a compreensão sobre a popularidade de uma literatura
que alcançou fronteiras diversas.
Goodbye,
Columbus, de Larry Peerce
(1969)
Estrelado
por Richard Benjamin e Ali MacGraw, o filme se centra na paixão entre Neil,
jovem pobre, e Brenda, bela judia e rica; o envolvimento amoroso à Shakespeare
de Romeu e Julieta em que os pais dela
são contra o namoro. A proibição é subvertida pelo encontro contínuo dos dois
num périplo pelos motéis mais sujos de Nova York e pela tomada de inciativa da
mulher nas escolhas sobre os cuidados de si para evitar uma gravidez indesejada.
Adeus, Columbus foi o livro de estreia
de Philip Roth e logo o filme de Peerce é também a primeira adaptação do escritor
estadunidense para o cinema. Junto com o filme de Lehamn forma duas melhores
adaptações da obra de Roth para o cinema.
Portnoy’s
complaint, de Ernest Lehamn
(1972)
O filme repassa
o romance de Philip Roth que colocou a olho nu a face obscena dos Estados
Unidos a partir da confissão de Alexnader Portnoy, um judeu estadunidense, que
tem dificuldades em lidar com seus impulsos sexuais. A adaptação realizada três
anos depois do lançamento de O complexo
de Portnoy ainda foi marcada pelos respingos da celeuma que o romance de Roth
causou entre os estadunidenses. Roteirizado por um nome que compôs intrigas
importantes para o cinema, como Quem tem
medo de Virginia Wolf? e Intriga
internacional, o elenco reúne Richard Benjamin, Karen Black e Lee Grant.
The human stain, de Robert Benton (2003)
O título traduzido no Brasil como Revelações
é a adaptação de A marca humana.
Anthony Hopkins, Nicole Kidman e Ed Harris protagonizam este thriller. O passado do professor Coleman
Silk e sua verdadeira identidade racial afloram pouco a pouco logo depois de conhecer
ao escritor Nathan Zuckerman e uma mulher com quem se envolve amorosamente,
Faunia Farley, quem também tem um passado pouco claro. As críticas em torno da releitura
estão desde a escolha errada dos atores que dão vida às personagens do romance
à impossibilidade de alcançar os volteios da narrativa sem parecer repetitivo
ou distante do pacto de verossimilhança assinado entre narrador e leitor / espectador.
Elegy, de Isabel Coixet (2008)
Baseado no
romance O animal agonizante, Fatal, como foi traduzido por aqui,
também pertence ao que alguns críticos têm chamado de “ficção acadêmica”. David
Kepesh (Bem Kingsley) é um carismático professor de Literatura na Universidade
de Columbia, paradigma do homem livre e bem resolvido em sua masculinidade. A trama
é baseada na história de sua sedução a uma estudante de 24 anos, Consuela (Penélope
Cruz).
The
last act, de Barry
Levinson (2014)
Esta comédia
põe em cena Simon Axler (Al Pacino), um ator de teatro veterano da Broadway, entrando
em sua sétima década de vida, o que leva a um dia de quixotesca loucura: a dificuldade
entre compreender as fronteiras aparentemente claras entre realidade e ficção. O
filme de Levinson é uma adaptação de A
humilhação, romance de Roth publicado em 2009. Apesar da envolvente figura
de Al Pacino, dessa lista, o filme tem um dos piores desempenhos entre o gosto
dos espectadores.
American
pastoral, de Ewan McGregor
(2016)
O fim do
sonho americano é vivido aqui pelo próprio diretor, Jennyfer Connoly e Dakota
Fanning. Trata-se da adaptação de um dos romances de maior sucesso e logo mais conhecido
de Roth – ganhou o Prêmio Pulitzer de Melhor Ficção em 1997: Pastoral americana. A estreia de McGregor
como diretor não é lá essas coisas para não dizer que um grande fracasso. Faz par
com o filme de Barry Levinson entre as piores leituras de Roth pela sétima
arte.
Indignation, de James Schamus (2016)
No mesmo ano
em que McGregor estreava no cinema como diretor, também James Schamus repetia o
gesto. O diretor estadunidense recriava, entretanto, o romance de mesmo título
que Philip Roth publicou em 2008. Ambientado principalmente em Ohio no início
da década de 1950, no elenco estão Logan Lerman, Sarah Gadon e Tracy Letts,
entre outros. Das produções mais recentes até agora apresentadas esta teve algum êxito: a
atuação de Lerman concedeu-lhe a indicação para o Melhor Ator no Seattle Film Critics.
Um estudante judeu trabalhista, Marcus sai de Newark, Nova Jersey, para
frequentar uma pequena faculdade em Ohio, onde experimenta seu despertar sexual
depois de conhecer a elegante e rica Olivia e entra em confronto com a reitora na
discussão sobre o papel da religião na vida acadêmica.
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