Boletim Letras 360º #276
Amiga leitora, amigo leitor, eis a edição desta semana de uma post que foi criada há 276 semanas para contar a vocês as notícias ligadas às linhas de interesse do nosso blog publicadas em nossas redes sociais: Facebook e, por vezes, Twitter. Boas leituras!
Outro arquivo digital sobre a obra de Fernando Pessoa; desta vez sobre Fausto. Mais detalhes ao longo deste Boletim. |
Segunda-feira, 18/06
>>> Brasil: Livro mais
conhecido da escritora estadunidense Toni Morrison ganha nova edição
Com
Amada, Morrison ganhou o Pulitzer de 1988; dez anos depois, o
romance foi adaptado para o cinema com Oprah Winfrey no papel principal. Em
2006 o livro foi eleito pelo New York Times o mais importante dos
últimos 25 anos nos Estados Unidos. A história se passa nos anos posteriores ao
fim da Guerra Civil, quando a escravidão havia sido abolida nos Estados Unidos.
Sethe é uma ex-escrava que, após fugir com os filhos da fazenda em que era
mantida cativa, foi refugiar-se na casa da sogra em Cincinatti. No caminho, ela
dá à luz um bebê, a menina Denver, que vai acompanhá-la ao longo da história.
Amada tem uma estrutura sinuosa, não-linear: viaja do presente ao
passado, alterna pontos de vista, sonda cada uma das facetas que compõem esta
história sombria e complexa. Considerado um clássico contemporâneo, faz um
retrato a um tempo lírico e cruel da condição do negro no fim do século XIX nos
Estados Unidos. A tradução de José Rubens Siqueira ganha nova edição pela Companhia das
Letras.
>>> Brasil: Antologia
reúne poemas que atestam a relação estreita de Carlos Drummond de Andrade com
Minas Gerais
Itabira
é apenas uma fotografia na parede – este é o verso de um poema do poeta
mineiro sempre lembrado, "Confidência do itabirano". Muito além da
memória e da geografia, o estado de Minas Gerais é para Carlos Drummond de
Andrade a palavra abissal, o “dentro e fundo” escondido nas montanhas.
"Canto mineral" reúne 54 poemas que revelam como a terra natal do
poeta fixou fundas raízes nos 60 anos de sua produção lírica, elevando sua
inspiração. Da memória presentificada em versos dos anos 1980, escritos no Rio
de Janeiro, aos mais frescos poemas do jovem itabirano dos anos 1920, compostos
entre Itabira e Belo Horizonte, Drummond evoca o vasto universo mineiro – sua
paisagem, sua gente, seus enigmas – com reflexão, humor, crítica e afeto,
extraindo dessa terra e do tempo a matéria poética formada entre o bucólico e o
provinciano,a tradição e a modernidade, a monotonia e o movimento. A edição é
ilustrada por Carlos Bracher, com o traço mineral do carvão, e organizada por
Joziane Perdigão Vieira e Pedro Augusto Graña Drummond, com posfácio de Angelo
Oswaldo de Araújo Santos.
>>> Brasil: Nova edição
das crônicas de Hilda Hilst inclui inéditos em livro
Cascos
& carícias reúne crônicas que Hilda Hilst publicou no jornal Correio Popular de Campinas entre 1992 e 1995 e mais alguns textos
esparsos, lançados pela primeira vez em conjunto. No total são 132 textos que
oferecem ao leitor uma leitura inteligente e bastante divertida: no volume
estão as mazelas brasileiras tratadas com a irreverência particular da autora,
as relações familiares esmiuçadas com um olhar agudo, o cotidiano às vezes
divertido e muitas outras bastante angustiado de uma escritora às voltas com
questões literárias profundas (mas sempre tratadas de maneira – para dizer o
mínimo – originalmente leves). O livro integra a coleção "Clássicos de
Ouro" editada pela Editora
Nova Fronteira.
Terça-feira,
19/06
>>> Brasil: Uma
antologia de Mario Quintana organizada por João Anzanello Carrascoza
Os
sentimentos são a matéria-prima do poeta e esta antologia inédita resgata a
atualidade e a importância da obra de Quintana. Bem-humorados ou irônicos, mas
sempre intensos, seus poemas vão do amor desesperado aos dissabores da velhice.
Foi pensando nas diversas possibilidades de interpretação da obra de Mario
Quintana que este livro surgiu. A proposta do escritor João Anzanello
Carrascoza ao organizar esta antologia foi recuperar sua veia singular — e
hoje pouco conhecida; o título parte da ideia de que é quando lançamos um
segundo olhar sobre as coisas que conseguimos captá-las em sua plenitude.
Conhecido como o poeta da infância e do cotidiano, Quintana teve suas outras
facetas negligenciadas ao longo do tempo. Seus poemas percorrem muitos
caminhos: são leves, engraçados, mas também são irônicos, intensos. Certa vez,
ele declarou que o segredo para uma vida longa residia no interesse pelos
outros e pelo mundo, e sua poesia expressa esse entusiasmo. Ele era meticuloso
na composição de versos que, apesar de aparentemente simples, escondem uma
inegável complexidade. Aqui, a disposição dos poemas segue a mesma lógica que
orientou Mario Quintana na composição de muitos de seus textos. Organizados sem
o suporte de cronologias ou eixos temáticos, os poemas vão se sucedendo em uma
espiral, de forma contínua, como numa conversa em que uma ideia puxa outra. O segundo olhar capta com maestria a essência de Mario Quintana e
mostra porque ele é um de nossos maiores poetas. A edição é da Editora
Alfaguara.
>>> Áustria: Parte do
arquivo de Stefan Zweig está disponível online
Um caderno
de arame com 92 folhas, 30x20cm e um lote com outros manuscritos de Stefan
Zweig adquiridos num leilão na Christie's em Londres em 2014 estão disponíveis
online. Foram vários anos de trabalho de digitalização sob responsabilidade de
Literaturarchiv Salzburg. Entre os materiais que inclui mais de duas centenas
de manuscritos, estão os rascunhos de Autobiografia. O mundo de
ontem das biografias de Balzac, Maria Antonieta e de Fernão Magalhães e
as obras de teatro Tersites e Adam Lux e o póstumo Clarissa. Este grandioso projeto espera converter-se numa
plataforma na web para conectar todos os arquivos do escritor no mundo. O
material agora apresentado é o que pertence ao Arquivo Literário de Salzburgo e
da Biblioteca Daniel A. Reed da Universidade de Nova York. Acesse aqui.
Quarta-feira,
20/06
>>> Brasil: Visita à
poesia de Carlos Drummond de Andrade por José Miguel Wisnik
Numa viagem
circunstancial a Itabira, cidade natal de Drummond, José Miguel Wisnik deparou
com traços do passado e sinais contemporâneos que levaram à elaboração de Maquinação do mundo. O ensaísta identifica na atividade mineradora
uma questão crucial para um escritor apegado ao provinciano lugar de origem e
ao mesmo tempo marcado por um sentimento cosmopolita do vasto mundo. A leitura
descobre, assim, um veio inexplorado pela bibliografia sobre um de nossos
maiores poetas. Maquinação do mundo. Drummond e a mineração percorre a obra do poeta brasileiro e a história da mineração naquilo que diz
respeito ao poeta, sem nunca perder de vista a potência da poesia como
instrumento de percepção alargada e de criação de mundos.
>>> Brasil:Algumas
das faces de Hilda Hilst
Eu e
não outra, de Luara Folgueira e Luisa Destri nos permite um vislumbre da
personalidade e da vida de Hilda Hilst. Traça um panorama do nascimento e da
história de sua família em Jaú, no interior de São Paulo, até sua morte na Casa
do Sol, numa série de episódios fascinantes – da juventude glamourosa na
capital à decisão de se recolher num sítio, dos livros pornográficos à fantasia
de se tornar freira, ou à vontade de ser reconhecida como grande que foi, ser
amada e amar muitos homens. Seria possível pensar que procura retratar a pessoa
por trás da escritora, se em Hilda essas duas faces não fossem, justamente pela
consciência com que construía sua imagem, a mesma coisa. A edição é da Tordesilhas Livros.
Quinta-feira,
21/06
>>> Portugal: Livro
reunirá correspondência de leitores de José Saramago
A edição
assinala os 20 anos da atribuição do Prêmio Nobel de Literatura ao escritor
português e reúne a correspondência de escritores e de leitores desde o dia
quando recebeu o galardão. Um país levantado de alegria é
organizado pelo jornalista Ricardo Viel, quem noticia alguns dos nomes que se
encontrará na obra: Eduardo Galeano, Gabriel García Márquez e Fidel Castro,
além leitores que não chegaram a conhecer o escritor. As cartas selecionadas
são de a partir de 8 de outubro a 10 de dezembro, i.e., do anúncio à entrega do
Nobel. O livro será apresentado na Feira Internacional do Livro de Guadalajara.
>>> Brasil: Caderno
de memórias coloniais, publicado em 2009 em Portugal, apresenta Isabela
Figueiredo aos brasileiros
Sucesso de
público e saudado como uma obra-prima, o livro é de fato um genial acerto de
contas da autora com o passado colonial de Portugal e com seu pai, um
eletricista português radicado em Moçambique. O pai parece personificar
Portugal: despreza e explora os nativos. O “melhor” de Moçambique ficava com os
brancos: as boas praias, os bares, a vida cultural e social, as melhores
oportunidades. Tudo isso é visto pelos olhos de Isabela, que lá nasceu em 1963
e teve que se mudar para Portugal nos anos 1970, durante o contexto da
descolonização. O livro é uma espécie de Carta ao pai (de Kafka),
num texto que mescla memória, ensaio, observação pessoal e ficção. A origem da
obra é de um blog da autora, canal pioneiro para tentar trazer mais realidade à
narrativa edulcorada do Portugal africano. Até então, havia uma enxurrada de
memórias cor de rosa e piedosas de brancos que nasceram e cresceram nas
colônias portuguesas e que nunca tratavam das questões reais e duras do
passado: a exclusão da população local (negra), os trabalhos subalternos e
malremunerados destinados aos locais, o racismo.
Sexta-feira,
22/06
>>> Brasil: Mil
mortes e outras histórias, uma antologia com textos inéditos de Jack
London
A obra
editada pela Penalux reúne quatro histórias tidas como contos mas, pelo
tamanho, bem que poderiam ser consideradas pequenas novelas. O conjunto – que
transita entre o sobrenatural e a ficção científica – representa uma novidade
para os leitores brasileiros na literatura aventuresca do autor de Caninos brancos, mas conserva o vigor e a vivacidade que são marcas
de sua escrita. Aí estão: Mil mortes, história que traz algo do
Reanimator, mas foi publicado em 1889, bem antes da obra de
Lovecraft. É sobre um cientista louco e obcecado pelas suas criações, que faz
inúmeras experiências de morte induzida e ressuscitações com o próprio filho;
"Planchette", narrativa sobre um casal apaixonado não consegue se
casar por um motivo misterioso que o rapaz, Chris, oculta; "A sombra e o
raio", história que apresenta Paul e Lloyd, personagens que vivem
competindo entre si e ambos estão em busca da fórmula da invisibilidade, mas a
obsessão e a constante rivalidade acabam por trazer trágicos resultados; e
"O Vermelho", peça que tem a verve aventuresca de London. Um
cientista inglês, em uma expedição até Guadacanal, nas Ilhas Salomão, encontra
uma tribo de caçadores de cabeça que faz sacrifícios humanos e que idolatra uma
esfera vermelha gigante, de possível origem extraterrestre. A tradução é de
Lívia Koeppl; o livro tem apresentação e notas do escritor Cleber Pacheco e
revisão do editor e jornalista Daniel Zanella. Será publicado a partir de uma
campanha de financiamento coletivo apresentada aqui.
>>> Portugal: Trinta anos
depois, o Fausto de Fernando Pessoa teve direito uma nova edição — digital
Em abril, a
Tinta-da-China publicou em papel uma edição com aparato crítico e a organizada
cronologicamente, permitindo ler a peça exatamente como Pessoa a deixou:
fragmentada. Agora, a obra saiu do papel e ganhou uma nova vida online.
Intitulado “Fausto, uma existência digital”, o arquivo é a última iniciativa
digital envolvendo o espólio pessoano. Ao todo, já existem na Internet seis
plataformas que apresentam diferentes aspectos da obra de Fernando Pessoa. A
edição digital do Fausto foi preparada pelo Centro de Estudos de
Teatro da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, por uma equipe
dirigida por Jerónimo Pizarro e Carlos Pittella (responsável pela edição em
papel) e composta por Filipa de Freitas, Patricio Ferrari, Nicolás Barbosa e
José Camões. Curiosamente, o Centro de Estudos de Teatro não é novo nestas
andanças. Começou a divulgar material online nos anos 90 — como explicou José
Camões durante a apresentação do projeto, esta quinta-feira — e, hoje em dia,
tem disponíveis arquivos de obras teatrais de autores portugueses do século XVI
e XVII e uma lista de todas as peças proibidas em Portugal no século XVIII, com
extensa informação. Fausto é, assim, o último acrescento ao
trabalho que tem vindo a ser feito pelo centro. A plataforma é composta por quatro
seções principais. Na primeira, "Arquivo", é possível encontrar os diferentes
poemas que compõem o Fausto de Fernando Pessoa, divididos em seis
categorias: poemas em português, poemas em inglês, poemas nos quais Pessoa
hesitou na atribuição à peça, apêndices (fragmentos e apontamentos em prosa) e
planos. Na segunda, é possível encontrar um índice de todos os textos e, na
terceira, fazer três tipos de pesquisa: uma "livre", onde é possível selecionar
mais do que uma categoria de uma vez só; outra "orientada", que permite fazer
uma busca mais detalhada; e uma a partir de todo o vocabulário. A transcrição
dos poemas do Fausto segue a ortografia moderna, "até por uma facilidade de
pesquisa", como explicou Filipa de Freitas. Estes são, contudo, acompanhados
por uma "caixa com a transcrição genética" (visível depois de se clicar no
quadrado vermelho, do lado esquerdo da transcrição), que mostra o texto como
Pessoa o escreveu. Foi também disponibilizado imagens dos documentos originais.
Na última seção do site, "Bibliografia", é possível encontrar todas as obras
relativas ao Fausto pessoano — edições, adaptações da peça ("Catálogo") ou
críticas ("Crítica"). Acesso aqui.
>>> Brasil: Um livro
fundamental para compreender os rumos do século XX, mas ainda desconhecido por aqui, Memórias de um antissemita, de Gregor von Rezzori
Com o
desmembramento da Monarquia habsburga, a aristocracia austríaca se vê privada
de sua cidadania e, com ela, de sua identidade. Distantes da nova realidade, os
personagens de Von Rezzori aferram-se aos valores herdados de um mundo
desaparecido, assim como aconteceu com os judeus. Com uma prosa afiada, o autor
constrói uma história poderosa, capaz de questionar a naturalização surda e
acrítica de um injustificável sentimento de superioridade. A tradução de Luis
S. Krausz sai pela Todavia Livros.
>>> Brasil: Vários
títulos de H. P. Lovecraft ganham reedição
O novo
projeto é apresentado pela editora Iluminuras. Até agora foram anunciados sete
títulos da coleção que reúne a extensa obra do mestre do horror: O caso
de Charles Dexter Ward; Nas montanhas da loucura; A cor
que caiu do céu; A maldição de Sarnath; À procura de
Kadath; Dagon; e O horror em Red Hook.
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